sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Beato Bernardino de Fossa, religioso

           
 
            Bernardino Amici, pregador e escritor franciscano, nasceu em 1420 em Fossa, perto de Áquila. Em Perúgia, onde se tinha formado em direito, ingressou nos frades menores em 1445. Viveu em vários conventos da Úmbria e dos Abruzos, mas a residência mais habitual foi em Áquila. Por três triênios o elegeram para ministro provincial da sua província, e também foi procurador geral da ordem na cúria romana. Tomou parte em vários capítulos gerais realizados em Áquila, Assis, Milão, Roma e Mântua. Várias vezes recusou o bispado de Áquila.
             Foi célebre pregador, em Itália e não só; deu brado uma quaresma que pregou na Dalmácia em 1465. Nos últimos anos da vida divulgou alguns escritos seus de caráter teológico e histórico, mas a maior parte das suas obras ficou inédita.
             Como filho fiel do seráfico pobrezinho e ardente ministro de Cristo, propôs-se seguir o trilho de São Bernardino de Sena, a quem várias vezes ouvira pregar e por quem ficara fascinado, em especial quando em 1438 ele pregou em Áquila sobre a Assunção de Maria em corpo e alma ao céu. A multidão imensa no meio da qual se encontrava Bernardino viu brilhar no céu uma estrela luminosa cujo esplendor superava o do sol.
              De São Bernardino de Sena copiou o nosso frei Bernardino o espírito de fé e de recolhimento, a prudência, a humildade, a modéstia, o zelo ardente pela glória de Deus. Por isso o vemos a calcorrear cidades e mais cidades a pregar a palavra de Deus, suscitando por toda a parte o entusiasmo e obtendo numerosas conversões.
             Durante oito meses esteve prostrado de cama, atormentado por terríveis sofrimentos, suportados como exemplar resignação. Até que um dia lhe apareceu o seu patrono São Bernardino de Sena, que lhe obteve do Senhor a cura completa.
             Liberto dos compromissos que a ordem lhe confiara, regressou aos Abruzos e prosseguiu as lides apostólicas com renovado fervor. Fundou novos conventos, entre eles o de Santo Ângelo de Ocre na sua região natal, onde decidiu viver até avançada idade. Aos 83 anos, esgotado pelos trabalhos apostólicos e pela austeridade de vida, retirou-se ao convento de São Julião próximo de Áquila, a preparar-se para o encontro com a irmã morte, que sobreveio no dia 27 de novembro de 1503. Foi um digno filho de São Francisco e fiel imitador de São Bernardino de Sena, e Deus não deixou de avalizar a sua santidade com o dom dos milagres.

Beato Ludovico Roque Gientyngier, sacerdote e mártir

          
  
          Este sacerdote e mártir polonês nasceu em Zarki no dia 16 de agosto de 1904. Concluído seus estudos primários em Czestochowa no ano de 1922 ingressou no seminário maior de de Kielce, e quando se criou a diocese de Czestochowa se incardinou nela.
            Foi ordenado sacerdote em 25 de junho de 1927, logo foi enviado como vigário cooperador da paróquia de Strzenieszyce no tempo em que continuava seus estudos na Universidade Jagelônica de Cracóvia na qual se gradua em 1929.
             Enviado para ensinar religião nas escolas de sua diocese, temia pela nomeação de diretor do Instituto Diocesano de Wielun. Mas no dia em que ia começar seus trabalhos acontece a invasão da Polônia com a consequente política antipolaca de seus ocupantes.
              Segue por um tempo Wielun mas logo em seguida é enviado para a paróquia de Raczyn. Ali desempenha as funções de pároco até o dia 6 de outubro de 1941 em que é preso e levado para o campo de concentração de Konstantynow, e logo depois para Dachau
               Foi assassinado pelos guardas do campo em 30 de novembro de 1941 e beatificado pelo Papa João Paulo II em 13 de junho de 1999.





São Galgano Guidotti, eremita

            

             Galgano Guidotti, filho de Guido e Dionisa, nasceu em 1148 em Chiusdino (Siena), um pequeno burgo não muito longe do local da Abadia, em uma época da Idade Média repleta de violência. E Galgano também, como outros cavaleiros, era prepotente e cheio de si pela juventude despretensiosa e frívola que vivia.
              Com o passar do tempo, Galgano começou a perceber a inutilidade do seu estilo de vida, e ficou atormentado por não ter nenhum objetivo para a sua. Foi nesse estado de ânimo que decidiu mudar, retirando-se na colina de Montesiepi. Galgano abandonou o seu mundo, infeliz pelo que cometeu e por aquilo que via diariamente, para dedicar-se a uma vida de eremita e penitência, em busca daquela paz que àquele tempo não era consentida.
              Como um sinal de renúncia perpétua a qualquer forma de violência, pegou sua espada e a fincou em uma rocha, com a intenção de usá-la como cruz, em frente à qual rezava. Um grande gesto simbólico. Era o ano de 1180. Galgano morreu em 3 de dezembro de 1181 e em 1185 foi declarado Santo pelo Papa Lucio III.
               Nos anos sucessivos, à sua morte foi construída uma igrejinha ao redor da espada, que ali continua, protegida por uma redoma de acrílico. As ruínas da antiga Abadia também podem ser vistas, e o cenários dos campos toscanos ao redor tornam a visita mais do que especial.




Abadia de São Galgano, Itália


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Beato Frederico de Ratisbona, religioso

           

