quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Santo Afonso Rodrigues



            A Companhia de Jesus gerou padres e missionários santos que deixaram a assinatura dos jesuítas na história da evangelização e na história da humanidade. Figuras ilustres que se destacaram pela relevância de suas obras sociais cristãs em favor das minorias pobres e marginalizadas, cujas contribuições ainda florescem no mundo todo.
                 Entretanto de suas fileiras saíram também santos humildes e simples, que pela vida entregue a Deus e servindo exclusivamente ao próximo, mostraram o caminho de felicidade espiritual aos devotos e discípulos. Valorosos personagens quase ocultos, que formam gerações e gerações de cristãos e, assim, sedimentam a sua obra no seio das famílias leigas e religiosas.
                 Um dos mais significativos desses exemplos é o irmão leigo Afonso Rodrigues, natural de Segóvia, Espanha. Nascido em 25 de julho de 1532, pertencia a uma família pobre e profundamente cristã. Após viver uma sucessão de fatalidades pessoais, Afonso encontrou seu caminho na fé.
           Tudo começou quando Afonso tinha dezesseis anos. Seu pai, um simples comerciante de tecidos, morreu de repente. Vendo a difícil situação de sua mãe, sozinha para sustentar os onze filhos, parou de estudar. Para manter a casa, passou a vender tecidos, aproveitando a clientela que seu pai deixara.
                   Em 1555, aconselhado por sua mãe, casou e teve dois filhos. Mas novamente a fatalidade fez-se presente no seu lar. Primeiro, foi a jovem esposa que adoeceu e logo morreu; em seguida, faleceram os dois filhos, um após o outro. Abatido pelas perdas, descuidou dos negócios, perdeu o pouco que tinha e, para piorar, ficou sem crédito.
                Sem rumo, tentou voltar aos estudos, mas não se saiu bem nas provas e não pôde cursar a Faculdade de Valência.
                  Afonso entrou, então, numa profunda crise espiritual. Retirado na própria casa, rezou, meditou muito e resolveu dedicar sua vida completamente a serviço de Deus, servindo aos semelhantes. Ingressou como irmão leigo na Companhia de Jesus em 1571. E foi um noviciado de sucesso, pois foi enviado para trabalhar no colégio de formação de padres jesuítas em Palma, na ilha de Maiorca, onde encontrou a plena realização da vida e terminou seus dias.
              No colégio, exerceu somente a simples e humilde função de porteiro, por quarenta e seis anos. Se materialmente não ocupava posição de destaque, espiritualmente era dos mais engrandecidos entre os irmãos. Recebera dons especiais e muitas manifestações místicas o cercavam, como visões, previsões, prodígios e cura.
              E assim, apesar de porteiro, foi orientador espiritual de muitos religiosos e leigos, que buscavam sua sabedoria e conselho. Mas um se destacava. Era Pedro Claver, um dos maiores missionários da Ordem, que jamais abandonou os seus ensinamentos e também ganhou a santidade. Outro foi o missionário Jerônimo Moranto, martirizado no México, que seguiu, sempre, sua orientação.
                Afonso sofreu de fortes dores físicas durante dois anos, antes de morrer em 31 de outubro de 1617, lá mesmo no colégio. Foi canonizado em 1888, pelo papa Leão XIII, junto com são Pedro Claver, seu discípulo, conhecido como o Apostolo dos Escravos. Santo Afonso Rodrigues deixou uma obra escrita resumida em três volumes, mas de grande valor teológico, onde relatou com detalhes a riqueza de sua espiritualidade mística. A sua festa litúrgica é comemorada no dia de sua morte.

Santa Retistuta Kafka



       No dia primeiro de maio de 1894, nasceu Helene, filha de Anton e Maria Kafka, na cidade de Bruno, atual República Checa. Naquele tempo, a região chamava-se Moravia, e estava sob o governo do imperador austríaco Francisco José. Em 1896, a família Kafka transferiu-se para Viena, capital do Império Austro-Húngaro.
     Helene concluiu os estudos e formou-se enfermeira, com o desejo de tornar-se religiosa. No início, conformou-se com a negativa dos pais, mas, ao completar vinte anos, ingressou na Congregação das Franciscanas da Caridade Cristã, agora com a bênção da família.
         Como religiosa, adotou o nome de irmã Maria Retistuta, o primeiro em homenagem a sua mãe e o segundo a uma mártir do século I.
      Mas logo recebeu o apelido carinhoso de "irmã Resoluta", pelo seu modo cordial e decidido e por sua segurança e competência como enfermeira de sala cirúrgica e anestesista. No hospital de Modling, em Viena, a religiosa tornou-se uma referência para os médicos, enfermeiras e, especialmente, para os doentes, aos quais soube comunicar com lucidez o amor pela vida, na alegria e na dor.
      Foram muitos anos que serviu a Deus nos doentes, para os quais estava sempre disponível. Em março de 1938, Hitler mandou o exército ocupar a Áustria. Viena tornou-se uma das bases centrais do comando nazista alemão. Irmã Restituta colocou-se logo contrária a toda aquela loucura desumana. Não teve receio de mostrar que, sendo favorável à vida, não apoiaria, jamais, o nazismo de Hitler, fosse qual fosse o preço.
         Por isso, quando os nazistas retiravam o crucifixo também das salas de cirurgia, ela, serenamente, o recolocava no lugar, de cabeça erguida, desafiando os nazistas. Como não se submetia e muito menos se "dobrava", os nazistas a eliminaram. Foi presa em 1942. E ela fez da prisão uma espécie de lugar de graça, para honrar o nome de sua consagração, ou seja, Restituta, aquela que foi restituída para Deus.
          Irmã Resoluta esperou cinco meses na prisão para morrer. Em 30 de março de 1943, foi decapitada. Para as franciscanas, mandou uma mensagem: "Por Cristo eu vivi, por Cristo desejo morrer". E na frente dos assassinos nazistas, antes que o carrasco levantasse a mão que a mataria, irmã Restituta disse ao capelão: "Padre, faça-me na testa o sinal da cruz".
         O papa João Paulo II, em 1998, elevou irmã Maria Restituta Kafka aos altares para ser reverenciada pela Igreja como bem-aventurada. A sua festa litúrgica foi marcada para o dia 30 de outubro, data em que foi decretada a sua sentença de morte.

