quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Padres do Deserto


Santo Antão, rogai por nós!


São Paulo de Tebas e Santo Antão.


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São Pacômio


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São Macário do Egito


Do Sermão sobre o Filho Pródigo, de Santo Agostinho, século IV.

         
 
 
         O patrimônio que o filho recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo o que Deus nos deu para que O conhecêssemos e Lhe déssemos culto. Tendo recebido este patrimônio, o filho menor "partiu para um país muito distante". Distância significa: o esquecimento de seu Criador. "Dissipou sua herança vivendo dissolutamente": gastando e não ajuntando; malbaratando tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é, consumindo toda sua capacidade em luxúria, em ídolos, em todo tipo de desejos perversos, aos que a Verdade denominou meretrizes.
         Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome. "Sobreveio àquela região uma grande fome"; fome não de pão visível mas da verdade invisível. E, por causa da fome, "foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região": entenda-se o diabo, o senhor dos demônios. Alimentava-se então das vagens de porcos sem poder saciar-se. Vagens são as vistosas doutrinas do mundo: servem para ostentar mas não para sustentar; alimento digno para porcos, mas não para homens: próprias para dar aos demônios deleitação, mas não aos fiéis justificação.
         Até que, por fim, tomou consciência do lugar em que tinha caído; do quanto tinha perdido; Quem tinha ofendido e a quem se tinha submetido. Reparai no que diz o Evangelho: "Entrando em si..."; primeiramente, voltou-se para si e só assim pôde voltar para o pai. Dizia talvez: "O meu coração me abandonou (isto é: saí de mim mesmo)" (Sl 40,13); daí que fosse necessário, antes, voltar para si mesmo e assim perceber que se encontrava longe do pai. É o que diz a Escritura quando increpa a alguns, dizendo: "Voltai, pecadores, ao coração! (isto é: voltai, pecadores, a vós mesmos!)" (Is 46,8). Voltando para si mesmo, encontrou-se miserável: "Encontrei, diz ele, a tribulação e a dor e invoquei o nome do Senhor" (Sl 116,3-4). "Quantos empregados, diz ele, há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome!"
         Levantou-se e voltou. Ele, caído por terra depois de contínuos tropeços. O pai o vê ao longe e sai-lhe ao encontro. É dele que fala o Salmo: "Entendeste meus pensamentos de longe" (Sl 139,2). Que pensamentos? Aqueles que o filho tinha em seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados". Ele ainda nada tinha dito, só pensava em dizer. O pai, porém, ouvia como se o filho já o estivesse dizendo.
        E assim se diz em outro Salmo: "Eu disse: confessarei minha iniqüidade ao Senhor" (Sl 32,5). Vede como se trata ainda de algo interior a ele, de um mero projeto e, contudo, acrescenta imediatamente: "E tu já perdoaste a impiedade de meu coração" (Sl 32,5). Quão próxima está a misericórdia de Deus daquele
que se confessa!
        E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera ao pecar. Tendo recebido o filho em paz, tendo-o beijado, ordena que lhe dêem uma veste: a esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena que lhe dêem um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que sejam formosos os pés dos que anunciam a boa nova.
        Estas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja. Acaso eles podem, por si próprios, dar veste, anel e calçados? Não, apenas cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo depósito e de cujo tesouro são extraídos estes dons.

Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)

 
 
 
 
