terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Beato Marco Antonio Durando, sacerdote vicentino e fundador


Marco Antonio nasceu em 22 de maio de 1801, em Mondoví, na ilustre família dos Durando, cuja casa dava na Praça Maior e estava perto da catedral e da igreja da Missão. Ao contrário que sua mãe, que era pessoa muito piedosa e que inspirou a religiosidade e a fé no coração de seus oito filhos, o pai tinha idéias liberais e era de tendência laica e agnóstica. Dois dos filhos, de maneira especial, professaram tais convicções e se implicaram nos sucessos do Risorgimento italiano. Ocuparam postos de destaque na vida política e militar. Santiago foi ministro dos assuntos exteriores no governo Rattazzi, de 1862. João  general e chefe das tropas pontifícias, em 1848, desobedeceu às ordens de Pio IX levando às tropas pontifícias mais à frente do Correio para fechar o passo aos austríacos. Uma vez que retornou ao exército piemontês, participou com Carlos Alberto na batalha da Novara, na expedição da Criméia e nas guerras de independência.

A paixão missionária

Marco Antonio saiu mais à mãe. Aos 15 anos manifestou o desejo de partir como missionário a China. Entrou na Congregação da Missão, que por então se estava reconstruindo na Itália. Aos 18 anos emitiu os votos perpétuos e em 12 de junho de 1824 foi ordenado sacerdote. Durante cinco anos permaneceu em Casale Monferrato  e depois, desde 1829 até sua morte, na casa de Turín, da qual foi superior dois anos depois de chegar. Em lugar de ir a China, seus destinos foram as missões populares, nas que expressou a paixão missionária do anúncio de Cristo. Sustentou e difundiu a recém-nascida obra da Propagação da Fé, instituída no Lyon em 1822. Na plenitude de sua responsabilidade como Visitador, em 1855, inaugurou o colégio Brignole-Sale para as missões estrangeiras com o objetivo de formar sacerdotes para as missões ad gentes.
Nos anos jovens de seu primeiro sacerdócio, seu dinamismo missionário foi absorvido pelas missões, que pregou em muitos povos de Piamonte. Fugindo dos extremismos, tanto do laxismo como do rigorismo jansenista, o pai Durando pregou a misericórdia de Deus, atraindo às pessoas à conversão: «A gente — relata um cronista da missão de Bra — se amontoava para ouvi-lo e estava tão silenciosa e atenta ouvindo-o como se fosse um único homem». Nestas missões não se limitou a pregar, mas sim ali onde encontrava situações graves de pobreza, de acordo com os irmãos, atuava de modo concreto. Na Locana, por exemplo, fez«converter todo o legado econômico da missão, que consistia em 700 liras, em farinha de milho para os pobres do povo», praticando assim o ensino de São Vicente de atuar espiritual e corporalmente em favor dos pobres.

