sábado, 24 de dezembro de 2011

Santas Ermina e Adélia, abadessas beneditinas

Santa Adélia de Pfalzel



         A tradição oral germânica nos conta que Adélia ou Adele era a irmã mais nova de Ermina, ambas princesas, filhas do rei da Austrasia Dagoberto II, o Bom. Hoje todos são venerados nos altares com Santos da Igreja. Embora esse parentesco ainda seja motivo de controvérsias e por isso continua sendo pesquisado.
         Adélia foi identificada também como a abadessa Adola, a quem Elfrida, abadessa do mosteiro de Streaneshalch, teria enviado uma carta. Também como Adula, "religiosa matrona nobilis", que se hospedou no mosteiro de Nivelles em 17 de março de 691, com um filho pequeno. Consta que Adélia, depois da morte de seu marido, Alderico, influente nobre da região, decidiu se recolher para a vida religiosa. Para isso, fundou o mosteiro de Pfalzel, na região de Treves, atual Alemanha, onde ingressou e foi a primeira abadessa. Escolheu as regras dos monges beneditinos, como pertenciam os de Ohren e de Nivelles, o primeiro fundado por sua irmã a futura Santa Ermina.
         No mosteiro havia um hospede freqüente, o neto da abadessa, um rapaz esperto e vivaz. Seu nome era Gregório e, como conhecia o latim, ficou encarregado de ler em voz alta os textos sagrados, enquanto as religiosas estivessem no refeitório. Certo dia, no ano de 722, passou pelo mosteiro um monge inglês de nome Bonifácio. Ele estava retornando da sua primeira missão na Frísia. Foi acolhido como hospede, mesmo não sendo conhecido. Mas naquele exato momento todos estavam no refeitório, onde o jovem Gregório lia uma bela página latina do Evangelho.
         Terminada a leitura, Bonifácio se aproximou dele e expressou seus cumprimentos, mas lhe pediu que explicasse o que acabara de ler. Gregório tentou repetir a leitura, mas Bonifácio o impediu, pedindo que o jovem explicasse no seu próprio idioma. Ocorre que mesmo lendo muito bem o latim, não conseguia compreender o que realmente o texto dizia. "Deixe que eu mesmo explicarei para todos os presentes" disse o monge estranho. Explicou o texto latino com tanta clareza, o comentou com tamanha profundidade e de maneira tão convincente, que deixou todos os ouvintes encantados.
        O mais atingido de todos foi Gregório, a ponto de não querer mais se separar do monge que ninguém sabia de onde era. Porém, apesar das preocupações de avó, Adélia permitiu que o neto partisse ao lado de Bonifácio, confiando na sua intuição religiosa e na Providência Divina. Muitos anos depois Gregório se tornou o Bispo de Utrecht e foi um dos melhores discípulos de Bonifácio, o "apóstolo da Germânia" e Santo da Igreja.
         Adélia morreu pouco tempo depois, num dia incerto do mês de dezembro no ano 734, e foi sepultada no mosteiro de Pfalzel. Passados mais de onze séculos, em 1868 as suas relíquias foram transferidas para a igreja da paróquia de São Martinho.
         O culto litúrgico em memória de Santa Adélia de Pfalzel foi autorizado pela Igreja. São duas as celebrações em dezembro, nos dias: 18, com uma festa local; e no dia 24, junto com Santa Ermina, que sem dúvida alguma é sua irmã na fé.


Santa Ermina

           Os nomes Ermina, Irmina ou Irma nos reportam à uma única personalidade, a de uma santa germânica. A tradição desta região conta que ela era a irmã mais velha de Adélia, a abadessa do mosteiro que fundará em Pfalzel, depois uma Santa da Igreja.
        Portanto, Ermina também era princesa da Autrasia, filha do rei Dagoberto II, o Bom, o primeiro dessa família a ser declarado Santo pela Igreja de Roma. Porém, toda essa descendência real nunca ficou muito clara. Mesmo nos antigos registros biográficos ela aparece confusa.
        À parte essa tradição, certamente muito do florescimento do cristianismo na Alemanha ocorreu graças as duas veneradas irmãs abadessas fundadoras. Entre os séculos VII e VIII a propagação da fé cristã, realmente ocorreu em conseqüência as fervorosas iniciativas missionárias e as fundações de mosteiros. Nesta época, Ermina era uma jovem muito bela e caridosa, cujo noivo era o conde Ermano. Mas ele acabou morrendo antes da cerimônia do casamento. Após a fatalidade, decidiu seguir a vida religiosa, entendendo o acontecimento como uma mensagem de Deus. Assim ingressou num mosteiro beneditino.
       Mais tarde ela fundou um, perto da cidade de Treves, que existe ainda hoje, o mosteiro de Ohren. Escolheu as regras beneditinas e foi eleita a primeira abadessa. Desde então se tornou uma grande benfeitora dos missionários que passavam pela região, especialmente do monge Wilibrordo, futuro Santo. Ele era inglês e chefiava uma missão evangelizadora na região da Frísia, atual Dinamarca, ao lado outros monges da mesma origem. Atendia um especial pedido do Papa Sérgio I, que desejava ver a região convertida.
         Na verdade, primeiro foi Wilibrordo que beneficiou o mosteiro de Ohren e inclusive a cidade de Treves. A tradição nos conta que no final do século VII, quando ele passava pela região, encontrou a cidade na mais completa desolação. Era uma terrível peste que se espalhava velozmente, tendo atingido também o mosteiro da abadessa Ermina. Alí, o referido monge, se manteve em fervorosa oração e penitência para que as religiosas e os habitantes da cidade ficassem livres do mortal contágio. As preces de Wilibrordo foram ouvidas tão depressa, que Ermina ficou comovida com tanta santidade.
        Muito agradecida Irmina doou a Wilibrordo o território de Echternach. As construções já existentes serviriam de base para mais um glorioso mosteiro beneditino. O qual, depois se tornou, o ponto de partida das suas viagens de pregações apostólicas que levaram a conversão da Frísia.
        Ermina continuou a ajudar o monge através da força das orações e com recursos materiais. Ela continuou sua existência entregue aos exercícios espirituais e a uma vida feita de abnegação e caridade. Pode-se dizer também que sem a sua ajuda a Frísia demoraria muito para se converter ao seguimento de Cristo. A abadessa Ermina morreu na véspera do Natal do ano 710.
         A Igreja autorizou seu culto e a incluiu no Livro dos Santos. Determinou o dia de sua morte, 24 de dezembro, para a homenagem litúrgica, em sua memória. Posteriormente nele incluiu também a celebração de Santa Adélia de Pfalzel, sua irmã no sangue e na fé.