Seis condições para a oração correta
 
          Vamos agora falar do método para rezar corretamente, necessário para a arte de viver corretamente e, por conseqüência, morrer corretamente. Comecemos pelo que diz o Senhor: Pedi e se vos dará. Buscai e achareis (Mt 7,7). São Tiago, em sua epístola, explica que a frase deve ser compreendida com uma condição: se nós pedirmos propriamente: Pedis e não recebeis, porque pedis mal (Tg 4,3). Devemos entender da seguinte maneira: aquele que pedir os dons para viver de maneira justa, sem dúvida será atendido; e aquele que pedir por perseverança na vida até a sua morte, e pedir por uma morte feliz, também com certeza obterá. Portanto, nós explicaremos as condições da oração, para que saibamos rezar bem, viver bem e morrer bem.
         A primeira condição é a fé, de acordo com as palavras do apóstolo: Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? (Rm 10,14a), com as quais São Tiago concorda: mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação (Tg 1,6a). Mas a necessidade de fé não deve ser entendida como se fosse importante acreditar que Deus deva certamente atender ao que é pedido, pois neste caso nossa fé seria provada falsa e então não obteríamos nada. Devemos acreditar que Deus é mais poderoso, mais sábio e mais digno de fé; e que Ele sabe, que tem poder e está preparado para atender nossos pedidos, se entendê-lo apropriado e útil para nós, receberemos o que pedimos. Esta fé Cristo pediu aos dois homens cegos que curou: Credes que eu posso fazer isso? (Mt 9, 28) Com a mesma fé Davi rezou pelo seu filho adoentado, como provam suas palavras, pois ele acreditava não ser seguro que Deus atenderia suas preces, mas que somente Deus seria capaz de conceder tal graça: Quem sabe, talvez o Senhor terá pena de mim e o menino ficará bom? (2Sm 12,22) Disto não se pode duvidar. Com a mesma fé o apóstolo Paulo rezou para se livrar de um "espinho na carne". Pois o apóstolo rezou com fé, e sua fé não era falsa se ele acreditava que Deus poderia lhe conceder a cura que pedia, embora não tenha obtido o que pedia. E com a mesma fé a Igreja pede por todos heréticos, pagãos, cismáticos e maus cristãos que possam ser converter, e, no entanto, é certo que nem todos se converterão.
         Outra condição muito necessária para rezar é a esperança. Pois ainda que pela fé, que é conseqüência da compreensão, nós não acreditemos que Deus atenderá nossos pedidos; pela esperança, que é um ato de desejo, podemos firmemente nos apoiar na bondade divina e termos confiança que Deus poderá nos atender. Esta condição Deus requer do paralítico, para quem diz: Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados (Mt 9,2). O mesmo pede o apóstolo para todos, quando diz: Aproximemo-nos, pois, confiantemente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno (Heb 4,16). E muito antes dele, o profeta apresenta Deus, falando: Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele (Sl 90,15). Mas como a esperança brota da fé perfeita, quando a Escritura requer fé nas grandes coisas, ela acrescenta algo sobre esperança. Assim lemos em São Marcos: Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre (Mc 11,23). Que a fé produz confiança, podemos entender destas palavras do apóstolo: mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas (1Co 13,2b). João Cassiano escreve em seu Tratado sobre a Oração que um sinal certo que nossos pedidos serão atendidos, ocorre quando em oração, nós não duvidamos que Deus certamente nos atenderá, e não hesitamos de nenhuma maneira, mas derramos nossas orações com alegria espiritual.
         A terceira condição é a caridade, pela qual nos libertamos dos pecados; pois os amigos de Deus obtém os seus dons. Assim fala Davi em um Salmo: Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores (Sl 33,15). e em outro: Se eu intentasse no coração o mal, não me teria ouvido o Senhor (Sl 65, 18).  E no Novo Testamento, o Senhor mesmo confirma: Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito (Jo 15,7). E o amado discípulo fala: Caríssimos, se a nossa consciência nada nos censura, temos confiança diante de Deus, e tudo o que lhe pedirmos, receberemos dele porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável a seus olhos (1Jo 3,21-22).