São Marcelo


     

        O martírio de são Marcelo está estreitamente ligado ao de são Cassiano, e sua Paixão é um belo exemplo de autenticidade, graças a sua prosa enxuta, essencial e sem digressões, sem os enriquecimentos usuais na história dos primitivos cristãos.
        Marcelo era um centurião do exército romano da guarnição de Tânger. Como tal foi enviado a participar dos festejos do aniversário do imperador Diocleciano. Era sabido que em tal circunstância os participantes deviam honrar uma estátua do imperador com um gesto (lançar incenso no braseiro posto a seus pés) que os cristãos consideravam idolátrico.
      Marcelo recusou-se a fazê-lo e, para mostrar-se coerente, retirou as insígnias de centurião, jogou-as aos pés da estátua e se declarou cristão. Por muito menos isso seria passível da pena capital.  
      Foi chamado o escrivão para que redigisse uma ata oficial sobre a rebeldia do centurião. O funcionário — em latim, exceptor — recusou-se a redigir as atas processuais. Imitando o centurião Marcelo, jogou fora a pena, protestou pela injustiça perpetrada contra os inocentes, condenados à morte por adorarem o único e verdadeiro Deus, e declarou-se também ele cristão.
        Foram ambos aprisionados e poucos dias depois sofreram o martírio: Marcelo em 30 de outubro, e Cassiano em 3 de dezembro. O poeta Prudêncio dedica-lhes um hino.

Beata Benvinda Boiani, virgem dominicana


     Era o mês de maio de 1255, na cidade de Cividale del Friuli, Itália. Um pai esperava ansioso que a sétima criança a nascer fosse um menino, pois já eram seis as filhas que tinha. Mas, diante da chegada de uma sétima menina, bom católico que era, exclamou: “Esta também é benvinda!”. E depois deste ato de fé decidiu que o nome da criança seria Benvinda.
     Este piedoso pai haveria de se alegrar sempre mais com esta filha que foi uma verdadeira bênção, pois parecia mais do céu do que da terra. Nada de transitório a atraia e as irmãs jamais conseguiram induzi-la às vaidades humanas.
     Guiada somente por seu fervor e pela inexperiência da juventude, entregou-se a penitências extraordinárias. São Domingos lhe apareceu reprovando-a severamente por seus rigores indiscretos e lhe ordenando que se colocasse sob a régia via da obediência. Ele mesmo indicou o santo dominicano sob cuja direção ela deveria passar toda a vida.
     Após receber o hábito da Ordem Terceira da Penitência de São Domingos, imitou nas vigílias e nos jejuns os religiosos da Ordem. Tendo adoecido gravemente, como resultado de tantas penitências, foi curada pelo glorioso Patriarca Domingos depois de cinco anos de sofrimentos. Benvinda então visitou o túmulo de São Domingos em Bologna.
Igreja da Assunção de Na Sra em Cividale
    Benvinda permaneceu sempre em família, vivendo apartada e humilde. Os poucos anos de vida que lhe restaram ela os passou na contemplação e no sacrifício de si mesma. Foi atormentada de todos os modos pelo demônio; por outro lado, gozou também de favores celestes: muitas foram as aparições de Nossa Senhora, belas e sempre ricas de símbolos.
     Aos confrades e às irmãs da Ordem Terceira, e sobretudo ao povo, a sua breve vida foi luz e exemplo admiráveis.
     Benvinda morreu aos 38 anos, em 30 de outubro de 1292, na sua cidade natal de Cividale. Foi sepultada na igreja local dos dominicanos e seu corpo não foi encontrado. Logo foi objeto de veneração e de um culto popular.
     O Papa Clemente XIII confirmou seu culto e deu-lhe o título de Beata em 6 de fevereiro de 1765.

Santa Dorotéia de Montau, viúva e reclusa


      A célebre contemplativa Dorotéia Swartz de Montau, nasceu em Gross Montau, Prússia (Matowy Wielkie) a oeste de Marienburgo (Malbork) no dia 6 de fevereiro de 1347, e morreu em Marienwerder (*), em 25 de junho de 1394.
     Marienburgo, Marienwerder e Dantzig pertenciam aos cavaleiros teutônicos, então no auge do seu poder. Ela viveu sob a sua jurisdição e foram eles que introduziram o processo de sua canonização em 1404.
     Era filha de um fazendeiro holandês,Willem Swartz. Antigas biografias relatam que desde muito jovem ela mortificava o próprio corpo e recebera os estigmas invisíveis, disfarçando a dor que lhe causavam.
     Com a idade de dezesseis anos se casou com Adalberto de Dantzig (Gdansk), homem maduro, artesão armeiro abastado, mas muito temperamental, de caráter violento. Quando tinha 31 anos, Dorotéia teve seus primeiros êxtases e o esposo não tinha paciência com suas experiências místicas e a maltratava. Levando a vida matrimonial com paciência, humildade e gentileza, conseguiu mudar pouco a pouco o caráter do esposo. O casal fez freqüentes peregrinações a Colônia, Aachen e Eisiedeln.
     Em 1390, eles resolveram visitar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma. Mas Adalberto, impedido por uma enfermidade, permaneceu em casa, aonde veio a falecer. Entregue a Deus, Dorotéia viajou sozinha para Roma. Ia mendigando, quase sem observar as regiões que percorria. Chegando a Roma, caiu doente e foi tratada durante longas semanas no hospital de Maria Auxiliadora. Quando regressou, seu esposo já havia falecido há meses.
     Dos nove filhos que tiveram, quatro morreram ainda crianças e quatro durante a praga de 1383. Somente uma filha, Gertrudes, sobreviveu e tornou-se beneditina em Colônia. A Santa dedicou a ela um pequeno tratado de vida espiritual.
     Em 1391 Dorotéia se mudou para Marienwerder (Kwidzyn). Ali encontrou o seu diretor espiritual, João de Marienwerder (1343-1417), da Ordem Teutônica, sábio teólogo e professor em Praga. Percebendo a grandeza espiritual da penitente, ele iniciou a transcrição de suas visões e de seu ensinamento em 1392. Este trabalho compreende sete livros em Latim, Septililium. Escreveu também a vida da Santa em quatro livros, impressos por Jakob Karweyse.
     Em 2 de maio de 1393, depois de uma provação de dois anos, e com a permissão do Capítulo e da Ordem Teutônica, passou a viver em uma ermida construída junto a Catedral de Marienwerder. A cela tinha dois metros de largura e três de altura. Três janelas completavam a ermida: uma abria-se para o céu; outra dava para o altar, para que ela acompanhasse a Santa Missa e comungasse; a terceira dava para o cemitério e servia para lhe passarem os alimentos. Dorotéia vivia austeramente e comungava diariamente, algo excepcional para seu tempo. Com seu exemplo edificava a todos que a procuravam em busca de conselho e consolo. Foram-lhe atribuídas muitas conversões.
     Embora não tivesse freqüentado escola, Santa Dorotéia tinha uma bagagem cultural graças às suas viagens e ao contato com eclesiásticos eminentes. Além da Ordem Teutônica, sofreu influência da espiritualidade dominicana e teve como modelo Santa Brígida da Suécia, cujas relíquias haviam passado por Dantzig em 1374.
     Santa Dorotéia morreu em Marienwerder no dia 25 de junho de 1394, e foi logo venerada como Santa e Patrona da Ordem Teutônica e da Prússia.
     As obras do seu confessor vieram à luz entre 1395 e 1404. Os Bolandistas editaram duas "vidas" e o Septililium, onde os carismas da mística são apresentados como efusão extraordinária do Espírito Santo.
     Os livros compilados pelo confessor de Dorotéia tinham por finalidade sua canonização como a primeira Santa da Prússia. A obra tem muitas informações interessantes sobre o dia a dia numa fazenda, numa aldeia, e em prósperas cidades. A tradução destes livros forneceu o texto do primeiro livro impresso na Prússia, no ano de 1492, e também facilitou estudos de textos medievais.
     O processo de canonização iniciado em 1404 só foi retomado em 1955. Finalmente ela foi canonizada em 1976. É celebrada em 25 de junho e 30 de outubro. Suas relíquias desapareceram durante a pseudo-reforma protestante. A igreja de Marienwerder, onde Santa Dorotéia foi sepultada, atualmente é luterana.
     Santa Dorotéia é representada com o livro das revelações na mão, o rosário e cinco flechas que simbolizam os estigmas. A sua espiritualidade é comparada à de Santa Brígida da Suécia e de Santa Catarina de Siena.
  
