1. Credo Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem: Creio no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida. Com as palavras do Símbolo niceno-constantinopolitano, a Igreja proclama a sua fé no Paráclito; fé que nasce da experiência apostólica do Pentecostes. O texto dos Atos dos Apóstolos, que a Liturgia hodierna propôs à nossa meditação, recorda com efeito as maravilhas operadas no dia de Pentecostes, quando os Apóstolos constataram com grande admiração o cumprimento das palavras de Jesus. Ele, como refere a perícope do Evangelho de São João há pouco proclamada, tinha assegurado na vigília da Sua paixão: «Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para estar convosco para sempre» (Jo 14, 16). Este «Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito» (ibid., 14, 26).
E o Espírito Santo, ao descer sobre eles com força extraordinária, tornou-os capazes de anunciar ao mundo inteiro o ensinamento de Jesus Cristo. Era tão grande a sua coragem, tão segura a sua decisão, que estavam dispostos a tudo, até a dar a vida. O dom do Espírito havia-lhes libertado as energias mais profundas, empenhando-as no serviço da missão que lhes fora confiada pelo Redentor. E será o Consolador, o Parakletos, a guiá-los no anúncio do Evangelho a todos os homens. O Espírito ensinar-lhes-á toda a verdade, haurindo-a da riqueza da palavra de Cristo, a fim de que eles, por sua vez, a comuniquem aos homens de Jerusalém e ao resto do mundo.
2. Como não dar graças a Deus pelos prodígios que o Espírito não cessou de realizar nestes dois milénios de vida cristã? O evento de graça do Pentecostes tem, com efeito, continuado a produzir os seus maravilhosos frutos, suscitando em toda a parte ardor apostólico, desejo de contemplação, empenho em amar e servir com total dedicação a Deus e aos irmãos. Ainda hoje o Espírito alimenta na Igreja gestos pequenos e grandes de perdão e de profecia, dá vida a carismas e dons sempre novos, que atestam a Sua acção incessante no coração dos homens.
Disto é prova eloquente esta solene Liturgia, na qual estão presentes numerosos membros dos Movimentos e das novas Comunidades, que nestes dias celebraram em Roma o seu Congresso mundial. Ontem, nesta mesma Praça de São Pedro, vivemos um inesquecível encontro de festa, com cânticos, orações e testemunhos. Experimentámos o clima do Pentecostes, que tornou quase visível a fecundidade inexaurível do Espírito na Igreja. Movimentos e novas Comunidades, expressões providenciais da nova primavera suscitada pelo Espírito com o Concílio Vaticano II, constituem um anúncio do poder do amor de Deus que, superando divisões e barreiras de todo o género, renova a face da terra, para construir nela a civilização do amor.
3. Escreve São Paulo na Carta aos Romanos, há pouco proclamada: «Todos aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus» (8, 14). Estas palavras oferecem ulteriores pontos de reflexão para compreender a acção admirável do Espírito na nossa vida de crentes. Elas abrem-nos a estrada para chegarmos ao coração do homem: o Espírito Santo, que a Igreja invoca para que dê «luz aos sentidos», visita o homem no íntimo e toca directamente a profundidade do seu ser.
Continua o Apóstolo: «Se o Espírito habita em vós, não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito... Aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus» (cf. Rm 8, 9.14). Contemplando, depois, a acção misteriosa do Paráclito, acrescenta com enlevo: «Vós não recebestes um espírito de escravidão..., recebestes, pelo contrário, um espírito de adopção, pelo qual clamamos: "Abba, Pai!". O próprio Espírito atesta, em união com o nosso espírito, que somos filhos de Deus» (Rm 8, 15-16). Eis-nos no centro do mistério! É no encontro entre o Espírito Santo e o espírito do homem que se situa o coração mesmo da experiência vivida pelos Apóstolos no Pentecostes. Esta experiência extraordinária está presente na Igreja, nascida daquele evento, e acompanha-a no decurso dos séculos.
Sob a ação do Espírito Santo, o homem descobre até ao fundo que a sua natureza espiritual não é velada pela corporeidade mas, ao contrário, é o espírito que dá sentido verdadeiro ao próprio corpo. Com efeito, vivendo segundo o Espírito, ele manifesta plenamente o dom da sua adopção como filho de Deus. Nesse contexto, insere-se bem a questão fundamental da relação entre a vida e a morte, a que se refere Paulo ao observar textualmente: «Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis» (Rm 8, 13). É precisamente assim: a docilidade ao Espírito oferece ao homem contínuas ocasiões de vida.
