Desde o início do século XIII, os peregrinos e os curiosos são atraídos pela figura de Alpaide, a força de sua personalidade e de suas revelações. A sua reputação e o seu culto repercutiram por toda a Europa. Os peregrinos vêm dos vilarejos vizinhos rezar para a Santa de Cudot e buscar na fonte milagrosa de Santa Alpaide uma água que dizem possuir a virtude de curar as doenças de pele. O Abade Patriat menciona este entusiasmo pela fonte e descreve as multidões de necessitados, de inválidos, de doentes que acorrem de locais longínquos.
O culto desta santa tem permanecido popular e a cada ano, salvo em períodos convulsionados da História, os peregrinos vêm até o seu túmulo. A peregrinação jamais cessou ainda que no decorrer dos séculos pudesse se manifestar com maior ou menor amplitude. Com o reconhecimento oficial da santidade de Alpaide em 1874, o movimento de devoção ganhou um desenvolvimento maior. Ainda hoje ela é venerada e, durante as comemorações dos 800 anos de sua morte, muitos vieram de toda a França, e mesmo do exterior, prestar sua homenagem.
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Alpaide (Alpaïs em francês; Alpaida, Alpaidis) nasceu em 1155 (ou 1157) em Cudot, povoado da diocese de Sens, na França, e ali morreu, no dia 3 de novembro de 1211.
Sua família era campesina, pobre, e cuidava de uma pequena granja arrendada. Alpaide era a filha mais velha, e, enquanto pode, realizou as tarefas familiares aos camponeses: arar, levar o rebanho para o pasto, etc. Porém, na adolescência não pode continuar a fazê-lo: foi tomada por uma grave enfermidade que a manteve desde então acamada. Lamentavelmente não é possível estabelecer de que enfermidade se tratava, pois as descrições oscilam entre a interpretação médica e a religiosa. Talvez se tratasse de algum tipo de lepra, já que todos os documentos falam de manchas e chagas horríveis na pele, que a faziam parecer - tal como se lê nas descrições – estar apodrecendo em vida.
A mãe e os irmãos - o pai já tinha falecido - a mantiveram completamente isolada, porque não podiam assimilar o problema: nas orações a mãe se dirigia a Deus pedindo-Lhe que cessasse a vida de sua filha; não lhe davam alimento para ver se morria de fome, e, quando lhe davam, ninguém se aproximava, por causa do mau cheiro que dela exalava; assim, eles lançava a comida como aos animais.
Havia já um ano que ela estava de cama (que dizer, no estábulo, num leito de palha), quando, na véspera da Páscoa, enquanto todos iam para a igreja - naturalmente ela não - viu uma grande luz, um suave aroma inundou o local, e a Ssma. Virgem lhe apareceu. E a Virgem Maria lhe disse: "Querida filha, porque você suportou uma longa inanição na humildade e na paciência, sem qualquer murmuração na fome e na sede, Eu concedo a você que seja alimentada com um alimento angélico e espiritual. E, enquanto você estiver neste corpo, nenhum alimento, ou bebida, será necessário para sustentá-lo, nem você desejará pão ou qualquer outro alimento... Porque, depois de você ter experimentado o pão celestial e bebido da fonte viva, você ficará alimentada para a eternidade".
Nossa Senhora a livrou das feridas purulentas e do mau odor que exalavam, mas a manteve paralitica, de modo que continuou de cama, imóvel, a ponto inclusive de não poder se virar no leito sem ajuda. Só tinha livre a cabeça, o peito, e a mão e o braço direito. A Virgem lhe havia dito que se manteria com vida sem necessidade de alimentos, e assim esteve por muito tempo, sem provar alimentos, exceto a Comunhão aos domingos.
A fama desse milagroso jejum logo chegou aos ouvidos do Arcebispo de Sens, Guilherme, tio do rei Felipe, que após uma investigação dos fatos mandou construir uma igreja ao lado do local onde se encontrava prostrada Alpaide, com uma janela por onde ela podia assistir aos ofícios divinos. Um grupo de cônegos regulares ficou encarregado do cuidado da igreja e das celebrações.
Naturalmente, não só os jejuns de Alpaide eram famosos: desde a aparição da Virgem, Alpaide recebeu o dom de fazer milagres; via em espírito acontecimentos longínquos; predizia o futuro; tinha visões celestiais, especialmente nas festas de Nosso Senhor ou da Virgem; possuía o dom do conselho e a prudência nas palavras. Sua cela era meta de peregrinações multitudinárias; procuravam-na gente de todas as classes, nobres e plebeus, para pedir suas orações e escutar seus conselhos.
A Rainha Adélia (Alix de Champagne), esposa de Luis VII da França, foi consultá-la em 1180, e lhe fez uma doação que foi confirmada por seu filho, Felipe Augusto, em 1184. A rainha dotou a igreja de Cudot com uma pensão anual para a manutenção de Alpaide; e como esta, outras doação também chegaram.
Durante 30 anos, Alpaide se alimentou exclusivamente da Hóstia Consagrada. Após sua morte, em 1211, construíram um priorado sobre seu túmulo, do qual somente restou a igreja que guarda suas relíquias.
Seu corpo foi sepultado no coro da igreja, e ainda em 1894 ali se mantinha, diante do altar mor. Foi venerada imediatamente como santa pelo povo, e, em 1874, a Sagrada Congregação de Ritos, baseada no processo informativo, confirmou o seu culto imemorial. O decreto de confirmação do culto «ab inmemoriale» se encontra na Acta Sanctae Sedis nº 7, porém não inclui um resumo biográfico, o que se tornou costume em decretos posteriores.
Alpaide foi canonizada pelo Beato Pio IX em 1874. A sua festa é comemorada no dia 3 de novembro. Todos os anos, na segunda-feira de Pentecostes, há uma Missa dedicada à Santa Alpaide, seguida de uma procissão tradicional.
No dia 2 de junho de 2011, Festa da Ascensão, foi organizada em Cudot uma celebração que marcou o 800º aniversário da morte da Santa.
Santa Alpaide é a padroeira dos astronautas porque nas suas visões ela via a terra como uma bola "suspensa no meio de um mar de azul".
Peregrinos na fonte de Sta. Alpaide |