Castelo de Marienwerder
     (*) Marienwerder - Kwidzyn em polonês - é uma cidade no norte da Polônia, próxima do Rio Liwa. Com cerca de 40 mil habitantes, ela faz parte da Pomerânia desde 1999. É a capital do Condado de Kwidzyn.
     Ordem Teutônica ou Ordem dos Cavaleiros Teutônicos foi uma ordem militar vinculada à Igreja Católica por votos religiosos pelo Papa Clemente III, formada em São João de Acre, na Palestina, na época das Cruzadas, no final do século XII. Usavam sobrevestes brancas com uma cruz negra. Esta Ordem fundou o Castelo de Marienwerder em 1232 e a cidade no ano seguinte. Marienwerder tornou-se a sede do Bispado da Pomerânia dentro da Prússia.
      Santa Dorotéia de Montau viveu em Marienwerder de 1391 até sua morte em 1394. Os peregrinos vinham a Marienwerder para rezar diante de suas relíquias.
      A Confederação Prussiana foi fundada em Marienwerder em 1440. Em 1466, a cidade tornou-se feudo da Polônia junto com o que restou da propriedade dos Cavaleiros Teutônicos após sua derrota na Guerra dos Treze Anos.
     Marienwerder tornou-se parte do Ducado da Prússia, um feudo da Polônia, quando aquele ducado foi criado em 1525. O ducado foi herdado pela Casa dos Hohenzollern em 1618 e foi elevado a Reino da Prússia em 1701. A cidade era a capital do Distrito de Marienwerder. Após o primeiro desmembramento da Polônia, Marienwerder tornou-se sede da nova Província da Prússia.  E depois das guerras napoleônicas foi incluída na região de Marienwerder (Kwidzyn).

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Santa Ermelinda, virgem do Brabante (Bélgica)


     Ermelinda nasceu em Lovenjoul, próximo de Louvain, no Brabante (atual Bélgica), filha de Ermenoldo e Armesinda, de família ilustre ligada aos duques do Brabante.
     Recebeu uma educação adequada à sua classe social, mas longe de prender seu coração aos atrativos da vaidade ou ao brilho da grandeza, desde criança ela aspirava pela vida solitária, pela oração e pela Palavra de Deus.
     Recusando qualquer proposta de casamento e tendo feito voto de castidade, para que seus pais não a ligassem a nenhum compromisso, cortou seus cabelos, renunciou às pompas do século e dedicou-se inteiramente a Deus praticando severas austeridades.
     Mas, desejando ainda maior entrega, deixou a casa paterna e foi viver em Bevec (Beauvechain). Ali, pés nus, Ermelinda ia à igreja onde passava os dias e as noites em oração. Ela não tinha outra ambição que ser uma humilde serva de Nosso Senhor.
     Advertida por um anjo que dois jovens senhores do local iam tentar seduzi-la, ela abandonou Bevec e fugiu para Meldrik (chamada depois Meldaert ou Meldert), na atual Diocese de Malinas (Mechelen).
      Ermelinda passou ali os restantes dias de sua vida, vivendo de ervas e numa ascese semelhante a dos antigos solitários do deserto do Egito, combatendo o demônio e a carne. Ela faleceu no final do século VI, ou no início do século VII, no dia 29 de outubro.
     Anos depois, o local onde seu corpo fora enterrado pelos anjos foi encontrado. Em 643, uma capela foi erguida no local onde fora sepultada e numerosos milagres ocorreram ali.
     Há doze séculos Santa Ermelinda é venerada em toda Diocese de Malinas (Mechelen), mas particularmente em Meldert e em Lovenjoul. Em Lovenjoul surgiu uma fonte de água milagrosa, que obtém a cura das doenças dos olhos, chamada “Fonte de Santa Ermelinda”, porque irriga as terras que pertenceram aos seus pais.
Catedral e mercado de Malinas
     A partir do século XIII suas relíquias sofreram inúmeras vicissitudes, transladações, ocultação, para protegê-la das profanações dos invasores e dos ímpios durante a invasão francesa em 1792. Finalmente, em 22 de julho de 1849, foram definitivamente depositadas na igreja de Meldert num magnífico relicário. Nesta cidade existe ainda a Confraria dedicada a esta Santa.
     A Diocese de Malines a festeja no dia 29 de outubro, tradicionalmente tido como o dia de sua morte.
     O nome Ermelinda caiu em desuso, mas existe ainda numa forma abreviada, Linda. O nome Ermelinda é de origem alemã: ‘Erme’ = ‘poderosa’; ‘linda’, de ‘linta’ = ‘escudo’. Portanto, temos aí um “escudo poderoso” que é venerado há séculos numa demonstração do apreço que Deus Nosso Senhor tem por esta sua dedicada e fiel serva.
 

