quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Beato Antônio Baldinucci, sacerdote

           


            Foi apóstolo duma valentia e duma eficácia prodigiosas, missionário das populações rurais da Itália Central. Nasceu em Florença, de família patrícia. O pai, Filipe, distinguiu-se na história. A mãe, Catarina Scolari, era uma santarella. uma santinha, como se exprimia o filho Antônio.
             Nasceu ele a 19 de Junho de 1665, e foi chamado Antônio por gratidão ao Santo milagroso, que obtivera uma cura a Filipe. Antônio era o quinto filho dos Baldinucci; o mais velho, que tinha apenas cinco anos mais que ele, fez-se dominicano, e o quarto, sacerdote secular. Antônio esteve quase para seguir o mais velho como dominicano. Um retiro com os jesuítas a isso o inclinou; mas experimentou repentinamente um desejo intenso de ajudar as almas e viu ser a Companhia de Jesus o instituto mais próprio para este fim.
            Foi aceito: era sério, ponderado, pontual, entregue à oração, à mortificação e à virtude. Em casa como no colégio chamavam-lhe «anjinho», em diminutivo porque a sua estatura era menos que média. Tinha índole boa e discernimento, era simples, aberto e amável, não impulsivo mas refletido.
            Foi admitido na Ordem em 1681. Fez o noviciado com especial fervor; depois, como filósofo, sonhava com a China e o Japão. Em 1687 escreveu ao Padre Geral exprimindo-lhe o desejo das missões, de verter o próprio sangue entre os infiéis. Em 1690 insistiu, mas a saúde parecia demasiado fraca. Foi ocupado perto de cinco anos nos colégios de Térni e depois no romano.
            Ao fim do quadriênio de teologia, foi ordenado sacerdote; tendo completado o seu terceiro ano de noviciado, fez a profissão solene em 1698.
            Utilizava-se já o seu talento para a pregação desde 1690: pregava nas praças de Roma nos dias de festa; e cada domingo fazia uma boa e longa exortação a 500 estudantes,depois do oficio cantado; custava-lhe bastante, para mais tendo dores de cabeça e de estômago. Em 1691 caiu gravemente doente. Teve de aceitar férias no campo. Precisava de movimento, atividade. Os Superiores aplicaram-no às missões na Itália. Como tinha memória infiel, as estações da Quaresma foram suplício para ele. Escrevia: «Mastigo em vão e fiquei muito mal parado». Destinaram-no à região de Frascáti, perto de Roma, onde pôde entregar-se à improvisação, sendo populares os auditórios.
              Antônio andava descalço, pobremente vestido, sem outra bagagem que não fosse o liturgicamente indispensável. Sem exagero, galopava nas caminhadas. Um dia, deram-lhe por companheiro um Padre lento e pesado, de grande fleuma, incapaz de percorrer 10 milhas por dia. Ora Antônio, que palmilhava 50, viu-se desesperado; até que de vez em quando se adiantou, indo para a frente e voltando atrás, como os cães: sem isso, morreria no caminho!
               Em 1702 referia-se a fadigas que lhe seriam intoleráveis, mas que podia suportar devido à graça, não obstando as indisposições já sofridas. Sem um momento para respirar: sempre atarefado com pregações, catecismos, conferências, procissões de penitência (três pelo menos por dia) e flagelações públicas; para comover o auditório, flagelava as costas até ao sangue, ao mesmo tempo que punha cadeias nos pés,uma corda ao pescoço e coroa de espinhos na cabeça. E era preciso dissipar os ódios, as amizades perigosas e os escândalos. Por outro lado, havia o frio, o vento e a chuva. Procurava substituir os baralhos de cartas com imagens da Paixão dotadas de legendas piedosas. Cantava o Svegliarino, «O despertar matutino», coleção de cânticos compostos por um colega. Por vezes, dialogava com uma caveira: «Onde estão os teus olhos? Os teus cabelos? As tuas maçãs do rosto? A tua língua?» Ou aparecia vestido de penitente. Descobria pouco a pouco as costas, dirigindo palavras de amor ao Crucifixo; e flagelava-se enquanto alguns padres salmodiavam um Miserere.
               As missões deviam inicialmente durar quatro meses por ano. Mas não foi caso único dedicar aos trabalhos apostólicos sete meses e mais. Escrevia a 11 de Dezembro de 1708: «Espero continuar até à morte. Estive bem perto dela o ano passado: num lugarejo de algumas casas, fui atacado de dores tão graves que, dois dias passados, necessitei de receber os santos sacramentos do Viático e da Unção dos enfermos. Mas, como para tudo sou rápido, no quinto dia encontrava-me aliviado para recomeçar as funções interrompidas». Uma vez, no Inverno de 1709, pouco lhe faltou para ficar no caminho como estátua gelada. Mas o Senhor restituiu-lhe a força.
               Conta-se na sua vida que pregava este apostólico missionário em Nápoles a uma imensa multidão, e que, arrebatado de espírito profético, num arranque de apocalíptica eloqüência, disse aos seus ouvintes: «Vede, vede como caem inúmeras almas nos abismos infernais, como caem as folhas da árvore com o sopro do vento». E, temeroso sucesso, o olmeiro a cuja sombra o missionário pregava secou repentinamente e sacudiu as folhas para o chão, mantendo-se somente pouquíssimas na árvore.
               Veio a morrer em 1717, com 52 anos completos, em Pófi, na diocese de Véroli (província de Roma). Tinha nos lábios os estribilhos dos seus cânticos populares: «Meu Jesus, doce amor, morro por Ti» e «Paraíso, ó Paraíso, ó bela pátria!».
               A um dos seus irmãos deixou estes conselhos: «De todo o acontecimento, tomar o bom, deixar que se dissipe o mal, viver com coração grande e livre de qualquer estreiteza. Para isso, pedir auxílio ao Senhor, e procurar não fixar-se na melancolia... Não pensar em todos os males possíveis, mas sim naqueles que precisam de remédio imediato».
               Foi enterrado em Pófi, na igreja dos Menores reformados. Atualmente, os seus restos encontram-se debaixo do altar-mor da igreja da Companhia de Jesus, em Florença. A beatificação foi em 1893 e deve-se ao Papa Leão XIII.