sexta-feira, 31 de agosto de 2012

São Raimundo Nonato, presbítero mercedário

            
 
            São Raimundo Nonnato, assim chamado porque «não nascido» mas extraído vivo das entranhas da mãe já morta, viu a luz em Portei, na diocese de Solsona, Espanha, pelo ano de 1200. Os pais eram pobres e Raimundo, ainda menino, teve de guardar o gado. As montanhas de Lérida foram o campo dos seus anos de pastor. Conhecia-lhes muito bem as fontes e arroios, os bosques e os vales e, sobretudo uma ermida de São  Nicolau, onde se venerava uma imagem de Nossa Senhora de quem era devotíssimo.
            Conta-se que, durante as horas que passava aos pés de Maria, um anjo lhe guardava o rebanho. O que parece fora de toda a dúvida é que a Virgem Santíssima lhe falou um dia e lhe disse que entrasse na recém-fundada Ordem de Nossa Senhora das Mercês para a redenção dos cristãos cativos em terras de mouros. Vencida a resistência do pai, veio para Barcelona, onde conheceu São Pedro Nolasco, a quem pediu a admissão. Em Barcelona, trabalhou desde o principio no ministério da pregação e catequese, em particular com  os cristãos remidos dos infiéis. Isto não lhe bastava, pois sonhava com maiores e mais difíceis empresas. Sonhava com a redenção dos que gemiam em terras de mouros.
            Reunia esmolas, mendigando de porta em porta, para resgatar aqueles infelizes. Em 1224 entrou pelo reino mouro de Valência para remir e consolar os cativos. Libertou 140. Em 1226 chegou mesmo até Argel, com São Pedro Nolasco e, não bastando o dinheiro que levavam para remir tantos cativos, ficou ele em pessoa como refém. Já ordenado sacerdote, voltou outras duas vezes a África.
            Na primeira, em 1229, desembarcando em Argel, esteve em perigo de perder a vida, pela liberdade apostólica em falar e discutir com mouros e judeus. Em 1232, veio a Bugia, onde obteve óptimos resultados até na conversão de muçulmanos e judeus. A expedição mais célebre do santo foi a do ano de 1236, a Tunes ou mais provavelmente a Argel. Ficou novamente como refém, enquanto se recolhia o dinheiro necessário, em terras cristãs. Libertou 250 cativos em Argel e 228 em Tunes. Dedicando-se com liberdade à evangelização dos infiéis, isto excitou as iras dos mais rebeldes, que o açoitaram e lançaram meio esfolado numa escura masmorra. Continuou pregando Cristo.
            Um dia, os mouros entraram-lhe na prisão, furaram-lhe os lábios com um  ferro em brasa e pelos buracos meteram-lhe um cadeado. Era o meio único para fechar a boca àquele intrépido pregador. Abriam-na para lhe dar de comer a escassa ração dos presos. Chegou por fim o seu resgate e Raimundo, esgotado pelos açoites, pela fome e pelos maus tratos, voltou a Espanha, à terra de origem.
            A sua fama de santo e valente pregador tinha chegado até ao papa Gregório IX, que pelo ano de 1239 lhe enviou o chapéu cardinalício. Já antes o encarregara de ir a França convencer São Luís a partir para a Terra Santa. O Santo continuou na sua humildade e espírito caritativo. Conta-se que um dia, não tendo que dar a um pobre, lhe entregou o seu próprio chapéu. Quando Gregório IX o chamou a Roma para utilizar os seus conselhos, adoeceu com gravidade em Cardona e morreu santamente em 1240.
           O seu corpo foi descansar na mesma ermida de São Nicolau em que orava nos seus anos de pastor.