           O beato Frederico nasceu em Ratisbona, Bavária, Alemanha. Seus pais pertenciam à classe média.
            Entrou na Ordem como irmão não clérigo no mosteiro agostiniano de São Nicolau em sua cidade natal. O mosteiro era a mais importante comunidade da Província da Bavária naquela época, e acolheu o capítulo geral da Ordem Agostiniana de 1290. Nele, a primeira Constituição dos Agostinianos foi promulgada.
           Frederico serviu a comunidade como carpinteiro e tinha a responsabilidade de prover à casa a lenha necessária para o uso cotidiano, modesto trabalho levado a cabo durante anos unido a uma profunda vida de oração.
            É lamentável que seja pouco o que se sabe de sua vida. Conhecemos, isso sim, alguns relatos lendários do século 16, como os que aparecem na biblioteca do capítulo metropolitano de Praga.
            Algumas pinturas representando cenas da vida de Frederico e encomendadas por ocasião de sua morte ajudaram a inspirar tais lendas.
            Entre elas, a mais conhecida narra como um dia, impossibilitado de assistir à missa e estando no mesmo lugar onde se encontrava trabalhando, Frederico recebeu a comunhão das mãos de um anjo.
           A carga de colorido com a que se apresentam os fatos históricos, em conformidade aos gostos do tempo, hoje faz com que tais relatos sejam vistos com fortes reservas, ou inclusive, com rechaço. Porém, há de se ter em conta que interessava ao narrador medieval confirmar o reconhecimento divino da santidade mediante o milagre.
Mais que escrever propriamente um biografia, a intenção era a de representar exemplos de virtude e ideais religiosos que animassem a segui-los.
           Episódios como o exposto acima atestam a devoção eucarística de nosso beato e provam o profundo efeito produzido entre seus contemporâneos e a continuidade da piedosa memória de que foi objeto ao longo dos séculos.
          O Prior Geral dos Agostinianos, Clemente Fulh, atesta em uma carta dirigida aos irmãos não clérigos que "o beato Frederico chegou ao cume da perfeição obedecendo fielmente as normas estabelecidas por Santo Agostinho e soube integrar de maneira admirável a vida perfeitamente contemplativa com a vida perfeitamente ativa".
          Frederico morreu em Ratisbona no dia 29 de novembro de 1329. Logo depois de sua morte muito milagres foram creditados por sua intercessão. Seus restos repousam na igreja agostiniana Santa Cecília em Ratisbona.
          No dia 12 de maio de 1909 o papa Pio X ratificou o ininterrupto culto que Frederico havia gozado e o proclamou beato.

Santos Dionísio e Redento, mártires

           

           Os carmelitas, Dionisio e Redento, encontraram-se no ano de 1635, no Convento do Carmo, em Goa. Sem antes se conhecerem, aqui se juntaram para virem a ser os primeiros mártires da família fundada por Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz.
            O Beato Redento da Cruz é portugês, natural de Cunha,Paredes de Coura, Viana do Castelo. Aqui nasceu em 1598. O seu nome de batismo foi Tomás Rodrigues da Cunha. Cresceu embalado por sonhos dourados de guerreiro e de glória. Muito jovem ainda dirigiu-se a Lisboa, onde embarcou para a India vindo a ser nomeado capitão pela sua valentia nas batalhas em que tomou parte. Não só devido à sua valentia, mas também à destreza e ao seu espírito afável e temperamento comunicativo e alegre, conquistava as simpatias de quantos o conheciam.
            Na cidade de Tatá, no reino de Sinde, conheceu os carmelitas descalços que aí tinham uma comunidade. Depressa se sentiu atraído peio estilo de vida destes homens que, seguindo os passos de S. Teresa de Jesus e S. João da Cruz, viviam uma santidade alegre e comunicativa. A princípio, o prior do convento escusou-se a admitir o capitão da guarda de Meliapor pensando que ele não era para aquele género de vida. Mas Tomás Rodrigues da Cunha tanto insistiu que o prior acedeu ao seu pedido deixando-o tomar hábito e iniciar o noviciado. Tomás deixou tudo: a carreira militar, a posição social, a glória e até o nome vindo a chamar-se, desde então, Frei Redento da Cruz.
           No ano de 1620, foi fundado o nosso convento do Carmo de Goa, para onde foi enviado Frei Redento, depois de também ter sido frade conventual no convento de Diu. Frei Redento cativava com a sua simpatia e era estimado por todos por ser alegre, simpático e com um grande sentido de humor. Em Goa, deram-lhe o ofício de porteiro e sacristão.
          No ano de 1600, em França, nasceu Pedro Berthelot. Também este jovem se inclinou para o mar fazendo-se marinheiro apenas com 12 anos de idade. Em 1619, também ele embarca para a India, onde trabalhou para a armada francesa e holandesa, ao serviço de quem se tornou célebre, ascendendo a piloto de caravela. Finalmente colocou-se ao serviço dos portugueses que o nomearam Piloto-mor e Cosmógrafo das Indias. Deixou-se contagiar pelo testemunho do carmelita, Frei Filipe da Santíssima Trindade e decidiu, como ele, fazer-se carmelita. Todos os dias visitava a igreja do Carmo e um dia decidiu tomar hábito. Era a véspera do Natal e recebeu o nome de Frei Dionísio da Natividade.
           Em 1636, os holandeses atacaram Goa. O Vice-rei das índias escreve ao Prior do Carmo pedindo-lhe licença para o noviço Frei Dionísio comandar as operações. O que aconteceu. O Piloto-mor e Cosmógrafo das Indias, agora vestido de hábito castanho e capa branca e calçando sandálias, conduziu a esquadra portuguesa à vitória. Em 1638 foi ordenado sacerdote.
           O Irmão Redento da Cruz continuava o seu ofício de porteiro do convento do Carmo de Goa, enquanto Frei Dionísio se preparava para o sacerdócio. Todos conheciam o porteiro do Carmo e todos o tinham por santo. Não perdia ocasião de a todos edificar oferecendo fios, que arrancava do seu hábito, às pessoas suas amigas, dizendo-lhes que eram relíquias de santo. As pessoas riam-se com Frei Redento, mas ele apenas dizia: «agora riem-se, mas esperem um pouco e haveis de ter pena de não ter mais relíquias minhas». Deus segredava-lhe ao coração que um dia seria santo. Em 1638 novamente foi solicitado ao Prior dos carmelitas que autorizasse Frei Dionísio a comandar uma nova expedição. Concertadas as coisas, Frei Dionísio escolheu e pediu por companheiro a Frei Redento da Cruz que ao despedir-se da comunidade disse sereno e de bom humor: «se eu for martirizado pintem-me com os pés bem de fora do hábito, para que vendo as sandálias todos saibam que sou carmelita descalço». Tentaram, as pessoas e benfeitores do convento, impedir por todos os meios a saída do santo porteiro do Carmo temendo o seu martírio. Finalmente, como último recurso, colocaram-lhe drogas na comida para o adormecerem, mas estas não surtiram efeito. Seguidamente embarcou o santo exclamando: «vamo-nos que tenho de ser mártir».
            De fato, traídos pelo rei de Achem, a armada portuguesa foi surpreendida e detida. Forçaram-nos a renegar a fé mas não conseguiram tal traição a Cristo de nenhum dos 60 prisioneiros. Decidiram o seu martírio. Muitos dos sessenta prisioneiros eram rapazes jovens. Havia também um sacerdote indiano que recusou a liberdade. Frei Redento foi o primeiro a ser martirizado, encorajando os companheiros de martírio; Frei Dionísio, o último para a todos confortar.
            Era o dia 29 de Novembro de 1638. Quando em Goa se soube do acontecimento, repicaram os sinos na igreja do Carmo como em dia de grande festa e cantaram um Te Deum em ação de graças.

