segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Santo Honorato de Vercelli, bispo

        

          O bispo Honorato de Vercelli tem unido seu nome ao de seu contemporâneo Santo Ambrósio. Em muitas pinturas é representado dando l comunhão ao moribundo bispo geral de Milão, sinal de uma forte união episcopal. Viveu em finais do século III e inicio do século IV, era difícil com a comunidade dividida por cismas e heresias.
           Em Vercelli logo depois da morte do bispo Limenio, a eleição de Honorato como bispo teve muita oposição. Santo Ambrósio teve que usar toda sua autoridade para o consagrar pessoalmente. Os atos demonstraram que sua confiança estava bem fundada, como o recorda uma placa na Catedral de Vercelli.
            Honorato foi um digno discípulo de Eusébio e um pregador incansável da doutrina católica contra as influências arianas.

Santa Ermelinda, virgem

         

          Ermelinda nasceu em Lovenjoul, próximo de Louvain, no Brabante (atual Bélgica), filha de Ermenoldo e Armesinda, de família ilustre ligada aos duques do Brabante.
         Recebeu uma educação adequada à sua classe social, mas longe de prender seu coração aos atrativos da vaidade ou ao brilho da grandeza, desde criança ela aspirava pela vida solitária, pela oração e pela Palavra de Deus.
          Recusando qualquer proposta de casamento e tendo feito voto de castidade, para que seus pais não a ligassem a nenhum compromisso, cortou seus cabelos, renunciou às pompas do século e dedicou-se inteiramente a Deus praticando severas austeridades.
         Mas, desejando ainda maior entrega, deixou a casa paterna e foi viver em Bevec (Beauvechain). Ali, pés nus, Ermelinda ia à igreja onde passava os dias e as noites em oração. Ela não tinha outra ambição que ser uma humilde serva de Nosso Senhor.
        Advertida por um anjo que dois jovens senhores do local iam tentar seduzi-la, ela abandonou Bevec e fugiu para Meldrik (chamada depois Meldaert ou Meldert), na atual Diocese de Malinas (Mechelen).
         Ermelinda passou ali os restantes dias de sua vida, vivendo de ervas e numa ascese semelhante a dos antigos solitários do deserto do Egito, combatendo o demônio e a carne. Ela faleceu no final do século VI, ou no início do século VII, no dia 29 de outubro.
         Anos depois, o local onde seu corpo fora enterrado pelos anjos foi encontrado. Em 643, uma capela foi erguida no local onde fora sepultada e numerosos milagres ocorreram ali.
         Há doze séculos Santa Ermelinda é venerada em toda Diocese de Malinas (Mechelen), mas particularmente em Meldert e em Lovenjoul. Em Lovenjoul surgiu uma fonte de água milagrosa, que obtém a cura das doenças dos olhos, chamada “Fonte de Santa Ermelinda”, porque irriga as terras que pertenceram aos seus pais.
Catedral e mercado de Malinas
         A partir do século XIII suas relíquias sofreram inúmeras vicissitudes, transladações, ocultação, para protegê-la das profanações dos invasores e dos ímpios durante a invasão francesa em 1792. Finalmente, em 22 de julho de 1849, foram definitivamente depositadas na igreja de Meldert num magnífico relicário. Nesta cidade existe ainda a Confraria dedicada a esta Santa.
          A Diocese de Malines a festeja no dia 29 de outubro, tradicionalmente tido como o dia de sua morte.
         O nome Ermelinda caiu em desuso, mas existe ainda numa forma abreviada, Linda. O nome Ermelinda é de origem alemã: ‘Erme’ = ‘poderosa’; ‘linda’, de ‘linta’ = ‘escudo’. Portanto, temos aí um “escudo poderoso” que é venerado há séculos numa demonstração do apreço que Deus Nosso Senhor tem por esta sua dedicada e fiel serva.

Beata Paula Montaldi, mística

          

           Nascida em 1443, com 15 anos entrou no mosteiro das irmãs clarissas de Santa Luizia, Mântua, onde foi abadessa durante muitos anos. A Paixão de Jesus era para ela o assunto mais frequente das conversas, bem como das meditações e contemplações. Foi também singularmente devota da Eucaristia. Levava uma vida austera, com cilícios, flagelações e jejuns, e sentia-se feliz nas humilhações, fadigas e trabalhos.
            No relacionamento com as irmãs mostrava-se cheia de caridade e sempre pronta a ajudá-las em qualquer necessidade. Sob a sua direção o mosteiro de Santa Luzia ganhou fama pelas numerosas vocações e pela vida seráfica das religiosas.
            Em agradecimento ao Senhor pelos favores por ele concedidos, costumava repetir esta oração: “Meu Deus, eu te amo de todo o coração, com um amor sem medida, e nunca deixarei de cantar os teus louvores”. Nos 56 anos de vida religiosa, nunca causou qualquer desgosto às irmãs. Como superiora, procurou não apenas o bem espiritual das religiosas, mas também o bem material da comunidade, convencida de que não pode haver perfeita observância da regra se falta o indispensável para a vida. No jardim mandou abrir um poço, que veio a chamar-se o “Poço da Beata Paula”, a cuja água se tem atribuído propriedades curativas.
            Era grande a sua confiança em Deus. Amiúde repetia a expressão de São Paulo: “Sei em quem confio!”. Era às vezes arrebatada em êxtase, e outras vezes ouviram-se coro angélicos a cantarem junto ao sacrário. Escreveu vários opúsculos, em especial sobre o nome de Jesus, que lamentavelmente se perderam.
            Um dia, estando a orar em êxtase diante dum crucifixo situado ao cimo dumas escadas, foi atacada pelo demônio, que a lançou por terra. Socorrida pelas irmãs, foi reclinada num enxergão. Eram os seus últimos dias e as suas últimas palavras. Exausta pelas prolongadas vigílias, pelos rigorosos jejuns e outras ásperas penitências, assistida pelo seu confessor e pelas irmãs, apertando contra o coração o crucifixo repetia mais uma vez a sua jaculatória predileta “Paixão de Cristo, Sangue de Cristo, misericórdia!”, expirou serenamente no dia 18 de agosto de 1514. Tinha 71 anos, 56 dos quais passados no mosteiro.