4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, é para mim motivo de grande alegria saudar todos vós, que quisestes unir-vos a mim ao dar graças ao Senhor pelo dom do Espírito. Essa festa toda missionária alarga o nosso olhar para o mundo inteiro, com um pensamento particular aos muitos missionários sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que prodigalizam a sua vida, muitas vezes em condições de enormes dificuldades, para a difusão da verdade evangélica.
Saúdo-vos a vós aqui presentes: os Senhores Cardeais, os Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, os numerosos membros dos vários Institutos de Vida Consagrada e de Vida Apostólica, os jovens, os doentes e de modo especial quantos vieram de muito longe para esta solene cerimónia. Uma recordação particular aos Movimentos e às novas Comunidades, que ontem tiveram o seu encontro e que hoje vejo presentes em grande número. Não tão grande como ontem, mas sempre grande! Dirijo um pensamento muito especial aos meninos e aos jovens que estão para receber os Sacramentos da Confirmação e da Eucaristia. Que exaltantes perspectivas apresentam as palavras do Apóstolo a cada um de vós, caríssimos! Através dos gestos e das palavras do Sacramento da Confirmação, ser-vos-á dado o Espírito Santo que aperfeiçoará a vossa conformidade a Cristo, já iniciada no Baptismo, para vos tornar adultos na fé e testemunhas autênticas e corajosas do Ressuscitado. Com a Confirmação, o Paráclito abre diante de vós um caminho de incessante redescoberta da graça de adopção como filhos de Deus, que vos tornará alegres investigadores da Verdade.
A Eucaristia, alimento de vida imortal, que pela primeira vez haveis de saborear, tornar-vos-á prontos a amar e a servir os irmãos, capazes de dar ocasiões de vida e de esperança, livres do domínio da «carne» e do temor. Ao deixar-vos guiar por Jesus, podereis experimentar de maneira concreta na vossa vida a maravilhosa acção do seu Espírito, de que fala o apóstolo Paulo no oitavo capítulo da Carta aos Romanos. Esse texto, cujo conteúdo resulta particularmente actual neste ano dedicado ao Espírito Santo, deveria ser lido hoje com maior atenção, para honrar a acção que o Espírito de Cristo realiza em cada um de nós.
5. Veni, Sancte Spiritus! Também a magnífica sequência, que contém uma rica teologia do Espírito Santo, mereceria ser meditada estrofe por estrofe. Deter-nos-emos aqui somente na primeira palavra: Veni, vinde! Ela evoca a expectativa dos Apóstolos, depois da Ascensão de Cristo ao céu. Nos Atos dos Apóstolos, Lucas apresenta-no-los reunidos no Cenáculo em oração com a Mãe de Jesus (cf. 1, 14). Que palavra melhor do que esta podia exprimir a sua oração: «Veni, Sancte Spiritus»? Isto é, a invocação d'Aquele que no início do mundo pairava sobre as águas (cf. Gn 1, 2), e que Jesus lhes prometera como Paráclito?
O coração de Maria e dos Apóstolos naqueles momentos está voltado para a Sua vinda, num alternar-se de fé ardente e de confissão da insuficiência humana. A piedade da Igreja interpretou e transmitiu este sentimento no cântico do «Veni, Sancte Spiritus». Os Apóstolos sabem que é árdua a obra que lhes foi confiada por Cristo, mas decisiva para a história da salvação da humanidade. Serão eles capazes de levá-la a cabo? O Senhor tranquiliza os seus corações. A cada passo da missão que os levará a anunciar e a testemunhar o Evangelho até aos pontos mais remotos do globo, poderão contar com o Espírito prometido por Cristo. Os Apóstolos, ao recordarem-se da promessa de Cristo, nos dias que vão da Ascensão ao Pentecostes, concentrarão todo o pensamento e sentimento naquele veni – vinde!
6. Veni, Sancte Spiritus! Iniciando assim a sua invocação ao Espírito Santo, a Igreja faz próprio o conteúdo da oração dos Apóstolos reunidos com Maria no Cenáculo; antes, prolonga-a na história e torna-a sempre actual. Veni, Sancte Spiritus! Assim continua a repetir em cada ângulo da terra com imutável ardor, firmemente consciente de dever permanecer de forma ideal no Cenáculo, em perene espera do Espírito. Ao mesmo tempo, ela sabe que do Cenáculo deve sair pelas estradas do mundo, com a tarefa sempre nova de dar testemunho do mistério do Espírito.
Veni, Sancte Spiritus! Oramos assim com Maria, santuário do Espíirto Santo, preciosíssima morada de Cristo entre nós, para que nos ajude a ser templo vivo do Espírito e testemunhas incansáveis do Evangelho. Veni, Sancte Spiritus! Veni, Sancte Spiritus! Veni, Sancte Spiritus! Louvado seja Jesus Cristo!