quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo. (Sermão 304, 1-4: PL 38, 1-395-1397) (Séc. V).

 
http://heritage.villanova.edu/vu/heritage/history/saints/augustine1.jpg



         A Igreja Romana convida-nos hoje a celebrar o triunfo glorioso de São Lourenço, que, desprezando as ameaças e as seduções do mundo, venceu a perseguição do demônio. Exercia nessa Igreja de Roma, como sabeis, as funções de diácono. Aí administrou o sagrado Sangue de Cristo; aí derramou o seu sangue pelo nome de Cristo.
         O bem-aventurado apóstolo São João expôs claramente o mistério da Ceia do Senhor, dizendo: Como Cristo entregou a sua vida por nós, também nós devemos entregar as nossas vidas pelos nossos irmãos (1Jo 3,16). Assim compreendeu São Lourenço; assim o compreendeu e realizou: o que tinha recebido naquela mesa, isso mesmo ofereceu. Amou a Cristo na sua vida, imitou-O na sua morte.
          Portanto, também nós, irmãos, se realmente O amamos, imitemo-O. A melhor prova que podemos dar do nosso amor é imitar o seu exemplo. Na verdade, Cristo sofreu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os seus passos (Cf. 1Pd 2,21). Estas palavras do apóstolo São Pedro parecem dar a entender que Cristo só sofreu por aqueles que seguem os seus passos e que a paixão de Cristo de nada aproveita senão àqueles que O seguem. Seguiram-nO os santos mártires até ao derramamento de sangue, à semelhança da sua paixão. Seguiram-nO os mártires, mas não só eles. Não foi cortada a ponte; depois que beberam a fonte não secou.
          Aquele jardim do Senhor, meus irmãos, não só tem as rosas dos mártires, mas também os lírios das virgens, as heras dos esposos e as violetas das viúvas. Nenhuma classe de pessoas, irmãos caríssimos, deve menosprezar a sua vocação. Cristo sofreu por todos. Com toda a verdade está escrito a este propósito: Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (Cf. 1Tm 2,4).
         Entendamos, portanto, como deve o cristão seguir a Cristo, mesmo sem ter de derramar o seu sangue, sem ter de suportar o martírio. Diz o Apóstolo, referindo se a Cristo nosso Senhor: Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus. Oh sublime majestade! Mas aniquilou Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens e aparecendo como homem (Cf. Fl 2,7-8). Oh profunda humildade!
         Cristo humilhou-se: aqui tens, cristão, o que deves imitar. Cristo obedeceu: como podes orgulhar-te? E depois de ter passado semelhante humilhação e de ter vencido a morte, Cristo subiu ao Céu: sigamo-lo. Ouçamos o que diz o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus (Cl 3,1).


São Lourenço, rogai por nós