        Isto não é contrário à doutrina. Quando o publicano suplica por perdão de seus pecados, ele retorna para casa "justificado"; pois um pecador arrependido não obtém perdão por ser pecador, mas por estar arrepedido; pois como pecador ele é inimigo de Deus; como penitente, amigo de Deus. Aquele que peca, desagrada a Deus; mas quem se arrepende de seus pecados, faz o que mais agrada ao Senhor.
         A quarta condição é a humildade, pela qual o suplicante, confia não em sua própria justiça, mas na bondade de Deus: Fui eu quem fez o universo, e tudo me pertence, declara o Senhor. É o angustiado que atrai meus olhares, o coração contrito que teme minha palavra (Is 66,2). E o Livro do Eclesiástico acrescenta: A oração do humilde penetra as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar (a Deus), e não se afastará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos (Eclo 35,21).
         A quinta condição é a devoção, pela qual não devemos rezar de maneira negligente, como muitos costumam fazer, mas com atenção, sinceridade, diligência e fervor. Nosso Senhor severamente adverte aqueles que rezam apenas com os lábios. Assim Ele nos fala em Isaias: O Senhor disse: Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim (Is 29, 13). Esta virtude é fruto de uma fé viva e consiste não apenas no hábito de orar, mas na ação. Para aqueles que com fé firme e atenção consideram a grandeza de Sua Majestade Nosso Senhor, quão grande é nossa insignificância, e como são importantes nossos pedidos, não pode fazer diferente que rezar com grande humildade, reverência, devoção e fervor.
        Aqui devemos acrescentar o testemunho importante de dois santos padres. São Jerônimo escreve: começo pela oração: não devo orar se não acreditar; mas se eu tiver fé verdadeira, este coração, que Deus vê, posso limpá-lo; posso bater no peito, posso molhar minhas faces com minhas lágrimas, posso negligenciar toda atenção ao meu corpo e tornar-me fraco; posso me jogar aos pés do meu Senhor, molhá-los com minhas lágrimas e secá-los com meus cabelos; me apoiar na cruz, e não abandoná-la enquanto não obtiver misericórdia. Porém mais frequentemente durante minhas orações encontro-me caminhando pela cidade e sendo levado por pensamentos maus, entretenho-me em coisas das quais me envergonho de falar. Onde está nossa fé? Supomos que Jonas rezou assim? Os três jovens? Daniel na cova dos leões? Ou o bom ladrão na cruz? 
         São Bernardo, no seu Sermão sobre os Quatro Métodos da Oração, escreve: sobretudo nos impele, durante o tempo de oração, entrar no quarto celestial, no qual o Rei dos Reis encontra-se sentado em seu trono, cercado por inumerável e glorioso exército de almas abençoadas. Com tal reverência, tal temor, tal humildade, nos aproximamos com pó e cinzas, nós que não somos nada além de pequenos insetos rastejantes. Com tal temor, seriedade, atenção e solicitude deve tão miserável homem estar próximo da divina majestade, na presença de anjos, na assembléia dos justos? Em todas nossas ações temos necessidade de vigilância, especialmente na oração.
         A sexta condição é a perseverança, que nosso Senhor em duas parábolas recomenda: uma sobre o amigo importuno que pede dois pães em um horário inconveniente, no meio da noite, e recebe pela sua perserverança (Lc 11,5-8); outra sobre a viúva que pede sem esmorecer para que o juiz a livre de seu adversário; e o juiz, embora sendo iníquo, homem que não temia nem Deus nem os homens, sobrepujado pela perseverança da mulher, livrou-a de seu inimigo. Destes exemplos o Senhor conclui, que muito mais perseverantes devemos ser na oração a Deus, porque ele é justo e misericordioso. E São Tiago completa: Deus concede generosamente a todos, sem recriminações (Tg 1,5). Ou seja, ele concede seus dons liberalmente a todos que pedem, e "sem recriminações" por serem inoportunos, pois Deus não tem limites em suas riquezas nem em sua misericórdia. 