Santo Álvaro Pelágio, bispo

            

            Julga-se que Álvaro fosse filho ilegítimo do trovador galego e almirante de Castela Paio Gómez Charino. Estudou primeiramente na corte de Sancho IV de Castela, tendo depois partido para Itália, a fim de estudar direito em Bolonha e Perugia. Em Bolonha, tendo por mestre Guido de Baisio, obteve o grau de doutor nos dois direitos (o civil e o canônico).
             Em 1304, contactando os Frades Menores reunidos em capítulo em Assis, e em particular com o seu Mestre-Geral, Gonçalo de Balboa, ingressou naquela oredem mendicante, tendo renunciado aos seus bens e doado-os aos pobres. Envolveu-se nas disputas internas da ordem, aproximando-se dos espirituais, que defendiam uma interpretação mais rigorosa das palavras de São Francisco no que tocava à pobreza. No entanto, por obediência ao Papa (João XXII), acabou por se afastar dessa corrente.
             Permaneceu em Itália, primeiro Perugia, depois em Assis, tendo enfim mudado-se para Roma, estabelecendo-se na Igreja de Santa Maria in Aracoeli. Grande defensor do primado do Papa sobre o poder dos príncipes, tornou-se legado do Papa João XXII no conflito que o opunha junto do Imperador, Luis da Baviera. Quando o Imperador fez coroar o seu representante, Pietro Rainalducci, como antipapa (sob o nome de Nicolau V), Álvaro fugiu para Anagni (1328), setenta quilómetros para sudoeste de Roma.
             Daí partiu para Avinhão (1330), onde se achava o Papa com a sua corte, tendo exercido o cargo de penitenciário apostólico. Em 1332, o Papa conferiu-lhe dispensa da bastardia, o que lhe permitia o acesso a cargos eclesiásticos, tendo sido nomeado bispo titular da diocese de Corona, na Grécia, não tendo contudo chegar a tomar posse.
             Em 9 de junho de 1333, o Papa nomeou-o bispo de Silves, regressando enfim à Península Ibérica. Envolveu-se em conflito com o rei português Dom Afonso IV, por não o apoiar na guerra que este declarara ao monarca castelhano Afonso XI, bem como por não concordar com os impostos extraordinários lançados sobre os bens eclesiásticos para poder manter o conflito. Chegou a ser atacado por sicários do rei, tendo fugido para Sevilha, cidade a partir da qual continuou a reger a sua diocese até à sua morte.

Obra

As três principais obras de Álvaro Pais são:
  • De statu et planctu Ecclesiæ (Do estado e do pranto da Igreja), obra composta entre 1332 e 1335, na qual defende o primado do poder da Igreja sobre o poder temporal, condenando a eleição do antipapa Nicolau e reconhecendo a legitimidade de João XXII;
  • Speculum regum (Espelho de reis), escrita em Tavira entre 1341 e 1344, durante a sua estada à frente da diocese de Silves, dedicada ao rei Afonso XI de Castela e ao cardeal Gil de Albornoz; é considerada por muitos a sua obra-prima, inspirada no De regimine principum de Egídio Romano, e destinada à instrução dos soberanos e à sua orientação no tocante às virtudes que devem por eles ser cultivadas;
  • Collyrium fidei adversus hæreses (Colírio da Fé contra os hereges), de 1348, onde condena os averroístas, os espirituais, as beguinas e os begardos, os judeus e os muçulmanos.
              A sua obra marcou várias gerações, tendo o «Espelho de Reis» sido obra sempre presente nas bibliotecas dos reis de Portugal (sabendo-se que existiram vários exemplares nas de Dom Duarte e Dom Afonso V, tendo o primeiro inspirado-se em várias das suas teses para compor uma das suas mais famosas obras, o Leal Conselheiro).

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

São Sóstenes, discípulo de São Paulo

São Sóstenes viveu no primeiro século e foi discípulo do Apóstolo Paulo. O Martirológio afirma a seu respeito: "Perto de Corinto, a morte de São Sóstenes, um dos discípulos do bem-aventurado Apóstolo Paulo, que o menciona ao escrever aos coríntios. Sóstenes era chefe da sinagoga daquela cidade, mas, convertido a Jesus Cristo, foi batido com violência em presença do procônsul Galião, consagrando por um glorioso princípio as primícias da sua fé (primeiro século)". De fato, na primeira Carta ao Coríntios, Paulo diz: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade e chamado de Deus, e o irmão Sóstenes, à igreja de Deus que está em Corinto ..." (1 Coríntios 1,1).
Nesta carta à comunidade de Corinto, Paulo exorta os cristãos à união. Corinto era uma cidade rica e de florescente comércio. Ali, raças e religiões se mesclavam. O ambiente corrompido e ganancioso apresentava-se como um desafio às comunidades cristãs, muitas vezes divididas internamente.
As advertências e as orientações que Paulo faz aos cristãos de Corinto ainda continuam sendo de grande valor para nós, hoje, chamados à dar testemunho numa sociedade consumista, dividida, profanadora dos mais altos valores da pessoa humana. Mais do que nunca devemos lembrar o ensinamento de Paulo: Jesus Cristo ressuscitado, presente e vivo na comunidade, é o Senhor de todos. Nele nos tornamos um único corpo, uma só alma e um só coração.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

São Virgílio de Salzburgo, bispo

           


