(O Santíssimo Sacramento ou As obras e vias de Deus
pelo Pe. Frederick William Faber, tradução do inglês pelo
Dr. E.de Barros Pimentel.
Editora Vozes de Petrópolis
edição de 1929)
Os sofrimentos da Eucaristia são por si sós um mistério à parte. Assim como Nosso Senhor morreu no Santíssimo Sacramento, mas de uma morte mística, assim também Ele sofre, mas misteriosamente. É Deus vivo, o Senhor glorificado, mas sofredor. Os sofrimentos Eucarísticos são, ao mesmo tempo, alimento das almas que alcançaram a mais sublime santidade, e também o nutritivo leite para as crianças pequenas em Cristo; destes corações apenas purificados dos seus pecados e que de dia a dia vão mais e mais se purificando.
Os principais sofrimentos Eucarísticos são cinco. O primeiro é o desamparo, a que fica reduzida sua vida Sacramental. A magnitude e a imensa vastidão dos céus é o espaço necessitado para ser cheio pela grandeza da sua Humanidade glorificada. Liberdade, poder e alegria, Ele as possui mais do que qualquer outra pessoa ou coisa, salvo a onipotência do Altíssimo. Todas as criaturas recebem d’Ele socorro e nenhuma lh’O pode dar. Não há inteligência que se exercite, espírito que raciocine, pulso que palpite ou membro que se mova, sem que o conhecimento, o raciocínio, a pulsação e o movimento procedam d’Ele. Entretanto, viu-se jamais desamparo igual ao Seu, quando no Tabernáculo?
Houve jamais cativo encerrado em cela tão estreita como o âmbito do cibório? Houve jamais fraqueza tão completa? Os doentes nos leitos dos hospitais têm os movimentos mais desimpedidos do que este Rei da Glória, preso por amor nas malhas do Sacramento. É Ele prisioneiro nosso; temo-lO debaixo da chave e tiramo-lO toda a vez que nos apraz, a fim de mostrá-lO ao povo reunido, que assim se certifica da Sua Presença?
Os principais sofrimentos Eucarísticos são cinco. O primeiro é o desamparo, a que fica reduzida sua vida Sacramental. A magnitude e a imensa vastidão dos céus é o espaço necessitado para ser cheio pela grandeza da sua Humanidade glorificada. Liberdade, poder e alegria, Ele as possui mais do que qualquer outra pessoa ou coisa, salvo a onipotência do Altíssimo. Todas as criaturas recebem d’Ele socorro e nenhuma lh’O pode dar. Não há inteligência que se exercite, espírito que raciocine, pulso que palpite ou membro que se mova, sem que o conhecimento, o raciocínio, a pulsação e o movimento procedam d’Ele. Entretanto, viu-se jamais desamparo igual ao Seu, quando no Tabernáculo?
Houve jamais cativo encerrado em cela tão estreita como o âmbito do cibório? Houve jamais fraqueza tão completa? Os doentes nos leitos dos hospitais têm os movimentos mais desimpedidos do que este Rei da Glória, preso por amor nas malhas do Sacramento. É Ele prisioneiro nosso; temo-lO debaixo da chave e tiramo-lO toda a vez que nos apraz, a fim de mostrá-lO ao povo reunido, que assim se certifica da Sua Presença?
Ó meu Rei cativo! Que expressões poderei ter que sejam bastantes para significar a fraqueza a que voluntariamente Vos submetestes e a que Vos reduziu a autoridade sacerdotal; é exatamente como se Vós mesmos dissésseis: Ó Homem do pecado! Se não queres honrar-Me como Deus todo-poderoso, ao menos tem piedade de Mim como prisioneiro, desamparado e posto à tua mercê. De qualquer modo, custe-Me o que me custar, hei de forçar-te a Me amar. Sim, amável Senhor, terás o meu amor; e se não me é possível fazer mais, posso ao menos odiar a mim mesmo, por causa da minha pouca aflição, é que este ódio seja levado em conta de amor para conVosco.