 

Das Instruções de São Columbano, abade

São Columbano
 
 
Quem tem sede venha a mim e beba
 
          Irmãos caríssimos, prestai ouvidos ao que vamos dizer como a algo de necessário. Contentai a sede de vossas almas nas águas da fonte divina, sobre a qual desejamos falar, mas não a extingais; bebei, mas não vos sacieis. Chama-nos a si a fonte viva, a fonte da vida e diz: Quem tem sede venha a mim e beba (Jo 7,37).
        Entendei o que bebeis. Diga-vos Jeremias, diga-vos a própria fonte: Abandonaram-me a mim, fonte de água viva, diz o Senhor (Jr 2,13). O próprio Senhor, nosso Deus, Jesus Cristo, é a fonte da vida; por isso nos convida a irmos a ele, fonte, para o bebermos. Bebe-o quem ama; bebe quem se sacia com a palavra de Deus; quem muito ama, muito deseja; bebe quem arde de amor pela sabedoria.
       Vede donde mana esta fonte: do mesmo lugar donde desceu o pão. Pão e fonte são o mesmo, o filho único, nosso Deus, o Cristo Senhor, de quem devemos ter sempre fome. Comemo-lo, amando; devoramo-lo desejando e, no entanto, famintos, desejemo-lo ainda. Da mesma forma, qual água de uma fonte; bebamo-lo sempre pela plenitude do desejo e deleiteoomo-nos com a suavidade de sua particular doçura.
        Pois é doce e suave o Senhor; por mais que o comamos e bebamos, estamos sempre sedentos e famintos, porque nosso alimento e bebida nunca se podem tomar e beber totalmente; tomando, não se consome, bebido não acaba, pois nosso pão é eterno, nossa fonte é perene, nossa fonte é doce. Eis a razão por que diz o Profeta: Vós que tendes sede, ide à fonte (Is 55,1). É fonte dos sedentos, não dos saciados. Por isto chama a si sedentos, que em outro lugar declara felizes, aqueles que nunca bebem bastante, mas quanto mais sorvem, tanto mais têm sede.
        Irmãos, é justo que a fonte da sabedoria, o Verbo de Deus nas alturas (Eclo 1,5 Vulg.), sempre seja desejada, buscada, amada por nós; estão escondidos, segundo as palavras do Apóstolo, todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2,3), e chama quem tem sede a deles tomar.
        Se tens sede, bebe da fonte da vida; se tens fome, come o pão da vida. Felizes os que têm fome deste pão e sede desta fonte. Sempre comendo e sempre bebendo, ainda desejam comer e beber. Porque é imensamente doce aquilo que sempre se saboreia e sempre se deseja mais. O rei profeta já dizia: Saboreai e vede quão doce, quão suave é o Senhor (Sl 33,9).

São Raimundo Nonato, religioso




          Raimundo nasceu em Portell, na Catalunha, Espanha, em 1200. Seus pais eram nobres, porém não tinham grandes fortunas. O seu nascimento aconteceu de modo trágico: sua mãe morreu durante os trabalhos de parto, antes de dar-lhe à luz. Por isso Raimundo recebeu o nome de Nonato, que significa não-nascido de mãe viva, ou seja, foi extraído vivo do corpo sem vida dela.
Dotado de grande inteligência, fez com certa tranqüilidade seus estudos primários. O pai, percebendo os dotes religiosos do filho, tratou de mandá-lo administrar uma pequena fazenda de propriedade da família. Com isso, queria demovê-lo da idéia de ingressar na vida religiosa. Porém as coisas aconteceram exatamente ao contrário.
Raimundo, no silêncio e na solidão em que vivia, fortificou ainda mais sua vontade de dedicar-se unicamente à Ordem de Nossa Senhora das Mercês, fundada por seu amigo Pedro Nolasco, agora também santo. A Ordem tinha como principal finalidade libertar cristãos que caíam nas mãos dos mouros e eram por eles feitos escravos. Nessa missão, dedicou-se de coração e alma.
Apesar da dificuldade, conseguiu o consentimento do pai e, finalmente, em 1224, ingressou na Ordem, recebendo o hábito das mãos do próprio fundador. Ordenou-se sacerdote e seus dotes de missionário vieram à tona, dedicando-se nessa missão de coração e alma. Por isso foi mandado em missão à Argélia, norte da África, para resgatar cristãos das mãos dos muçulmanos. Conseguiu libertar cento e cinqüenta escravos e devolvê-los às suas famílias.
Quando se ofereceu como refém, sofreu no cativeiro verdadeiras torturas e humilhações. Mas mesmo assim não abandonou seu trabalho. Levava o conforto e a Palavra de Deus aos que sofriam mais do que ele e já estavam prestes a renunciar à fé em Jesus. Muitas foram as pessoas convertidas por ele, o que despertou a ira dos magistrados muçulmanos, os quais mandaram que lhe perfurassem a boca e colocassem cadeados, para que Raimundo nunca mais pudesse falar e pregar a doutrina de Cristo.
Raimundo sofreu durante oito meses essa tortura até ser libertado, mas com a saúde abalada. Quando chegou à pátria, na Catalunha, em 1239, logo foi nomeado cardeal pelo papa Gregório IX, que o chamou para ser seu conselheiro em Roma. Empreendeu a viagem no ano seguinte, mas não conseguiu concluí-la. Próximo de Barcelona, na cidade de Cardona, já com a saúde debilitada pelos sofrimentos do cativeiro, Raimundo Nonato foi acometido de forte febre e acabou morrendo, em 31 de agosto de 1240, quando tinha, apenas, quarenta anos de idade.
Raimundo Nonato foi sepultado naquela cidade e o seu túmulo tornou-se local de peregrinação, sendo, então, erguida uma igreja para abrigar seus restos mortais. Seu culto propagou-se pela Espanha e pela Europa, sendo confirmado por Roma em 1681. São Raimundo Nonato, devido à condição difícil do seu nascimento, é venerado como Padroeiro das Parturientes, das Parteiras e dos Obstetras.


