quinta-feira, 22 de setembro de 2011

São Tomás de Villanova, bispo


          Tomás foi um dos pregadores de maior destaque do século XVI na Espanha. Como frei agostiniano e, mais tarde, como arcebispo, ele conquistou a reputação de ter feito grande caridade, promovido os estudos e encorajado o trabalho missionário. Em tempos de grande materialismo no Espanha, Tomás de Vilanova viveu frugalmente. Ele usava dos meios financeiros de sua afluente arquidiocese para concretizar programas sociais para os pobres e rejeitados. Ele deu de comer aos que tinham fome e acolheu os sem-teto em sua própria casa. Antes de morrer, ele deu as poucas coisas pessoais que tinha aos necessitados.
         Santo Tomás de Vilanova nasceu em Fuenllana (Espanha) no ano de 1488, mas foi criado em Villanueva (Vilanova, em português) de los Infantes, de onde tomou seu nome ao entrar na Ordem dos Agostinianos. Seus pais, Alonso Tomás Garcia e Lucia Martinez de Castellanos, praticavam obras de caridade, socorrendo a toda espécie de necessitados. Tomás herdou dos pais esta virtude. Dava a seus coleguinhas mais necessitados tudo o que podia, inclusive suas próprias vestes e calçados. Um dia em que os pais não estavam em casa, chegaram seis pobres pedindo esmola. O menino, não encontrando nada para dar-lhes, foi ao galinheiro e pegou seis franguinhos, dando a cada um dos pobres um destes. E disse à mãe que, se houvesse mais um pobre, ter-lhe-ia dado também a galinha. Seguindo o exemplo da mãe, desde muito cedo começou a jejuar, não só nos dias prescritos pela Igreja mas também em outros de sua devoção.
         Flagelava-se e fazia outras sortes de penitências como se fosse já um adulto. Estudante modelar na universidade de Alcalá Quando tinha 15 anos seus pais enviaram-lhe à famosa Universidade de Alcalá para cursar humanidades, retórica, filosofia e teologia. Seu sucesso foi tanto que nos nove anos de estudos naquela instituição ele foi aclamado por todo mundo. No entanto, sua virtude era ainda mais notável que sua ciência. Apesar do seu sucesso, jamais perdeu a modéstia e a humildade: ele aceitava os elogios como se não fosse ele que estivesse em foco.
         Aos 17 anos a morte de seu pai obrigou-o a voltar temporariamente para casa a fim de pôr em ordem os assuntos domésticos. Ele recebeu de herança uma grande residência que transformou em hospital para os pobres. Sua mãe cumpriu sua vontade, encerrando-se ela mesma no hospital para passar os seus anos de viuvez a serviço dos pobres. De professor de filosofia a frade agostiniano Voltando para Alcalá passou a ensinar filosofia na Universidade. Ele tinha então 26 anos. Mas outras eram suas preocupações. Havia muito vinha ele pensando em consagrar-se inteiramente a Deus mediante a vida religiosa. Por isso, deixou as glórias do mundo pelo hábito agostiniano.
         Tomás fez sua profissão solene em 25 de novembro de 1517. Ordenado sacerdote algum tempo depois, celebrou sua primeira missa no dia de Natal. Ele entrou em êxtase ao cantar o Glória. Tomás conservaria para sempre uma terna devoção à Divina Infância e ao Santo Sacrifício do altar. Ele costumava dizer que é péssimo sinal para um sacerdote quando ele é visto celebrar a Missa todos os dias sem se tornar cada vez melhor. Não perdia um minuto durante o dia. Os lugares que mais frequentava eram o altar, o coro (para as orações), sua cela (uma cela em um mosteiro é o aposento de um membro da comunidade; a cela é utilizada para estudar e meditação, também), a bilbioteca (para os estudos) e a enfermaria (para cuidar dos doentes).
         O santo não podia ver um religioso ocioso e inútil que já o comparava a um soldado sem armas e exposto ao ataque de seus inimigos. Dizia que ter ciência e grande erudição sem a piedade é como uma espada na mão de uma criança: é uma arma que pode ferir pois não tira proveito daqueles dons de ciência para ninguém. Ele criticava também os religiosos que, sob pretexto de devoção, não se aplicavam suficientemente ao estudo. Outro São Paulo ou Elias Designado à pregação ele a fazia com tanto empenho que o consideravam um outro São Paulo (pela profundidade de sua doutrina) ou um outro Elias da nova Lei (por causa do zelo que demonstrava em seus sermões).
