quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Do Tratado sobre a saudação angélica, de Balduíno de Cantuária, bispo, séc. XII (Tract. 7: PL 204,477-478)

Brotou uma flor da raiz de Jessé




          À saudação angélica com que todos os dias, segundo a devoção de cada um, saudamos a santíssima Virgem, costumamos acrescentar: E bendito o fruto de vosso ventre. Após ter sido saudada pela Virgem, Isabel, como a retomar o final da saudação do anjo, acrescentou estas expressões: Bendita sois entre as mulheres e bendito o fruto de vosso ventre (Lc 1,42). É este o fruto de que fala Isaías: Naquele dia será o germe do Senhor em magnificência e glória e o fruto da terra, sublime (Is 4,2). Quem é este fruto senão o santo de Israel, a semente de Abraão, o germe do Senhor, a flor que se eleva da raiz de Jessé, o fruto da vida com quem entramos em comunhão?
          Bendito, sim, na semente, bendito no germe, bendito na flor, bendito no dom, bendito, enfim na ação de graças e no louvor. Cristo, semente de Abraão, feito da semente de Davi segundo a carne.
          Só ele, dentre os homens, se encontrou perfeito em todo o bem, só a ele foi dado sem medida o Espírito, ele, o único a poder cumprir toda a justiça. Sua justiça basta à totalidade das nações, como está escrito: Como a terra produz seu germe e o jardim germina sua semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e o louvor diante de todas as nações (Is 61,11). É este o germe da justiça que, desabrochado pela bênção, a flor da glória adorna. Que glória? Aquela que é impossível imaginar-se mais sublime, ou antes, que de modo algum se pode imaginar. A flor elevou-se da raiz de Jessé. Até aonde? Até ao máximo, porque Jesus Cristo está na glória de Deus Pai (cf. Fl 2,11). Elevou-se sua magnificência para além dos céus, de modo a ser o germe do Senhor em magnificência e em glória, e o fruto da terra, sublime.
          E para nós, quem é o fruto deste fruto? Quem, a não ser o fruto da bênção oriundo do fruto bendito? Dele, como semente, germe, flor, provém o fruto da bênção; e chega até nós. Primeiro, como em semente pela graça do perdão, depois como em germe pelo aumento da justiça, e por fim como em flor pela esperança ou posse da glória. Bendito por Deus e em Deus, isto é, para que Deus seja glorificado nele. Para nós também é bendito para que, benditos por ele, nele sejamos glorificados, já que pela promessa feita a Abraão, Deus o fez a bênção de todos os povos.