São Pedro Fourier nasceu em 1565, em Mirecourt, pequena aldeia de Lorena, de pais pobres, porém virtuosos. De boa índole, era Pedro uma criança piedosa e pouco afeita aos prazeres juvenis. Nos estudos que fez em Pont-a-Mousson, teve ocasião de revelar os belos talentos e não tardou que, entre todos os condiscípulos, se distinguisse pelo saber e preparo intelectual extraordinário. Como professor e educador, revelava qualidades superiores, tanto que de preferência se lhe confiavam as crianças, às quais sabia incutir amor ao trabalho, temor de Deus e respeito à inocência e pureza d’alma. Na idade de vinte anos, entrou para a Ordem dos Cônegos de Santo Agostinho, onde mais se dedicou à vida religiosa; fez o curso de filosofia, para um ano depois ser ordenado sacerdote.
O zelo, a virtude do jovem levita, desgostou bastante os companheiros da Ordem, os quais, para se verem livres do incômodo monitor, trataram de afastá-lo. Foram-lhe oferecidas três paróquias, entre as quais escolhesse a que mais lhe agradasse. Tendo ouvido a opinião de um parente, Padre João Fourier, da Companhia de Jesus, escolheu não a mais rendosa e menos trabalhosa, mas a que mais esforço lhe exigia e menos rendimento oferecia. De fato, a freguesia de sua escolha tinha tão má fama, que era chamada Genebra em miniatura (Genebra era a sede do calvinismo e cidade corrompida).
Três anos trabalhou Fourier naquela Paróquia. Pela dedicação, palavra e oração, fez com que se verificasse uma remodelação tal entre os fiéis, que mereceu os maiores elogios dos bispos. Não satisfeito com o trabalho que a paróquia lhe dava, Fourier estendia sua atividade a outras localidades, onde igualmente conseguiu a conversão de muitos, a reforma dos costumes e a extinção da heresia calvinista. O ducado de Salm, onde imperava o calvinismo, Fourier em menos de seis meses o reconquistou à fé católica. Mais árduo foi o trabalho da reforma nos conventos. Mas, com a graça de Deus e a persistência dos conselhos, neles conseguiu o restabelecimento da disciplina monástica.
Grande merecimento teve Fourier com a fundação de uma Congregação religiosa, feminina, dedicada a Nossa Senhora. As religiosas desta Congregação destinavam-se, além da vida religiosa, ao ensinamento da mocidade feminina. Fourier teve a satisfação de obter para esta obra a aprovação apostólica e vê-la difundir-se com grande rapidez.
Ao trabalho da Congregação, associou-se a responsabilidade de superior dos Cônegos Regulares. Também desse cargo, Fourier se desempenhou com toda a dignidade e máxima competência.
Graves perturbações obrigaram-no a sair de Lorena e domiciliar-se em Gray, na Borgonha, onde se dedicou inteiramente ao serviço da infância.
Mestre abalizado em todas as virtudes, mais se distinguia no amor de Deus e do próximo. À oração pertencia todo o tempo que lhe sobrava dos trabalhos do estado, A maior parte da noite passava-a em exercícios de piedade. Trabalho nenhum começava, sem invocar o auxílio divino. Em tudo o que fazia, visava a glória de Deus e o cumprimento da vontade divina. A todos que lhe pediam conselho, recomendava que fizessem sempre o que mais agradasse a Deu, e que fosse evitada a mais leve sombra do pecado.
Sendo eleito superior geral da Ordem, reservou para si o serviço de enfermeiro. Tratar dos doentes era-lhe uma delícia, e era de ver com quanto carinho, com quanta dedicação, não se entregava a esse ofício, por todos considerado o mais penoso. Maior ainda era o zelo que tinha pela salvação das almas. Para reconduzir alguém ao caminho da fé e da virtude, para fortalecer outros na prática do bem, Fourier não media sacrifícios. À conversão dos hereges, à penitência dos pecadores, à perseverança dos justos, dedicava muita oração, muita mortificação, e aplicava muitas vezes o santo sacrifício da Missa.
Imaculada conservou Fourier a inocência batismal, fugindo de tudo que a pudesse macular. Sendo inevitável tratar com pessoas de outro sexo, sempre se havia com a maior prudência. Era inimigo declarado de toda palavra menos honesta e de modinhas livres. Como vigário, envidou todos os esforços para extirpar na paróquia o que pudesse ofender a boa moral.
A vida de Fourier era a prática de penitência ininterrupta. Freqüentes vezes entremeava dias de completo jejum. Tinha por indumentária, um hábito de fazenda áspera e grossa. O leito era uma tábua e, livros, substituíam o travesseiro. Não satisfeito com essas mortificações, sujeitava o corpo a rudes penitências, até correr sangue.
Como prenúncio da morte, Deus mandou-lhe uma febre violenta. Sentindo a última hora aproximar-se, recebeu os Santos Sacramentos com uma devoção que a todos edificou. Ora beijava ternamente o crucifixo, ora com os olhos, procurava a imagem de Maria Santíssima, enquanto os lábios formulavam a piedosa prece: “Maria, mostrai que sois minha mãe. Como Mãe minha, sempre vos invoquei, não rejeiteis agora o vosso filho adotivo.”.
A última satisfação que teve, foi poder celebrar ainda a festa da Imaculada Conceição. No dia seguinte, aos 09 de dezembro de 1640, sua alma deixou esta terra, para entrar no reino do Pai celeste. Às 11 horas da noite, o santo servo de Deus, fez o sinal da cruz por três vezes e, os seus olhos, fecharam-se para sempre. Fourier foi canonizado em 1897 pelo Papa Leão XIII.