domingo, 12 de agosto de 2012

Santo Êuplio, diácono e mártir

          
Sant'Euplio di Catania

          O martírio de Êuplio, diácono de Catânia, aconteceu em 304, como pode ser deduzido da indicação do consulado de Diocleciano e Maximiano, e do fato que o cristão é convidado a sacrificar aos deuses, conforme a ordem do IV edito imperial, emanado naquele ano.
          Certamente ainda estava em vigor o edito contra a conservação dos livros sagrados, porque o ponto principal da acusação contra Êuplio refere-se ao evangelho, que o diácono tinha conservado e mostrava com orgulho.
          Os Atos que nos chegaram, num breve texto latino, une a ata da prisão e da primeira confissão de Êuplio à do interrogatório pelo qual passou em meio às torturas.
           Uma frase do capítulo I: “…estando fora da tenda do escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: “Sou cristão e desejo morrer pelo nome de Cristo”", leva a crer que ele não tivesse sido preso, mas que se tivesse denunciado espontaneamente, talvez durante o interrogatório de outros fiéis; a hipótese é confirmada também pelas palavras do juiz que o entrega aos esbirros: “Como é evidente a tua confissão…” (c. I) e parece levado a proceder pela atitude do cristão, mais do que por uma vontade pessoal inquiridora.
           “Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na vigília dos idos de agosto, na cidade de Catânia, estando fora da tenda do escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: “Sou cristão e desejo morrer pelo nome de Cristo”.
            Ouvindo isso, o procurador Calvisiano disse: “Que entre a pessoa que gritou”.
           Tão logo Êuplio entrou no escritório do juiz, tendo os evangelhos nas mãos, um dos amigos de Calvisiano, que se chamava Máximo, disse: “Não é lícito ter estes livros, contra a ordem imperial”.
           Calvisiano perguntou a Êuplio: “De onde vêm estes livros? Saíram da tua casa?”.
           Êuplio respondeu: “Não tenho casa. Sabe-o também o meu Senhor, Jesus Cristo”.
           O procurador Calvisiano retomou: “Foste tu quem os trouxestes aqui?”.
           Êuplio respondeu: “Eu os trouxe, como tu mesmo vês. Fui encontrado com eles”.
           Calvisiano ordenou: “Lê-os”.
           Abrindo o evangelho, Êuplio leu: “Bem-aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus”, e, numa outra passagem: “Quem quiser vir após mim, tome a sua cruz e siga-me”.
           Enquanto lia esses e outros passos, Calvisiano perguntou: “O que é isso tudo?”.
           Êuplio respondeu: “É a lei do meu Senhor, que me foi confiada”.
           Calvisiano insistiu: “Por quem?”.
           Êuplio respondeu: “Por Jesus Cristo, Filho do Deus vivo”.
          Calvisiano interveio novamente dizendo: “Como é evidente a tua confissão, sejas entregue ao ministro da tortura e interrogado em meio a suplícios”.
          Quando foi-lhes entregue, começou o segundo interrogatório, em meio às torturas.
          Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na vigília dos idos de agosto, o procurador Calvisiano disse a Êuplio, em meio aos tormentos: “O que repetes agora daquilo que declaraste na tua confissão?”.
         Traçando o sinal da cruz sobre si com a mão livre, o mártir respondeu: “Aquilo que disse antes, confirmo-o agora: sou cristão e leio as divinas Escrituras”.
         Calvisiano rebateu: “Por que não entregaste estes livros, cuja leitura os imperadores vetaram, mas os mantiveste contigo?”.
         Êuplio disse: “Porque sou cristão e não me era lícito entregá-los. É melhor, para um cristão, morrer do que entregá-los; neles está a vida eterna. Quem os entrega perde a vida eterna e, para não perde-la, eu ofereço a minha”.
        Calvisiano interveio dizendo: “Seja torturado Êuplio que, infringindo o edito dos príncipes, não entregou as Escrituras, mas leu-as ao povo”. Êuplio disse, em meio aos tormentos: “Agradeço-te, ó Cristo. Protege-me porque sofro tudo isso por ti!”.
        Calvisiano exortou-o com estas palavras: “Desiste dessa loucura, Êuplio. Adora os deuses e serás libertado”.
         Êuplio respondeu: “Adoro a Cristo, detesto os demônios. Faz de mim o que quiseres, sou cristão. Desejei isto por muito tempo. Faz o que quiseres. Aumenta os meus tormentos. Sou cristão”.
        A tortura já durava muito tempo quando Calvisiano ordenou aos carnífices que parassem e disse ao mártir: “Adora os deuses, infeliz! Venera Marte, Apolo e Esculápio!”.
Êuplio respondeu: “Adoro o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Adoro a Santíssima Trindade, fora da qual não existe outro Deus. Pereçam os deuses que não criaram o céu, a terra e tudo o que neles existe. Eu sou cristão”.
        O prefeito Calvisiano insistiu: “Sacrifica, se queres ser libertado!”.
        Êuplio respondeu: “Justamente agora sacrifico-me a Cristo Deus. Não existe nenhum outro sacrifício que eu deva fazer. Tentas em vão fazer-me renegar a fé. Eu sou cristão”.
       Calvisiano ordenou que fosse torturado mais violentamente ainda; durante os tormentos, Êuplio disse: “Rendo-te graças, ó Cristo, socorre-me; Cristo, sofro isto por ti, Cristo!”.
        Repetiu muitas vezes estas invocações e, quando faltaram-lhe as forças, já sem voz, dizia apenas com os lábios estas e outras orações.
        Entrando no interior do seu escritório, Calvisiano ditou a sentença e, saindo, leu a ata que levara consigo: “Ordeno que Êuplio, cristão, que despreza os editos dos príncipes, blasfema contra os deuses e não se arrepende disso tudo, seja passado a fio de espada. Levai-o ao suplício”.
        O evangelho com que fora encontrado no momento da prisão foi pendurado ao pescoço do mártir, e o pregoeiro ia dizendo: “Êuplio, cristão, inimigo dos deuses e dos soberanos”.
         Alegre, Êuplio respondia sempre: “Graças a Cristo Deus!”.
        Chegando ao lugar da execução, ajoelhou-se e orou longamente. Dando ainda graças ao Senhor, apresentou o pescoço e foi decapitado pelo carnífice.
         O seu corpo foi depois recolhido pelos cristãos e embalsamado com perfumes, e sepultado”.

Igreja de Santo Êuplio na Catânia, Itália