        Tomás reformou de tal maneira Salamanca que a cidade “se havia tornado um mosteiro”. Muitos jovens renunciaram ao mundo para seguir a Deus. O próprio Imperador Carlos V quis ouví-lo e acabou escolhendo-o para seu pregador. Quando Tomás pregava fora do palácio, o Rei ia disfarçado para ouví-lo. O santo não aprovava os pregadores que, para dar mostras de erudição, faziam longos e prolixos sermões. Por uma visão interior ele conhecia as necessidades espirituais de seus ouvintes e o mais admirável era que, por mais diferentes que fossem seus interlocutores, todos saíam com maior piedade após ouvir seu sermão. Preguiça e ociosidade: inimigas da virtude Tomás foi eleito prior de Burgos e Valladolid e duas vezes foi provincial da Andaluzia e uma vez de Castela.
        No governo de seus súditos sua mansidão de coração e o atrativo de sua pessoa constituíam poderosas armas para exercer sua autoridade. Nos seus governos, ele desejava primeiro que os oficios divinos fossem celebrados com toda a reverência e atenção possíveis; em segundo lugar, que os religiosos considerassem a meditação e a leitura espiritual como coisas invioláveis; terceiro, que a paz e a união na caridade fraterna fossem guardadas sem nenhuma alteração; e, finalmente, que ninguém fosse dominado pela preguiça ou pelo ócio, vícios que são os maiores inimigos da virtude, a ruina da alma, o destruidor da castidade e a fonte de todas as desordens. Com tais normas, ele fez florescer a observância em todas as casas sob sua jurisdição. Ou seja: promoveu uma verdadeira reforma no sentido católico do termo.
         Arcebispo de Valência por inspiração divina Frei Tomás relutou em aceitar ser bispo, ele teve que curvar a cabeça e conformar-se com os desígnios da Providência. Tinha então ele 56 anos. Foi nomeado no dia 10 de outubro de 1544. Conservou como arcebispo seu hábito religioso que ele mesmo remendava. O cabido da arquidiocese, pensando que ele não tivesse dinheiro para comprar roupas melhores, deu de presente quatro mil ducados para que comprasse trajes mais condizentes com seu posto. Imediatamente Tomás doou o dinheiro ao hospital, agradeceu muito ao cabido dizendo que o bem que era feito aos doentes ele o tomava como para si próprio.
        Começou sua administração pela visita pastoral à sua circunscrição eclesiástica pregando por toda parte, resolvendo litígios, reformando conventos e extirpando os vícios. Promoveu um sínodo para acabar com muitos abusos e reformar o clero. Extraordinária caridade e milagres. A caridade do então Dom Tomás era insuperável. Atendia diretamente no palácio inúmeros pobres. Não importava a hora do dia ou da noite em que os necessitados pediam seu auxílio. Freqüentemente acompanhava seus atos de caridade com milagres. A um paralítico que lhe pedia esmola, perguntou se preferia trabalhar e ganhar seu sustento com as próprias mãos. À resposta afirmativa, ele lhe disse: “em nome de Jesus Crucificado, deixa tuas muletas e anda.” No mesmo instante o pobre começou a andar e a agradecer. Santo Tomás de Vilanova tinha êxtases em público, o que contribuia para aumentar a veneração que por ele sentiam. Seus milagres também eram conhecidos por todo mundo. Entretanto, como ele mesmo dizia, nunca temera tanto salvar-se como desde o momento em que se tornou arcebispo. Isso, devido às responsabilidades que lhe cabiam, pelo bem das almas de todos seus diocesanos. Por essa razão, aspirava ardentemente renunciar ao cargo e voltar para sua cela de religioso. Enfim, quando ele suplicava com lágrimas a Nosso Senhor que o livrasse desse pesado fardo, o Crucificado lhe respondeu: “Tenha ânimo, que no dia do nascimento de minha Mãe virás descansar.” No dia 8 de setembro de 1555, Tomás de Vilanova recebeu o prêmio demasiadamente grande de sua fidelidade.