              São Virgílio nasceu no ano 700, na Irlanda, onde abraçou com sua juventude e ardor a vida monástica e sacerdotal. Foi batizado com o nome de Fergal, depois traduzido para o latim como Virgílio. Católico, na juventude voltou-se para a vida religiosa, tornou-se monge e, a seguir, abade do Mosteiro de Aghaboe, na Irlanda, onde adquiriu vasta cultura não só teológica e bíblica, mas também científica, sobretudo em matemática e geografia. Deixou a ilha em peregrinação evangelizadora em 743 e não mais voltou. Por isso, é considerado um dos grandes missionários irlandeses do período medieval.
            Pepino, rei dos francos, desejando fundar em seu reino centros culturais e pacificar o seu povo com a fé cristã, convidou Virgílio em 743 para abrir uma escola superior na região da Baviera, junto ao Duque Odilon. Com a morte do bispo de Salzburgo, atual Áustria, Virgílio foi eleito abade da Abadia de São Pedro, do qual dependia o bispado. Nesta qualidade, Virgílio devia governar a diocese embora sem sagração episcopal.
            Na época, São Bonifácio, o chamado apóstolo da Alemanha, atuava como representante do papa na região, e caberia a ele essa indicação e não a Odilon. O que o desagradou não foi a escolha de Virgílio, mas o fato de ter sido feita por Odilon. Ambos nutriam entre si uma profunda divergência no campo doutrinal e Virgílio participava do mesmo entendimento de Odilon. Essa situação perdurou até a morte de são Bonifácio, quando, e só então, ele pôde ser consagrado bispo de Salzburgo.
             Como pastor e mestre da diocese, Virgílio se destacou por seu zelo, por seu espírito de organização, pelas iniciativas que visavam a educação religiosa do povo e por seu alto saber. Conhecia o grande apóstolo da Alemanha, São Bonifácio, discutindo inclusive com ele questões litúrgicas e doutrinais, chegando ambos a acordo amigável.
             Edificou uma catedral majestosa separada do mosteiro de São Pedro, dando origem a uma pacífica distinção entre a abadia dos monges e a diocese. O rei Pepino, ao convidar Virgílio a trabalhar em seu reino, talvez tivesse objetivos políticos, mas o santo soube habilmente corrigi-los, impondo sua ação pastoral e seu ensinamento num plano exclusivamente espiritual e com preocupações unicamente morais.
              Virgílio era apelidado de “o Geômetra” em seu tempo. Viveu oito séculos antes de Galileu e Copérnico e já sabia que a Terra era redonda, o que na ocasião e em princípio era uma heresia cristã. Foi para Roma para se justificar com o papa, deixou a ciência de lado e abraçou integralmente o seu apostolado a serviço do Reino de Deus como poucos bispos consagrados o fizeram.
             Em 755, um ano após a morte de São Bonifácio, Virgílio foi consagrado bispo de Salzburgo. Continuou evangelizando a Áustria de Norte a Sul, inclusive uma parte do Norte da Hungria. Fundou e restaurou mosteiros e igrejas, com isso construiu o primeiro catálogo e crônica dos mosteiros beneditinos, obra magistral que continuou seus relatórios por cinco séculos, transmitindo preciosas notícias da vida cristã, inclusive, oito mil nomes de personalidades e lugares.
             Virgílio faleceu aos 27 de novembro de 784, já octogenário. Foi sepultado na Catedral de Salzburgo por ele construída e que foi destruída pelo fogo 500 anos depois. Contudo, suas relíquias foram salvas e, por ocasião da trasladação, ocorreram vários milagres. O Papa Gregório IX reconheceu oficialmente a santidade do grande bispo Virgílio, em 1233, que recebeu um vasto culto popular, sobretudo na Alemanha.  São Virgílio foi proclamado padroeiro de Salzburgo.



Ficheiro:Salzburg cathedral frontview-2.jpg

Catedral de Salzburgo, dedicada a São Ruperto e São Virgílio, Austria, construída por São Virgílio


Salzburto e a Catedral



Beato Salvador Lilli, mártir

            

             Nasceu para a vida terrena numa Capadócia da Itália, província de Áquila, e durante 15 anos trabalhou como missionário na célebre região da Capadócia, atualmente turca, junto à Armênia, onde nasceu pelo martírio para a vida do céu.
             Foi o sexto e último filho de uma família de boa prática religiosa e situação econômica desafogada, devido à atividade comercial do pai. O ambiente familiar profundamente cristão fez germinar e crescer no menino Salvador sentimentos de fé e piedade, e ao mesmo tempo as possibilidades econômicas permitiram-lhe uma preparação e instrução escolar fora do comum.
              Aos 18 anos, Salvador apresentou-se ao guardião do convento de São Francisco da Ripa, em Roma, pedindo para ser admitido na ordem dos frades menores. Em 1863 resolveu ir como missionário para a Terra Santa, onde desde os tempos de São Francisco os franciscanos são encarregados de cuidar de santuários e assistir a peregrinos. Continuou na Palestina os estudos de filosofia e teologia, primeiro em Belém e a seguir em Jerusalém, onde foi ordenado sacerdote em 1879. No ano seguinte foi à Turquia; como conhecia diversas línguas orientais, a árabe, a turca e a armênia, desenvolveu um frutuoso apostolado entre os cristãos dessas regiões, sobretudo em Marasc.
              Em 1885 voltou à Itália para visitar a família e os confrades, e logo no ano seguinte regressou a Marasc, onde, como superior da missão no quadriênio de 1890-1894 realizou importantes obras de caridade e de assistência social em favor dos fiéis.
              Coadjuvado por outros confrades, durante 15 anos a sua ação apostólica não se limitou a atividades religiosas, senão que também fomentou a instrução e a promoção social dos pobres. Graças aos seus extraordinários dotes de inteligência e de coração e ao perfeito conhecimento da língua turca, tanto falada como literária, depressa e sem dificuldade granjeou o afeto dos cristãos e a estima e o respeito dos não cristãos, inclusivamente das autoridades, devido sobretudo aos empreendimentos de ordem social, como o de ter adquirido uma grande propriedade e a ter dotado de alfaias agrícolas e ter aberto um dispensário.
               Em 1885 os mulçumanos desencadearam uma perseguição armada, sistemática e feroz contra a minoria armênia da região. Frei Salvador, que havia dezesseis meses era pároco, além de superior da fraternidade, recusou fazer-se muçulmano. Ferido numa perna, e depois feito prisioneiro com dez dos seus paroquianos, foi assediado pelos maometanos, com subornos e com ameaças, no intuito de o fazerem apostatar. Mas manteve-se sempre firme e inquebrantável; e apesar da ferida da perna, que provocava grande perda de sangue, ainda confortava e animava os outros, dizendo-lhes: “Meus filhos, sede fortes na fé, não vos façais muçulmanos. O sofrimento passa depressa, e no céu está à nossa espera Jesus com todos os seus santos. Coragem! Depois do martírio espera-nos a coroa de glória no paraíso”.
             No dia 22 de novembro de 1895, junto com sete cristãos armênios seus paroquianos, foi imolado a golpes de baioneta. No dia 3 de outubro de 1982, como conclusão do oitavo centenário do nascimento de São Francisco (1182-1982), o papa João Paulo II proclamava Bem aventurados Salvador Lilli e os sete cristãos seus companheiros no martírio pela fé em Cristo.

