quarta-feira, 26 de junho de 2013

São Pelágio de Córdoba, mártir


             Era São Pelágio natural da Galiza. Pelágio, nome muito usado naquele tempo, por corrupção degenerou em Pelaio e Paio. seu pai, homem rico, era irmão de Hermígio, bispo de Tuy nos princípios do século X. A ocasião da sua vinda a Córdova, que foi a do martírio, refere-o um sacerdote dessa cidade chamado Raguel. 
        Ensoberbecido. Abderramão III, rei emir de Córdova, quis assenhorear-se das restantes províncias da Espanha, habitadas pelos cristãos. Para tal fim chamou em seu auxílio, aí por volta do ano 920, os mouros de África. Com um exército numeroso e bem equipado entrou por Castela no reino da Galiza, ao tempo em que D. Ordonho II, rei de Leão, o era também daquela província. Sabendo este religioso príncipe a determinação do orgulhoso agareno, e auxiliado por D. Garcia, rei da Navarra, e pelos Grandes e prelados de ambos os reinos, marchou a conter o ímpeto dos bárbaros. Encontraram-se as duas hostes. 
         Sendo incomparável o número dos cristãos com o dos mouros, tocou a vitória a estes. Voltaram os mouros a Córdova, vencedores e carregados de despojos. Entre os muitos cativos que levavam, ia Hermígio, bispo de Tuy, a quem puseram carregado de grilhões numa obscura masmorra. Tinha em Córdova alguns amigos, que angariou por ocasião da sua estada naquela cidade, donde trasladou as relíquias de santo Eulógio. Tratou ao cabo de ano e meio, do seu resgate, oferecendo aos mouros as somas que quisessem pedir. E, para cumprimento da palavra , teve de deixar como refém o sobrinho Pelágio, menino de rara formosura e extraordinários talentos. 
       O ilustre menino sofria resignado as durezas da prisão, não se queixando nem lamentando como os outros cativos. Escolheu para mestre a São Paulo, lendo as suas cartas e meditando os seus trabalhos apostólicos. Guardava tanta gravidade em todas as conversas que detinha os que se desmandavam e se, por acaso, os infiéis tratavam algum ponto de doutrina, confundia-os com a verdade da fé revelada. 
         Não podia o inimigo da salvação ver com indiferença os progressos feitos por Pelágio na virtude e, por isso, quis perdê-lo. Um filho ou pajem de el-rei viu por acaso na prisão o menino cristão de rara formosura e, ponderando o caso a Abderramão, este o mandou vir imediatamente à sua presença. Ardendo este nos mais torpes desejos, fez-lhe grandes ofertas, procurando afastá-lo do amor a Jesus Cristo e à sua lei. 
           Este respondeu: «Fica sabendo que tudo quanto me ofereces tem um fim mortal; não assim os bens que, sendo cristão, espero conseguir. Jamais negarei ao meu Senhor Jesus Cristo, a quem adoro e confesso por verdadeiro Deus». Pareceu a Abderramão que estas expressões nasciam de um coração pueril e, querendo acariciá-lo, tocou-lhe brandamente no rosto, dizendo palavras aliciadoras. Mas Pelágio, revisto de um valor superior à idade, repeliu-o, dizendo: «Desvia-te; pensas acaso que eu sou algum dos teus efeminados lacaios?». 
           Fiou o rei a empresa a uns cortesãos lisonjeiros, os quais não omitiram meio algum de quantos podiam contribuir para perverter o nobilíssimo mancebo. Vendo Abderramão que era inflexível a resistência de Pelágio, trocou a sua amorosa paixão em raivosa cólera, mandando imediatamente que, levantando-o do chão com umas tenazes de ferro, o deixassem cair muitas vezes e com grande crueldade, até que, ou negasse a Jesus Cristo, ou acabasse a vida nos tormentos. 
       Arremeteram contra Pelágio os verdugos e começaram a fazer em seu corpo a carniçaria que aquele lobo ordenara. Despedaçavam-no com algazarra, sem em seus rostos se ver sombra de piedade. Levantava o menino as mãos para o céu, pedindo a Deus fortaleza para consumar o sacrifício. Imediatamente lhas derribaram com o alfange. Outros lhe cortaram os braços, outros os pés, decapitando-o em seguida. Feito assim em pedaços, o lançaram ao rio Guadalquivir. 
          Durou este glorioso combate desde as onze e meia da manhã até às duas da tarde do dia 26 de Junho de 925, o qual foi domingo naquele ano. Foi assim despedaçado aos 13 anos. O seu culto veio a tornar-se popular em Portugal. 

Santos João e Paulo, mártires

         

           Segundo todos os documentos históricos e arqueológicos estudados até à data, João e Paulo assinalaram-se em meados do século IV, desde o reinado de Constantino Magno até ao de Julião Apóstata. Pode-se fixar que nasceram na primeira ou segunda dezena do século IV, por alturas de Constantino conceder a paz à Igreja, no ano de 313. Na inscrição de São Dâmaso diz-se que eram irmãos e de família ilustre. Parece inteiramente certo que militaram nas legiões de Constantino, em cujo tempo receberam o batismo e, pelo valoroso comportamento que tiveram, foram nomeados oficiais da guarda nobre do palácio. Nestes travaram amizade íntima com Joviniano, capitão das guardas imperiais e sucessor de Julião no Império. 
          Tudo isto nos faz suspeitar que João e Paulo passaram grande parte da vida no Oriente e provavelmente viveram em Constantinopla até que, mortos os filhos de Constantino Magno, subiu ao trono Julião Apóstata. Nesta altura, os nossos Santos renunciaram aos cargos militares e retiraram-se para a sua cidade natal, Roma, onde possuíam casa no Monte Célio. Aí se dedicaram à prática intensa da virtude cristã, em oração e obras de caridade. Julião empenhou-se em que retomassem os seus cargos e mandou-lhes aviso por Terêncio, capitão da coorte. Os nossos santos não aceitaram, e Julião, irritado, mandou que fossem decapitados secretamente na casa deles, mas havendo de correr a voz de que tinham sido desterrados como inimigos do Império. A cronologia não é inteiramente certa. mas o facto do martírio na própria casa e nela a sepultura, parecem coisas inegáveis. Tendo sido a morte secreta, impôs-se também uma sepultura secreta e mesmo dentro do recinto urbano, contra o costume universal. Parece que houve outras vítimas no mesmo lugar, tais como os santos Crispo, Crispiniano e Benta. Serem os santos João e Paulo enterrados dentro da cidade, ao contrário dos outros mártires, que sempre eram depositados fora dos muros, considerou-se honra especial concedida pela divina Providência. O culto deles principiou ainda no mesmo século IV. 
          São Leão Magno levantou em honra dos dois uma basílica, e no Vaticano um mosteiro. A casa onde foram martirizados converteu-se bem depressa em santuário, por ordem do senador Bizante e seu filho São Pamáquio, amigo de São Jerónimo. Nos subterrâneos da atual igreja descobriram-se em 1887 as ruínas da primitiva casa dos dois mártires, que era constituída, coisa rara então, por dois andares. Nela se vêem, hoje em dia, três grupos de edifícios:
1) Um com carácter de palácio e ornamentação pagã de pássaros, pavões e geniozinhos com coroas de flores. 2) Outro cristão, com os símbolos do peixe, da pomba, do vaso de leite e das ovelhas, coisas tão frequentes nas catacumbas; num fresco vêem-se também os santos João e Paulo com anjos e a tenda, esta símbolo do paraíso; e perto, encontram-se Crispo, Crispiniano e Benta com os olhos vendados, á espera da decapitação. 3) O último repartimento é um oratório.
           A inscrição de S. Dâmaso conserva-se só em parte. Diz assim: «Paulo e João de ilustre prosápia… deram juntos a vida, unidos pelo casto vínculo da fé. Foram vassalos fiéis do rei da eterna mansão. Os dois irmãos tiveram na vida a mesma casa e a mesma fé; agora no céu cingem a mesma coroa imortal. Ficai sabendo que Dâmaso teceu o panegírico dos dois irmãos, para que o povo cristão aprenda a celebrar os nossos Patronos». A história mais que milenária da casa do Monte Célio, de ambos os irmãos, mostra-nos que a santidade da Igreja não é simples memória histórica de ilustres antepassados, mas água límpida constantemente a correr e a fertilizar o solo do povo cristão. 
           O martírio destes dois santos inicia uma história constante de santidade naquele local. Seguem-nos, ali mesmo, os seus amigos e devotos Crispo, Crispiniano e Benta, que, por terem, dado a conhecer o segredo da morte e da sepultura, foram também martirizados. Conseguem a mesma graça o verdugo Terenciano e a filha, que abrem os olhos à fé de Cristo. 
         E em dias mais próximos, São Paulo da Cruz, o austero fundador dos Padres Passionistas, cujos restos descansam ali, junto dos santos João e Paulo. A santidade pertence como coisa própria à verdadeira Igreja de Cristo. 
SS. Giovanni e Paolo al Celio