Beato Miguel Rua

          

          Miguel Rua nasce em Turim no dia 9 de junho de 1837. Último de 9 filhos, perde o pai aos oito anos. Estudou com os Irmãos das Escolas Cristãs até à terceira série elementar. Deveria começar a trabalhar na Real Fábrica de Armas de Turim, onde o pai era operário, mas Dom Bosco – que aos domingos ia confessar na escola – propôs-lhe continuar os estudos com ele, garantindo-lhe que a Providência pensaria nas despesas.
            Certo dia, Dom Bosco distribuía algumas medalhas aos seus meninos. Miguel era o último da fila e chegou atrasado, mas ouviu Dom Bosco dizer: "Toma, Miguelzinho!". O padre, porém, não lhe estava dando nada, mas acrescentou: "Nós dois faremos tudo meio a meio", e assim foi de fato.
            Colaborador da Companhia da Imaculada com Domingos Sávio, foi aluno modelo, apóstolo entre os colegas. Dom Bosco lhe disse: "Preciso de ajuda. Farei com que recebas a veste dos clérigos; estás de acordo?". "De acordo!", respondeu.
            Em 25 de março de 1855, nos aposentos de Dom Bosco, nas mãos do fundador, fez os votos de pobreza, castidade e obediência. Era o primeiro Salesiano. Começa a trabalhar intensamente: ensina matemática e religião; assiste no refeitório, no pátio, na capela; tarde da noite, copia numa bela caligrafia as cartas e as publicações de Dom Bosco, e, enfim, estuda para ser padre. Tinha apenas 17 anos! É-lhe entregue também a direção do oratório festivo São Luís.
           Em novembro de 1856, morre Mamãe Margarida. Miguel, então, vai encontrar-se com sua mãe: "Mamãe, a senhora quer vir com a gente?". A senhora Joana Maria vem, e também nisso a família Rua fez meio a meio com a família Bosco.
          Em 1859, Rua acompanha Dom Bosco na audiência com o Papa Pio IX para a aprovação das Regras e, ao retorno, é-lhe confiada a direção do primeiro oratório em Valdocco. Foi ordenado sacerdote em 29 de julho de 1860.
           Dom Bosco escreve-lhe um bilhete: "Verás melhor do que eu a Obra salesiana atravessar os limites da Itália e estabelecer-se no mundo". O Padre Rua abre a primeira casa salesiana fora de Turim, em Mirabello.
           Poucos anos depois, retorna a Valdocco, substituindo e assistindo Dom Bosco em tudo. Em novembro de 1884, o Papa Leão XIII nomeia o Padre Rua vigário e sucessor de Dom Bosco, que morrerá em seus braços quatro anos depois. O Padre Rua, considerado então a regra viva, torna-se paterno e amável como Dom Bosco. Enfrenta e supera inúmeras dificuldades no governo da Congregação. Consolida as missões e o espírito salesiano.
           Morreu no dia 6 de abril de 1910, com 73 anos. Com ele, a Sociedade passou de 773 a 4000 Salesianos, de 57 a 345 Casas, de 6 a 34 Inspetorias em 33 países. Paulo VI beatificou-o em 1972, dizendo: "Ele fez da fonte um rio".

terça-feira, 23 de outubro de 2012

São Caetano Catanoso, sacerdote e fundador

        

          Cultor e apóstolo da Sagrada Face de Cristo, era animado por uma fervorosa e incansável caridade pastoral. Nasceu em Chorio de San Lorenzo (Itália), no dia 14 de Fevereiro de 1879, numa família profundamente cristã. Com a idade de 10 anos, sentindo a vocação ao sacerdócio, entrou no Seminário arquiepiscopal de Régio. Recebeu a Ordenação sacerdotal em 20 de Setembro de 1902. Naquela ocasião manifestou publicamente o propósito de ser um digno ministro de Cristo. Fez então a promessa de jamais cometer algum pecado deliberado e de estar na presença de Deus todos os instantes da vida.
          Em 1904 foi nomeado pároco de Pentidattilo, um vilarejo onde prosperava somente a pobreza, o analfabetismo e a ignorância religiosa, e as pessoas viviam no silêncio o drama da marginalização e da prepotência. Ele dedicou-se imediata e inteiramente à missão de pastor, compartilhando com todos as privações, as angústias, as alegrias e as dores da sua gente.
           Desde então o povo identificou nele o carisma da paternidade e espontaneamente começou a chamá-lo "pai", apelativo que melhor qualificava a sua personalidade  sacerdotal e pastoral.
          Foi inflamado pela devoção à Sagrada Face sofredora do Senhor e abraçou a missão de defender o culto da mesma entre os povos. Em 1919 instituiu em Pentidattilo a Pia União da Sagrada Face, e em 1934 fundou a Congregação das Irmãs Verônicas da Sagrada Face, aprovada canonicamente em 1953. Com o conforto dos sacramentos, morreu santamente a 4 de Abril de 1963, em Régio, na Casa
Matriz da Congregação que ele tinha fundado. Hoje a sua vida doada produz muitos frutos.

Santo Alúcio de Campugliano, pastor

           Santo Alúcio, patrono de Pescia de Toscana, era pastor.
          Devido ao grande interesse que tomou pelo hospital de Val di Nievole, foi nomeado diretor dele e é considerado como seu segundo fundador.
           Mais tarde, Alúcio dedicou-se a fundar albergues nos portos e passagens perigosas das montanhas e a outras obras de beneficência pública, tais como a construção de uma ponte sobre o Arno.
           Os jovens que formou para o serviço nos hospitais, receberam o nome de irmãos de Santo Alucio.
           Se contam muitos milagres do santo e a ele se atribui a reconciliação entre as cidades inimigas de Ravena e Faenza. Em 1182, quarenta e oito anos depois da morte de Santo Alucio, suas relíquias foram trasladadas ao hospital de Val di Nievole, que recebeu seu nome.
            O culto do santo foi confirmado por Pío IX, que concedeu uma missa própria para o dia de sua festa.