Santos irmãos mártires Vicente, Sabina e Cristeta


     No inicio do século IV, durante a perseguição de Diocleciano, e por ordem do pretor Daciano, os irmãos Vicente, Sabina e Cristeta (de Ávila, Espanha) sofreram o martírio por negarem-se a assinar um documento no qual deviam reconhecer que tinham oferecido sacrifícios aos deuses romanos, segundo estabelecia o quarto edito da perseguição.
     Segundo a tradição, Vicente deixou a impressão dos seus pés em uma pedra na prisão para mostrar aos guardas quem era Jesus, e isto foi o suficiente para convertê-los. Alguns livros antigos comentam esse milagre: os guardas viram os pés de Jesus na rocha e sentiram o odor de Nosso Senhor.
     Por um tempo tudo correu bem para Vicente: seus guardas estavam convertidos e com a ajuda de Sabina e Cristeta ele conseguiu escapar. Mas, ao chegar a Alba, todos os três foram presos. Eles foram chicoteados, espancados e esmagados com pedras. E então, em vez de deixar uma impressão na pedra, Vicente deixou um grande impressão em toda a Espanha.
     Ele é mostrado com suas duas irmãs, todos sendo torturados e desmembrados na roda. Seus corpos foram depositados num buraco de uma rocha. Posteriormente uma igreja em honra destes mártires foi construída sobre o local (a rocha é a que se pode contemplar na capela direita da cripta).
     As relíquias foram transladadas para o Mosteiro de São Pedro de Arlanza por ordem do Rei Fernando I de Leão e Castela no ano de 1062, porque a igreja de São Vicente estava bastante abandonada e havia o risco de perderem-se os santos despojos. 
     Mais tarde houve um novo translado, em 1835, para a Colegiata de São Cosme e São Damião de Covarrubias, de onde passaram a capela das relíquias da catedral de Burgos, até seu último translado ao seu primeiro lugar de veneração, a basílica de São Vicente de Ávila, dentro de umas urnas colocadas no altar mor.
     Na Basílica de São Vicente de Ávila se encontra o monumento fúnebre erigido em memória dos Santos Mártires, em estilo românico, cujo autor é o mestre Fruchel (ou Eruchel). Nele consta cenas da perseguição de Daciano, a prisão de São Vicente, a visita das irmãs na prisão, a fuga dos irmãos e finalmente sua execução.


Basílica de São Vicente em Ávila, Espanha
    São Vicente é muito venerado em toda a Espanha especialmente em Ávila.

Beata Emelina, eremita e conversa cisterciense


     Esta beata francesa da Idade Média é considerada por alguns estudiosos como uma “solitária”, enquanto outros acreditam que ela era uma irmã conversa da Ordem Cisterciense.Provavelmente ela foi ambas as coisas.
     Emelina nasceu em 1115 na diocese de Troyes e viveu como eremita em uma granja construída no terreno pertencente a Abadia de Nossa Senhora de Boulancourt, situada na atual comuna de Longeville-sur-Laines (Alto Marne), na França.
     A abadia fora fundada em 1095 na diocese de Troyes, hoje Langres, para os Cônegos Regulares de São Pedro do Monte. Tendo caído em um grande relaxamento, para reformá-la o bispo cisterciense de Troyes, Henrique de Corinzia, a deu a São Bernardo, fundador da Ordem, que mandou para ali um grupo de monges de Claraval.
     Quando os monges chegaram a Boulancourt, Emelina já estava vivendo ali como irmã conversa, na granja Perte-Sèche situada a alguns quilômetros da abadia. O monge Beato Goslin se refere a ela em uma breve biografia, revelando o seu modo de viver: jejuava três dias por semana, sem beber, nem comer, usava um cilício e uma corrente de ferro com pontas, andava descalça fosse inverno ou verão.
     A eremita rezava sem descanso e se dedicava a costura; a sua vida de grande penitência resultou na difusão da fama de santidade. Ela era dotada do dom da profecia; as pessoas vinham de toda parte para consultá-la.
     Emelina faleceu em 1178 e foi sepultada na igreja da Abadia de Boulancourt; sobre o seu túmulo foi colocada uma pequena lâmpada sempre acesa. Ela foi inscrita como Beata no “Menologio Cisterciense” no dia 27 de outubro.
     Emelina deve ter sido uma das últimas irmãs conversas agregadas a um mosteiro de monges, porque em 12 de fevereiro de 1234 o papa Gregório IX, em uma carta ao abade de Boulancourt, pedia aos monges para não mais receberem em suas terras as irmãs conversas, o que confirma que cerca de 50 anos depois da morte da Beata ainda havia algumas irmãs conversas na granja da abadia.
     A Beata Emelina representa para a Ordem Cisterciense o modelo de eremita da Idade Média e de todas as épocas.
 
