O Símbolo dos Apóstolos resume em doze artigos a realidade da nossa Fé. Ele é o catecismo mais antigo que nós conhecemos e que nos leva a confessar a nossa fé em Deus Pai, Criador do céu e da terra, no seu Filho Unigénito Jesus, no Espírito Santo e na Santa Igreja Católica. A este propósito ele faz-nos repetir com fé: "Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica".
Hoje nós, reunidos no glorioso Santuário de Santa Maria Goretti, desejamos em primeiro lugar renovar este acto de fé na Santa Igreja de Cristo, contemplando um seu aspecto característico, que é o da santidade. Do nosso coração eleva-se depois um hino de reconhecimento ao Senhor que sabe suscitar na sua Igreja figuras sempre novas de heroísmo cristão, em todas as categorias sociais e em todas as épocas da história.
1. Um hino de gratidão
Um grande Padre da Igreja escreveu que "Deus, ao coroar os nossos méritos, coroa os seus dons" (Santo Agostinho). E, na realidade, a fé ensina-nos que tudo é dom de Deus, que com o seu Santo Espírito santifica a sua Igreja, criando em todos os tempos figuras maravilhosas de santidade, diante das quais os homens permanecem extasiados e cantam as glórias da omnipotência divina.
Assim também nós queremos fazer hoje, concluindo as celebrações centenárias do martírio da nossa Santa, glória da comunidade de Albano e da Igreja católica de todo o mundo.
O clima da alegria pascal, que nos acompanha neste tempo litúrgico, torna fácil elevar a Deus este cântico de reconhecimento. Por isso, no Salmo responsorial também nós exclamámos como o Rei David: "O Senhor actuou neste dia, cantemos e alegremo-nos n'Ele" (Sl 117, 24).
2. O céu sobre o pântano
Com estes sentimentos de alegria interior e com esta visão de esperança para o futuro, queremos esta tarde concluir as celebrações do primeiro Centenário do martírio da nossa Santa. Na realidade, quanto mais perscrutamos a sua vida tanto mais vemos que ela foi um verdadeiro raio do céu sobre a realidade do pântano humano.
Sem dúvida, o mal existe no mundo, mas os santos monstram-nos que a graça de Deus é mais forte do que o mal. O Evangelho de São João refere-nos a triste constatação de Jesus: "A luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz" (Jo 3, 19).
O nosso grande poeta Giacomo Leopardi começou com estas palavras de Cristo o seu bonito cântico à giesta. Durante uma viagem ao Vesúvio, permaneceu admirado diante do manto de cinza e de lava que no passado ali semeou desolação e morte e deteve-se depois ao lado de uma perfumada giesta que procurava sobreviver naquela dura realidade.
Também nós muitas vezes podemos contemplar flores perfumadas de santidade que brilham entre as misérias humanas: são os santos, são, sobretudo, os mártires de todos os tempos.
3. Menina extraordinária
Maria Goretti é uma destas figuras heróicas da santa Igreja de Deus: 12 anos de vida, mas uma vida cheia de tantos ideais nobres, de uma grandeza de alma que ainda hoje nos admira. O mérito é da família cristã da qual provinha. É o fruto da sua resposta à graça de Deus. O nosso estimado Pe. Alberti escreveu na biografia de Marietta (assim a chamava a família) que ela não é a santa "dos cinco minutos" (G. Alberti, Maria Goretti, Roma 2000, pág. 243), porque a santidade não se improvisa, mas é o fruto de um esforço contínuo, de um acolhimento quotidiano dos estímulos do Espírito, que habita no coração dos crentes.
Quando se lê a vida desta jovem maravilhosa, ficamos surpreendidos com a profundidade da sua vida interior. Tem tanta fé na Providência Divina, que pode dizer à mãe Assunta no momento do sofrimento: "Mãe, não te preocupes, Deus não nos abandona". Tem amor à família, que a leva a dizer depois da morte do pai: "Agora penso eu em governar a casa". Sente o desejo urgente de receber o Senhor: "Mãe exclamou ela quando poderei receber a Primeira Comunhão?".
Tem uma visão profunda do sentido da vida e da eternidade, quando diz a Alexandre Serenelli: "Que fazes, Alexandre. Deus não está contente, vais para o inferno". Por fim, tem o sentido verdadeiro do amor cristão que também sabe perdoar, quando exclama antes de morrer, falando de quem a tinha agredido: "Por amor de Jesus perdoo-lhe do coração" (Ibid., pág. 247-248).
Eis a obra-prima da graça, que Deus realizou nesta terra abençoada. Esta é a Santa que Nettuno apresenta à juventude de hoje, recordando-lhe que o ideal cristão é possível e que com a graça de Deus o podemos viver intensamente.
4. Uma epopeia gloriosa
Assim aconteceu na antiga Roma pagã com Inês e Cecília, com Tarcísio e Pancrácio. Assim acontece hoje com Maria Goretti e muitas figuras heróicas da actualidade. Entre elas desejaria recordar uma jovem da minha terra piemontesa, massacrada em 28 de Agosto de 1944, durante a última guerra mundial, por um soldado alemão que queria apoderar-se dela: falo de Teresa Bracco, mártir da pureza como Maria Goretti, beatificada pelo Papa João Paulo II, durante a sua última viagem apostólica a Turim, em 24 de Maio de 1998.