Beato Arnoldo Rèche, religioso e mártir

         

           Júlio Nicolás Réche nasceu em uma família pobre de Landroff na região de Lorraine, na França. Abandona logo a escola para trabalhar para ajudar sua família. Sendo jovem é conhecido por seus companheiros de trabalho pela sua piedade e autodisciplina.
            Conhece os Irmãos Lassalsitas pela primeira vez por causa de suas aulas noturnas e pede para ingressar na congregação.
            Ele leciona durante quatorze anos em um pensionato na cidade de Reims. Apesar das exigências de um tempo totalmente dedicado ao ensino, começa a estudar e completa o seu curso de teologia, matemática, ciências e agricultura que ensina a pequenos grupos de alunos mais adiantados.
            Durante a guerra franco-prussiana de 1870, ele trabalha com os irmãos como enfermeiro para dar respostas às necessidades médicas e espirituais aos feridos dos dois lados. Por isso é condecorado com a cruz de bronze.
            A intensidade de sua vida de oração e seu amor pelas práticas de penitência decidem os seus superiores nomeá-lo como diretor do Noviciado de Thillois. Conquista o coração daqueles que estará encarregado pela sua atenção evidente por seu desempenho espiritual e profissional.
             Se fala de pequenos milagres de cura, bem como a sua surpreendente capacidade para discernir os pensamentos secretos.
             O irmão Arnoldo é conhecido pela sua grande devoção pela Paixão do Salvador e sua docilidade ao Espírito Santo, que o leva a observar que "fortifica o coração dos homens".
             Quando o noviciado se muda para um novo centro em Courlancy perto de Reims em 1885, o irmão Arnoldo contribui para dedicá-lo ao Sagrado Coração de Jesus. Ele falece com a idade de 52 anos de idade, com fama de santidade, apenas alguns meses depois de ter sido nomeado diretor do Sagrado Coração.




Santo Alberto Hurtado, religioso e sacerdote

         

          Nasceu em Viña del Mar (Chile), no dia 22 de Janeiro de 1901. Aos quatro anos perdeu o pai e foi obrigado a experimentar a pobreza, pois a mãe teve que vender a sua modesta propriedade para pagar as dívidas. Contudo, graças a uma bolsa de estudos, ele pôde frequentar o Colégio dos Jesuítas em Santiago, onde se tornou membro da Congregação Mariana, manifestando imediatamente um vivo interesse pelos pobres.
           No dia 14 de Agosto de 1923 entrou no noviciado da Companhia de Jesus em Chillán e em 1925 foi mandado para Córdova (Argentina) para completar os estudos humanísticos. Recebeu a Ordenação sacerdotal em Lovaina (Bélgica) no dia 24 de Agosto de 1933.
           Retornou ao Chile em 1936 e iniciou o ensino de religião no Colégio Santo Inácio e de pedagogia na Universidade Católica. Encarregado dos estudantes pela Congregação Mariana, conseguiu envolvê-los na catequese para os pobres.
         Durante um dos cursos de Exercícios, o Pe. Hurtado dirigiu um apelo aos participantes a favor dos muitos pobres da cidade:  o pedido foi prontamente acolhido e constituiu o começo da iniciativa que o tornou especialmente conhecido El Hogar de Cristo ("O Lar de Cristo").
          Tratava-se de uma forma de actividade caritativa que previa não só dar uma acomodação aos desabrigados, mas ofecerer-lhes também um ambiente semelhante ao da família, onde experimentar a bondade e o carinho.
          Após ter passado a sua existência manifestando o amor de Cristo aos pobres, foi chamado por Ele no dia 18 de Agosto de 1952.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Santas Nunilônia e Alódia, virgens e mártires

             

            Filhas de pai maometano e mãe cristã, matrimónios então muito frequentes, foram educadas nos mais sólidos sentimentos da piedade cristã, de maneira que, nutrindo-os sempre, e compondo por eles os seus costumes, eram a admiração de todas as pessoas por exemplar comportamento. Ocorreu a morte dos pais quanto tinham apenas doze ou treze anos; entraram para a tutela de um tio, ferrenho sectário do islamismo. Por muitas vezes tentara ele pervertê-las sem resultado; mas como o rei publicasse um édito, pelo qual sob pena de morte obrigava os filhos de cristão e mouro a seguir a religião de Maomé, tomou aqui ensejo o tio para mover os seus assaltos.
             Vendo-se repelido sempre com invencível brio pelas duas órfãs, denunciou-as a Zumail, governador de Huesca. Mandou o governador que Nunilona e Alódia comparecessem no seu tribunal; certas de que a sua fé era o objecto de litígio, puseram-se a caminho, descalças, alentando-se uma à outra a padecer, com as razões que lhes inspirava o Espírito Santo. Perguntou-lhes Zumail se seu pai tinha sido maometano; a isto respondeu Nunilona, que era a mais velha: «Nós não conhecemos o nosso pai, que nos faltou ainda quando ainda muito meninas; sabemos porém que a nossa mãe era cristã e que nos educou nesta santa religião que professamos e pela qual estamos prontas a perder a vida». Fez Zumail quanto pôde para estabelecer separação entre as duas donzelas, mas, advertindo que era debalde, despediu-as, dizendo que lhes perdoava por então por causa da verdura dos anos, e de as julgar mal aconselhadas; mas, se não se mostrassem emendadas, tivessem, por certo as mandaria decapitar.
            Saíram as duas irmãs todas satisfeitas por haverem podido confessar Jesus Cristo perante o tribunal do magistrado; e enquanto se lhes não proporcionava ocasião de darem a vida, o que não reputavam distante, resolveram preparar-se por aumento de fervor e de mortificações. Espiava-as o tio. Notando que em nada mudavam quanto à profissão religiosa, que continuavam a ser e a parecer cristãs, de novo as denunciou ao governador como cristãs, e de mau exemplo para os crentes do Alcorão. Foram pois chamadas de novo ao tribunal, e muitas vezes tentadas por ameaças e promessas a renegarem a Jesus Cristo; por último, entregues cada um a delas a uma família de mouros, a fim de que as persuadissem a seguir a lei de Maomé, como filhas de pai maometano, e assim se cumprisse o decreto de Abederramão II.
            Suportaram as duas ilustres virgens por espaço de quarenta dias os mais insistentes assaltos dos infiéis; não se modificaram porém no firme propósito de chegar ao fim. Achava-se Alódia, uma noite, dois dias antes do seu martírio glorioso, em oração, quando foi vista toda banhada de luz por uma filha do seu hospedeiro; ofereceu-lhe ocasião de obter a liberdade, se quisesse consentir nisso; não aquiesceu a santa para se não privar da glória que a esperava; só pediu que lhe permitisse abraçar a irmã; concedendo-se-lhe este favor, abraçaram-se ternamente e animaram-se a padecer por Jesus Cristo. Soube Zumail a nenhuma eficácia dos seus processos; insistiu ainda outra vez, ameaçando-as com a morte, se não renegassem a fé cristã; sempre repelido, lembrou-se de as entregar a um desgraçado presbítero, que, para se revolutear no lodo das suas paixões, renegara a crença, a fim de por suas artes as levar a igual desvario.
            Na impossibilidade de o fazer, participou a Zumail a inutilidade de seus esforços. Arrebatado, o tirano deu ordem de as degolarem imediatamente. Nunilona foi a primeira que se ofereceu ao sacrifício, compondo o cabelo para receber o golpe; posta de joelhos, disse com valoroso ânimo ao verdugo: «Eia, infiel, fere depressa». Atônito e perturbado, o verdugo errou o golpe à garganta, e levou-lhe um pedaço do queixo, sem lhe cortar toda a cabeça; e caindo o corpo em terra, descobriram-se-lhe um pouco os pés com os movimentos naturais que ocasiona a morte.
            Correu Alódia a compor a roupa da irmã sem a menor turbação; cravando em seguida os olhos ao céu, como quem via subir a alma ditosa, exclamou: «Espera um pouco irmâ. Dispôs-se logo para seguir Nunilona, mas, para que se lhe não sucedesse outro tanto, atou os pés às orlas dos vestidos para que a sua honestidade não sofresse com isto; descobriu o rosto, pôs-se de joelhos diante do corpo de sua irmã como sobre o altar consagrado e nesta postura recebeu o golpe do alfange, passando ambas a gozar a visão beatifica no dia 22 de Outubro de 851.