O segundo dos sofrimentos Eucarísticos é a obediência contínua. Nosso Senhor não é somente prisioneiro; é também escravo. Essencialmente, Ele é Rei; Seu nome está escrito em Suas vestes e em Sua coxa, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Seu ofício é comandar, Ele regozija-se da vastidão do Seu poder, assim como da imensidade do Seu domínio supremo. O império serve-Lhe para desenvolver toda a sua munificência e, por ação da Sua soberania, multiplicam-se-Lhe as ocasiões de mostrar a Sua misericórdia. Ele estende o Seu cetro por sobre toda a eternidade e por sobre milhões de mundos increados e por sobre inumeráveis criaturas que são criações Sua. Mas tanto quanto sabemos, a criação poderia estar ainda em começo; poderia ter começado pelos Anjos e por nós mesmos; e o espaço poderá ainda ser povoado de inúmeras criações.
Entretanto, não houve monarca que, ao abdicar, descesse do trono no meio das circunstâncias mais humilhantes do que Jesus Se cerca no Santíssimo Sacramento.
O segundo dos sofrimentos Eucarísticos é a obediência contínua. Nosso Senhor não é somente prisioneiro; é também escravo. Essencialmente, Ele é Rei; Seu nome está escrito em Suas vestes e em Sua coxa, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Seu ofício é comandar, Ele regozija-se da vastidão do Seu poder, assim como da imensidade do Seu domínio supremo. O império serve-Lhe para desenvolver toda a sua munificência e, por ação da Sua soberania, multiplicam-se-Lhe as ocasiões de mostrar a Sua misericórdia. Ele estende o Seu cetro por sobre toda a eternidade e por sobre milhões de mundos increados e por sobre inumeráveis criaturas que são criações Sua. Mas tanto quanto sabemos, a criação poderia estar ainda em começo; poderia ter começado pelos Anjos e por nós mesmos; e o espaço poderá ainda ser povoado de inúmeras criações.
Entretanto, não houve monarca que, ao abdicar, descesse do trono no meio das circunstâncias mais humilhantes do que Jesus Se cerca no Santíssimo Sacramento.
Dir-se-ia que Seu reino abrange todo o universo, exceto o coração livre dos homens e que estes poderiam esquivar-se ao Seu poder, se o quisessem. Mas este domínio sobre os corações livres é exatamente aquele que jamais agrada ao Seu próprio coração; desdenhosamente teria rejeitado tudo mais, para granjear somente este e neste intento servirá antes como escravo do que correr o risco de perdê-lo; e como Jacó serviu para ter Raquel, não será somente durante quatorze anos, mas até ao dia do Juízo Final que Ele servirá. Não há extremos de obediência a que Ele não Se submeta, quando a isso for ordenado. A voz de algum mau padre, as sarjetas de uma cidade de heréticos, o coração do pecador renitente, todas estas coisas são provanças, que servem somente a demonstrar a obediência e humildade do Divino e Onipotente Escravo.
E por que nós, os filhos dos homens, não haveremos de acorrer em rebanhos para coroarmos o nosso caro Salvador?
Por que não se nos levantam os corações para coroar o Rei descoroado, Aquele que Se despojou a Si mesmo do Seu brilhante diadema, afim de que, com as mãos trêmulas de regozijo, puséssemos as nossas mesquinhas coroas de amor sobre as longas madeixas que coroam aquela formosa fronte? A esta vida desamparada e de contínua obediência há a acrescentar o sofrimento Eucarístico do Amor ultrajado. Este mesmo amor, pelo qual Ele Se dignou de Se tornar prisioneiro e escravo, foi-Lhe retirado pela crueldade e negligência das Suas criaturas, por abuso de vontade. Ele bem sabia que não poderia ser condignamente amado. Ele sabia que ninguém, a não ser Ele mesmo, o poderia amar merecidamente. Nem Sua Mãe, nem São Miguel mal podem voltar-Lhe o amor que Lhe seja proporcionado. Mas pelo menos os filhos dos homens poderiam afligir-se de não O amarem mais e mais, eles que O deveriam animar-se uns aos outros para oferecer-Lhe com abundante generosidade e mais ternura filial.
Todavia, há homens que ultrajam o Seu amor, blasfemando abertamente e negando a Sua presença. Uns ofendem-nO, abandonando-O e recusando aproximar-se-Lhe, quando Ele os chama. Outros vindo sem ser chamados e ultrajando-O com irreverência e sacrilégio.