Beato Mateus Álvares, mártir

             O pai de Mateus Álvares era português, e a mãe japonesa. O filho foi um cristão exemplar já em vida, mas, sobretudo na morte. Pertence ao número imponente dos convertidos japoneses depois da mais antiga experiência de evangelização desse país do extremo Oriente, ligado à história e à glória de São Francisco Xavier.
             São Francisco Xavier tinha estado no Japão por volta de 1550, e aí lançara as primeiras sementes do apostolado cristão. Depois dele, a obra evangelizadora foi continuada pelos seus confrades da Companhia de Jesus, com êxito tanto mais surpreendente, quanto era difícil penetrar naquela cultura e mentalidade muito diferente da ocidental, e ainda devido à complexidade da língua japonesa.
             Apesar disso, menos de 30 anos depois, em 1587, já se contavam no Japão mais de 200.000 cristãos. Um deles era o Beato Mateus Álvares. Batizado pelos franciscanos, tinha-se inscrito na ordem terceira de São Francisco e esforçava-se por viver segundo o espírito seráfico. Como bom japonês, conhecia perfeitamente as doutrinas e os costumes budistas, e isso permitiu-lhe sair vencedor em variadas discussões e obter numerosas conversões.
             Durante certo tempo os missionários do Japão viveram em clima de tolerância e inclusivamente de simpatia. Mas de repente, por motivos diversos e complexos, foi decretada a expulsão dos missionários estrangeiros. Contudo, grande parte dos religiosos não fizeram caso do decreto e continuaram lá, na clandestinidade, prosseguindo com as devidas cautelas o trabalho de apostolado e assistência às comunidades cristãs. Sucedeu que a chegada de novos missionários e o seu proselitismo demasiadamente descarado sobressaltou as autoridades, que decretaram a prisão de todos os missionários e também de cristãos mais notáveis.
             Mateus foi detido e levado para a cadeia, onde já encontrou outros cristãos e missionários. Todos sofreram refinadas e humilhantes torturas, entre as quais a de serem expostos à irrisão e escárnio das populações. Eram também solicitados a renegar a fé cristã; mas nem ele nem nenhum dos companheiros desertou. Finalmente a 8 de setembro de 1628 foi executado na colina próxima de Nagasáki, chamada mais tarde a Colina Sagrada. Foi primeiro atravessado com lanças cruzadas que lhe atravessaram o coração, e de seguida decapitado. Antes de morrer dirigiu-se pela última vez ao povo para exortar à perseverança, e aos verdugos para lhes declarar o seu perdão.
             Sobre a Colina Sagrada, ou Colina dos Mártires, de Nagasáki, erguia-se um estandarte não de derrota, mas de perene vitória.

Beata Isabel Bona

           


            A filha saiu aos pais, humildes e pobres de bens temporais, mas ricos de virtude: também ela se distinguiu desde a meninice por uma piedade rara, inocência virginal e um feito tão doce e amável que todos a tratavam como a "Boa" (Bona), sobrenome por que ficou a ser conhecida.
           Quando Isabel contava 14 anos, o padre Conrado Kigelin, seu confessor, aconselhou-a a deixar o mundo e tomar o hábito da ordem terceira de São Francisco. Passou a viver segundo a regra franciscana primeiramente em sua própria casa; mas pouco depois achou melhor deixar os pais para ir viver com uma piedosa terceira franciscana. O demônio para impedir os progressos de Isabel no caminho da perfeição, atormentava-a com frequência. Enquanto ela aprendia a arte de tecelã, enrodilhava-lhe o fio, estragava-lhe o trabalho, fazia-a perder a metade do tempo em reparações de defeitos. Mas Isabel levava sempre a melhor com a sua paciência a toda a prova.
            Quando ela completou 17 anos, o padre Conrado Kigelin orientou-a para uma comunidade feminina onde algumas religiosas seguiam com fervor a regra franciscana da ordem terceira. Enquadrada nessa comunidade, Isabel continuou sempre com a mesma doçura e obediência, assídua à oração e à penitência, preferindo os ofícios mais humildes, tão amante da solidão que só saía do convento por motivos de força maior, a ponta de lhe chamarem "a reclusa".
            O demônio continuou a persegui-la de forma implacável, mas sem êxito. Foi atacada pela lepra e outros sofrimentos físicos. No entanto, essas novas provações ainda tornaram mais heróica a paciência de Isabel, que nunca se queixava de nada, pelo contrário, louvava a Deus por tudo.
            E Deus compensou as virtudes da sua humilde serva, favorecendo-a com êxtases e visões maravilhosas. Durante o concílio ecumênico de Constança prognosticou o fim do cisma do ocidente e a eleição do papa Martinho V. Jesus concedeu-lhe a graça de experimentar os sofrimentos da sua Paixão e de receber no corpo a impressão das Chagas. Por vezes a cabeça aparecia ferida por espinhos. No meio das dores, exclamava: "Obrigada, Senhor, por me fazeres sentir as dores da tua Paixão!". As chagas apareciam apenas de vez em quando, mas os sofrimentos eram contínuos. O padre Conrado Kigelin, que foi sempre o seu diretor espiritual, deixou-nos uma biografia da sua dirigida, escrita por ele próprio. Isabel foi uma alma mística, rica de especiais carismas. Morreu a 25 de novembro de 1420, com 34 anos de idade.