Basílica de São João e São Paulo, mártires, em Roma

terça-feira, 25 de junho de 2013

Beata Maria Teresa do Menino Jesus, virgem e mártir

     

       Pertencia ao Convento das Irmãs Clarissas Capuchinhas de Przasnysz. Ainda que ela tenha passado a sua vida em silêncio, a recordação da sua morte corajosa, o que não aconteceu com nenhuma outra monja naquele mosteiro, ainda está muito viva.
        Mieczyslawa nasceu em Varsóvia em 1902. desconhece-se o nome e a profissão dos seus pais. Recebeu a sua primeira Comunhão no dia 21 de Junho de 1915, e o sacramento da Confirmação no dia 21 de Maio de 1920. O seu pai, simpatizante socialista, foi para a União Soviética na década de 1920 com grande parte da família.
         Por uma nota escrita no seu livro religioso O Livro da Vida, sabemos que pertenceu a várias associações religiosas e fazia parte de várias confrarias. Tudo isto nos leva a supor que levava uma vida de piedade exemplar antes de entrar na Ordem das Capuchinhas.
         Aos 21 anos, Mieczyslawa recebe a graça da vocação religiosa. Ingressou no Mosteiro das Clarissas Capuchinhas de Przasnysz no dia 23 de Janeiro de 1923. Tomou o hábito no dia 12 de Agosto de 1923 e recebeu o nome de Maria Teresa do Menino Jesus. Emitiu a sua primeira profissão no dia 15 de Agosto de 1924 e a profissão perpétua no dia 26 de Julho de 1928.
       Era uma pessoa delicada e doente, mas disponível para todos e para tudo. No Mosteiro servia a Deus com devoção e piedade. Com o seu modo de ser conquistava o carinho de todos, diz uma das irmãs. Gozava de grande respeito e consideração por parte das superioras e das outras irmãs. Exerceu vários ofícios: porteira, sacristã, bibliotecária; Mestra de noviças e Conselheira. Maria Teresa vive a sua vida religiosa em silêncio, totalmente dedicada a Deus, com grande entusiasmo. Um dia este serviço a Deus foi posto a dura prova.
          No dia 2 de Abril de 1941, os alemães irromperam no Mosteiro e prenderam todas as irmãs, levando-as para o Campo de concentração de Dzialdowo. Entre elas estava a Irmã Maria Teresa, doente com tuberculose. As 36 irmãs ficaram recluídas no mesmo local e suportaram umas condições de vida que ofendiam a dignidade humana: ambiente sujo, fome terrível, terror contínuo. As irmãs observavam com horror a tortura a que eram submetidas outras pessoas ao mesmo tempo, entre as quais se encontravam o Bispo de Plock, A. Nowowiejski e L. Wetmanski, e muitos outros sacerdotes. Depois de passar um mês naquelas condições de vida, a saúde das irmãs debilitou-se. A Irmã Maria Teresa foi uma das que mais se ressentiu, que pelo menos se mantinha de pé.
       Sobreveio-lhe uma hemorragia pulmonar. Faltava não só o serviço médico mas também a água para matar a sede e para a higiene. Suportou o sofrimento com coragem e, até onde lhe foi possível, rezou junto com as restantes irmãs. Outras vezes rezava ela sozinha. Durante a prova, e consciente da proximidade da morte, dizia: “Eu, daqui, não sairei; entrego a minha vida para que as irmãs possam regressar ao Mosteiro”. Isso mesmo dizia à abadessa: “Madre, ainda falta muito?”. Morreu na noite de 25 de Julho de 1941.    Desconhece-se o paradeiro dos seus restos mortais.
         A sua morte fez refletir as outras irmãs. Estavam convencidas de que a Irmã Maria Teresa tinha terminado a sua vida de um modo santo e que viveria na glória dos santos, pelo que lhe dedicavam particular devoção. Tal como predisse, duas semanas depois da sua morte, no dia 7 de Agosto de 1941, as irmãs foram libertadas do Campo de Dzialdowo. Aquela libertação foi interpretada como uma graça recebida de Deus por intercessão da Irmã Maria Teresa. Tinha feito alguma coisa particular, porque normalmente os alemães não deixavam sair ninguém do Campo de concentração. Não puderam regressar ao Mosteiro de Przasnysz, mas estavam em liberdade.  Depois do regresso a este Mosteiro, em 1945, as irmãs sempre recordaram a sua vida santa e a sua morte como mártir. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Santa Elia, abadessa