Ah! E nós mesmos que fazemos, senão ultrajá-lO com o nosso descuido, nossa ingratidão, frieza, familiaridade e distrações voluntárias? Para um que ultraja a majestade do Santíssimo Sacramento, há cem que ultrajam o Seu amor. Porque o amor é Sua mais bela coroa, os homens fazem deste amor objeto especial de sua maleficência e injúrias. Ó meu Jesus, como é que podeis suportar os nossos pecados? Como é que tendes deixado de inteiramente recolher aos céus este mistério, e sufocado as vozes da missa e arrancado os véus dos Tabernáculos desertos?
Quando subíeis a encosta do Calvário para esgotar até às fezes o terrível cálice, previstes quão poucos seriam os que se lembrariam de que o Criador morrera por eles na Cruz. Mas poderíeis ter previsto, naquela noite de Quinta-feira, o mesquinho reconhecimento que os homens Vos prestariam por este abençoado Sacramento? Entretanto, como se qualquer farrapo do nosso amor devesse ser preciosíssimo aos Vossos olhos, consentistes em dar-Vos a nós neste santíssimo mistério! Oh! Quanto sois admirável! Quem há que possa sondar os abismos de Vosso amor? A Vossa paixão de ser amado excede a todo o alcance da nossa inteligência. O quarto sofrimento Eucarístico consiste em Abjeção insultada. Por que veio Ele a nós em tão miraculosa exigüidade e com tal humilhação que nos espanta? Por que, neste misterioso Sacramento, a Sua sabedoria e o Seu poder se apresentaram com defeitos de humilhação, como se Ele próprio quisesse ir à beira do nada e nesse abismo desaparecer, para novamente ser criado e surgir de novo nada? Por que tem Ele cuidadosamente excluído da Sua pessoa toda a exterioridade que pudesse conciliar respeito e inspirar estima, e revestir-Se dos mais ignóbeis materiais que a terra pode dar? Por que toda essa abjeção, senão porque o amor me depara nisso mesmo todo o encanto? Entretanto, esta mesma vileza do Seu aspecto, a facilidade do Seu acesso, a barateza de Sua manutenção, tudo voltou-Se contra Ele; e aquilo que o amor considera razões de atração, a frieza fez ocasiões para ultraje.
E por que nós, os filhos dos homens, não haveremos de acorrer em rebanhos para coroarmos o nosso caro Salvador?
Por que não se nos levantam os corações para coroar o Rei descoroado, Aquele que Se despojou a Si mesmo do Seu brilhante diadema, afim de que, com as mãos trêmulas de regozijo, puséssemos as nossas mesquinhas coroas de amor sobre as longas madeixas que coroam aquela formosa fronte? A esta vida desamparada e de contínua obediência há a acrescentar o sofrimento Eucarístico do Amor ultrajado. Este mesmo amor, pelo qual Ele Se dignou de Se tornar prisioneiro e escravo, foi-Lhe retirado pela crueldade e negligência das Suas criaturas, por abuso de vontade. Ele bem sabia que não poderia ser condignamente amado. Ele sabia que ninguém, a não ser Ele mesmo, o poderia amar merecidamente. Nem Sua Mãe, nem São Miguel mal podem voltar-Lhe o amor que Lhe seja proporcionado. Mas pelo menos os filhos dos homens poderiam afligir-se de não O amarem mais e mais, eles que O deveriam animar-se uns aos outros para oferecer-Lhe com abundante generosidade e mais ternura filial.
Todavia, há homens que ultrajam o Seu amor, blasfemando abertamente e negando a Sua presença. Uns ofendem-nO, abandonando-O e recusando aproximar-se-Lhe, quando Ele os chama. Outros vindo sem ser chamados e ultrajando-O com irreverência e sacrilégio.
Ah! E nós mesmos que fazemos, senão ultrajá-lO com o nosso descuido, nossa ingratidão, frieza, familiaridade e distrações voluntárias? Para um que ultraja a majestade do Santíssimo Sacramento, há cem que ultrajam o Seu amor. Porque o amor é Sua mais bela coroa, os homens fazem deste amor objeto especial de sua maleficência e injúrias. Ó meu Jesus, como é que podeis suportar os nossos pecados? Como é que tendes deixado de inteiramente recolher aos céus este mistério, e sufocado as vozes da missa e arrancado os véus dos Tabernáculos desertos?