São Raimundo Nonato, rogai por nós!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Beato Ildefonso Schuster


Corpo do Beato Alfredo Ildefonso Schuster

          Monge beneditino de Roma, cardeal arcebispo de Milão de 1929 até sua morte, sobrevinda em 30 de agosto de 1954.
         Estudioso e asceta, realizou uma profunda síntese entre contemplação e  ação. "Ele foi, por um quarto de século", disse o Papa Roncalli, "a ilustração mais conhecida e admirada do glorioso binômio ora et labora".
         Autêntico pastor, governou a diocese ambrosiana em um dos períodos mais dramáticos de sua história. Foi beatificado em 12 de maio de 1996.

São Félix e Santo Adauto, 287-303



Poucos são os registros encontrados sobre Félix e Adauto, que são celebrados juntos no dia de hoje. As tradições mais antigas dos primeiros tempos do cristianismo narram-nos que eles foram perseguidos, martirizados e mortos pelo imperador Diocleciano no ano 303.
A mais conhecida diz que Félix era um padre e tinha sido condenado à morte por aquele imperador. Mas quando caminhava para a execução, foi interpelado por um desconhecido. Afrontando os soldados do exército imperial, o estranho declarou-se, espontaneamente, cristão e pediu para ser sacrificado junto com ele. Os soldados não questionaram. Logo após decapitarem Félix, com a mesma espada decapitaram o homem que tinha tido a ousadia de desafiar o decreto do imperador Diocleciano.
Nenhum dos presentes sabia dizer a identidade daquele homem. Por isso ele foi chamado somente de Adauto, que significa: adjunto, isto é "aquele que recebeu junto com Félix a coroa do martírio".
Ainda segundo as narrativas, eles foram sepultados numa cripta do cemitério de Comodila, próxima da basílica de São Paulo Fora dos Muros. O papa Sirício transformou o lugar onde eles foram enterrados numa basílica, que se tornou lugar de grande peregrinação de devotos até depois da Idade Média, quando o culto dedicado a eles foi declinando.
O cemitério de Comodila e o túmulo de Félix e Adauto foram encontrados no ano de 1720, mas vieram a ruir logo em seguida, sendo novamente esquecidos e suas ruínas, abandonadas. Só em 1903 a pequena basílica foi definitivamente restaurada.
Esses martírios permaneceram vivos na memória da Igreja Católica, que dedicou o mesmo dia a são Félix e santo Adauto para as comemorações litúrgicas. Algumas fontes, mesmo, dizem que os dois santos eram irmãos de sangue.