Elia o Eliada de Ohren, Santa

           Etimologicamente significa “ resplandecente como o sol”. Vem da língua grega. Foi uma magnífica mulher religiosa que, em toda sua vida, se enamorou da Regra de são Bento.Com ela escalou acima da santidade. O cumprimento da Regra constituiu para a Ordem Beneditina o fator principal para estender-se por todo el mundo. 
         Elia se preocupou durante todo o tempo que foi abadessa de uma abadia, a de Ohren, em que havia doze irmãs. Soube com santidade, elegância e finura tratar a todas e a cada uma em particular com o detalhe que emana de seu grande coração. Ela foi consciente de que era como uma mãe para suas filhas na comunidade. O título de abadessa se usa nos Beneditinos, Clarissas. 
           Ela tinha o direito de levar o anel e a cruz como símbolo de seu posto. Foi a quinta abadessa do mosteiro de Ohren (Treviri) e morreu no ano 750. Há livros de orações que fazem menção específica dela. Podemos enumerar entre outros o breviário do arcebispo Balduíno, os calendários de santo Irmino, de santo Máximo no esplendoroso século XIV. Também a rememoram o Greven nas Actas do Martirológio de Usuardo. 
         Nos martirológios beneditinos, desde o fim de Wion, sua festa passou a fixar-se definitivamente em 20 de Junho. Em realidade se fez porque era costume pôr o dia em que subia ao céu após sua morte. Desde esse tempo longínquo, esta santa abadessa não perde atualidade porque a relíquia de seu braço está hoje no grande mosteiro franciscano de Ohren.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Beata Maria Teresa Soubiran La Louvière, fundadora


    

     A família Soubiran pertencia à antiga nobreza. Suas origens datam pelo menos do século XIII, e entre seus antecessores indiretos se contam São Luís de França, São Eleazar de Sabran e sua esposa a Beata Delfina, Santa Roselina de Villeneuve, Santa Isabel da Hungria e boa parte das famílias reais da Europa.

     No século XIX, o chefe da família Soubiran era José de Soubiran La Louvière, que vivia em Castelnaudary (em occitano, Castèlnòu d'Arri) perto de Carcassone, sul da França. José se casou com Noemi de Gélis de l´Isle d´Albi.
     Sofia Teresa Agostinha Maria, segunda filha deste matrimônio, nasceu em 16 de maio de 1834 em Castelnaudary. Criada numa família profundamente católica, dirigida por seu tio, o Cônego Luis de Soubiran, Sofia logo se sentiu chamada à vida religiosa.
     Aos 20 anos, ela fez uma tentativa de vida religiosa numa comunidade católica em Gand, na Bélgica, mas esta experiência durou somente um ano; ela voltou à França, onde queria implantar essa comunidade.
     Ela se sentia inclinada à austeridade e à vida reclusa do Carmelo. Entretanto, após um período de vacilações e tendo solicitado conselhos, decidiu finalmente atender aos desejos de seu tio. Assim, se trasladou para Gand para estudar o gênero de vida das "beguinas" e, ao retornar, foi nomeada superiora da comunidade de Castelnaudary, que seu tio inaugurara. Estes acontecimentos se passaram entre 1854 e 1855.
     Nos anos seguintes, a nova fundação prosperou, mas de uma forma bastante diferente a dos "beguinatos" belgas, pois Sofia e suas companheiras renunciaram às suas propriedades, estabeleceram um orfanato e praticaram, por regra, a adoração noturna ao Santíssimo Sacramento. Apesar dos progressos, aquela foi uma época muito difícil para a comunidade e sua superiora, e a casa em que moravam recebeu o nome de "o convento do sofrimento".
     Em 1863, Madre Maria Teresa, como ela passou a ser chamada, fez os Exercícios de Santo Inácio sob a direção do famoso jesuíta Pe. Pablo Ginhac. Deus lhe manifestou então claramente que ela devia levar adiante seu propósito de fundar uma congregação tal como tinha planejado.
     O "beguinato" não se dissolveu; simplesmente, em setembro de 1864, Madre Maria Teresa e algumas Irmãs se mudaram para o convento da Rue des Buchers, em Toulouse, que ia ser a residência da nova congregação. Madre Maria Teresa consagrou então a nova comunidade a Maria, de quem todas as Irmãs adotariam o nome a partir daquele momento. A Sociedade de Maria Auxiliadora havia nascido. As Irmãs adotaram a espiritualidade inaciana, encontrando Deus tanto na oração quanto na ação apostólica.
     A partir do ano seguinte, os escritos da Beata nos permitem seguir de perto sua evolução interior até sua morte, ocorrida um quarto de século mais tarde.
     A Casa-Mãe de Toulouse logo deu origem a outras casas que se espalharam por toda a França, chegando até mesmo à Inglaterra após a guerra de 1870.
     Para melhor se colocar nas mãos de Deus, “para ser apenas um pano de fundo para Ele”, Madre Maria Teresa renunciou a todos os seus bens pessoais através de um voto radical de pobreza: Deus lhe deu uma tarefa a cumprir, e ela contava somente com Ele para realizá-la. “Aquele que coloca sua confiança em Deus é fortalecido com a mesma força de Deus”.
     As novas religiosas se dedicavam ao cuidado dos órfãos e à instrução das crianças pobres, e inauguraram em Toulouse a primeira casa de hospedagem para jovens trabalhadoras, a qual se deu o nome de Maison de famille, porque era um verdadeiro lar para as jovens que não o tinham, ou que viviam longe do seu. As Auxiliadoras praticavam diariamente a adoração noturna.
     A Madre redigiu as Constituições de sua congregação inspirada nas da Companhia de Jesus. O Pe. Ginhac, que tomou parte muito ativa na nova fundação, se encarregou de revisá-las. Em 15 de outubro de 1867, o Bispo de Toulouse, Florian-Jules-Félix Desprez, aprovou as Irmãs de Maria Auxiliadoras e a Santa Sé publicou, em 19 de dezembro de 1868, um breve laudatório.
     Em 1869, foram inaugurados os conventos de Amiens e de Lyon. Durante a guerra franco-prussiana, as religiosas dos três conventos se refugiaram primeiro em Southwark e depois em Brompton, onde os padres oratorianos as ajudaram muito. Mais tarde estabeleceram uma "casa de família" em Kenington, que foi a primeira fundação inglesa das Auxiliadoras.
     Em 1868, ingressou na congregação uma noviça que três anos depois foi eleita, por voto quase unânime do capítulo, conselheira e assistente da Madre Geral. Tratava-se da Madre Maria Francisca, uma mulher muito hábil e inteligente, cinco anos mais velha que Madre Maria Teresa. Infelizmente, durante muito tempo a Beata não se deu conta de que esta era "dominadora, instável e ambiciosa".
     Em princípios de 1874, Madre Maria Francisca declarou que a situação econômica da congregação era desesperadora (atualmente se sabe que era um julgamento exagerado) e inicialmente declarou ser sua a culpa, mas depois passou a atacar Madre Maria Teresa. Em pouco tempo o rumor de que a má situação das coisas era causada pela fundadora correu por todos os conventos da congregação.
     Madre Maria Teresa lembrou-se então que pouco tempo antes Nosso Senhor lhe havia aparecido e lhe dizia: “Tua missão terminará dentro de pouco tempo, não haverá lugar para ti na tua congregação. Porém, meu poder e minha bondade estarão contigo”. Após consultar o Pe. Ginhac, este a aconselhou a renunciar. Sua conselheira foi nomeada superiora geral.
     A nova superiora não permitiu que a fundadora residisse em nenhum dos conventos da congregação. Não faltaram medidas desagradáveis tomadas por Madre Maria Francisca para evitar que a Beata reconquistasse sua antiga influência e autoridade, e culminou na expulsão da fundadora. Em fins de 1874, Madre Maria Teresa voltou a ser simplesmente Sofia de Soubiran La Louvière.
     Em 20 de setembro de 1874, Maria Teresa de Soubiran foi acolhida no mosteiro de Nossa Senhora da Caridade, em Paris. Admitida inicialmente como pensionista, em 20 de abril do ano seguinte ela tomou o hábito e recebeu um novo nome: Irmã Maria do Sagrado Coração. Ela foi admitida definitivamente em 29 de junho de 1877.
     Com muita humildade, fidelidade e amor, ela se adaptou a todos os usos e costumes de sua nova família religiosa, onde por 15 anos viveu sempre mais confiante no amor de Deus que a despojou de tudo e que se tornou sua força, sua alegria, sua oração, sua plenitude.
     Oito anos depois, a irmã da fundadora, Madre Maria Xavier, também foi despedida da congregação, porque sua presença recordava a Fundadora. Ela também ingressou no convento de Nossa Senhora da Caridade de Paris, e informou a irmã sobre o triste estado da congregação.
     A Beata Maria Teresa passou na enfermaria os últimos sete meses de sua vida. Morreu no dia 7 de junho de 1889, murmurando estas palavras: "Vem, Senhor Jesus". Tentou fazer o sinal da cruz, mas não chegou a completá-lo. Foi sepultada no cemitério de Montparnase, na cripta do convento de Nossa Senhora da Caridade. Atualmente, suas relíquias se encontram na Casa-Mãe das Auxiliadoras em Paris.
     Em fevereiro de 1890, Madre Maria Francisca demitiu-se deixando subitamente a congregação. Madre Maria Isabel de Luppé é eleita Superiora Geral. Fiel companheira de Madre Maria Teresa de Soubiran, ela havia guardado bem vivo o seu espírito; a nova superiora reabilitou a memória da Fundadora junto às Irmãs.
     O Instituto tomou o nome de Sociedade de Maria Auxiliadora e suas Constituições foram aprovadas definitivamente pela Santa Sé em 6 de janeiro de 1924. Em 31 de dezembro de 2005 o Instituto contava 204 religiosas em 28 casas.
     Madre Maria Teresa de Soubiran La Louvière foi beatificada por Pio XII em 20 de outubro de 1946.