Santa Maria Salomé, mãe de São Tiago Maior e de São João Evangelista

           


           Salomé é nome hebraico que passou para o grego. Evoca a ideia de saúde e de paz. A saudação judaica Shalom e o árabe Salam significam “Paz!”. A liturgia romana retomou, na Missa pontifical, para o bispo e para o abade, a saudação de Nosso Senhor Jesus Cristo dirigida aos seus discípulos (Jo 20, 26): “A paz esteja convosco”, e, pondo-a no singular, usou-a para o rito do ósculo da paz.
           São Francisco de Assis dizia no seu Testamento: «O Senhor revelou-me esta saudação que nós devemos usar: O Senhor vos dê a paz”. No seu mais antigo retrato, em Subiaco, apresenta S. Francisco um escrito que diz: PAX HUIC DOMUI = Paz a esta casa (Mt 10, 12), fórmula que se encontra no Ritual romano. Os Beneditinos usam a palavra latina Pax como própria divisa. Salomé aparece duas vezes no Evangelho de S. Marcos (15, 40 e 16,1): está entre as santas mulheres que olham de longe para o Calvário e depois vão comprar perfumes para ungir o corpo de Jesus, depois de passado o descanso do sábado. É provável que Salomé seja irmã de Maria, mãe de Jesus, que seja mulher de Zebedeu e mãe de Tiago e de João.
             Deve ter sido ela quem se apresentou ao Senhor com os dois filhos, pedindo para eles um posto de honra no futuro reino, a Igreja. O ato de confiança dela é digno de louvor, mas bastante menos a ambição que leva consigo. O Senhor respondeu compadecido: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálix que Eu estou para beber (= participar na minha Paixão)?  «Sim.podemos.» Jesus replicou-lhes: «Na verdade, bebereis o meu cálix, mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo: É para aqueles para quem meu Pai o tem reservado». O verdadeiro discípulo deve estar disposto a servir a sofrer para salvar os seus irmãos, os homens. A paga não faltará nunca! Esta mãe tão interessada pelos filhos, a quem pouco faltava para ser uma «mãe cristã» modelar, figura há séculos entre os santos.

Santo Abércio de Hierópolis, bispo

          

           A Frígia foi uma das províncias orientais romanas, evangelizadas por S. Paulo, onde o cristianismo se fixou mais rapidamente. Desde o século II, havia numerosos bispados, e no século III dominavam tão eficazmente que viviam em tranquilidade perfeita. A perseguição de Diocleciano revestiu  o aspecto duma invasão bárbara: o grande historiador Eusébio conta que uma cidadezinha da Frígia foi inteiramente queimada com os habitantes, todos cristãos.
            Foi em tal ambiente de “cristandade” que viveu Abércio. Habitava e pastoreava Hiéropolis, cidade situada a Ocidente de Sínada. A celebridade de Abércio vem-lhe , em particular, da inscrição que ele mandou gravar em grego no seu túmulo. É chamada a rainha das inscrições cristãs. Era conhecida pela lenda em que é citada, mas, como se julgava que sofrera retoques ineptos, pouca importância se lhe dava.
           Em 1883, porém, o arqueólogo Ramsay descobriu, na parede duma casa, dois importantes fragmentos que enviou para Roma, para os museus do Vaticano. A inscrição pode ser reconstruída quase inteiramente com exatidão. Ei-la aqui traduzida: Cidadão duma cidade distinta, fiz este (monumento) / estando ainda em vida, para ter nele um dia lugar para o meu corpo. / Chamo-me Abércio; sou discípulo dum santo pastor / que leva os seus rebanhos de ovelhas por montes e vales, / que tem olhos muito grandes que tudo veem. / Foi ele que me ensinou as Escrituras fiéis. / Foi ele que me enviou a Roma contemplar a soberana / e ver a rainha de vestidos de oiro, com sapatos de oiro. / Vi lá um povo que traz um selo brilhante. / Vi também a planície da Síria e todas as cidades, / Nísibe além do Eufrates. Em toda a parte encontrei irmãos. / Tinha Paulo como… A fé levava-me a toda a parte./ Em toda a parte me serviu como alimento um peixe de nascente, / muito grande, puro, pescado por uma virgem pura. / Ela dava-o cem cessar a comer aos amigos. / Ela tem um vinho delicioso, dá-o com pão. / Mandei escrever estas coisas, eu Abércio, na idade dos 72 anos. / O irmão que entende isto peça por Abércio. / Não se há-de pôr nenhum túmulo por cima do meu. / sob pena de multa de duas mil moedas de oiro para o fisco romano, / e de mil para a minha querida pátria, Petrópolis. Embora Abércio não faça valer nenhum título no seu epitáfio, não era sem dúvida simples habitante de Hierópolis: era bispo da cidade. Morreu em data desconhecida, nos primeiros anos do século III.
             No seu epitáfio começa por declarar que mandou ele próprio construir o seu túmulo. Dá-se por discípulo dum “santo pastor” que é evidentemente Jesus Cristo. Conta, em seguida, que foi a Roma para ver “a rainha de vestidos de oiro”; É a Igreja Romana, digna capital do mundo e rainha de todas as igrejas. Viu lá “um povo que traz um selo brilhante!”, o povo dos fiéis marcado com o selo brilhante do Baptismo. Depois lançou-se a uma grande viagem que o levou, através da Síria, até Nísibe, além-Eufrates, e em toda a parte encontrou irmãos cristãos.
             Neste ponto, não foi possível reconstruir o texto; lê-se o nome de Paulo e trata-se com certeza do apóstolo, Porque é que Abércio lhe fez alusão? Talvez queira indicar que Paulo foi o seu mestre e guia. Foi-o, sem dúvida no sentido espiritual, talvez mesmo também no sentido literal, caso Abércio tenha, na sua viagem, seguido o trajeto Paulino da 2ª viagem apostólica. Abércio continua dizendo que a fé, que era a sua guia, lhe “serviu como alimento um peixe de nascente, muito grande, puro, pescado por uma virgem pura”. Alusão transparente é Eucaristia e a Cristo nascido da Virgem Maria, Insiste ainda na Eucaristia usando o simbolismo mais claro ainda do pão e do vinho. Termina dizendo que tinha 72 anos quando mandou edificar este monumento; e convida cada cristão - “o irmão que entende isto” - a pedir por ele. O final está perfeitamente na maneira antiga: assim como os seus contemporâneos, pagãos ou cristãos, Abércio desejava repousar em paz no seu túmulo. Para o garantir, recorre às autoridades: ameaça com grandes multas aqueles que se atrevam a tocar no túmulo, apelando não só para os magistrados municipais, mas recorrendo diretamente ao fisco romano.
             A inscrição de Abércio é preciosíssimo testemunho da vida cristã no fim do século II ou no principio do III. Este bispo da Ásia Menor, que apela para as leis do Império para ter a certeza de gozar a paz do túmulo, afirma com naturalidade a divindade de Cristo, exalta a Igreja Romana, e encarece a união dos fiéis realizada pelo Batismo e pela Eucaristia. 

