quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Nossa Senhora de Quinche, Padroeira do Equador

          

    
           Não longe de Quito, rumo ao noroeste, existia uma tribo indígena chamada dos Oyacachis. Esses índios, ao que tudo indica, foram os que martirizaram o sacerdote jesuíta Rafael Ferrer. Mas, anos depois, já convertidos, desejavam possuir uma imagem de Nossa Senhora, o que não era muito fácil de se obter naqueles tempos.
            Um escultor de nome Diego Robles havia esculpido uma imagem para uma outra tribo indígena, mas como os silvícolas não quiseram ou não puderam pagá-la, vendeu-a aos Oyacachis. A imagem era de madeira, tendo 62 centímetros de altura. Os nativos, muito pobres e rústicos, colocaram-na numa gruta, à falta de outro lugar. E querendo vesti-la de modo parecido a uma dama espanhola, trajaram-na com uma túnica de grosso pano, o único que possuíam, o qual porém não decorava bem a imagem. Nossa Senhora, Mãe por excelência, não se preocupou com o humilde traje, decidindo premiar a devoção dos indígenas.
          Começou então a operar contínuos milagres. Muitas vezes saía de sua gruta e voltava somente no outro dia. Quando voltava, os índios perguntavam-lhe onde tinha estado, e a imagem simplesmente mostrava-lhes os pés cheios de lama, dando a entender que tinha ido socorrer diversas pessoas. Além disto, sabia-se na região que a gruta da imagem ficava em muitas ocasiões iluminada, e às vezes ouviam-se sons musicais sair dela.
          Como começavam a aparecer peregrinos de outros locais, atraídos pelos numerosos milagres, decidiram os índios construir uma capela mais digna para a Mãe celeste.
          Certo dia passou pela região o escultor da imagem. Os silvícolas encomendaram-lhe um pequeno altar para a Virgem, tendo ele se negado a construí-lo. E foi embora. Quando, porém, passava por uma ponte primitiva, seu cavalo deu um salto e ele caiu. O escultor só não rolou pelo precipício porque uma de suas esporas ficara presa numa das cordas da ponte. Ficou dependurado assim sobre o abismo, e não conseguia sair do apuro. Lembrou-se então da imagem da Virgem dos Oyacachis... Prometeu a Nossa Senhora que, caso o livrasse do perigo, ele voltaria e faria o altar. Apesar de ser aquele um local isolado, logo surgiram várias pessoas que o salvaram. Em cumprimento da promessa, o escultor voltou e construiu o altar.
           Toda a tribo colaborou na construção da capela. Uma índia, de costumes muito puros, tinha por encargo levar comida para os que se achavam no bosque cortando madeira. Como seu pequeno campo estava pronto para a colheita, e ela não tinha a quem recorrer para ficar impedindo os pássaros de comer tudo, na sua simplicidade, foi até a imagem. E a nativa pediu-lhe que cuidasse de sua plantação. Incrível misericórdia da Rainha dos Céus e da Terra: várias vezes, ao voltar, a indiazinha encontrava a própria Virgem Santíssima cuidando do trigal, da mesma forma que ela A via representada na imagem!
          Um casal de índios foi ajudar a construção da capela, deixando seu filho junto a uma árvore enquanto trabalhavam. Ao retornar, um urso devorava o indiozinho. Afugentaram a fera, mas... o pequeno tinha perdido um braço e morrera. Os pais não duvidaram: levaram o pequeno cadáver junto à imagem e suplicaram um milagre. Nossa Senhora não se fez rogar por muito tempo: devolveu a vida e o braço ao menino!
         Este estupendo milagre fez com que a devoção se difundisse enormemente e sua fama chegasse muito longe.
          Após 30 anos, o então Bispo de Quito, Frei Luiz López de Solís, fez trasladar a imagem ao povoado de Quinche.
        Motivo? Os infelizes índios eram dotados de temperamento muito volúvel. Se num momento iam bem, nada garantia que no minuto seguinte não se comportassem mal. Assim, aquela tribo, tão favorecida por Nossa Senhora, em meio a uma festa com bebedeira, recaíra no paganismo... Os silvícolas tomaram a cabeça de um urso e decidiram adorá-la. Retiraram as jóias da imagem e ofereceram-nas a esse fetiche.
          Mas Nossa Senhora é Mãe! Mesmo após o pecado, Ela não se esqueceu dos pobres Oyacachis e  continuou a favorecê-los com milagres.
        Havia, no povoado de Yaruquí, um indígena que sofria de hidropisia. Gastara toda sua fortuna de vacas e ovelhas com feiticeiras, as quais não o tinham curado. Desiludido, o índio recorreu à imagem e prometeu-lhe abandonar as feitiçarias, caso fosse curado. Juntou o pouco dinheiro que lhe restava e mandou rezar uma Missa. Permaneceu na igreja o dia inteiro e já no outro dia estava curado. O milagre foi testemunhado pelo Pe. Francisco Cáceres, sacerdote naquele povoado.
        Uma senhora distinta, devido a certa doença, não podia falar há três anos. Rezou uma novena diante da imagem, colocou em seus ombros um manto branco que aquela costumava usar, e logo ficou curada, sem que nunca mais voltasse a sofrer da doença.
          Aumentando o número de peregrinos, decidiu-se fazer novo templo para a milagrosa imagem, que se tornou a Padroeira do país. Como o único terreno disponível ficava a certa distância do anterior Santuário, logo que a imagem foi mudada de local, em 1630, o povo também trasladou-se, surgindo assim, em torno da nova igreja, tornada Basílica nacional, uma nova cidade.
          Já em nosso século, em fevereiro de 1909, houve um desastre ferroviário perto da cidade de Riobamba. Entre os feridos estava um senhor colombiano, que ao saltar do vagão em que viajava, teve o calcanhar destroçado por uma das rodas. Apesar dos cuidados médicos, logo gangrenou a ferida e lhe avisaram que seria preciso amputar o pé. O colombiano, contudo, resistiu. Então, uma senhora sugeriu-lhe que fizesse uma peregrinação ao Santuário de Quinche, pedindo um milagre a Nossa Senhora. Ora, não é agradável fazer uma viagem por caminhos difíceis e longos, a cavalo e com gangrena no pé. E, naquela época, não havia outra alternativa.
         O devoto colombiano, contudo, não teve dúvida e partiu em peregrinação. Já ao iniciar a viagem sentiu alguma melhora. Chegando à cidade de Quito, desceu do trem, alugou cavalos, um par de muletas e partiu rumo ao Santuário, a dois dias de marcha. Próximo ao templo, decidiu, em homenagem a Nossa Senhora, fazer o último trecho a pé, avançando de muletas. Ao chegar ao Santuário não sentia mais dores...
         Examinaram-lhe o pé, tiraram as ataduras... a gangrena havia desaparecido. E, em seu lugar, surgira  nova carnatura e o calcanhar perdido no desastre. O feliz peregrino deixou no Santuário, como lembrança, as muletas, e deu de presente a Nossa Senhora um manto e uma túnica de fios de prata.
         Falta-nos espaço para relatar outros tantos e tantos milagres operados pela imagem, especialmente por ocasião das epidemias de peste que assolaram Quito. Entretanto, os prodígios acima relatados serão suficientes para aqueles que confiam na bondade e misericórdia da Mãe de Deus. Esperamos ter contribuído assim, ao menos um pouco, para fazê-La conhecer e amar.
         Para concluir, apenas uma pergunta: se Ela operou e opera tantos milagres, não será, caro leitor, que Nossa Senhora de Quinche está à espera de sua oração para realizar mais um?


Santuário de Nossa Senhora do Quinche