Beata Diana d'Andaló, virgem



     Diana de Andaló (abreviação do nome do nobre pai: Andrea Lovello), é uma das mais características e simpáticas figuras das origens da Ordem Dominicana. Ajudou na fundação do convento de Bolonha.

     Quando São Domingos procurou um campo mais amplo para as atividades de sua Ordem na Itália, elegeu de maneira muito especial a região da Bolonha, porque previa que sua famosa Universidade haveria de prover-lhe as pessoas que necessitava recrutar.
     Diana, a filha única da família d’Andaló, uma piedosa jovem que desde a chegada dos Pregadores havia escutado seus sermões com profunda emoção, apoiou o Beato Reginaldo de Orleans, um dos padres pregadores mandados por São Domingos a Bolonha, na compra da localidade de Vigne, ao lado da igreja de São Nicolau, a futura igreja de São Domingos. Este ato ocorreu em 14 de março de 1219.
     Em agosto do mesmo ano o Santo Fundador foi a Bolonha, e o próprio São Domingos recebeu em particular, quase em segredo, os votos de Diana para conservar sua virgindade, junto com um compromisso de ingressar na vida religiosa tão logo quanto fosse possível.
     Durante algum tempo Diana continuou vivendo em sua casa, porém às escondidas de seus pais se levantava antes do alvorecer para rezar suas devoções e praticar suas penitências. Diana pensava então que não teria maiores dificuldades para convencer sua família a fundar um convento de monjas dominicanas no qual ela pudesse ingressar. Mas, quando abordou o assunto com seu pai, este se negou terminantemente a considerar aquela fundação e muito menos autorizar sua filha a ser religiosa.
     Diana decidiu fazer justiça por si mesma. Com o pretexto de visitar suas amigas, foi ao Mosteiro das Cônegas de Ronzano, se entrevistou com a superiora das agostinianas e tanto pediu e discutiu, que acabou por convencê-la a que lhe impusesse o véu. Assim que seus familiares tomaram conhecimento do que havia acontecido, foram a Ronzano decididos a tirá-la do convento a força, se fosse necessário, e por certo o fizeram, pois na disputa quebraram uma costela da desafortunada Diana, e a tiraram do convento arrastada.
     De volta a casa, trancaram-na a chave, mas nada disto fez a valente jovem desistir. São Domingos a consolou com cartas, hoje perdidas. Quando viu restabelecida dos golpes recebidos, escapou e voltou a Ronzano. Desde então seus familiares não voltaram a tentar dissuadi-la, pelo contrário, todos acabaram por atender aos desejos da jovem.
     O Beato Jordão da Saxônia ganhou a confiança do Senhor d'Andaló e de seus filhos de uma forma tão completa, que entre todos fundaram um pequeno convento para as monjas dominicanas.
     Em 1222, ali se instalou Diana com outras quatro companheiras. Como nenhuma delas tinha experiência na vida religiosa, foram chamadas quatro monjas do convento de São Sisto de Roma para que as instruíssem. Duas destas monjas, Cecília e Amada, ficaram desde então intimamente ligadas a Diana. As duas foram sepultadas no túmulo de Diana, e as três foram beatificadas ao mesmo tempo em 1891.
     De Amada nada se sabe e embora seu culto tenha sido autorizado para a Ordem dos Pregadores, não está inscrita no Martirológio Romano. Mas Cecília, que era da nobre família dos Cesarini e em todos os sentidos uma mulher notável, é mencionada nele.
     Quando Cecília era uma jovem de 17 anos e se encontrava no convento de Trastevere, antes de se trasladar para São Sisto, se distinguiu por ter sido das primeiras religiosas a responder aos esforços de São Domingos para reformar as Ordens e foi ela quem convenceu a abadessa e as outras irmãs para que se submetessem à Regra do Santo. Como foi Cecília a primeira mulher que recebeu o hábito das dominicanas, era a indicada para governar o pequeno convento de Santa Inês, em Bolonha, durante seus primeiros tempos de existência.
     Diana foi mais tarde eleita superiora. Era uma verdadeira mãe para as monjas.
     O Beato Jordão sentia um afeto especial por aquela pequena comunidade que ele mesmo havia fundado e além de suas frequentes visitas, manteve sempre uma ativa correspondência com Diana. Com frequência dizia em suas cartas que os rápidos progressos da Ordem podiam se atribuir às orações das monjas de Santa Inês. Mas, por outro lado, constantemente lhes recomendava que não pusessem a prova suas forças com penitências exageradas.
     A Beata Diana faleceu no dia 10 de junho de 1236, quando tinha apenas trinta e seis anos. Cecília a sobreviveu por muito tempo: morreu em 4 de agosto de 1290, e era já anciã quando ditou a uma secretária suas recordações de São Domingos. Nesse escrito aparece uma descrição muito gráfica do santo fundador.
     Diana foi sepultada na igreja de Santa Inês, mas, 17 anos mais tarde os seus restos foram transladados junto com o convento, que se instalou na cidade. Cecília e Amada vieram depois a partilhar com ela a sepultura. O convento foi suprimido em 1793, mas um relicário, na igreja dos Pregadores, conserva ainda os restos das beatas.
     Há uma biografia em latim da Beata Diana, encontrada no volume de H. M. Cormier, La b. Diane d'Ándalo (1892). As cartas do Beato Jordão foram reeditadas em 1925, por B. Altaner, en Die Briefe Jordans von Sachsen. A. Butler indica a data da morte de Diana como 9 de janeiro, mas a inscrição no Martirológio e a consulta em outros santorais fazem pensar que essa data não pode ser considerada correta, mas sim a data 10 de junho.