Também neste caso, ao ler a vida de Teresa interrompida na flor dos seus vinte anos, observa-se que o seu heroísmo foi a consequência lógica de uma profunda formação cristã, no âmbito de uma família cheia de fé e de uma comunidade cristã fervorosa, como era a de Santa Júlia, espalhada entre colinas cobertas de bosques do Alto Monferrato (cf. G. Galliano, Teresa Bracco. Uma flor e uma luz nos horrores da guerra, Asti 1998).
É a mesma epopeia de santidade que continua na Igreja de Cristo, por obra do Espírito Santo "que é o Senhor e dá a vida".
Ao celebrar esta Santa Missa de acção de graças numa igreja dos Padres Passionistas não posso deixar de recordar também o centenário da morte de outra Santa, Santa Gemma Galgani, que também em 1903, com 25 anos, terminou a sua breve existência terrena. Ao ler a sua vida, permanecemos extasiados diante dos dons com que Deus a cumulou. Em Lucca chamavam-na "a menina da Graça". Pobre, humilde e simples, chegou a ser uma das maiores místicas dos tempos modernos: são as maravilhas que Deus realiza naqueles que se abrem à Sua graça.
Depois, nos mártires, o poder de Deus manifesta-se de modo ainda mais evidente. Com razão cada um deles poderia repetir as palavras do Apóstolo Paulo aos Filipenses: "Tudo posso n'Aquele que me dá a força" (Fl 4, 13).
5. O triunfo do amor
No caso de Maria Goretti o poder da graça divina manifestou-se não só na sua força de alma, mas também no maravilhoso gesto do perdão concedido ao jovem Alexandre Serenelli. A jovem das "Ferriere" tinha aprendido da sua santa mãe que não se podia separar o amor a Deus do amor ao próximo. Até nos sofrimentos atrozes da agonia, soube rezar pelo seu perseguidor. É a obra-prima daquela ternura cristã, que é a flor mais bonita do amor. É a beleza da nossa pequena grande Santa. Um conhecido escritor russo escreveu que a beleza salvará o mundo (Dostoièwskyi).
6. Uma oração à Santa
Irmãos e Irmãs no Senhor, com sentimentos de gratidão a Deus pelas maravilhas que Ele realizou em Santa Maria Goretti, nós hoje concluimos as celebrações do primeiro Centenário do seu martírio. A partir de 24 de Junho de 1950 nós venerámo-la nos nossos altares, isto é, desde que o Papa Pio XII a proclamou santa, numa memorável cerimónia realizada na Praça de São Pedro, diante de uma grande multidão de fiéis.
Naquela tarde luminosa, o saudoso Sumo Pontífice inscreveu-a no álbum dos Santos e confiou depois à sua intercessão a juventude de hoje, com palavras que ainda nos comovem, apesar de serem redigidas no estilo próprio do século passado (cf. L'Osservatore Romano, 26 de Junho de 1950).
Por meu lado, gostaria de concluir estas palavras, repetindo aquela premente oração de Pio XII:
"Salvé, ó suave e amável Santa!
Mártir na terra e Anjo no céu,
da tua glória dirige o olhar
sobre este povo que te ama,
que te venera, que te glorifica,
que te exalta.
Mártir na terra e Anjo no céu,
da tua glória dirige o olhar
sobre este povo que te ama,
que te venera, que te glorifica,
que te exalta.
Na tua fronte tens claro
e resplandecente
o nome vitorioso de Cristo
(Apoc 3, 12);
no teu rosto virginal
está a força do amor,
a constância da fidelidade
ao Esposo Divino;
tu és Esposa de sangue,
para reproduzir em ti a Sua imagem.
e resplandecente
o nome vitorioso de Cristo
(Apoc 3, 12);
no teu rosto virginal
está a força do amor,
a constância da fidelidade
ao Esposo Divino;
tu és Esposa de sangue,
para reproduzir em ti a Sua imagem.
A ti,
poderosa junto do Anjo de Deus,
confiamos estes nossos filhos
e filhas aqui presentes
e todos os que estão
espiritualmente unidos a nós.
poderosa junto do Anjo de Deus,
confiamos estes nossos filhos
e filhas aqui presentes
e todos os que estão
espiritualmente unidos a nós.
Eles admiram o teu heroísmo,
mas, muito mais, querem imitar-te
no fervor da fé e na incorruptível
pureza dos costumes.
mas, muito mais, querem imitar-te
no fervor da fé e na incorruptível
pureza dos costumes.
Pais e mães recorrem a ti
para que os assistas
na sua missão educativa.
para que os assistas
na sua missão educativa.
Em ti, pelas Nossas mãos,
encontram refúgio
todos os adolescentes e a juventude,
para serem protegidos
de qualquer impureza,
e poderem prosseguir
pelo caminho da vida na serenidade
e na alegria dos puros de coração.
encontram refúgio
todos os adolescentes e a juventude,
para serem protegidos
de qualquer impureza,
e poderem prosseguir
pelo caminho da vida na serenidade
e na alegria dos puros de coração.
Assim seja!"