Beata Josefina Leroux e companheiras, mártires


 
             A Ordem Franciscana pode celebrar hoje a Beata Josefina Leroux, virgem e mártir, que fora batizada em 1747 com os nomes de Ana Josefa. Fez a profissão a 23 de Outubro de 1794 na mesma cidade, juntamente com cinco religiosas ursulinas (Joana Luísa, Maria Margarida, Clotilde, Maria Lievina e Maria Agostinha) e com quatro padres. Maria Lievina era a irmã mais nova de Josefina.
             A 17 do mesmo mês tinham tido igual sorte, também em Valenciennes, outras cinco ursulinas: Maria Madalena, Jacinta, Maria Genoveva, Joana Regina e Maria Luísa. As disposições em que se encontravam os dois grupos de religiosas, assim as indica Maria Margarida, escrevendo as ursulinas de Mons, a 20 de Outubro: «Não nos lastimeis; perguntai antes o que fizemos para merecer este favor. Cinco de nós já sofreram a guilhotina. Subiram para ela a rir» Ficai bem certas que sempre vos ficaremos reconhecidas no céu. Ao morrermos, abraçamo-nos de todo o coração». Dessas onze religiosas, juntamente com quatro irmãos da caridade, de Arrás, foram beatificadas por Bento XV em 1920.
            As Ursulinas foram acusadas e condenadas por terem emigrado para Mons, então sob o domínio austríaco, na Bélgica, ao ser-lhes tirada a casa em 1792, e por terem voltado a Valenciennes, quando os franceses recuperaram a cidade. Outra alegação foi ainda acrescentada: o exercício de funções proibidas pela lei, como era o ensino religioso à juventude. Tudo isto no contexto da revolução Francesa e das hostilidades entre a França e a Áustria.
            Quando foi dito no tribunal que não valia a acusação contra Josefina Leroux, que só estivera em Mons durante o tempo duma visita, o juiz replicou: «Tenho muita pena de to dizer, mas tu emigraste como as outras». São totalmente desconhecidas as circunstâncias em que foram sepultados os corpos das vítimas e os túmulos não foram encontrados. 

Os mártires de Córdoba

        