Quando subíeis a encosta do Calvário para esgotar até às fezes o terrível cálice, previstes quão poucos seriam os que se lembrariam de que o Criador morrera por eles na Cruz. Mas poderíeis ter previsto, naquela noite de Quinta-feira, o mesquinho reconhecimento que os homens Vos prestariam por este abençoado Sacramento? Entretanto, como se qualquer farrapo do nosso amor devesse ser preciosíssimo aos Vossos olhos, consentistes em dar-Vos a nós neste santíssimo mistério! Oh! Quanto sois admirável! Quem há que possa sondar os abismos de Vosso amor? A Vossa paixão de ser amado excede a todo o alcance da nossa inteligência. O quarto sofrimento Eucarístico consiste em Abjeção insultada. Por que veio Ele a nós em tão miraculosa exigüidade e com tal humilhação que nos espanta? Por que, neste misterioso Sacramento, a Sua sabedoria e o Seu poder se apresentaram com defeitos de humilhação, como se Ele próprio quisesse ir à beira do nada e nesse abismo desaparecer, para novamente ser criado e surgir de novo nada? Por que tem Ele cuidadosamente excluído da Sua pessoa toda a exterioridade que pudesse conciliar respeito e inspirar estima, e revestir-Se dos mais ignóbeis materiais que a terra pode dar? Por que toda essa abjeção, senão porque o amor me depara nisso mesmo todo o encanto? Entretanto, esta mesma vileza do Seu aspecto, a facilidade do Seu acesso, a barateza de Sua manutenção, tudo voltou-Se contra Ele; e aquilo que o amor considera razões de atração, a frieza fez ocasiões para ultraje.
Os homens repelem-nO por estes mesmos braços que Ele nos estende. Negam a Sua Presença Real ou deixam Seus altares ao abandono; e vêem no Santíssimo Sacramento antes conveniência sua do que condescendência d’Ele. Certo, à primeira vista e tendo somente os olhos do mundo, Ele é de todos os reis aquele que mostra menos realeza. Mas foi o Seu amor que assim o quis. E se nosso amor, fosse sensato e esclarecido, compreenderia que nunca se mostra tão maravilhoso como quando na abjeção e nem tão onipotente do que quando faz abaixar Sua majestade divina até ao pó da terra; e que não é nunca tão admiravelmente puro, do que quando os homens O têm debaixo de seus pés sem poder atingi-Lo com sua lama.
Oh! Senhor, que será maior, nossa malícia ou Vosso amor?
Vós inventais artifícios de abjeção para granjear o nosso amor, inspirando-nos piedade, e nós convertemos cada um dos Vossos próprios artifícios em meios para ferir o Vosso Sagrado Coração! Mas Vós afadigareis a nossa maldade com os excessos de Vossa admirável paciência, e desarmareis a nossa insolência com a doçura da Vossa tolerância e o encanto da Vossa fidelidade.
Ó Majestade, a quem nada pode irritar!
Oh! Senhor, que será maior, nossa malícia ou Vosso amor?
Vós inventais artifícios de abjeção para granjear o nosso amor, inspirando-nos piedade, e nós convertemos cada um dos Vossos próprios artifícios em meios para ferir o Vosso Sagrado Coração! Mas Vós afadigareis a nossa maldade com os excessos de Vossa admirável paciência, e desarmareis a nossa insolência com a doçura da Vossa tolerância e o encanto da Vossa fidelidade.
Ó Majestade, a quem nada pode irritar!
Ó Potência que Vos despistes dos vossos raios, calcam-Vos aos pés e não Vos queixais; ferem-Vos, o Vosso sangue corre e não dais nenhum grito. Oh! como o Vosso silêncio fala eloqüentemente em Vosso favor ao coração dos homens!
Quantas conquistas tendes obtido pela só humilde e fecunda abjeção, pois procurais menos combater e domar o orgulho o homem, do que iludi-lo, surpreendê-lo e fazer disso razão para Vos amar, um motivo de Vos amar mais e mais.