Catedral de S Pedro e S Paulo em Troyes, França
 

Beata Celina Chludzinska Borzecka, viúva e fundadora


     Celina Chludzinska Borzecka nasceu no dia 29 de outubro de 1833, em Antowil, então território polonês, atualmente Bielo-Rússia, uma de três filhos do casal Ignacio e Petronella Chludzinska. A vida espiritual de Celina desenvolveu-se cedo e durante as orações sempre dirigia a Deus a pergunta: "O que queres que eu faça com a minha vida?"
     Após um retiro em Vilnius, em 1853, exprimiu o desejo de tornar-se religiosa, mas encontrou a oposição dos pais. Obedecendo à vontade deles e ao conselho do seu confessor, aos 20 anos casou-se com José Borzecki. De qualquer maneira, dentro dela permaneceu a convicção de que "a sua vida não deveria terminar de modo comum".
     Profundamente amada pelo marido, também ela foi uma esposa amorosa e exemplar que partilhava a responsabilidade do lar e demonstrava a sua atenção aos pobres. Tiveram quatro filhos, dos quais dois morreram na infância.
     Em 1869, quando o marido teve um derrame cerebral que o deixou paralisado, Celina transferiu-se com a família para Viena a fim de obter melhores cuidados médicos para ele. Durante o seu sofrimento, que durou cinco anos, ela foi sua fonte de apoio espiritual e moral, além de dedicada e sensível enfermeira. Ao mesmo tempo, continuou a prodigalizar-se pela educação das duas filhas.
     Em 1875, após a morte do marido, Celina transferiu-se para Roma com as filhas a fim de alargar os horizontes espirituais e culturais e procurar indicações a respeito da vontade de Deus para si e para as suas filhas. Na igreja de São Cláudio encontrou-se com o co-fundador dos Ressurrecionistas, Pe. Pedro Semenenko, que há muitos anos desejava fundar o ramo feminino da Congregação.
     Em 1882 Celina, juntamente com a filha menor, Edvige, iniciou a vida em comunidade em Roma, sob a direção espiritual do Pe. Semenenko. Em 1886, após a repentina morte do Sacerdote, Celina teve que enfrentar muitas intrigas de pessoas contrárias à nova fundação. De maneira cada vez mais forte, Celina sentia a chamada a fundar uma comunidade de mulheres dedicadas ao Mistério da Ressurreição.
     Em 1887, assistida por amigos fiéis, Celina abriu a sua primeira escola vespertina para moças, da qual o Mons. Giácomo Della Chiesa, futuro Papa Bento XV, cujos pais residiam no apartamento ao lado da escola, foi capelão e catequista.
     Depois de anos de provações e sofrimentos, Celina e sua filha Edvige, co-fundadora, fizeram a profissão dos votos religiosos a 6 de janeiro de 1891, dando início oficialmente à nova Congregação.
     Expressou o dinamismo da sua vida, antes de morrer, quando escreveu num pedaço de papel, pois já não podia falar: "Em Deus reside a felicidade em eterno". Madre Celina faleceu a 26 de outubro de 1913 em Cracóvia.
     A Beata Celina pertence a um raro grupo de mulheres que experimentaram diversos estados de vida: esposa, mãe, viúva, religiosa e fundadora. Com simplicidade e humildade, escreveu, dando assim uma característica à sua vida espiritual: "Deus não me chamou para fazer coisas extraordinárias... talvez porque não queria que me tornasse orgulhosa. A minha vocação é cumprir a vontade de Deus fielmente e com amor".
     Madre Celina foi beatificada em 27 de outubro de 2007 na Basílica de São João de Latrão, Roma. 


Madre Edvige, filha da Beata

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Santa Tabita de Jope


     Tabita é um nome sugestivo, quando se conhece que em hebraico significa “gazela” e que “gazela” por sua vez era um nome composto com a palavra “beleza”, evidentemente graças à delicada elegância deste animal. Em grego, a Santa de hoje é chamada Dorcas. O significado deste nome é idêntico: gazela.  
     O que sabemos desta “gazela” católica? Nos Atos dos Apóstolos, 9, 36 a 43, encontramos a resposta. Ali é narrado o episódio que retrata um dos milagres mais celebres do Apóstolo São Pedro.
 
     Havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que em grego que dizer Dorcas. Esta era rica em boas obras e dava muitas esmolas.
     Aconteceu que adoecera naqueles dias e veio a falecer. Depois de a terem lavado, levaram-na para o quarto de cima.
     Ora, como Lida fica perto de Jope, os discípulos, ouvindo dizer que Pedro lá se encontrava, enviaram-lhe dois homens, rogando-lhe: Não te demores em vir ter conosco.
     Pedro levantou-se imediatamente e foi com eles. Logo que chegou, conduziram-no ao quarto de cima. Cercaram-no todas as viúvas, chorando e mostrando-lhe as túnicas e os vestidos que Dorcas lhes fazia quando viva.
     Pedro então, tendo feito todos sair, pôs-se de joelhos e orou. Depois, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te! Ela abriu os olhos e, vendo Pedro, sentou-se.
     Ele a fez levantar-se, estendendo-lhe a mão. Chamando os irmãos e as viúvas, entregou-lha viva.
     Este fato espalhou-se por toda Jope e muitos creram no Senhor.
     Pedro permaneceu ainda muitos dias em Jope, em casa de um certo Simão, curtidor.
 
     Além desta narração, nada mais se conhece de Tabita de Jope, a moderna cidade portuária de Jaffa, em Israel. O episódio narrado acima é o único testemunho histórico da existência desta Santa.
     Os gregos introduziram o nome da “querida discípula” no Calendário dos Santos, mas não se pode dizer que Tabita tenha tido um culto particular. A sua memória entre os Santos permaneceu a parte, embora as legendas se referem a miúdo ao milagre de Jope.
     Mas, a memória desta “gazela” ressuscitada do sono eterno pelas orações de São Pedro não se perdeu, e das páginas do texto sagrado, a figura da mulher generosa se ergue eloqüente diante de nós, saindo da obscuridade que a rodeia.