São Rodrigo de Córdoba


         Os mártires de Córdoba foram quarenta e oito mártires cristãos que viviam no emirado  muçulmano de Al-Andalus (na Península Ibérica) no século IX. Suas hagiografias descrevem em detalhes as suas execuções provocadas principalmente pela busca, de forma deliberada, de penas capitais por violação da Sharia em Al-Andalus.
          Os martírios, estimulados por Eulógio de Córdoba, ocorreram entre 851 e 859 d.C. Com umas poucas exceções, os cristãos provocaram a execução ao fazerem declarações públicas sobre temas escolhidos especialmente para provocar o martírio: alguns foram até autoridades muçulmanas para denunciar Maomé ou o Islã (o que era blasfêmia) , outros, possivelmente os nascidos de casamentos entre muçulmanos e cristãos, publicamente declaravam sua fé no cristianismo e eram assim acusadas de apostasia.
           Em 711 d.C., um exército muçulmano vindo do norte da Africa conquistou a Ibéria visigótica cristã. Sob o seu líder, Tárique (Tariq ibn Ziyad), eles desembarcaram em  Gilbratar e colocaram a maior parte da Península Ibérica sob o jugo do Islã numa campanha que durou oito anos. A região foi rebatizada de Al-Andalus pelos novos líderes. Quando os califas omíadas foram depostos pelos abássidas em Damasco em 750 d.C., os sobreviventes da dinastia se mudaram para Córdoba e ali passaram a governar um emirado, tornando a cidade um centro da cultura islâmica ibérica.
           Uma vez conquistada a Ibéria, a sharia (lei islâmica) foi imposta em todo o território. Os cristãos e os judeus eram chamados de dhimmis ("povos do livro") e estavam sujeitos à jizyah, um imposto pago por pessoa, que os permitia viver sob o regime islâmico. Sob a sharia, a blasfêmia contra o Islã, seja por muçulmanos ou dhimmis, e a apostasia eram motivos suficientes para a pena de morte.
          Apesar de quatro basílicas cristãs e diversos mosteiros - mencionados no martirológio de Eulógio - terem permanecido abertos, os moçárabes (cristãos em território muçulmano) foram gradualmente se convertendo à nova fé, num processo estimulado pela taxação e pela discriminação legal imposta aos cristãos (como as leis regulando os filhos de casamentos entre cristãos e muçulmanos).
            De forma incomum, Recafredo, o bispo de Córdoba, ensinava as virtudes da tolerância e da acomodação com as autoridades muçulmanas, que não ajudou a estancar as conversões. Para espanto de Eulógio, cujos textos são a única fonte para os martírios e que passou a ser venerado como santo ainda no século IX, o bispo ficou do lado das autoridades muçulmanas contra os martírios, que ele entendia serem obra de fanáticos. O fechamento dos mosteiros começou a aparecer nos registros a partir da metade deste mesmo século.
           O monge Eulógio encoraja os mártires como forma de reforçar a fé da comunidade cristã, como nos tempos das perseguições aos cristãos sob o Império Romano. Ele compôs tratados e um martirológio para justificar a auto-imolação dos mártires, dos quais um único manuscrito contendo sua Documentum martyriale, os três livros de sua Memoriale sanctorum e sua Liber apologeticus martyrum, foi preservado em Oviedo, no reino cristão das Astúrias, no extremo noroeste da Ibéria.
           Santo Eulógio foi enterrado na Catedral de San Salvador, em Oviedo, para onde as suas relíquias foram transladadas em 884 d.C.
          Os quarenta e oito cristãos (a maioria monges) foram martirizados em Córdoba na década de 860 por decapitação por ofensas religiosas contra o Islã.
         A Acta detalhada destes martírios foram atribuídas ao habilmente chamado "Eulogius" ("benção"), que foi um dos últimos a morrer. Embora a maior parte dos mártires de Córdoba terem sido hispânicos, baeto-romanos ou visigodos, um nome veio da Septimania, outro era árabe ou berbere e um último tem nacionalidade indefinida. Há também ligações com o oriente ortodoxo: um dos mártires era sírio, outro um monge árabe ou grego da Palestina e dois outros tinham nomes claramente gregos. Este elemento grego pode ser reminiscente do breve interlúdio de poder dos  bizantinos na meridional Hispania Baetica, que durou até eles terem sido finalmente expulsos em 554 d.C.: representantes do Império Bizantino foram convidados para ajudar a resolver uma disputa dinástica na Visigotia e lá ficaram como uma esperada cabeça-de-ponte para uma "reconquista" bizantina imaginada pelo imperador Justiniano I.

urna de prata contendo os restos mortais dos mártires de Córdoba, na Basílica de São Pedro, Espanha


Lista dos Santos Mártires


 

 


 

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Santa Laura de Córdoba, abadessa e mártir

          

            Laura pertencia a uma nobre família e era casada com um importante funcionário do emirado independente cordobês. Ao enviuvar, entrou no Mosteiro de Santa Maria de Cuteclara, vizinho de Córdoba, chegando inclusive a ser abadessa em 856, sucedendo Santa Áurea.
            Quando desatou uma perseguição muçulmana contra os cristãos, Laura proclamou publicamente sua Fé católica e o emir Muhammad I mandou prendê-la e açoitar. Ao verem que ela não renegava o Cristianismo, foi levada perante o tribunal islâmico, foi processada e condenada a morrer em um banho de óleo fervente. Depois de três horas de atrozes sofrimentos, entregou sua alma a Deus, no dia 19 de outubro de 864.
            Embora haja poucas informações sobre esta Santa, o seu culto se expandiu enormemente e o seu nome é muito difundido em toda a Europa. Muitos estudiosos acreditam que o seu nome derive do Latim, ‘laurus’: ‘loureiro’ (árvore) símbolo de sabedoria e de glória. Também pode ter como origem a ‘coroa de louros’ ou ‘laurel’, que significa ‘vitória, triunfo’, pois das folhas daquela árvore eram feitas coroas que cingiam a cabeça dos vencedores de jogos e de torneios poéticos. Nos tempos dos romanos era mais comum encontrar o nome Laurência do que Laura.
             O Martyrologium hispanicum narra que durante a ocupação muçulmana Laura recusou abjurar a Fé cristã. Ela faz parte do grupo dos 48 Mártires de Córdoba. Sua festividade se celebra no dia  19 de outubro.
 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

São Galo, abade e missionário

         
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          São Galo (c.550 - c.650) foi um monge e missionário irlandês de destacada atuação na zona do lago de Constança.
          Nascido provavelmente no norte da Irlanda, Galo foi parte da célebre missão irlandesa liderada por São Columbano, que veio ao continente europeu fundar mosteiros e propagar o catolicismo.
          De acordo a uma biografia medieval (Vita) do santo, Galo foi estudante de Columbano em Bangor, um mosteiro irlândes, e acompanhou o mestre à Gália em 591. Esteve com Columbano e os outros monges em  Luxeuil, Tuggen e Bregenz, separando-se destes em 612.
          Nesse mesmo ano instalou-se como eremita numa floresta próximo a Arbon, junto a uma cascata do rio Steinach. Preferiu a vida de eremita, recusando ser bispo de Constança e líder da Abadia de Luxeuil.
          Galo morreu com 95 anos e foi enterrado na sua cela, no eremitério fundado por ele. Em 747, o abade Othmar fundou no local um mosteiro beneditino e uma escola. Essa foi a origem de uma das grandes fundações monásticas da Alta Idade Média, a Abadia de São Galo.

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Igreja Abacial de São Galo, Suiça