Santa Isabel de Schönau, religiosa e mística


    
     Isabel nasceu, com grande probabilidade, em Bonn, na Renânia, em 1129. Tinha apenas 12 anos quando os pais (dos quais se conhece apenas o nome do pai, Hartwig), a entregaram às monjas da abadia beneditina de Schönau, no Reno, próximo de Sankt Goarshausen, onde ela fez a profissão religiosa em 1147.
     Dez anos mais tarde foi eleita Superiora das monjas, que não tinham abadessa, pois dependiam do abade, que era então Egberto (+ 1184), irmão de Isabel. Este sempre exerceu grande influência sobre Isabel e foi seu conselheiro espiritual e seu primeiro biógrafo. Isabel tinha ainda outro irmão, Rogério, premostratense, que foi preboste em Pòhlde (Saxônia), e um sobrinho, Simão, que também se tornou abade de Schönau.
     Recuperada de uma grave doença em 1152, Isabel começou a ter visões e êxtases, durante os quais falava com Nosso Senhor, Nossa Senhora e com os santos do dia. Às vezes seus êxtases duravam semanas, e aos poucos debilitaram de tal forma o seu físico, que ela faleceu com apenas 35 anos em Schönau no dia 18 de junho de 1164 ou 1165.
     Em 1155, seu irmão Egberto, conhecido pelo seu engajamento contra os cátaros, transcreveu as suas visões em latim. Egbert incitou Isabel a pedir ao Anjo que lhe aparecia algumas explicações sobre certas questões litigiosas. Eis a razão de Isabel ter várias visões que atestam a realidade da transubstanciação, ponto sensível na luta contra os cátaros.
     Entre os livros que escreveu estão Visões (três volumes), Liber viarum Dei e Revelações do martírio de Santa Úrsula e suas companheiras.
     Os três livros das visões tiveram larga difusão durante a Idade Média. O Liber viarum Dei compilado à imitação da Scivias de Santa Hildegarda, se concentra quase inteiramente na necessidade da penitência e de uma reforma moral da Igreja. As visões De resurrectione beatae Mariae Virginis tratam da Assunção de Maria Santíssima, ou seja, a gloriosa trasladação da Mãe de Deus em corpo e alma da terra ao céu. O Liber revelationum de sacro exercitu virginum Coloniensium, escrito entre outubro de 1156 e outubro de 1157, trata em termos legendários de Santa Úrsula e suas companheiras. O primeiro livro é de uma linguagem simples que Isabel pode ter usado, mas os outros empregam uma linguagem mais sofisticada que provavelmente é de Egberto.
     As opiniões divergem quanto às visões e revelações de Isabel. A Igreja nunca se pronunciou a este respeito e nunca mesmo as examinou. A própria Isabel estava convencida do carácter sobrenatural destas, como ela o diz numa carta endereçada a Santa Hildegarda, da qual era muito amiga e que a vinha visitar. Quinze cartas suas autênticas, das quais uma a santa Hildegarda, chegou até aos nossos dias. Ela aí fala dos êxtases com que Deus a agracia.
     As suas obras eram, no seu tempo, mais conhecidas do que as de Santa Hildegarda de Bingen, da qual apenas alguns manuscritos chegaram até nós. Entretanto, numa leitura atenta das obras é possível distinguir nelas a influência do irmão, Egberto.
     As cartas de Isabel de Schönau, de conteúdos variados, são dirigidas a bispos, abades, monjas, escritas de 1154 até o ano de sua morte, nas quais ela usa uma linguagem dura para estigmatizar os vícios da época, linguagem que contrasta com a simplicidade de seu caráter infantil, mostrando-se menos original que sua grande amiga Santa Hildegarda de Bingen, a "profetisa da Alemanha".
     Objeto de veneração particular já em vida e mais ainda depois da morte, em 1584, no tempo de Gregório XIII, o nome de Isabel de Schönau foi inscrito no Martirológio Romano sob a data de 18 de junho «Schonaugiae, in Germania, sanctae Elisabeth virginis, ob monasticae vitae observantiam Celebris» (Comm. Martyr. Rom., p. 244, n. 8). Depois o seu ofício litúrgico foi inscrito na Diocese de Limburgo, que celebra a festa da santa no dia indicado. Das relíquias da santa, profanadas pelos suecos em 1632, foi possível salvar a cabeça, que é venerada atualmente na igreja paroquial de Schönau. Santa Isabel de Schönau é invocada contra as tentações. 
 