Santa Margarida Ward e companheiros, mártires ingleses

CONTEXTO HISTÓRICO

          No Ato de Supremacia, de 1534, na Inglaterra, constava que o Rei era o chefe supremo da Igreja da Inglaterra, podendo examinar, reprimir, corrigir erros, heresias, abusos, ofensas e irregularidades, a fim de conservar a paz, a unidade e a tranquilidade do Reino.
        A evoluçao da Igreja, na Inglaterra, oscilou entre Luteranismo, Calvinismo e Catolicismo. Com Elizabeth I a Igreja Anglicana adquiriu definitivamente suas características. Durante a consolidação dos Estados nacionais, a intolerância religiosa se apoiou no pensamento de que a religião do povo deveria ser a religião do príncipe.
        Houve intolerâncias por parte de católicos e de protestantes. Se, de um lado, se fala de Inquisição, de outro se pode falar, por exemplo, que o teólogo Michel Servet foi queimado vivo, em 1553, em Genebra, por instigação de Calvino, e que os católicos foram perseguidos na Inglaterra até o século 19, não gozando de direitos políticos. Nesse ambiente viveu Santa Margarida Ward e seus companheiros.
        Ao longo do século XVI ocorreram diversas guerras e perseguições supostamente religiosas. Mas a religião foi mais pretexto, pois os verdadeiros motivos eram posse e dominação.

A SANTA

        Entre 1535 e 1681 a Inglaterra teve 340 pessoas martirizadas. Margarida Ward, britânica, era de família nobre. Ela foi presa, juntamente com seu criado irlandês, João Roche, por ter facilitado a fuga do Pe. Ricardo Watson, que estava sendo perseguido. O ano era 1588. Foi-lhes oferecida a liberdade se pedissem perdão à rainha Elizabeth e denunciassem o esconderijo do sacerdote. Tendo-se recusado a isso, eles foram acusados de traição. Por isso foram enforcados e esquartejados em Tyburn.
        Paulo VI canonizou 40 mártires ingleses em 25 de outubro de 1970. Entre eles está Margarida Ward, essa nobre de Congleton, no condado de Cheshire.
      Junto com ela foram martirizados ainda o beato Eduardo Shelley, um nobre de Warminghurst, no condado de Sussex, e o beato Ricardo Martin, outro nobre de Shropshire, graduado na Universidade de Oxford. Os três foram enforcados pelo mesmo delito.

Santa Sabina


Basílica de Santa Sabina, Roma

Interior da Basílica de Santa Sabina

         Ela era uma rica e nobre senhora que viveu no terceiro século em Roma. Convertida ao cristianismo pelo seu servo  de nome Serapião, ela era um modelo de  caridade e obediência e converteu vários de seus amigos e servos.
        No inicio da perseguição do imperador Adriano, Berylus governador da província  prendeu  Sabia e Serapião. Serapião foi morto a  pauladas e Sabina foi torturada para renegar a sua fé e oferecer  sacrifícios aos deuses romanos. Como não o fizesse foi martirizada em Roma.
         Os atos de seu martírio são autênticos e provam que ela foi de verdade uma mártir e vários estudos mais tarde feito pelos Ballandistas confirmaram este fato, assim uma Basílica foi erigida e dedicada a ela em Roma no ano de 430 e uma das Estações da Paixão foi dedicada a ela.
         Alguns dizem que ela deu  sua casa para os cristãos para ser usada como uma igreja e mais tarde o local  passou a ser um local de peregrinação e vários milagres teriam sido creditados  a sua intercessão .
         Assim, neste mesmo local foi erigida a  já citada basílica. São Domingos estudou com carinho e dedicação a sua vida e tinha  uma especial devoção Santa Sabina.
        Na arte litúrgica da Igreja ela é mostrada:
1) dando esmola a um aleijado, ou
2) como uma princesa com um livro e a palma do martírio e
3) com anjos .
       Ela é padroeira de Roma e é também a padroeira das crianças que têm dificuldade em andar. É invocada contra as hemorragias.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Martírio de São João Batista