Santa Daria, mártir


     Santa Daria e seu esposo São Crisanto são patronos da cidade de Reggio Emilia, Itália. Eles viveram e morreram no século III, sendo que o ano do martírio se supõe tenha sido 283. Eles são recordados individualmente ou juntos em vários dias do ano, segundo os diversos Martirologios, enquanto que o famoso Calendário Marmóreo de Nápoles e o Martirológio Romano os recordam no dia 25 de outubro.
     Os dois mártires aparecem em várias obras de arte, relicários, afrescos, mosaicos, em algumas cidades da Itália, da Alemanha, da Áustria e França, o que testemunha a difusão de seu culto antiqüíssimo em toda a Igreja.
     Uma “passio” nas versões em latim e em grego já existia no século VI, pois era conhecida de São Gregório de Tours (538-594), bispo francês e grande historiador da época. São Gregório de Tours refere que os cristãos costumavam reunir-se na gruta onde estavam enterrados os corpos dos Santos. Em certa ocasião, quando muitos fieis lá se encontravam, o prefeito da cidade mandou cercar o lugar e todos morreram pela fé.
     Crisanto era filho de um certo Polemio, de origem alexandrina, que foi para Roma para estudar filosofia no tempo do imperador Numeriano (283-284). Ali conheceu o presbítero Carpóforo, que o instruiu na religião cristã e depois o batizou.
     Polemio, seu pai, procurou de todos os modos fazê-lo voltar ao culto dos deuses. Inclusive utiliza-se para isto de algumas mulheres, especialmente da vestal Daria, uma jovem bela e dotada. Mas Crisanto consegue converter Daria e de comum acordo eles simulam um casamento para poderem ser deixados livres para pregar, convertendo muitos outros romanos ao Cristianismo.
     Mas eles foram descobertos e acusados ao prefeito Celerino, o qual os remeteu ao tribuno Cláudio, que após alguns prodígios feitos por Crisanto, se converteu junto com sua esposa Ilaria e dois filhos, Jasão e Mauro, alguns parentes e amigos, além de 70 soldados da guarnição que mantinha em custódia os prisioneiros.
     Então o imperador Numeriano interveio diretamente condenando Cláudio a ser lançado ao mar com uma grossa pedra amarrada ao pescoço, e seus dois filhos e os setenta soldados foram decapitados e sepultados na Via Salária. Alguns dias depois Ilaria também foi morta quando rezava no local onde estavam sepultados.
     Crisanto e Daria, depois de extenuantes interrogatórios, foram conduzidos a Via Salária, lançados em uma vala e sepultados vivos sob uma grande quantidade de terra e pedras.
     Dos “Itinerários” do século VII, se sabe que os dois mártires foram sepultados em uma igrejinha do cemitério de Trasone, na mesma Via Salária. Uma notícia certa refere que pela festa dos santos mártires afluíam muitos fieis à sua sepultura e que o Papa Pelágio II, em 590, deu algumas relíquias a um diácono da Gália.
     Mas a história das relíquias tem muitas contradições e legendas.
     A tradição diz que de fato foram feitas três transladações: uma pelo Papa Paulo I (757-767), que da Via Salária as teria levado para a igreja de São Silvestre em Roma; a segunda, pelo Papa Pascoal I (817-824), que as teria transferido da Via Sálaria para a igreja de Santa Praxedes; e a última pelo Papa Estevão V (885-891), que as teria levado para Latrão.
     Desta última igreja, em 884, foram levadas para o mosteiro de Münstereiffel, na Alemanha; em 947 as relíquias foram transferidas para Reggio Emilia, da qual cidade São Crisanto e Santa Daria são os patronos, pela ação do Bispo Adelardo, que as tinha conseguido de Berengário, que por sua vez as recebera do Papa João X em 915.
      Como se vê, um verdadeiro labirinto.
     Outras cidades reivindicam a posse de relíquias, tais como Oria (Brindisi), Salzburg, Viena, Nápoles. A Catedral de Reggio Emilia possui dois bustos relicários em prata dos mártires, obras de Bartolomeu Spani.

Beata Maria Teresa Ferragud Roig e 4 filhas religiosas, mártires



     Surpresos ao ouvir falar da coragem heroica da mãe dos sete Macabeus bíblicos, que foi um apoio no doloroso martírio dos filhos, finalmente coroando-o pelo derramamento de seu próprio sangue, falemos hoje de outra mãe que o Papa, por ocasião do 6º Encontro Mundial das Famílias na Cidade do México, apresentou como um modelo, talvez doloroso, de uma família que viveu o seu testemunho cristão.
     Maria Teresa Ferragud Roig nasceu em Algemesi (província de Valência) em 14 de janeiro de 1853 e se formou nas fileiras da Ação Católica, primeiro como Aspirante, em seguida, entre as "senhoras católicas". De uma espiritualidade sólida, alimentada pela Missa e Comunhão diária, ancorada na adoração eucarística e iluminada pela devoção mariana. Sua fé prosperava em obras, era pródiga na caridade para com os necessitados no âmbito da Conferência de São Vicente, da qual também foi presidente alguns anos.
     Quando se decidiu casar, quis um marido que pensasse como ela, especialmente em matéria de fé e caridade. Ela o encontrou em Vicente Silvério Masiá, com quem se casou aos 19 anos. As testemunhas concordam, dizem que homem mais devoto e caridoso teria sido difícil encontrar, e se hoje nós não o veneramos entre os bem-aventurados da Igreja é só porque o fim dele foi do homem comum, que morreu em sua própria cama e não martirizado, mas que vamos encontrar um dia entre os santos anônimos que habitam o Céu.
     Maria Teresa deu à luz nove filhos, inspirados no seu estilo e de acordo com o seu exemplo. Não é de admirar que tenham florescido em sua família não uma, mas seis vocações religiosas: dois Capuchinhos (um dos quais morreu em 1927, e o outro foi missionário na América) e quatro irmãs de vida contemplativa.
     Interessa-nos ​estas últimas, três das quais ingressaram no mosteiro capuchinho de Agullent: Irmã Maria de Jesus (Vicência) nascida em 1882, Irmã Maria Verônica (Joaquina) nascida em 1884, e Irmã Maria Felicidade (Francisca) de 1890. Para terminar a série, a Irmã Josefa da Purificação (Raimunda) de 1887, agostiniana descalça.
     Em 1936, no momento crucial da guerra civil espanhola, encontravam-se todas na casa da família, porque seus conventos tiveram que fechar suas portas. À mãe, que já chegara aos 83 anos, não parecia real tê-las por perto, mesmo que suas "meninas" permanecessem enclausuradas em casa, dedicadas à oração, ao silêncio e à meditação.
     Na tarde de 19 de outubro, as quatro irmãs foram presas pela milícia e a mãe não quis se separar delas, ela que possivelmente poderia se salvar devido a idade.
     Permaneceram seis dias na cadeia aguardando a sentença de morte, que chegou no dia 25 de outubro, na época era Festa de Cristo Rei, quando elas foram retiradas da prisão e levadas para o local da execução.
     Como último desejo, Maria Teresa pediu para ser executada por último: ela queria cumprir o seu dever de mãe até o fim, animando as filhas, para ter certeza de sua fidelidade até a morte. "Coragem, filhas! É um piscar de olhos e a eternidade vai durar para sempre", ouvem-na gritar, enquanto as incita: "O vosso Esposo vos espera". Ela as vê cair uma a uma, com o nome de Cristo Rei nos lábios e o perdão no coração. Portanto, estava serena quando chegou a sua vez.
     Para seus assassinos que gritam: "Velha, você não tem medo de morrer?" pode responder tranquilamente: "Até agora tenho seguido a Cristo e vou fazê-lo até o fim. Para onde foram as minhas filhas eu também vou", forçando-os a admitir, após a sua execução: "Esta mulher era realmente uma santa".
     A força de seu testemunho levou João Paulo II, que tinha uma grande admiração por ela, a beatificá-la junto com suas quatro filhas em 2001.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