 

Beata Constância de Castro e Osório

          Constância de Castro y Osorio nasceu em Viveiro (Lugo, Espanha) na nobre família dos Condes de Lemos. Esposou o valoroso capitão Rui Diaz de Andrade, senhor de São Pantaleão das Vinhas (Betanzos), que morreu heroicamente na guerra contra Granada, combatendo pelo Rei São Fernando III, provavelmente entre 1245 e 1250.
           Antes de morrer, Rui enviou a sua esposa uma carta escrita em galego, a maneira de testamento, em que dava a ela e a seu filho Heitor, caso ele morresse em batalha, os seus bens para que ela os administrasse. A carta estava datada de 13 de agosto de 1250.
           Constância permaneceu viúva durante 40 anos; tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco e se dedicou à oração e à caridade.
         Após uma vida de oração e de exercícios de piedade, faleceu em odor de santidade em data desconhecida. Foi sepultada na Capela da Cruz, no convento de São Francisco de Viveiro, que já existia em 1258. Em 1611, quando seria transladado, seu corpo foi encontrado incorrupto.
    À intercessão da Beata são atribuídos alguns milagres que foram julgados favoravelmente pelos seus examinadores, mandados pelo Bispo de Mondonedo, Pedro Fernandez Zorrilla (1616-18): Wadding possui uma cópia deste relatório.
        Entretanto, o processo de beatificação ficou interrompido. Apesar disto, é conhecida popularmente como “a Beata” e consta de alguns santorais. O Martirológio da Ordem de São Francisco a recorda em 14 de junho, fixando arbitrariamente a data de sua morte em 1286. A Igreja lhe outorga o título de Venerável.


Cenas da vida da beata

Santa Juliana Falconieri

         


         Santa Juliana nasceu em 1270 e morreu em 1341. Aos 14 anos recebeu o hábito da Ordem Terceira da Congregação dos Servitas, fundada por seu tio Santo Alexandre Falconieri. O hábito e mais tarde a profissão foram-lhe dadas por São Felipe Benício, que veio a falecer pouco depois, não sem antes ter recomendado a Congregação à jovem freira. Juliana dedicou-se com afinco à organização da Congregação. 
           Em 1304, o papa Bento XI transformou a Congregação numa ordem religiosa da qual Juliana se tornou Superiora. Apesar do cargo, procurava os serviços mais humildes. No convento, Juliana pôde dedicar-se à ascese espiritual baseada numa vida de intensa oração e de constante penitência. Além disso, dedicava-se aos pobres e aos doentes, que curava ao contacto com suas mãos. Acometida por uma doença no estômago, no final de sua vida já não conseguia alimentar-se, nem mesmo receber a Eucaristia. 
        Na hora da morte estendeu-se por terra com os braços em cruz e pediu que lhe colocassem a Santa Hóstia sobre o peito. Assim que foi depositada, a hóstia desapareceu misteriosamente e Juliana morreu dizendo: "Meu doce Jesus". Ao ser preparada para a sepultura, encontrou-se sobre o seu coração a marca da hóstia como um selo, com a imagem de Jesus crucificado. Em memória desse acontecimento, as religiosas da sua ordem trazem a imagem de uma hóstia no escapulário.

Santa Iolanda da Polônia



Iolanda, ou Helena, como foi chamada depois pelos súditos poloneses, nasceu no ano de 1235, filha de Bela IV, rei da Hungria, que era terciário franciscano, e irmã da bem-aventurada Cunegundes. Além disso, era sobrinha de santa Isabel da Hungria, também da Ordem Terceira. Aliás, a tradição franciscana acompanhou a linhagem desde seus primórdios, pois a família descendia de santa Edwiges, santo Estêvão e são Ladislau.
Porém é claro que Iolanda não se tornou santa só porque vinha de toda essa tradição extremamente católica e repleta de santos. Não basta ter o caminho da fé apontado para entrar-se nele. É preciso que todo o ser o aceite e o corpo se disponha a caminhar por uma trilha de entrega total e muito árdua, como ela fez.
Iolanda foi educada desde muito pequena pela irmã, Cunegundes, que se casara, então, com um dos reis mais virtuosos da Polônia, Boleslau, o Casto. Por tradição familiar e social da época, Iolanda deveria também se casar com alguém da terra e, anos depois, escolheu outro Boleslau, o duque de Kalisz, conhecido como "o Pio". Foi uma época de muita alegria para o povo polonês, que viu nas duas estrangeiras pessoas profundamente bondosas, cristãs, justas e caridosas. Pena que tenha sido uma época não muito longa, pois alguns anos depois o quarteto foi desmanchado pela fatalidade.
Primeiro morreu o rei, ficando Cunegundes viúva. Logo o mesmo aconteceu com Iolanda. Ela já tinha então três filhas, das quais duas se casaram e uma terceira retirou-se para o convento das clarissas de Sandeck, onde já se encontrava Cunegundes. As duas logo seriam seguidas por Iolanda.
Muitos anos se passaram e as três damas cristãs continuavam naquele lugar, fazendo do silêncio do claustro o terreno para um fecundo período de meditação e oração. Quando morreu Cunegundes, em 1292, Iolanda deixou aquele mosteiro e foi mais para o Ocidente, ao convento das clarissas de Gniezno, fundado por seu marido. Ali terminou seus dias como superiora, no dia 14 de junho de 1298.
Amada pela população, seu culto ganhou força entre os fiéis do Leste europeu e difundiu-se por todo o mundo católico ao longo dos tempos. Seu túmulo tornou-se meta de romeiros, pelos milagres e graças atribuídos à sua intercessão. Em 1827, o papa Urbano VIII autorizou a beatificação e marcou a festa litúrgica para o dia do seu trânsito.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Santa Germana Cousin, Padroeira das crianças vítimas de maus tratos