         Quando São João Batista, o preclaro Precursor do Messias abandonou o deserto, para onde se tinha retirado, por inspiração do Espírito Santo, foi para o rio Jordão, onde começou a batizar e pregar a penitência, preparando desta maneira o terreno para a nova doutrina do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.  
         Abusos e vícios detestáveis tinham se aninhado na sociedade Judaica e  São João Batista se propôs a verberá-los energicamente. À testa do governo estava o rei Herodes, cognominado Antipas, filho daquele outro Herodes, por cuja ordem foram assassinados os inocentes de Belém. É o mesmo Herodes Antipas, que figura na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois ao tribunal desse monarca que Pôncio Pilatos mandou Nosso Senhor, que de Herodes só ouviu escárnios e cujos soldados lhe vestiram a túnica branca. 
         Herodes antipas vivia escandalosamente, tendo raptado Herodíades, esposa de seu irmão Felipe. Essa união ilícita era um mau exemplo e grave escândalo para a nação inteira. Não havia quem se sentisse com coragem de censurar o monarca e chamá-lo à ordem. São João Batista, porém,  não podia ver tal coisa, de braços cruzados. 
         O Evangelho diz que Herodes se sentiu atraído pela personalidade extraordinária  do Batista,  e  com agrado lhe ouvia as instruções. Diz mais que São João lhe declarou, com toda franqueza: "Não te é lícito viver com a mulher do teu irmão". O que o rei respondeu, o Evangelho não conta; mas podemos crer que Herodes recebeu muito mal a declaração do profeta; tão mal que ponderou as possibilidades de livrar-se de tão incômodo e importuno monitor. Se não deu passo nesse sentido, foi porque temia o povo que a São João grande veneração dedicava. Mais ofendida se sentiu a mulher, que tanto fez, tanto instigou, que o rei se decidiu a encarcerar o Santo Precursor. Na prisão, João recebia as visitas dos discípulos, que ávidos ouviam as instruções do mestre. Alguns deles foram, em comissão, enviados ao Divino Mestre, para lhe dirigir esta pergunta: "És Tu o que há de vir ou devemos por um outro esperar?".  São João mandou fazer a Jesus esta pergunta, não porque duvidasse da sua divindade e missão messiânica,  mas para que os discípulos tivessem ocasião de  conhecer e presenciar as maravilhas por Ele feitas.  
          É de opinião dos Santos Padres que a prisão de São João se efetuara em dezembro, tendo o Santo ficado encarcerado até agosto do ano seguinte. Era em agosto que Herodes festejava pomposamente o seu aniversário natalício. Ao suntuoso banquete estavam presentes muitos convivas, entre estes os Príncipes da Galiléia.  Fazia parte do programa uma dança oriental executada pela filha de Herodíades, chamada Salomé.  Tão bem a jovem desempenhou o papel de dançarina, que Herodes, para lhe mostrar seu contentamento, prometeu dar-lhe tudo o que pedisse, ainda que fosse a metade do reino. Esta promessa, tão levianamente emitida, o rei ainda a confirmou com um juramento. Salomé, tão admirada quão perplexa, diante dessa inesperada liberalidade do monarca, foi ter com a mãe, para saber o seu parecer. Herodíades achou chegado o momento de livrar-se do odiado profeta, e nenhum instante hesitou. "Vai disse à filha resolutamente e pede a cabeça de João Batista". Sem pestanejar e afoitamente, a leviana dançarina transmitiu a ordem da mãe ao Rei e disse-lhe em voz alta, para que todos pudessem ouvir: "Quero que me dês num prato, a cabeça de João Batista". Ao ouvir um pedido tão bárbaro e desapiedado, Herodes apavorou-se mas, não querendo desapontar a moça e lembrando-se do juramento que fizera, anuiu e mandou o algoz ao cárcere onde João se achava. A ordem de decapitá-lo foi cumprida imediatamente e pouco momento depois, Salomé teve satisfeito o seu desejo: a cabeça de João Batista, apresentada num prato.
            Os discípulos, logo que souberam do crime, retiraram o corpo do querido mestre do cárcere e deram-lhe honroso enterro. 
            Os assassinos não escaparam da vingança de Deus. O Rei da Arábia, cuja filha, esposa de Herodes, por este tirano tinha sido repudiada, abriu campanha contra o adúltero, venceu-o e exilou-o. O imperador de Roma, por sua vez, desterrou-o para Lion, na Gália. Assim, abandonado por todos, fugiu com Herodíades para a Espanha, onde ambos morreram na maior miséria. Consta que Salomé,  ao atravessar em pleno e regiroso inverno um rio coberto de gelo, este cedeu e os pedaços de gelo, chocando-se um contra o outro, cortaram-lhe a cabeça. 
            O martírio de São João se deu um ano antes da morte de Nosso Senhor. O corpo do Santo foi enterrado na Samaria. Seu túmulo foi profanado em 362 pelos pagãos. Piedosos monges salvaram pequenos restos que foram entregues a Santo Atanásio, em Alexandria. 
            A cabeça de São João Batista foi encontrada em Emese, na Síria em 453 e é hoje a relíquia mais insigne da catedral de Breslau. 