O quinto sofrimento Eucarístico é a solidão em que O deixam, não O visitando senão raramente. A solidão há de pesar-Lhe imensamente, a Ele que nos Céus é sempre, de dia e de noite, acompanhado de inumerável e pomposo cortejo de um culto imaculado. Que profeta houve que tivesse predito que Deus haveria de vir, Deus, a sabedoria increada, e que Ele armaria a Sua tenda entre homens errantes e que estes se afastariam d’Ele, como de um leproso, verme e não homem? É como se Ele fosse um cordeiro abatido? e Ele o é.
Poderíamos ter imaginado que as mesmas inanimadas montanhas se teriam movido e teriam levantado e formado novas cordilheiras, agrupando-se em volta dos Seus tabernáculos. Poderíamos ter imaginado que as feras das florestas acorreriam domesticadas pela Sua presença e Lhe teriam pedido a bênção, como o faziam a Adão, nas sombras do paraíso. Isso, com maior razão poder-se-ia supor do coração dos homens. Quando a luz do céu desceu e iluminou a terra, certo seria justo que esta também se assemelhasse ao céu, fazendo do culto do Santíssimo Sacramento a ocupação, a profissão, a felicidade e o objeto de ambição de todo o homem. Temos que comer e beber e dormir porque assim Deus o quis, e temos também que ganhar para alimentar-nos e vestir-nos. E se não fosse assim, a Igreja seria a nossa morada habitual. Não teríamos necessidade de outra habitação. Demais não seriam somente algumas almas eleitas que socorreriam a Ele, mas sim todas aquelas pelas quais Ele morreu e todas as almas que existiram e poderão no futuro existir. Disse muito bem um filósofo francês: Deus ama cada homem, tanto quanto a raça humana inteira. O peso e o número nada são aos Seus olhos. Eterno e infinito, não tem amor que não seja imenso.
Entretanto, vede em que solidão o povo O deixa. Quando quiseram fazê-lO rei de Judá, Ele Se ocultou e Se esquivou ao povo. Agora, que Ele não lhes pede senão amor, os homens se Lhe esquivam e O abandonam. Quando Ele estava só no deserto, os animais ferozes se Lhe aproximavam e Lhe faziam companhia. Eles ficavam contentes de estarem com Ele, olhos fitos na beleza humana do Criador. Havia adoração no espanto deles e homenagem em estarem presentes. Mas que horrível solidão reina hoje em torno do Tabernáculo. O fruto da rica oliveira alimenta uma pequena estrela de luz no céu do Seu santuário, e durante quantas horas, dia e noite, e em quantos santuários, é esta a única honra prestada à Sua majestade!
Algumas vezes, Ele tem que renunciar a tal homenagem, pelo receio de que venham ladrões e d’Ele se apoderem, não, ah! por causa da Sua beleza, pois sacrílegos O atirariam no chão do templo, mas sim por causa dos trinta dinheiros de prata que poderá valer o vaso de prata, onde Ele está encerrado. Ele não permitirá que os Anjos O venham salvar.
Que dizer? Ele permite muitas vezes a perpetração deste crime atroz, afim de que as procissões feitas em expiação Lhe tragam um novo tributo de amor. Não sois então, Senhor, um companheiro a Vossas criaturas. Companhia que pelo menos Lhe devia ser grata?
O ar que respiramos perto de Vós não nos basta para infundir em nossos corações vida e alegria? E a minúscula lâmpada que arde diante de Vós, ó Rei do Tabernáculo, sinal da Vossa morada, e outros sinais da Vossa pobreza nazarena, não hão de ser como recordações da casa do Nosso Salvador? Por que, Senhor, permaneceis em meio de nós; por que? Não Vos fazem falta os cantos celestiais? Não Vos fazem falta o incenso dos louvores seráficos, e a multidão de espíritos e almas cuja essência é o mais ardente amor para conVosco? Que posso fazer-Vos que já não Vos tenha feito? Dizia outrora o Senhor. Meu Deus, eu vo-lO não poderia dizer. Desde há muito Vossa misericórdia tem esgotado tudo quanto poderia eu conceber, assim como os abismos dos quais não poderia cogitar jamais; e agora eis estes sofrimentos Eucarísticos, esta vida ao desamparo, esta obediência perseverante, este amor ultrajado, esta abjeção insultada, esta segunda Paixão, quase pior do que a do Calvário. Não tenho senão que repetir conVosco: Que podereis fazer que já não tendes feito?