Abadia de São Galo

Bem-aventurada Josefina Vannini, religiosa e fundadora


Giuditta nasceu em 17 de julho de 1859, em Roma, Itália.
Aos sete anos, ficou órfã dos pais, Ângelo Vannini e Anunziata Papi, e foi separada dos irmãos. O irmão mais novo ficou com um tio; e a mais velha, com as irmãs de São José; e ela foi enviada para o Orfanato das Filhas da Caridade, em Roma, que a educaram dentro da fé cristã e a prepararam para a vida, com o diploma de professora.
Aos vinte e um anos de idade, ingressou como noviça das Filhas da Caridade, em Siena. Não se adaptando às Regras da Congregação, voltou para o orfanato como professora. Mas sentia o chamado para a vida religiosa, por isso cada vez mais rezava e fazia penitências.
Em 1891, quando estava participando de um retiro orientado pelo padre camiliano Luiz Tezza, agora santo, resolveu aconselhar-se com ele. Esse sacerdote estava encarregado de renovar as Terciárias Camilianas e naquele momento teve uma inspiração: afiançar àquela jovem a realização do projeto. Giuditta, aceitou a tarefa.
Tão logo se confirmou seu temperamento de fundadora e religiosa, o padre Tezza informou à Ordem dos Camilianos e obtivera a autorização do cardeal de Roma para dar seqüência à iniciativa. Em 1892, Giuditta e mais duas religiosas formaram a primeira comunidade da nova família camiliana. No ano seguinte, colocaram o hábito e ela foi nomeada superiora, adotando o nome de Josefina. As Regras da Congregação foram elaboradas e a finalidade definida: dar assistência aos doentes, e em domicílio.
No final de 1894, eram quatro casas de apoio e as dificuldades financeiras, altas. Precisavam da autorização definitiva do Vaticano, com urgência.
Naquele ano, o papa Leão XIII havia decidido não aprovar novas congregações religiosas em Roma. Para as irmãs tudo parecia perdido. Entretanto madre Josefina agiu como fundadora e recorreu ao velho conselheiro, o sacerdote Tezza. Ele, contando com o apoio do cardeal de Roma, redirecionou as atividades das religiosas para uma "pia associação" com dependência total do cardeal, até a aprovação final. Assim, a Obra pôde continuar.
Em 1900, o sacerdote Tezza foi transferido para a América Latina. E manteve apenas uma correspondência epistolar com a fundadora e a Congregação até morrer, em 1923, na cidade de Lima, Peru. Porém o distanciamento do precioso conselheiro não enfraqueceu madre Josefina. Ela manteve o ânimo das demais irmãs e o peso do recente Instituto. Amparada na segurança da ajuda da Divina Providência e confiante na fé em Cristo, levou a Instituição para várias localidades da Europa e da América do Sul.
Madre Josefina, mesmo com a saúde enfraquecida por uma doença cardíaca, visitava as novas casas acompanhando as irmãs, com amabilidade e vigor. Em 1909, depois de tantas resistências, receberam a tão esperada autorização eclesiástica e tornaram-se uma Congregação religiosa com o título de "Filhas de São Camilo".
Após alguns meses de sofrimento ocasionado pela enfermidade, a fundadora morreu em 23 de fevereiro de 1911.
Madre Josefina Vannini foi beatificada pelo papa João Paulo II em 16 de outubro de 1994, data que ele indicou para a celebração da festa litúrgica em sua memória.


São Geraldo Majella, religioso


SÃO GERALDO MAJELLA

Filho da pobre família do alfaiate Majela, Geraldo nasceu no dia 6 de abril de 1726, numa pequena cidade chamada Muro Lucano, no sul da Itália. De constituição física muito frágil, cresceu sempre adoentado, aprendendo o trabalho com seu pai.
Aos quatorze anos de idade ficou órfão de pai e, com a aprovação da mãe, Benedita, quis tornar-se um frade capuchinho. Mas foi recusado por ter pouca resistência física. Entretanto o jovem Geraldo não era de desistir das coisas facilmente. Arrimo de família, foi trabalhar numa alfaiataria da cidade. Mais tarde, colocou-se a serviço do bispo de Lacedônia, conhecido pelos modos rudes e severos, suportando aquele serviço por vários anos, até a morte do bispo.
A forte vocação religiosa sempre teve de ser sufocada, porque não era aceito. Com dezenove anos de idade, voltou para Muro Lucano, onde abriu uma alfaiataria. Recebia uma boa renda. Dava tudo que necessário para sua mãe e suas irmãs, e com o restante ajudava os mais necessitados. Na cidade todos sabiam que Geraldo dava o dote necessário às moças pobres que desejavam ingressar na vida religiosa. E se preciso, conseguia também a vaga de noviça.
Só em 1749, quando uma missão de padres redentoristas esteve em Muro Lucano, Geraldo conseguiu ingressar na vida religiosa. Tanto importunou o superior, padre Cafaro, que este acabou cedendo e o enviou para o convento de Deliceto, em Foggia.
Enquanto era postulante, passou por muitas tentações e aflições, mas resistiu e venceu todos os obstáculos. Professou os primeiros votos, aos vinte e seis anos de idade, naquele convento. E surpreendeu a todos com seu excelente trabalho de apostolado, simples, humilde, obediente, de oração e penitência. Chegou a ser encarregado das obras da nova Casa de Caposele; depois, como escultor, começou a fazer crucifixos. Possuindo os dons da cura e do conselho, converteu inúmeras pessoas, sendo muito querido no convento e na cidade.
Mas mesmo assim viu-se envolvido num escândalo provocado por uma jovem que ele ajudara. Foi em 1754, quando Néria Caggiano, não se adaptando à vida religiosa, voltou para casa. Para explicar sua atitude, espalhou mentiras e calúnias. Para isso escreveu uma carta ao superior, na época o próprio fundador, santo Afonso, acusando Geraldo de pecados de impureza com uma outra jovem.
Chamado para defender-se, Geraldo preferiu manter o silêncio. O castigo foi ficar sem receber a santa comunhão e sem ter contato com outras pessoas de fora do convento. Ele sofreu muito. Somente depois que a calúnia foi desmentida pela própria Néria, em uma outra carta, é que Geraldo pôde voltar a receber a eucaristia e a trabalhar com o afinco de sempre na defesa da fé e na assistência aos pobres. O povo só o chamava de "pai dos pobres".
Mas a fama de sua santidade, curiosamente, vinha das jovens mães. É que as socorridas por ele durante as aflições do parto contavam, depois, que só tinham conseguido sobreviver graças às orações que ele rezava junto delas, tendo o filho nascido sadio.
De saúde sempre frágil, Geraldo Majela morreu no dia 16 de outubro de 1755, no Convento de Caposele, com vinte e nove anos de idade. Após a sua morte, começaram a ser relatados milagres atribuídos à sua intercessão, especialmente em partos difíceis.
Em 1893, ele foi beatificado, sendo declarado o padroeiro dos partos felizes.
Em 1904, o papa Pio X canonizou-o e sua festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Beato João XXIII, papa

