Nasceu em Gudinha Galícia (Espanha) em 20 de janeiro de 1502. Quando criança contagiou-se por ocasião de uma epidemia. Os enfermos eram obrigados a viver apartados e sua mãe o levou a uma solitária choupana. Ali uma loba o mordeu e com a hemorragia curou-se a enfermidade. Desde então teve um especial amor e influência com os animais.
Lhe agradava a vida do campo por sua paz e contato íntimo com Deus. Ainda que não tivesse ido à escola, nem aprendido a ler ou escrever, desenvolveu muitas habilidades úteis: construção de edifícios e fabricação de carros, cultivo, toda classe de trabalho rural, etc. Pastoreou as ovelhas de seu pai até a idade de 20 anos, quando se foi como mordomo em uma fazenda situada em Salamanca que pertencia a uma jovem viúva, formosa e rica. Ela enamorou-se dele. Para não cair na tentação, Sebastião deixou o lugar e foi á Zafra, para trabalhar em outra fazenda ao serviço de Pedro de Figueroa, parente do duque de Feria. Porém ali, uma das filhas do dono também começou a rondar-lhe. Voltou a mudar-se, desta vez a Saluncar de Barrameda, onde partiam os barcos para a América. Trabalhou ali sete anos com bom salário e pôde enviar às suas irmãs o dote que se costumava recolher para o matrimônio. Porém, nesse lugar, foi outra vez assediado por moças. Quando a filha do seu patrão passou a lhe assediar em namoro, decidiu embarcar para a América, onde viveria o resto de sua vida.
Desembarcando em Puebla, México, recém-fundada, Sebastião pôs seus diversos talentos em bom uso. Lhe ajudaram inicialmente sua avantajada força física. Havia grande escassez de carros de carga animal. Ele fundou uma empresa onde os construía e fazia transportes. Ajudou também a construir estradas já que por Puebla passava o tráfego entre Vera Cruz e a cidade do México. Auxiliava aos índios e aos pobres, ensinando-lhes suas artes.
Em 1542 Sebastião se muda para a Cidade do México com a finalidade de fundar uma empresa de carros maior. Abriu o primeiro caminho de carros a Zacatecas, empreendimento audaz não só pela distância mas porque atravessava região habitada por índios Chichimecas, então temidos e perigosos. Durante dez anos transportou viajantes e mineiros das minas Zacatecas à Casa da Moeda do México. Em certa ocasião foi assaltado, enquanto transportava mercadorias, por um bando de índios Chichimecas que inicialmente não reconheceram a Sebastião. Porém, quando deram-se conta disso imediatamente o liberaram. “Tu tens sido sempre como um bom pai conosco – disseram – A ti, não faremos dano”.
Com a idade de 50 anos, depois de 18 anos, se retira do comércio das estradas e se estabelece em uma fazenda em Tlalnepantla, próximo à Cidade do México. Pelos bens que havia ganhado com seu trabalho o chamam “Aparício, o Rico”. Em Chapultepec, nos arredores do México, adquire uma fazenda de criação de gado. Sem embargo, vivia com impressionante simplicidade: não tinha cama, mas dormia em um estrado , comia as mesmas refeições dos índios e vestia-se humildemente. Utilizava seus recursos para fazer de sua fazenda um centro de misericórdia para todos. Os trabalhadores de sua fazenda eram tratados com todo respeito, como amigos. A vários arrendatários, lhes escriturou terras para que formassem suas próprias propriedades rurais. Enquanto era comum que os fazendeiros tivessem muitos escravos, só tinha um e este era tratado como um filho, até que acabou concedendo-lhe a liberdade. Porém, o escravo sentia-se tão bem junto a Sebastião que continuou ali como seu empregado.