Poderíamos ter imaginado que as mesmas inanimadas montanhas se teriam movido e teriam levantado e formado novas cordilheiras, agrupando-se em volta dos Seus tabernáculos. Poderíamos ter imaginado que as feras das florestas acorreriam domesticadas pela Sua presença e Lhe teriam pedido a bênção, como o faziam a Adão, nas sombras do paraíso. Isso, com maior razão poder-se-ia supor do coração dos homens. Quando a luz do céu desceu e iluminou a terra, certo seria justo que esta também se assemelhasse ao céu, fazendo do culto do Santíssimo Sacramento a ocupação, a profissão, a felicidade e o objeto de ambição de todo o homem. Temos que comer e beber e dormir porque assim Deus o quis, e temos também que ganhar para alimentar-nos e vestir-nos. E se não fosse assim, a Igreja seria a nossa morada habitual. Não teríamos necessidade de outra habitação. Demais não seriam somente algumas almas eleitas que socorreriam a Ele, mas sim todas aquelas pelas quais Ele morreu e todas as almas que existiram e poderão no futuro existir. Disse muito bem um filósofo francês: Deus ama cada homem, tanto quanto a raça humana inteira. O peso e o número nada são aos Seus olhos. Eterno e infinito, não tem amor que não seja imenso.
Entretanto, vede em que solidão o povo O deixa. Quando quiseram fazê-lO rei de Judá, Ele Se ocultou e Se esquivou ao povo. Agora, que Ele não lhes pede senão amor, os homens se Lhe esquivam e O abandonam. Quando Ele estava só no deserto, os animais ferozes se Lhe aproximavam e Lhe faziam companhia. Eles ficavam contentes de estarem com Ele, olhos fitos na beleza humana do Criador. Havia adoração no espanto deles e homenagem em estarem presentes. Mas que horrível solidão reina hoje em torno do Tabernáculo. O fruto da rica oliveira alimenta uma pequena estrela de luz no céu do Seu santuário, e durante quantas horas, dia e noite, e em quantos santuários, é esta a única honra prestada à Sua majestade!
Algumas vezes, Ele tem que renunciar a tal homenagem, pelo receio de que venham ladrões e d’Ele se apoderem, não, ah! por causa da Sua beleza, pois sacrílegos O atirariam no chão do templo, mas sim por causa dos trinta dinheiros de prata que poderá valer o vaso de prata, onde Ele está encerrado. Ele não permitirá que os Anjos O venham salvar.
Que dizer? Ele permite muitas vezes a perpetração deste crime atroz, afim de que as procissões feitas em expiação Lhe tragam um novo tributo de amor. Não sois então, Senhor, um companheiro a Vossas criaturas. Companhia que pelo menos Lhe devia ser grata?
O ar que respiramos perto de Vós não nos basta para infundir em nossos corações vida e alegria? E a minúscula lâmpada que arde diante de Vós, ó Rei do Tabernáculo, sinal da Vossa morada, e outros sinais da Vossa pobreza nazarena, não hão de ser como recordações da casa do Nosso Salvador? Por que, Senhor, permaneceis em meio de nós; por que? Não Vos fazem falta os cantos celestiais? Não Vos fazem falta o incenso dos louvores seráficos, e a multidão de espíritos e almas cuja essência é o mais ardente amor para conVosco? Que posso fazer-Vos que já não Vos tenha feito? Dizia outrora o Senhor. Meu Deus, eu vo-lO não poderia dizer. Desde há muito Vossa misericórdia tem esgotado tudo quanto poderia eu conceber, assim como os abismos dos quais não poderia cogitar jamais; e agora eis estes sofrimentos Eucarísticos, esta vida ao desamparo, esta obediência perseverante, este amor ultrajado, esta abjeção insultada, esta segunda Paixão, quase pior do que a do Calvário. Não tenho senão que repetir conVosco: Que podereis fazer que já não tendes feito?