São Francisco Antônio Fasani, sacerdote

            
 
 
             Francisco Antônio Fasani, natural de Lucera, na região italiana da Apúlia, era filho duma família de modestos lavradores. Sendo ainda muito novo, entrou na ordem franciscana, no convento de Lucera dos frades menores conventuais, e não tardou distinguir-se pela inocência de vida, espírito de penitência e pobreza, ardor seráfico e zelo apostólico, a ponto de parecer um São Francisco redivivo.
             Fez o noviciado no convento do Monte Santo Ângelo, no Gárgano, e aí emitiu os votos de consagração ao Senhor em 1699. Quatro anos depois, para completar a formação, foi enviado para o Sacro Convento de Assis, onde foi ordenado sacerdote em 1705.
             Dali passou ao colégio de São Boaventura, onde recebeu o título de mestre de teologia – e por isso daí em diante os seus conterrâneos de Lucera começaram a chamar-lhe de o “Padre Mestre”. Voltando para Assis, dedicou-se à pregação pelas aldeias, até que pouco depois voltou definitivamente à sua terra natal.
             A partir da cátedra, do púlpito ou do confessionário, o seu apostolado era sempre intenso e fecundo. Percorreu todas as terras da Apúlia e arredores, merecendo o epíteto de “apóstolo da sua terra”. Profundo em filosofia e não menos em teologia, começou por ser leitor e prefeito de estudos no Colégio de Filosofia de Lucera. Depois foi mestre de noviços e guardião do convento, e sempre modelo de observância regular para os confrades, sendo por isso nomeado em 1721, por especial Breve de Clemente XI, ministro da Província religiosa de Santo Ângelo, que nesse tempo era muito extensa. Escreveu diversas obras de pregação, entre elas um “Quaresmal” e um “Marial”. A sua principal preocupação ao falar ao povo era fazer-se entender por todos. Por isso a sua catequese, tipicamente franciscana, era especialmente dirigida ao povo simples, pelo qual ele sentia particular atração.
              Outra característica sua foi uma inesgotável caridade para com os pobres. Entre as diversas iniciativas, promoveu o simpático costume de recolher e distribuir prendas úteis para os pobres por ocasião do Natal. Também foi notável o seu zelo sacerdotal na assistência a presos e condenados à morte, a quem acompanhava até o lugar do suplício, para os consolar nos derradeiros momentos. Neste admirável ministério da caridade antecipou-se a São José Cafasso. Mandou restaurar a bela igreja de São Francisco em Lucera, centro da sua incansável atividade sacerdotal durante 35 anos. Às pessoas de quem era diretor espiritual recomendava a devoção a Santíssima Virgem, em especial no privilégio da Imaculada Conceição.
             Aos 61 anos de idade morreu onde nascera, em Lucera, a 29 de novembro de 1742, o primeiro dia da grande novena da Imaculada. O seu corpo é venerado na igreja de São Francisco.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Beato Poncio de Faucigny, abade

            Beato Pôncio aos vinte anos de idade retirou-se para o mosteiro de Santa Maria D’Abondance dos Cônegos Regulares. Perfeito exemplo de observância regular estimulou os companheiros a escolherem e abraçarem a regra de Santo Agostinho, mesmo com devidas adaptações.
            Aumentando o número dos companheiros, construiu outro mosteiro perto de Sixt e encorajou alguns abades vizinhos a formar uma Congregação da Ordem Canonical. Morreu em 1178.

São João Berchmans, seminarista

 
 
João Berchmans nasceu em Diest (Bélgica), em 1599. De família muito humilde, teve que trabalhar como criado para pagar os seus estudos. Não pôde realizar outra coisa em sua vida do que ser estudante, caso insólito dentro da tipologia da santidade medieval e da sua concepção de santidade “heróica”
Contudo, viveu toda a vida sob o império da santidade. Cada um dos seus atos era realizado como numa competição consigo mesmo. Foi chamado “o mestre do detalhe na santidade”, Maximus in minimus” era seu lema. Assim, em Berchmans o heróico ganhou um novo sentido, ou como ele mesmo escrevia: “Minha penitência, a vida diária”
Entrou para a Companhia de Jesus em 1616 e estudava filosofia quando adoeceu, morrendo em 1621. Amorosamente fiel às regras, humilde, colega sempre alegre e gentil, estudante esforçado, tornou-se padroeiro da juventude e modelo de obediência e amor à Companhia de Jesus. Foi canonizado por Leão XIII em 1888.

São Silvestre Gozzolini, abade e fundador

            Nasceu em Osino, na Itália no ano de 1177. Estudou direito e teologia nas universidades de Bolonha e Pádua e logo foi nomeado cônego do cabido da catedral de Osino.
            Assistindo em um certo dia aos funerais de um homem ilustre, parente seu, compreendeu em que terminam as vaidades humanas. Então decidiu separar-se do mundo. Deixou tudo o que tinha e se retirou ao deserto onde se decidiu pela meditação e pela penitência.
             Mais tarde construiu no Monte Fano uma igreja em honra de São Bento e, com outros companheiros fundou uma orden religiosa beneditina, chamada de Monjes Silvestrinos.
             Célebre em santidade, morreu com quase 90 anos em 1266.
             










domingo, 25 de novembro de 2012

Beato Jacinto Serrano López, sacerdote e mártir

            


            Ficou órfão de mãe poucos meses depois de nascer e de pai aos seis anos de idade. Ingressou na Escola Apostólica de Solsona em 1913 e foi ordenado sacerdote em 1925. Enquanto estudava na Faculdade de Ciências Fisico-químicas de Valência, exerceu a profissão de professor no seminário dominicano de Calanda.
            Foi diretor da revista «Rosas y Espinas», colaborador da revista «Contemporánea» e director da «Asociación de Señoritas de la Beata Imelda», até que em 1936 se tornou Vigário Provincial da Ordem dos Pregadores (dominicanos). Nessas funções tratou de providenciar a saída para França dos demais religiosos da sua ordem, em virtude das perseguições decorrentes da Guerra Civil Espanhola.
             Em Novembro desse mesmo ano, foi detido e fuzilado no dia 25, na povoação de Puebla de Hijar, gritando nos seus momentos finais: «Viva Cristo-Rei».