Amor aos pobres e primeiro diretor das Filhas da Caridade na Itália

A preocupação pelos pobres foi a outra face de sua paixão missionária. Pouco depois de ter sido eleito Superior, intuiu a utilidade de introduzir na Itália do norte as Filhas da Caridade, nascidas do carisma da caridade de São Vicente e de Santa Luísa de Marillac. Estas, depois de ter sido dispersadas na época da revolução francesa, tinham começado a reorganizar-se. As aparições da Medalha Milagrosa, em 1830, a Santa Catalina Labouré, noviça das Filhas da Caridade, podem considerar-se como a origem do novo florescimento que estava experimentando esta comunidade. A inteligência do padre Durando consistiu em intuí-lo. Qui-las no Piamonte. O rei Carlos Alberto, em 1833, acolheu-as e elas começaram a tomar a responsabilidade de vários hospitais, tanto os militares de Turin e Gênova, como os civis de Carignano, Castellamonte e Turin. Em 1855, teve o valor das enviar à retaguarda da guerra da Crimea para curar aos feridos. Ao mesmo tempo difundiu a associação Mariana da Medalha Milagrosa entre as jovens e dela nasceram novas vocações: no breve espaço de dez anos, surgiram 20 fundações e ingressaram 260 irmãs. O número das vocações era tão transbordante que Carlos Alberto pôs ao seu dispor, em 1837, o convento de São Salvário, em Turin. Graças ao crescimento das irmãs, o padre Durando dotou à cidade do Turin de uma rede de centros de caridade, chamados Misericórdias, das que as irmãs, com as Damas da Caridade, saíam para emprestar o serviço a domicílio e a ajuda aos pobres. Ao redor das Misericórdias surgiram diferentes obras, como as primeiras creches para crianças pobres, oficinas para moças e orfanatos. As Filhas da Caridade foram extraordinárias impulsoras do desenvolvimento do catolicismo social na Itália graças a sua obra de assistência entre os doentes e os pobres, de uma vez que com o encargo de variadas obras educativas.

Homem de governo e diretor de consciências

Em 1837, com apenas 36 anos, foi renomado visitador (ou superior maior) da Província do norte da Itália dos missionários vicentinos, cargo que ocupou durante 43 anos ininterruptos, até sua morte. Por isso, teve que diminuir sua participação nas missões. Seu tempo esteve absorvido pela organização da congregação dos missionários vicentinos e a predicação de exercícios espirituais aos sacerdotes e clérigos da diocese do Turin. A qualidade de sua direção espiritual atraiu também a atenção das novas fundações que estavam surgindo em Turin. O arcebispo, Dom Fransoni, confiou-lhe a direção das irmãs de são José, chegadas a Itália recentemente. Contribuiu à redação das regras das irmãs da Santa Ana. Foi guia espiritual das clarissas capuchinhas do novo monastério da Santa Clara. A marquesa de Barolo, que tinha baseado um monastério para a recuperação das moças perdidas, as irmãs penitentes de Santa Madalena, desejou que fosse conselheiro na redação das regras e diretor da obra. Entretanto, a obra que o caracteriza é a fundação das irmãs Nazarenas.

Na escola de Jesus Crucificado, fundador das Nazarenas

Como acontece com as obras de Deus, sem havê-lo querido, em 21 de novembro de 1865, festa da Apresentação da Maria, o padre Durando pôde confiar a serva de Deus, Luisa Borgiotti, as primeiras postulantes da nova Companhia da Paixão de Jesus Nazareno. Eram jovens que se dirigiram a ele, posto que, desejosas de consagrar-se a Deus, careciam de alguns requisitos canônicos para poder entrar nas comunidades religiosas. Ele lhes encomendou a tarefa de servir aos que sofrem, como membros enfermos de Cristo crucificado, indo assistir lhes a seu domicílio, dia e noite. A obra era até tal ponto novidadeira e original que um cônego da catedral exclamou: «Se o padre Durando viesse a confessar-se comigo, em consciência não me sentiria em grau de absolvê-lo». E, entretanto, graças à caridade destas irmãs, que souberam estar junto aos moribundos com delicadeza, discrição e fé, porque contemplavam nos que sofriam o sofrimento do Senhor, produziram-se algumas conversões significativas como as do Guido Gozzano, Felice Raccagni, Sofia Graf e Anni Vivanti.

Morte e glorificação

O padre Durando morreu em 10 de dezembro de 1880: tinha 79 anos. Seus restos mortais, significativamente, estão sepultados naquele pequeno santuário da Paixão, anexo à Igreja da Visitação de Turin, onde a comunidade das Nazarenas se nutriu da devoção à paixão do Senhor para introduzir-se de forma missionária no serviço dos que sofrem.
A causa de beatificação, iniciada no Turin em 1928 e continuada em Roma com o processo apostólico em 1940, concluiu-se em 2001 com o reconhecimento do milagre obtido por sua intercessão.