A descoberta
     Numa fria manhã de dezembro de 1644, Guilherme Cassé, coveiro e sineiro da igreja de Pibrac, pequena cidade francesa, e seu ajudante, Gaillard Baron, iniciaram os trabalhos de escavação de um túmulo para enterrar uma defunta. 
     Eles golpeavam o solo diante do altar, quando estarrecidos descobrem o corpo de uma jovem de uns vinte anos, conservado em sua mortalha um tanto escurecida. O corpo parecia ter sido colocado no túmulo há poucos dias. A jovem apresentava cicatrizes no pescoço e sua mão direita era deformada. Quem seria aquela jovem? Após se acalmarem, levaram o caso ao conhecimento do Pároco e de seu assistente, que não souberam identificar o cadáver.
     A notícia rapidamente se espalhou pela pequena Pibrac. Dois anciãos, Pedro Pailhès e Joana Salères, reconheceram-na como sendo Germana Cousin, falecida em 1601.
     O corpo foi instalado num caixão perto do púlpito da igreja paroquial, e o povo, que a tinha em conta de santa, logo afluiu para contemplá-la. Outros ridicularizam os ingênuos que ali vão e exigem que o caixão seja transferido para outro lugar. Entre estes estava Maria de Clément Gras, esposa do nobre Francisco de Beauregard.
     Pouco tempo depois, esta senhora foi surpreendida por um câncer no seio, e a criança que ela amamentava ficou doente e esteve às portas da morte. O esposo então se lembrou do desprezo que ela demonstrara pela pobre Germana, e comentou com ela se Deus não ficara ofendido e quisera puni-la. Maria de Clément Gras foi então para junto do corpo de Germana e pediu perdão por sua atitude, suplicando também a sua cura e a de seu filho, prometendo oferecer à igreja um caixão de chumbo para colocar seu corpo.
     Na noite seguinte, ela foi despertada por uma grande claridade em seu quarto: Germana lhe aparece e prediz a cura de seu filho! Após a visão, a chaga do seu seio estava quase fechada. Ela fez vir seu filhinho: ele estava são e sugou longamente o leite que ele recusava há tempos.
     A cura da Sra. Beauregard e de seu filho foram atribuídas à intercessão de Germana. O fato é reconhecido como o primeiro milagre realizado pela intercessão da jovem após a descoberta de seus despojos.
Feia, escrofulosa e aleijada
     Germana Cousin foi a última filha de Lourenço Cousin, pequeno e honrado proprietário agrícola de Pibrac, e de sua terceira esposa, Maria Laroche, mulher piedosa e de saúde frágil. Mestre Lourenço chegou a ser alcaide de Pibrac em 1573 e em 1574.
     A data de nascimento de Germana não é precisa, mas ela provavelmente veio ao mundo no ano de 1579. Talvez devido a avançada idade dos pais, ela nasceu com um corpo débil e repleto de escrófulas, além de uma deformação na mão direita. Não chegou a conhecer a mãe, que faleceu pouco tempo depois de seu nascimento. Mais ou menos dois anos após seu nascimento, perdeu também o pai.
     Hugo, seu irmão mais velho, filho do primeiro casamento paterno, tornou-se o herdeiro dos bens de Mestre Lourenço e acolheu a pequena órfã. Esse irmão era casado com Armanda Rajols, uma mulher de péssimo caráter, que não poupava maus tratos à pequena. Dava-lhe pouco alimento e pouco zelava por sua saúde, deixando-a aos cuidados de uma criada, Joana Aubian. Essa boa mulher tratava das feridas da criança, dividia com ela a comida e a cama.
     Mais tarde, Germana foi obrigada a dormir no paiol. Seu leito era de palhas e de ramagem de vinhedo; o único aquecimento nas noites frias de inverno eram as ovelhas que ali dormiam também. No verão ela ficava alojada num pequeno compartimento sob a escada da casa. Ninguém na família parecia notar sua inteligência. Não lhe ensinaram a ler e a escrever, nem mesmo a fazer os trabalhos domésticos.
     Quando Germana completou nove anos, Armanda achou que ela já estava na idade de poder prestar algum serviço: encarregou-a do pastoreio do rebanho da família. Era também uma forma de mantê-la longe da vista, pois ela passaria o dia todo com o rebanho nas pastagens à margem do rio Courbet.
Uma alma admirável num corpo disforme
     A França enfrentava então uma guerra de religião entre católicos e huguenotes, como eram chamados os protestantes franceses. Era uma trágica crise em que se via a aristocracia dividida em dois partidos: a Casa de Valois e a Casa de Guise. O conflito se estendeu pelos séculos XVI e XVII. Havia saques e conflitos por toda parte.
     Germana enfrentava uma situação difícil dentro e fora de casa, pois horríveis sacrilégios eram cometidos pelos hereges nas igrejas da vizinhança. Ela rezava, fazia sacrifícios em reparação, confiava em Deus e em Nossa Senhora.
     Felizmente Joana Aubian, que velara pelos primeiros anos de Germana, era uma excelente e piedosa mulher que lhe incutiu os fundamentos da religião e, em alto grau, a virtude da caridade.
    Freqüentando a igreja paroquial de Pibrac, o zeloso Pároco viu naquela criança inocente uma alma escolhida por Deus. Graças àquele virtuoso sacerdote, Germana conseguiu ter uma boa instrução religiosa que aprimorou os primeiros ensinamentos dados por sua boa ama.
     Correspondendo às graças que recebia, Germana cumpria à risca os deveres de estado. Mostrava-se em tudo um modelo de simplicidade, modéstia, doçura e paciência. Revelou-se uma ótima catequista. Ensinava doutrina às crianças pobres, que ouviam atentas suas histórias.
     Vivendo ela mesma apenas de pão e água, com freqüência levava pão para as crianças e os pobres, pois era grande a miséria causada pela guerra civil.
     Santa Germana tinha um amor ardente pela Sagrada Eucaristia, que recebia com freqüência, e uma devoção especial pela Santa Missa, que assistia diariamente.
O Bom Pastor
     Germana logo se adaptou ao seu ofício de pastora. Ela aproveitava o tempo do pastoreio de suas ovelhas para pensar e rezar. Ao invés de se sentir só, ela encontrou um amigo em Deus Nosso Senhor. Nessa escola de pobreza, sofrimento do corpo e da alma, Germana aprendeu bem cedo a prática da paciência e da humildade. A vida solitária tornou-se para ela uma fonte de luz e de bênçãos. Ela foi agraciada por um maravilhoso senso da presença de Deus.
     Ela não tinha conhecimentos de teologia - ela havia adquirido apenas os conhecimentos básicos do Catecismo - mas possuía um Rosário feito de nós numa corda... Na meditação dos mistérios do Rosário ela se unia a Mãe de Deus e ao Divino Redentor, e desta contemplação advinha a sua sabedoria.
     As pessoas notavam que ao se aproximar uma festa de Nossa Senhora a piedade de Germana aumentava. Sua devoção pelo Ângelus era tão grande, que ao primeiro toque dos sinos ela costumava cair de joelhos aonde quer que se encontrasse, mesmo atravessando algum córrego.
     Os seus únicos bens materiais eram o cajado de pastora e a roca com a qual fiava lã.
     A fim de atender ao apelo do Rei dos reis, que a atraía para a Santa Missa, sem se descuidar de seu dever de cuidar das ovelhas, Germana usava um método singular: apenas ouvia o sino soar chamando para a Missa, ela cravava o seu cajado de pastora no solo e ordenava às ovelhas que dele não se afastassem.
     Seu rebanho era o mais bem tratado da região e embora as pastagens ficassem próximas da floresta de Bouconne, onde havia muitos lobos, nunca um só dos seus animais foi atacado por eles. O rebanho era cuidado pelo Bom Pastor, enquanto a sua humilde pastora rendia-Lhe suas homenagens na igreja paroquial.
Glorificação da rejeitada
     Numa noite de junho de 1601, um sacerdote da diocese de Auch, que seguia de viagem para Toulose, e dois religiosos que tinham encontrado asilo nas ruínas de um antigo castelo próximo de Pibrac, afirmaram que em meio à noite foram despertados pelo som de uma música maravilhosa. Eles olharam ao redor, e viram o céu iluminar-se e um cortejo celeste de virgens descer sobre uma casa rural das redondezas de Pibrac. Em seguida, o mesmo cortejo subiu para o céu acompanhado de uma jovem vestida de luz e coroada de flores silvestres.
     Ao amanhecer, entrando no povoado, eles relataram o maravilhoso fato aos habitantes de Pibrac, e estes constataram que se tratava da casa onde pouco antes fora encontrada morta uma pobre pastora chamada Germana Cousin.
     Naquela manhã de verão, percebendo que ela não se levantara no horário costumeiro, seu irmão foi chamá-la. Ele encontrou-a morta no seu humilde refúgio sob a escada. Ela morrera sem ruído, sozinha, tal como havia vivido.
     Seu corpo foi sepultado na Igreja de Santa Madalena e tudo parecia esquecido... Na memória do povo ela ficou esquecida, mas não nos planos de Deus!
Fatos posteriores a descoberta de seu corpo
     Em 22 de setembro de 1661, o Vigário Geral da Arquidiocese de Toulouse, Jean Dufour, foi a Pibrac. Ele ficou admirado ao ver uma urna funerária na sacristia e mandou que a abrissem. O corpo de Germana permanecia intacto! Ele fez uma declaração oficial do fato.
     Depoimentos de médicos especialistas evidenciaram que o corpo não havia sido embalsamado, e testes mostraram que a preservação não se devia a qualquer propriedade do solo. O vigário mostrou-lhe um relatório de inúmeras curas milagrosas atribuídas a Germana.
     Em 1739, um conjunto de documentos foi confiado a um missionário apostólico, para que ele o entregasse à Sagrada Congregação de Ritos na sua passagem por Roma. Tal documentação deve ter-se extraviado, pois nunca chegou ao seu destino.
     Em 1793, durante a sangrenta Revolução Francesa, os membros do "comitê de salvação pública" levaram a cabo um desígnio sacrílego de subtrair o precioso cadáver à devoção das multidões: o caixão foi profanado por um revolucionário de nome Toulza, fabricante de estanho.
     Acompanhado de três cúmplices, Toulza retirou o corpo do caixão e nem à vista do milagre de um corpo incorrupto aqueles corações endurecidos se comoveram: enterraram-no na sacristia, jogando cal e água sobre ele. O caixão de chumbo foi enviado para Toulouse para ser usado na fabricação de balas. Os revolucionários foram atacados por dolorosas deformações: dois arrependeram-se e invocaram o auxílio da Santa e foram ouvidos.
     Depois da Revolução Francesa, a pedido da população o prefeito de Pibrac, Jean Cabriforce, mandou procurar o local onde os revolucionários haviam enterrado o corpo de Germana. Uma vez mais Germana foi descoberta: seu corpo estava quase intacto, apesar de ter permanecido durante anos sob a ação da cal viva.
     Em janeiro de 1845, os documentos que compunham o processo de beatificação foram entregues. Eles atestavam mais de 400 milagres ou graças extraordinárias, além de 30 cartas de Bispos e Arcebispos da França, dirigidas a Santa Sé, pedindo a beatificação de Germana.
     Gregório XVI assinou a aprovação dos trabalhos da Comissão apostólica. Mas, foi o Beato Pio IX quem proclamou, no dia 7 de maio de 1854, a beatificação de Germana. E em 29 de junho de 1867, foi ele quem a colocou entre as virgens santas.