Beata Elisabete Achler de Reute, virgem

           

            Elisabete nasceu em Waldsee, Württemberg, sul da Alemanha, em 25 de novembro de 1386, filha de João e Ana Achler, humildes e virtuosos pais. Ela cresceu no meio de numerosos irmãos e irmãs. Seu pai era muito respeitado na corporação dos tecelões.
             Desde jovem Elisabete se distinguiu por uma rara piedade, inocência virginal e um caráter tão doce e amável, que todos a chamavam “a Boa”, nome que a acompanhou sempre ("Gute Beth", como é conhecida na Alemanha).
             Seu confessor, o Padre Konrad Kügelin (1367-1428), dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, aconselhou-a a deixar o mundo para tomar o hábito de São Francisco na Ordem Terceira. Elisabete tinha então 14 anos. Observou a regra franciscana primeiramente em sua casa, porém, considerando os perigos que punham obstáculos à caminhada para a perfeição, abandonou seus pais e foi viver com uma piedosa terciária franciscana.
             O demônio, invejoso dos progressos de Elisabete na perfeição, a atormentava com frequência. Enquanto ela aprendia a arte de tecer, ele enredava o fio, estragava o seu trabalho, forçava-a a perder a metade do tempo reparando os danos. Elisabete lutou com paciência e perseverança.
Convento de Reute (atual)
              Em 1403, aos 17 anos, o confessor a encaminhou para uma comunidade religiosa de Reute, próximo de Waldsee, erigida com a ajuda de Jakob von Metsch, onde algumas religiosas seguiam com fervor a Regra Franciscana. Em 1406 a comunidade foi elevada a convento franciscano e as Irmãs seguiram a Regra da Ordem Terceira Franciscana.
             Elisabete, sempre doce, obediente, assídua na oração e na penitência, preferia os ofícios mais humildes da comunidade; amante da solidão, não saia do convento senão por motivos graves, tanto que a chamavam “a reclusa”. Ela se ocupava da cozinha e cuidava dos pobres que batiam na porta do convento. A sua vida de religiosa se passava sobretudo na contemplação e na participação da Paixão de Cristo.
            O demônio continuou a persegui-la sob forma terrível, porém, fortalecida com a penitência e a oração, conseguiu vencer seus artifícios. Foi atacada pela lepra, e outros sofrimentos corporais. Estas provas serviram para fazer brilhar mais sua paciência heróica, e, sem se queixar, bendizia a Deus por tudo.
             Deus, comprazido com as virtudes de sua humilde serva, favoreceu-a com êxtases e visões maravilhosas. Obteve que algumas almas do Purgatório aparecessem a seu confessor para solicitar os sufrágios e as aplicações de Santas Missas. Durante o Concilio de Constança, predisse o fim do grande Cisma do Ocidente e a eleição do Papa Martinho V.
             Jesus concedeu a ela a graça de sofrer em si mesma as dores da Paixão e de receber em seu corpo a impressão das Sagradas Chagas. Às vezes sua cabeça aparecia ferida pelos espinhos. Em meio à dor exclamava: “Graças, Senhor, porque me fazeis sentir as dores de vossa Paixão!”. As chagas apareciam somente em intervalos, porém os sofrimentos eram contínuos.
              A Beata morreu em Reute no dia 25 de novembro de 1420, aos 34 anos de idade. O seu culto se difundiu logo após a sua morte e foi confirmado pelo Papa Clemente XIII em 1766.
             O Padre Konrad Kügelin foi sempre seu diretor espiritual e logo após a sua morte escreveu uma biografia em língua latina que foi difundida em numerosas versões, inclusive na língua alemã. O relato apresentava os elementos essenciais, segundo o modelo da Vida de Santa Catarina de Siena, e serviu como base para o processo de canonização de Elisabete.
Aspecto de Reute, Alemanha
     Elisabete foi uma mística rica de dons excepcionais: teve visões, êxtases, passou três anos sem tocar em alimento e levava os estigmas. Mas sobretudo foi uma jovem do povo que seguiu as pegadas de Jesus Cristo. Ela é a única entre as místicas dos séculos XIV e XV que se tornou popular e ainda hoje é venerada.
     Sua festa é celebrada em 25 de novembro. É venerada sobretudo na Baviera, no Tirol e na Suíça; é invocada nos temporais, nos incêndios e na guerra.
 

Beata Beatriz de Ornacieux, virgem e monja

         

           Beatriz nasceu na segunda metade do século XIII no solar feudal da nobre família dos Ornacieux, nos confins do Delfinado e da Saboia (Sudeste da França). Recebeu uma rica educação cristã que a levaria, com apenas 13 anos, a abandonar para sempre o mundo para entrar na cartuxa do Monte de Santa Maria, em Parménie (Isére, França).
              Margarida d’Oingt, monja cartusiana que a conheceu, nos deixou uma vida escrita em Franco Provençal sob o titulo original: Li Via seiti Biatrix, virgina de Ornaciu A vida de Beatriz d'Ornacieux, religiosa de Parménie.
              Segundo Margarida, desde o início como monja, Beatriz se destacou pela santidade de vida. Manifestou sempre muita caridade e uma profunda humildade de coração; procurava em tudo ajudar a suas irmãs de religião e manifestou uma grande capacidade para sofrer. Sua obediência extrema e sua fidelidade à vida de oração foram outros aspectos característicos de sua vida. Nosso Senhor lhe concedeu o dom das lágrimas e em tal grau, que esteve a ponto de perder a vista em várias ocasiões. Seu grande desejo foi sempre fazer a santa vontade de Deus.            Um dia, diante do Sacrário, pedia a Nosso Senhor que a tirasse do mundo para se colocar a salvo dos contínuos ataques do demônio; porém, uma voz saída do Sacrário a proibiu desejar outra coisa a não ser fazer a vontade do Senhor. Então sentiu interiormente que seu desejo de morrer mudava em um imenso anelo de viver para a maior glória de Deus, e suplicou ao Senhor que lhe concedesse a saúde que em tantos momentos lhe faltava devido a suas numerosas enfermidades. Uma vez mais, a voz do Senhor se fez ouvir dizendo: “Recebe as consolações que te dou e não recuses os sofrimentos que te envio”. A partir de então, dirigida por estas comunicações divinas, não desejou senão aquilo que fosse da vontade de Deus, convertendo-se em um modelo de confiança e de abandono na Divina Providência.
               Amou profundamente a penitência, expressão de seu amor pela Cruz. Se entregava a prolongados jejuns e a disciplinas. Foi especialmente devota da Paixão de Cristo e se diz que ela perfurou sua mão esquerda com um cravo para recordar melhor os sofrimentos da crucifixão.
              Teve que suportar os assaltos frequentes do demônio, que em especial a tentava contra a virtude da santa pureza, colocando-a diante de representações obscenas, às quais sempre resistiu com invencível pureza de alma e de corpo. Em meio a estes ataques do inimigo e das vitórias da graça, sentia os consolos de Jesus e Maria.              Em 1301 foi enviada, com três companheiras (Luisa Allemman de Grésivaudan, Margarida de Sassenage e Ambrosina de Nerpol), a Eymeux, na diocese de Valence, para fundar um novo mosteiro. Depois outras jovens ingressaram no mosteiro, apesar da extrema pobreza em que deveriam viver.
              Beatriz faleceu em 25 de novembro de 1303, segundo outros em 1309. Quando duas das suas companheiras de fundação morreram, os seus despojos foram transportados para Parménie e conservados no Santuário dos Olivetanos até 1901. Atualmente estão no presbitério da igreja de Rancurel.
               O seu culto foi aprovado pelo papa Pio IX em 15 de abril de 1869. 
              Não obstante Beatriz ter vivido há sete séculos, o seu culto não esmoreceu: após a sua beatificação, em 1897 foi construída uma graciosa capela nos quarteirões de Bessieux, nos arredores de Eymeux. Ela fica em um belvedere que domina Isère e o antigo porto de Ouvey. A capela é rodeada de árvores do Monte Saint-Martin. A construção é até hoje local de peregrinação; todos os anos há uma procissão no primeiro domingo de setembro.
 