Dois matrimônios
Em Chapultepec contrai uma enfermidade muito grave e recebe os últimos sacramentos. Recuperada a saúde, lhe recomendam que se case e encomenda de fato a Deus, com muita oração, a possibilidade de casar-se. Finalmente, aos 60 anos, em 1562, casa-se com a filha de um amigo vizinho de Chapultepec na igreja dos franciscanos de Tacuba, vivendo com sua esposa vida virginal. Seus sogros pensavam em buscar a anulação do matrimônio, quando a esposa acaba morrendo no primeiro ano de casados. Aparício, depois de entregar a seus sogros 2.000 pesos como dote, retorna a Atzcapotzal
Ali contraiu um segundo matrimônio aos 67 anos. Foi também este um matrimônio virginal, como Sebastião o assegura em cláusula do testamento de então: “Para maior glória e honra de Deus declaro que minha mulher permanece virgem, como a recebi de seus pais, porque me casei com ela para ter algum privilégio em sua companhia, por achar-me muito só e para ampará-la e servi-la em minha fazenda”. Ela também morre antes de completar-se um ano em um acidente, ao cair de uma árvore enquanto recolhia frutas. Aparício a quis muito, como também a sua primeira esposa, e delas dizia muitos anos depois que “havia criado duas pombinhas para o céu, brancas como a neve”.
Vida religiosa
Seu confessor lhe recomenda que ajude as irmãs clarissas que estavam passando miséria. No ano de 1573 cede às clarissas todos os seus bens, que ultrapassavam cerca de 20.000 pesos, ficando com 1000 pesos somente, como lhe pediu o confessor por precaução, se não perseverasse. Passou ele a servir-lhes na qualidade de porteiro.
Em 09 de junho de 1574, aos 72 anos de idade, recebe o hábito franciscano no convento do México. Dá, desde o início, grande exemplo de humildade, fazendo qualquer serviço com prontidão. Sofre muito, em parte pelo trato dos jovens do noviciado e porque seus superiores, ao vê-lo tão velho, não se decidem em deixar-lhe professar. Por fim, aos 73 anos de idade, em 13 de junho de 1575 recita a solene fórmula: «Eu, frei Sebastião de Aparício, faço voto e prometo a Deus viver em obediência, sem coisa alguma própria e castidade, viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, guardando a Regra dos Frades Menores ».
E um frade firma por ele, pois é analfabeto. Por aquele convento passou outro franciscano chamado por deus a ser mártir no Japão: São Felipe de Jesus.
Esmoler
O frade ancião vai ao seu primeiro destino caminhando 30 km ao leste de Puebla. É o convento de Santiago de Tecali. Ali é o único irmão leigo e serve nos trabalhos mais humildes. Logo o chamam de volta a Puebla, onde o intenso trabalho dos frades requer um bom esmoler. Sua fórmula era: "Te guarde Deus, irmão. Há algo que dar, por Deus, a São Francisco?". Enquanto tanto dava aos pobres muitas vezes sua própria roupa, repartia dos bens que havia recolhido para o convento.
Disse, quando já ancião, ao seu superior: "Pensa, padre Guardião, que eu gosto de dormir no campo e sem coberta?; não, mas porque este velho verme deve padecer no corpo, porque se não fazemos penitência, não iremos ao céu".
Devoto da Virgem Maria
Percorria a região com seu hábito franciscano, Rosário nas mãos, com o qual sempre caminhava rezando. Em uma festa da Virgem, chega frei Sebastião ao convento de Cholula no momento da comunhão e se aproxima a comungar. Quando depois, estando em ação de graças, se lhe aparece a Virgem. Quando o padre Sancho de Landa se lhe interpõe, lhe diz o irmão Aparício: "Atenção, atenção, não vêem aquela grande Senhora, que desce pelas escadas? Olhem! Não é muito formosa?" O padre Sancho, não vendo nada, disse: "Estais louco, Sebastião, onde está a mulher?" Porém, logo compreendeu que se tratava de uma visão do santo Irmão.
Impugnado pelos demônios
Sebastião sofreu muitas impugnações do demônio. Nas clarissas do México os combates contra o maligno eram tão fortes, que a abadessa lhe pôs dois homens para sua defesa, porém, saíram tão fracos e aterrados por dois leões, que por nada do mundo aceitaram voltar para cumprir tal ofício.