Santa Lutgarda, Mística Cisterciense

 

     Nasceu em Tongres, Holanda, em 1182. Aos doze anos de idade foi recomendada às monjas beneditinas do Convento de Santa Catarina, próximo de Saint-Trond, não por piedade, mas porque o dinheiro para seu dote matrimonial havia sido perdido por seu pai. Era o costume da época.
      Lutgarda era bonita e gostava de divertir-se sadiamente e de vestir-se bem. Não aparentava ter vocação religiosa; vivia no convento como uma espécie de pensionista, livre para entrar e sair.
     Um dia, porém, enquanto conversava com umas pessoas amigas, teve uma visão de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe mostrava suas feridas e lhe pedia que amasse somente a Ele. Lutgarda naquele dia descobriu o amor de Jesus e o aceitou no mesmo instante como seu Prometido. Desde aquele momento sua vida mudou. Algumas monjas, que observaram a mudança em Lutgarda, vaticinaram que aquilo não duraria. Enganaram-se, pois seu amor por Jesus crescia. 
     Ao rezar, Lutgarda O via com seus olhos corporais, falava com Ele de forma familiar. Quando a chamavam para algum serviço ela dizia a Jesus: "Espere-me aqui, meu Senhor; voltarei logo que termine esta tarefa". Teve também visões de Santa Catarina, a padroeira de seu convento, e de São João Evangelista.  Às vezes durante seus êxtases erguia-se um palmo do solo ou sua cabeça irradiava luz.
     Participava misticamente dos sofrimentos de Jesus quando meditava sobre a Paixão. Nessas ocasiões apareciam em sua fronte e em seus cabelos minúsculas gotas de sangue. Seu amor se estendia a todos de maneira que sentia como próprias as dores e penúrias alheias.
     Depois de doze anos no Convento de Santa Catarina, sentiu-se inspirada a abraçar a regra cisterciense que é mais estrita. Seguindo o conselho de sua amiga Santa Cristina, que era do seu convento, ingressou no Convento Cisterciense de Aywières. Ali só se falava o francês, idioma que ela desconhecia, mas era para ela uma forma de maior desapego do mundo.
     Certa ocasião, quando rezava oferecendo veementemente sua vida ao Senhor, arrebentou-se uma veia que lhe causou uma forte hemorragia. Foi-lhe revelado que no Céu aquilo fora aceito como um martírio.
     Tinha o dom de cura de enfermos, de profetizar, de entender as Sagradas Escrituras, de consolar espiritualmente. Segundo a Beata Maria de Oignies, Lutgarda é uma intercessora sem igual para os pecadores e as almas do purgatório.
 
Visões do Sagrado Coração de Jesus
     Em uma ocasião, Nosso Senhor lhe perguntou que presente ela desejava. Ela respondeu: "Quero Teu Coração", ao que Jesus respondeu: "Eu quero teu coração". Aconteceu então algo sem precedentes conhecidos: Nosso Senhor misticamente trocou corações com Lutgarda.
     Onze anos antes de morrer Santa Lutgarda perdeu a visão, fato que recebeu com gozo, como uma graça para desprender-se mais de tudo. Mesmo cega jejuava severamente. O Senhor lhe apareceu para anunciar sua morte e as três coisas que devia fazer para preparar-se:
1 - dar graças a Deus sem cessar pelos bens recebidos;
2 - rezar com a mesma insistência pela conversão dos pecadores;
3 - em tudo confiar unicamente em Deus.
     Sua morte ocorreu na noite do sábado posterior à Festa da Santíssima Trindade, precisamente quando começava o oficio noturno do domingo. Era o dia 16 de junho de 1246.
     Foi beatificada e o seu túmulo, no coro de Aywières, foi objeto de grande devoção.
     No dia 4 de dezembro de 1796, para escapar às conseqüências da Revolução Francesa, a comunidade de refugiou em Ittre com as relíquias da Santa, exumada no século XVI.
     Em 1870 os preciosos despojos tornaram-se propriedade da igreja paroquial e, sete anos depois, passaram para Bas-Ittre.