 
Ângelo Giuseppe Roncalli nasceu em 25 de novembro de 1881, na pequena cidade de Soto il Monte, em Bergamo, Itália, quarto filho de uma família de camponeses pobres. O ambiente religioso da família e a fervorosa atividade paroquial foram a sua primeira escola de vida cristã, marcando a sua feição espiritual.
O menino Angelino, como era carinhosamente chamado, era muito ativo, bondoso e inteligente. Terminou os estudos num lampejo, tanto que no seminário era o mais jovem da classe. Aos quinze anos de idade, foi admitido na Ordem Franciscana Secular, professando as regras no ano seguinte. E aos dezenove anos já havia completado os cursos, mas pelas leis eclesiásticas não poderia ser ordenado sacerdote antes dos vinte e quatro anos de idade. Assim, foi enviado para Roma como bolsista da diocese de Bergamo, para formar-se no Pontifício Seminário Gregoriano. Também nesse tempo, prestou um ano de serviço militar.
Recebeu a ordenação sacerdotal em 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo bispo de Bergamo, trabalhando também no seminário como professor. Além disso, foi assistente da Ação Católica Feminina, colaborador no diário católico de Bergamo e pregador muito solicitado pela sua eloqüência elegante, profunda e eficaz.
Em 1915, quando estourou a Primeira Guerra Mundial, serviu a Itália como soldado integrante do corpo de saúde e, depois, como capelão militar. No fim da guerra, abriu a "Casa do Estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes.
Quando o papa Bento XV o chamou a Roma em 1921, teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Lá, exerceu a presidência nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, como tal percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários.
Foi o papa Pio XI que o iniciou na carreira diplomática em 1925, na função de visitador apostólico da Bulgária, e o elevou à dignidade episcopal. No mesmo ano foi nomeado delegado apostólico na Turquia e Grécia, onde ficou até 1935. O trabalho intenso de Roncalli a serviço dos católicos romanos ganhava cada vez mais destaque pelo tom do diálogo e pelo trato respeitoso para com os cristãos ortodoxos e os muçulmanos.
Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, ele estava na Grécia, onde procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito", fornecida pela delegação apostólica. Já nos últimos meses da guerra, em 1944, foi, como núncio apostólico, para Paris. Uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de guerra e trabalhou para normalizar a vida eclesial na França.
Consagrado cardeal em 1953, foi designado patriarca de Veneza. No conclave de 1958, foi eleito papa, tomando o nome de João XXIII, aos setenta e sete anos de idade. O seu pontificado durou menos de cinco anos e tornou-se muito apreciado, sobretudo, porque lançou as encíclicas "Pacem in Terris" e "Mater et magistra". Também, convocou o sínodo romano, instituiu uma comissão para a revisão do Código de Direito Canônico e convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II em 11 de outubro de 1962. Este papa exalava odor de santidade, sendo assim reconhecido pelo seu rebanho, que o chamava apenas de "papa bom". Foi irradiando a paz, própria de quem confia sempre na Providência Divina, que ele morreu no dia 3 de junho de 1963, em Roma.
No Jubileu do ano 2000, o papa João XXIII foi beatificado pelo sumo pontífice João Paulo II, cuja celebração foi marcada para ocorrer no dia 11 de outubro, dada a importância do Concílio iniciado por ele nesta data.



Santo Alexandre Sauli, bispo

 


A família Sauli fazia parte da nobre Corte de Gênova, muito ligada à Igreja. Nela, havia inúmeras figuras de destaque e influência na política, ricas e poderosas, tendo tradição de senadores e administradores para aquela costa marítima tão importante da Itália.
No seio deles nasceu Alexandre, no dia 15 de fevereiro de 1534, em Milão. No batizado, sua mãe o consagrou à Virgem Maria. Desde a tenra idade queria seguir a vida religiosa. E na adolescência ele dispensou uma brilhante carreira na Corte do rei Carlos V, conhecido como o senhor da Europa e da América, para seguir sua vocação.
Aos dezessete anos de idade, entrou no Colégio do Clero Regular de São Paulo, da igreja milanesa de São Barnabé, tradicionalmente freqüentada por sua família. Lá, entregou-se por completo à obediência das regras da vida comum com severas tarefas religiosas. Abandonou tudo o que possuía, tornando-se um verdadeiro seguidor de Cristo.
Ordenado sacerdote, Alexandre Sauli exerceu o ministério como professor de noviços e formador de padres barnabitas. Depois, foi nomeado pelo arcebispo de Milão, Carlos Borromeo, agora santo, teólogo e decano da Faculdade Teológica de Pávia.
Em 1565, aos trinta e um anos de idade, foi eleito superior-geral da Ordem, empenhando-se para manter vivo o espírito original do fundador. Considerado por seu dom de conselho, tornou-se o confessor do próprio são Carlos Borromeo, e orientador espiritual de muitas pessoas ilustres do seu tempo, tanto religiosos como leigos.  
Em 1567, foi nomeado bispo de Aléria, na ilha de Córsega, França. Recebeu, entretanto, uma diocese decadente e abandonada, sem clero capacitado, sem locais de culto decente, com um rebanho perdido nas trevas da ignorância e da superstição. Trabalhou duro durante vinte e um anos. Conseguiu reformar o clero, sendo o professor e o exemplo da vida cristã para todas as classes sociais, eliminando divergências e ódios entre as várias famílias dominantes.
Transformou a diocese num modelo de devoção apostólica e de organização, sendo estimado e amado por todos, ricos e pobres.
Mas Alexandre teve de deixar a Córsega quando foi nomeado bispo de Pávia pelo papa Gregório XIV, de quem fora diretor espiritual e confessor. Na época, Alexandre não tinha boas condições físicas devido ao seu incansável trabalho e à vida dura de privações, penitências e mortificações a que ele sempre se submetera. Mesmo assim, iniciou a visita pastoral de sua nova diocese, sem nem sequer pensar em abandonar a cruz de sua missão.
No dia 11 de outubro de 1592, ele estava em visita na cidade de Calosso d'Asti. Era um doce entardecer de outono. Estando na rica propriedade do senhor do local, aceitou sua oferta de hospitalidade. Mas não ficou em nenhum dos luxuosos salões, preferiu estar entre os trabalhadores que se acomodavam nas estrebarias dos animais, onde adormeceu e não mais acordou.
Seu corpo foi transferido e sepultado na Catedral de Pávia, Itália. Em 1904, o papa Pio X o canonizou como santo Alexandre Sauli, "Apóstolo da Córsega". Venerado como padroeiro da ilha de Córsega, sua festa litúrgica, que ocorre no dia de sua morte, mantém-se muito viva e vigorosa.


Catedral de Pavia, Itália