Já do frade, segundo conta o Dr. Pareja, o demônio "lhe tirava de sua pobre cama a pouco roupa com que se cobria e, jogando-a fora pela janela do dormitório, o deixava duro de frio quase ao ponto de tirar-lhe a vida. Outras vezes, dando-lhe grandes golpes, o atormentava e enfraquecia; outras o o pegava e arremessava para o alto, deixando-o cair como quem joga uma bola, para o inquietar e atormentar; de forma que muitas vezes se viu desconsolado e aflito".
Os ataques continuaram em muitas ocasiões. Em uma delas, os demônios lhe disseram que iam derrubá-lo porque Deus lhes havia dado ordem de fazê-lo. Ao que respondeu Sebastião muito tranqüilo: "Pois se Deus os mandou, o que esperais? Fazei o que Ele os manda, que eu estou muito feliz de fazer o que a Deus agrada".
Consolado pelos anjos
Também recebeu consolações do céu. Teve visões de São Francisco e do apóstolo São Tiago, que lhe confirmaram em sua vocação. Teve grande devoção aos anjos, especialmente ao de sua guarda e experimentou muitas vezes seus favores.
Uma vez se lhe atolou a carreta no barro e se lhe apresentou um jovem vestido de branco para oferecer sua ajuda. "Que ajuda me podeis dar, lhe disse, quando oito bois não podem movê-la!". Porém, quando vê que o jovem tirou o carro com toda facilidade, comenta em voz alta: "Certamente que não sois daqui!"
Regressava frei Sebastião com seu carro bem carregado, de Tlaxcala a Puebla, quando se lhe rompeu um eixo. Não havendo no momento remédio humano possível, invoca a São Francisco, e o carro continuou rodando como antes. E a um que lhe disse assombrado ao ver esta cena: "Padre Aparício, que diremos disto?", lhe contesta simplesmente: "Quê havemos de dizer, senão que meu pai São Francisco vai segurando a roda para que não caia".
Sua relação com as criaturas
Em certa ocasião, carregando pedras para a construção do convento de Puebla, a um boi exausto teve que desuni-lo. Frei Sebastião, para continuar com o trabalho, tomou com seu cordão franciscano a uma vaca que estava por ali com seu terneiro e, sem que ela resistisse, lhe pôs o jugo da carreta. Ao terneirinho que protestava sem cessar com grandes e consecutivos mugidos, lhe pediu silêncio, e ele calou.
Regressando uma vez de Atlixco com algumas carretas bem carregadas de trigo, se detém frei Aparício para descansar, momento em que uma imensidão de formigas aproveitam para fazer seu trabalho. "Padre, disse um índio, as formigas estão furtando o trigo a toda pressa, e se não o remediar, levarão tudo". Frei Sebastião se aproxima e com ar sério, diz às formigas: "De São Francisco é o trigo que estão furtando; agora, olhem o que estão fazendo!". Foi o suficiente para que as formigas devolvessem tudo que haviam furtado.
Conta-se que durante uma outra viagem, deitou-se sobre um formigueiro de formigas bravas. Quando acordou-se, estas haviam feito um grande círculo em seu redor.
Final da vida
Aos 98 anos sentiu que iria morrer por causa de uma hérnia. Chegou ao convento e caiu prostrado no solo ao modo de São Francisco. Pediu aos franciscanos que rezassem o credo e quando diziam: "Creio na ressureição da da carne e na vida eterna", caiu morto.
Muitíssimos habitantes da Puebla assistiram a seu enterro. Duas vezes foi desenterrado seu cadáver e nas duas apareceu incorrupto. 968 milagres foram documentados em seu processo de beatificação, promulgada em 1789. Atualmente, seu corpo incorrupto descansa em uma urna de cristal no convento franciscano de Puebla dos Angeles no México.