São José (Jozef) Bilczewski



               José (Jozef) nasceu dia 26 de abril de 1860 em Wilamowice (Polônia). Era o primeiro dos nove filhos de Francisco e Ana Fajkisz, uma família de camponeses, onde, desde cedo, aprendeu as orações e as primeiras noções do catecismo, fazendo nascer nele a fé viva que o acompanhará durante toda a vida. 
                 Em 1872, terminados os estudos primários, os pais mandaram José ao ginásio na cidade de Wadowice, onde, muitos anos mais tarde, estudou também João Paulo II. Ele dedicou-se com muito empenho aos estudos, obtendo ótimos resultados. Nesse período, participava diariamente das celebrações na igreja paroquial e decidiu entrar no Seminário Diocesano de Cracóvia, onde desenvolveu ainda mais o espírito de oração, aprofundando sua formação humana e espiritual. 
              Foi ordenado sacerdote a 6 de julho de 1884. Depois de um ano de trabalho pastoral com grande zelo e dedicação foi enviado para continuar os estudos em Viena e, em seguida, em Roma e Paris. Trabalhou durante muito tempo como professor de Dogmática Especial na Universidade de Leópolis. Foi nomeado Arcebispo de Leópolis para o rito latino em 17 de dezembro de 1900 e recebeu a Ordenação episcopal a 20 de janeiro de 1901.
           Arcebispo de Lviv dos Latinos, foi um ponto de referência para católicos, ortodoxos e judeus durante a Primeira Guerra Mundial e nos diferentes conflitos que a seguiram. Do Coração de Jesus hauria um amor universal e dele aprendeu não só a mansidão, a humildade e a bondade, mas também a paciência nas provações que enfrentou, durante a vida.
             Faleceu na sua Arquidiocese, no dia 20 de março de 1923, depois de se ter preparado santamente para a morte, que acolheu com paz e submissão como sinal da vontade de Deus. Foi proclamado santo pelo papa Bento XVI, dia 23 de outubro de 2005.

São Rodolfo, bispo de Gubbio


Rodolfo nasceu no ano 1034, em Perugia, Itália. A sua família pertencia à nobreza local e era muito influente na Corte. Mas motivada pelas pregações do monge Pedro Damião, decidiu abandonar os hábitos mundanos e retornar o caminho do seguimento de Cristo. Esse monge fundara um mosteiro de eremitas na vizinhança de Fonte Avelana e a fama de sua santidade corria veloz no meio do mundo cristão. 
Com a morte do pai, Rodolfo e seu irmão Pedro abriram mão da herança em favor da mãe e de João, o irmão caçula, para ingressarem no mosteiro de Pedro Damião. Porém, algum tempo depois, mãe e irmão caçula também optaram pela vida religiosa daquela comunidade, que os acolheu após doarem toda a fortuna da família para a Igreja.
Fonte Avelana tornara-se um verdadeiro viveiro de eremitas, pois desse mosteiro saíram os grandes renovadores da Igreja. Dentre eles, os três irmãos: Rodolfo, Pedro e João, discípulos de Pedro Damião, hoje celebrado como santo e doutor da Igreja. Nessa nova comunidade religiosa, a vida era simples, voltada apenas ao trabalho, à caridade aos pobres e doentes, dedicada à penitência e à oração contemplativa. No período medieval, foi um verdadeiro oásis que surgiu para a revitalização da vida monástica, uma vez que a Igreja ocidental vivia um grande desgaste com os conflitos internos, causados pela ambição e a ganância dos bispos e sacerdotes, mais interessados nos bens mundanos do que na condução do rebanho do Senhor.
Aos vinte e cinco anos de idade, Rodolfo recebeu a ordenação sacerdotal e, mesmo a contragosto, foi consagrado bispo de Gubio, cidade próspera e rica da região. Porém era uma diocese muito problemática para a Igreja. Os bispos anteriores haviam instituído o que se chamou de "ressarcimento", isto é, os sacramentos eram condicionados a pagamentos e não aos méritos ou à vocação religiosa. Enquanto alguns sacerdotes pediam dinheiro para a absolvição dos pecados, outros queriam comissões para ordenar os sacerdotes.
Rodolfo assumiu o posto e combateu tudo com firmeza, dentro do exemplo de fiel pastor. Vestia-se sempre com as mesmas roupas, velhas e surradas, fosse qual fosse o tempo ou a estação. Comia pouco, impondo-se um severo jejum. Dormia quase nada, mantendo-se em vigília constante, na oração e penitência. Percorria toda a diocese, e mantinha-se incansável, sempre pronto a atender os pobres, doentes e abandonados. Tornou-se o exemplo de humildade e de caridade cristã, um verdadeiro sacerdote da Igreja. Apenas com seu comportamento ele conseguiu recolocar Gubio no verdadeiro caminho do amor a Cristo e à Virgem Santíssima.
Foram cinco anos dedicados à diocese de Gubio, durante os quais participou do Concílio Romano, em 1059, como seu bispo. Rodolfo morreu jovem, com apenas trinta anos de idade, em 26 de junho de 1064, consumido pela fadiga e vida excessivamente austera. Entretanto a sua obra não chegou a ser interrompida, pois foi substituído por seu irmão João, que seguiu o seu exemplo de bispo benevolente com o rebanho, mas rigoroso consigo mesmo.
A figura do bispo Rodolfo tornou-se conhecida através da carta escrita por seu mestre, Pedro Damião, para comunicar sua morte ao papa Alexandre II. Nela, foi descrito como um homem de profundo espírito religioso e possuidor de grande cultura teológica e bíblica. A única pessoa a quem confiava seus escritos para serem corrigidos de possíveis distorções da doutrina católica e para a correta interpretação do Evangelho.
As relíquias de são Rodolfo, guardadas na Catedral de Gubio, foram destruídas durante as reformas executadas em 1670. Entretanto isso nada significou para seus devotos, que continuam a comemorá-lo no dia 17 de outubro, data oficial da sua festa.