Capela da Beata Beatriz em Eymeux, França

sábado, 24 de novembro de 2012

Beata Ângela de São José e companheiras, virgens e mártires

           

 Francisca Honorata Lloret Martì nasceu em 16 de janeiro de 1875 em Villajoyosa (Valência), filha de Francisco e Carmem. Tendo conseguido o diploma de professora, começou a lecionar. Em 1903 entrou na Congregação da Doutrina Cristã, adotando o nome de Ângela de São José, e exerceu as funções de superiora local, secretária geral e superiora geral. Exercia esse último cargo quando sofreu o martírio com as coirmãs, na noite de 20 de novembro de 1936, na administração de Paterna.
              Eis as outras vítimas: 
1- (Orts Baldo) Maria do Sufrágio: nasceu em 9 de fevereiro de 1888 em Altea (Alicante), filha de Gaspar e Rosária. Estudou privadamente, entrando na congregação em 1922. Foi superiora local, mestra de noviças e vigária geral;
2- (Llimona Planas) Maria de Montserrat: nasceu em 2 de novembro de 1860 em Molina de Rey (Barcelona), filha de João e Maria. Entrou na congregação em 1882, pouco depois da fundação desta. Exerceu o cargo de superiora geral por 33 anos;
3- (Duart Roig) Teresa de São José: nasceu em 20 de maio de 1876 em Benifayo de Espioca (Valência), filha de José e Rosa. Entrou na congregação em 1889. Exerceu os cargos de mestra de noviças e superiora local;
4- (Ferrer Sabria) Isabel: nasceu em 15 de novembro de 1852 em Villanueva y Geltrù (Barcelona), filha de José e Mariana. Foi cofundadora da congregação em 1880. Exerceu o cargo de superiora local;
5- (Mongoche Homs) Maria da Assunção: nasceu em 12 de julho de 1859 em Ulldecona (Tarragona), filha de Pedro e Isabel. Entrou na congregação em 1885. Exerceu o cargo de superiora local;
6- (Martì Lacal) Maria Conceição: nasceu em 8 de novembro de 1861 em Carlet (Valência), filha de Vicente e Maria. Entrou na congregação em 1885;
7- (Carot) Maria Graça Paula de Santo Antônio: nasceu em 1° de junho de 1869 em Valência, filha de Vicente e Leonarda. Entrou na congregação em 1900. Dedicou-se ao ensino;
8- (Gómez Vives) Coração de Jesus: nasceu em 6 de fevereiro de 1881 em Valência, filha de João e Vicenza. Conseguiu o diploma de mestra entrando na congregação em 1906. Exerceu sempre a função de professora e foi diretora local do colégio;
9- (Jiménez Baldovi) Maria do Socorro: nasceu em 13 de março de 1885 em San Martin de Provenzals (Barcelona), filha de Jesus e Salvadora. Órfã de mãe desde a primeira infância, foi educada na casa de misericórdia. Entrou na congregação em 1907;
10- (Suris Brusola) Maria Dolores: nasceu em 17 de fevereiro de 1899 em Barcelona, filha de Gerardo e Caridade. Órfã de mãe desde a primeira infância, entrou na congregação em 1918. Se dedicou ao ensino;
11- (Pasqual Pallardo) Inácia: nasceu em 1862 (se ignora o dia, porque os arquivos paroquiais foram perdidos). Entrou na congregação em 1889;
12- (Calpe Ibenez) Maria do Rosário: nasceu em 25 de novembro de 1855 em Sueca (Valência), filha de Mariano e Leandra. Entrou na congregação em 1893, era irmã cozinheira;
 13- (Lòpez Garcìa) Maria da Paz: nasceu em 12 de agosto de 1885 em Turis (Valência), filha de Pedro e Maria. Entrou na congregação em 1911. Era irmã cozinheira e enfermeira;
 14- (Aurea Navarro) Marcela: nasceu na província de Albarete, entrando na congregação em 1934. Era dedicada ao ensino;
 15- (Amparo Rosat Balasch) Maria do Sagrado Coração: nasceu em 15 de outubro de 1873 em Mislata (Valência), filha de Emanuel e Teresa. Entrou na congregação em 1896, onde exerceu o cargo de superiora local. Exercia esta última função em Carlet, quando sofreu o martírio com Irmã Calvário, na manhã de 27 de setembro de 1936;
 16- (Romero Clariana) Maria do Calvário: nasceu em 11 de abril de 1871 em Carlet, (Valência), filha de Agostinho e Josefa. Entrou na congregação em 1892. Era irmã cozinheira e sofreu o martírio com Irmã Maria do Sagrado Coração no mesmo local e no mesmo dia.     
     Os despojos mortais das mártires (com exceção das Irmãs Maria do Sagrado Coração e Maria do Calvário) foram sepultados primeiramente no cemitério de Valência. Em 10 de maio de 1940 foram exumados, identificados e trasladados para Mislata (Valência) no cemitério local. Hoje repousam no Pantheon costruído para os mártires. O processo super fama martyrii foi levado a cabo em Valência e transferido para a Sagrada Congregação para a Causa dos Santos.
     O processo ordinário foi aberto em 20 de janeiro de 1970.