sábado, 14 de dezembro de 2013

Santa Odilia (ou Otilia) da Alsacia, abadessa


     Na época de Childerico II, havia na Alsácia um duque franco chamado Adalrico, primeiro Duque da Alsácia, casado com Beresinda, sobrinha de São Leodegário, Bispo de Autun. Eles viviam em Obernheim, nas montanhas do Vosges, cerca de 40 km ao sul de Strasburg, no sopé do Monte Hohenburg.
     Eles esperavam um filho que assegurasse a sua descendência, mas, por volta do ano 660, nasceu-lhes uma filha... e cega! O pai encolerizado considerou tal nascimento uma desgraça e desonra para a família. A mãe tentou apaziguá-lo dizendo que era a vontade de Deus, que Ele devia ter seus desígnios, tudo em vão: o pai chegou a desejar que matassem a menina.
     Beresinda conseguiu finalmente dissuadi-lo desse crime, mas ele a fez prometer que levaria a criança para longe sem dizer a que família pertencia. Beresinda cumpriu a primeira parte da promessa, mas não a segunda, pois confiou a menina aos cuidados de uma ama que estivera a seu serviço e lhe disse que era sua filha. Beresinda providenciou a ida de toda a família da ama para o local que hoje é conhecido como Baume-le-Dames, próximo de Besançon, onde havia um convento em que a menina poderia educar-se mais tarde.
     Ali viveu ela até os doze anos sem ter sido batizada. Foi então que um anjo revelou a Santo Eraldo, Bispo de Regensburg, abade do mosteiro recém-fundado de Eberheim-Münster, que ele devia ir ao convento de Baume, aonde encontraria uma jovem cega de nascença. Ele devia batizá-la e dar-lhe o nome de Odília.
     Santo Eraldo foi consultar São Hidulfo em Moyenmoutier e, juntos, se dirigiram a Baume, onde fizeram o que tinha sido indicado na revelação. Depois de ungir a cabeça de Odília, Santo Eraldo passou o óleo do Crisma em seus olhos e ela recobrou a visão.
     Odília permaneceu no convento servindo a Deus. Porém, o milagre que recebera e os progressos que fazia em seus estudos provocaram a inveja de algumas das religiosas que tornaram sua vida difícil. Odília resolveu então escrever para seu irmão Hugo e pedir-lhe ajuda. Entrementes, Santo Eraldo havia comunicado a Adalrico a cura de sua filha. O pai não se abrandou diante de tal milagre e proibiu o filho de ajudar a irmã. Hugo desobedeceu ao pai e mandou vir a irmã.
     Um dia em que Hugo e Adalrico estavam em uma colina dos arredores, Odília se apresentou em uma charrete, seguida por uma multidão. Quando Adalrico soube de quem se tratava, descarregou sua pesada espada sobre a cabeça de Hugo e o matou de um golpe. Os remorsos finalmente mudaram seu coração e começou a amar sua filha tanto quanto a havia odiado antes.
     Odília se fixou em Obernheim com algumas companheiras que se dedicavam como ela aos atos de piedade e às obras de caridade entre os pobres.
     Adalrico, convertido graças às orações da filha, deu a ela o castelo que possuía no Monte Hohenburg. Odília transformou-o em mosteiro e foi sua primeira abadessa.
     O Monte Hohenburg tem mais de 2.000 m de altura e fica próximo do vale do Reno. Como a montanha era muito escarpada e dificultava o acesso dos peregrinos, Santa Odília fundou outro convento, Niedermünster, um pouco mais abaixo, a 703 m , e edificou um hospital junto a ele para acolher pobres e leprosos. São João Batista lhe apareceu e indicou o local e as dimensões da capela que devia construir ali em sua honra.
     A regra adotada por Santa Odília foi a beneditina, o que sugere a influência de seu tio-avô, São Leodegário, grande apóstolo do monasticismo beneditino na região. Em apenas dez anos o mosteiro já abrigava 130 religiosas, entre as quais três filhas de Adelardo, outro irmão de Santa Odília. Estas sobrinhas foram: Santa Eugênia, sucessora de Santa Odília, Santa Atala, abadessa do mosteiro de Santo Estevão de Strasburg, e Santa Gundelinda.
     Odília governou os dois conventos e tornou-se popularíssima na Alsácia, na Lorena e na região de Baden. Conta-se que após a morte do pai Santa Odília soube, durante uma visão, que ele fora livre do Purgatório graças às suas orações e penitências.
     Uma Fonte de Santa Odília existe ainda hoje. Ela fica fora do mosteiro, e, segundo a tradição, Santa Odília a fez surgir tocando a rocha com o cordão de seu hábito. Ela voltava da costumeira visita aos doentes, quando encontrou um homem cego que lhe pediu água. Como ela não tivesse água à mão, fez o milagre. E o homem ficou curado da cegueira. Muitas outras visões da Santa são narradas e numerosos milagres lhe são atribuídos.
     Depois de governar o mosteiro durante muitos anos, Santa Odília morreu no dia 13 de dezembro de 720, deitada sobre uma pele de urso. Como Santa Odília não pudera receber o Santo Viático, as prementes orações de suas irmãs de hábito alcançaram a graça dela recobrar a vida. Após descrever as belezas do Céu para elas e receber o Viático, a Santa morreu novamente e foi sepultada na Igreja do mosteiro.
     As suas fundações são mencionadas pela primeira vez em 783, numa doação feita para a abadessa da época. Carlos Magno garantiu imunidade às fundações de Santa Odília, o que foi confirmado em 9 de março de 837 por Luis, o Pio (Böhmer-Mühlbacher, "Regesta Imperii", I, 866, 933).
     A Igreja de São João Batista e o túmulo da Santa foram mencionados pela primeira vez pelo Papa Leão IX em 17 de dezembro de 1050. O Imperador Frederico I mandou restaurar a igreja e o mosteiro. A Abadessa Relinde estabeleceu ali uma escola para as filhas da nobreza. Uma outra abadessa, Herrade de Landsberg (1167-1195) tornou-se a famosa autora de um importante trabalho teológico chamado Hortus Deliciarum (Paradiesgarten). Em 1546, Niedermünster foi destruído num incêndio, e as religiosas não mais retornaram.
     Algumas relíquias da Santa foram transferidas para outros locais. O Imperador Carlos IV, por exemplo, recebeu o braço direito em 4 de maio de 1353, relíquia que hoje se encontra em Praga. Outras relíquias, que ficaram no mosteiro primitivo, foram salvas da Revolução Francesa - inclusive o sarcófago, que recebeu posteriormente um revestimento de mármore - e foram colocadas sob o altar em 1842. As relíquias que foram levadas para Einsiedeln no século XVII foram destruídas pela Revolução.
     Seu túmulo é venerado e ainda hoje milhares de peregrinos a procuram e lhe prestam culto. O Monte Santa Odília é o local da Alsácia mais freqüentado pelos católicos. Santa Odília foi designada patrona da Alsácia em 1807 pelo Papa Pio VII. Ela é também patrona de Strasburg e é invocada nas doenças dos olhos e dos ouvidos. É venerada também na diocese de Mônaco, Meissen e nas abadias beneditinas femininas da Áustria.
     Santa Odília é festejada no dia de sua morte, 13 de dezembro. No Monte, Santa Odília ela é celebrada no dia do aniversário da transladação de suas relíquias, ocorrida em 7 de julho de 1842.
     Desde o século XV, a Baviera e a Alsácia adotaram a versão Otília de seu nome.