Santa Madalena de Nagasaki, jovem mártir japonesa


     Madalena nasceu entre 1611 e 1612, em uma aldeia próxima de Nagasaki, no Japão. Desde cedo ela recebeu esmerada educação. Os antigos manuscritos relatam que ela era uma jovem graciosa, delicada e bela. Seus pais eram católicos de nobre linhagem.
     Sua infância coincidiu com um período de cruéis perseguições contra os católicos. O ditador Tokugawa Yematsu, budista, decretou uma terrível perseguição contra os católicos em 1614. Com seus sucessores, Hidetada e Yemitsu, essa perseguição tornou-se ainda mais virulenta e cruel, a ponto de em poucos anos quase exterminar a cristandade do Japão.
     Os pais e irmãos de Madalena foram martirizados quando ela era ainda pequena. Ela certamente foi também testemunha da morte de muitos outros católicos. É provável que tivesse lido o livro “Exortação ao martírio”, que circulava clandestinamente entre os católicos. Neste livro davam-se conselhos para resistir à ira dos tiranos e eram lembrados os exemplos de crianças frágeis, além de jovens, homens e mulheres, que sofreram com paciência os mais terríveis suplícios por causa da sua féem Jesus Cristo, recebendo assim a glória do martírio.
     A oração, a leitura dos livros sagrados e o exemplo de tantos mártires, compatriotas seus, foram fortalecendo o ânimo de Madalena.
     Por volta de 1624, chegaram a Nagasaki dois zelosos missionários agostinianos: Frei Francisco de Jesus e Frei Vicente de Santo Antônio. Ambos criaram a Ordem Terceira Agostiniana Recoleta para auxiliá-los no apostolado. Formada por leigos, a Ordem Terceira, hoje denominada Fraternidade Secular, ficava encarregada da catequese.
     Atraída pela profunda espiritualidade dos dois missionários, Madalena se consagrou a Deus como Terceira Agostiniana Recoleta, sendo uma das primeiras a entrar para aquela Ordem. Começou o seu apostolado com tanto carinho e abnegação, que foram incontáveis os pagãos que se converteram ao Cristianismo.
     Ela consolava os aflitos, animava os fracos, fortalecia os que fraquejavam por causa das perseguições, apoiava os corajosos e esforçados, dava catecismo para as crianças, e arrecadava esmolas para os pobres entre os comerciantes portugueses. Fez várias amigas entre as filhas dos ocidentais que moravam em Nagasaki, as quais muito se edificavam com as suas virtudes, tendo algumas delas relatado suas impressões e lembranças para os primeiros biógrafos da Santa.
     Em 1628 a perseguição ficou mais violenta. Como quase todos os católicos de Nagasaki, Madalena se viu obrigada a refugiar-se nas montanhas. Homens e mulheres virtuosos viviam nas grutas e se alimentavam de ervas silvestres. Ali vivia ela na companhia dos demais, amada e querida de todos, mesmo dos pagãos.
     Os santos religiosos, Frei Francisco e Frei Vicente, também viviam nas montanhas zelando pelas almas e oferecendo-lhes o conforto dos Sacramentos. Entretanto, ambos foram detidos e passaram vários dias na prisão antes de serem queimados vivos no dia 3 de setembro de 1632.
     No dia seguinte, chegaram ao Japão outros dois missionários agostinianos recoletos, Frei Melquior de Santo Agostinho e Frei Martinho de São Nicolau. Estes também foram presos no dia 1° de novembro de 1632 e no dia 11 de dezembro foram queimados vivos a fogo lento, tal como havia acontecido com os Bem-aventurados Francisco e Vicente.
     Após a morte desses religiosos, Madalena permaneceu nas montanhas cerca de dois anos dedicando-se ao apostolado, batizando, aconselhando, consolando e fortalecendo os que a procuravam. Numerosos foram os católicos que preferiram morrer a renegar a fé. Infelizmente, muitos também foram os que fraquejaram e apostataram diante do horror dos suplícios.
     Desolada e triste pela apostasia destes irmãos e desejosa de sofrer o martírio, Madalena acreditou ter chegado o momento de apresentar-se aos juízes e torturadores para dar exemplo vivo aos católicos.
     Vestindo o seu hábito de Terceira e portando um pequeno alforje cheio de livros de santos para meditar e pregar no cárcere, ela se apresentou aos carcereiros e guardas dizendo-se católica e religiosa.
     Num primeiro momento os guardas mandaram-na embora, dizendo que sendo ela tão jovem e frágil não poderia suportar os horríveis tormentos a que eram submetidos os religiosos. Contudo, no dia seguinte ela foi presa.
     Admirados com sua beleza e comovidos pela sua tenra idade, vendo-a estimada e admirada pelos católicos e também por ser de família nobre e ilustre, os juízes tentaram convencê-la a abandonar a fé através de atenções especiais e promessas as mais diversas, mas tudo foi em vão.

Igreja Católica em Nagasaki em honra a 26 mártires japoneses
     Depois de sofrer vários tipos de torturas sem perder a fé em Nosso Senhor JesusCristo, Madalena foi tirada da prisão no início de outubro de 1634, e com outros dez católicos foi levada ao lugar do martírio.
     Suspensa pelos pés, com a cabeça e o peito imersos num poço, durante o suplício a corajosa jovem invocava os nomes de Jesus e Maria, e cantava hinos ao Senhor. Ela resistiu ao tormento por treze dias. Na noite do 13° dia, o poço foi inundado por uma tempestade e Madalena morreu afogada. Tinha então 22 ou 24 anos de idade.
     Depois de morta seu corpo foi queimado, e as cinzas foram espalhadas nas águas do mar, a fim de que suas relíquias não caíssem nas mãos dos fiéis. Seu martírio deu-se em meados de outubro de 1634.
     Beatificada em 1981, foi declarada Santa por João Paulo II em 18 de outubro de 1987. Santa Madalena de Nagasaki é comemorada no dia 20 de outubro.  A Ordem Agostiniana a comemora no dia 19 de novembro.