Santo Agostinho: Tarde te amei...

        Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu Te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das Tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava Contigo. Retinham-me longe de Ti as Tuas criaturas, que não existiriam se em Ti não existissem. Tu me chamaste, o Teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e Tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste a Tua fragrância e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu Te saboreei, e agora tenho fome e sede de Ti. Tu me tocaste e agora estou ardendo no desejo da Tua paz.
        Quando estiver unido a Ti com todo o meu ser, não mais sentirei dor ou cansaço. A minha vida será verdadeiramente vida, toda plena de Ti. Tu alivias aqueles a quem plenamente satisfazes. Não estando ainda repleto de Ti, sou um peso para mim mesmo. As minhas alegrias, que deveriam ser choradas, contrastam em mim com as tristezas, que deveriam causar-me júbilo, e ignoro de que lado está a vitória. Falsas tristezas pelejam em mim contra as verdadeiras alegrias, e não sei quem vencerá. Ai de mim! «Tem piedade de mim, Senhor!» (Sl 30, 10). Ai de mim! Vês que não escondo as minhas chagas. Tu és o médico, eu sou o enfermo. Tu és misericordioso e eu sou miserável.

Confissões de Santo Agostinho, Capítulo XXXI: A intemperança

          O dia me traz novo pecado, e oxalá fosse o único! Comendo e bebendo, restauramos as diuturnas perdas de nosso corpo, até o dia em que destruirás o alimento e o estômago, matando minha necessidade com uma maravilhosa saciedade, e revestindo este corpo corruptível de eterna incorruptibilidade.
          Mas por ora esta necessidade me é grata, e luto contra essa delícia, para que não me domine; é uma guerra cotidiana que sustento com jejum, reduzindo meu corpo à escravidão. Mas minhas dores são eliminadas pelo prazer, porque a fome e a sede são sofrimentos: queimam e matam como a febre se os alimentos não lhe põem remédio. Mas como esse remédio está sempre à nossa disposição, graças à liberdade de teus dons que põe à disposição de nossa fraqueza a terra, a água e o céu, nossas misérias recebem por nós o nome de delícias. 
          Tu me ensinaste a considerar os alimentos como remédios. Mas quando passo dessa penosa necessidade à paz da saciedade, nessa passagem a concupiscência arma para mim sua cilada. Esta passagem é prazerosa, e não há outra para se chegar onde a necessidade nos obriga. A razão do beber e do comer é a conservação da saúde; mas um prazer insidioso acompanha como lacaio essas funções, e sempre tenta tomar a dianteira, de modo que faço pelo prazer o que digo fazer por minha saúde. 
         Ora, a medida do prazer não é a mesma da saúde; o que é bastante para a saúde não o é para o prazer, e muitas vezes é difícil discernir se é o cuidado com o corpo que pede reforço de alimento, ou se é a gula que nos engana e quer ser servida. Essa incerteza alegra nossa pobre alma, feliz por ter encontrado um álibi e uma desculpa na impossibilidade de determinar o que basta para o cuidado com a saúde, e sob o pretexto da sua conservação esconde a busca do prazer. Esforço-me para resistir a essas tentações diárias, e invoco tua mão para me socorrer. A ti confesso minha incerteza, porque sobre este ponto meu juízo ainda não é firme. 
         Ouço a voz de meu Deus que ordena: “Não se façam pesados vossos corações com a intemperança e embriaguez”. A embriaguez está longe de mim; que tua misericórdia não a deixe se aproximar. Mas a intemperança, ao contrário, chega às vezes a arrastar teu servo. Tua misericórdia há de afastá-la de mim, porque ninguém pode ser temperante senão por tua graça. 
        Muitas coisas nos concedes quando te invocamos, e todo o bem que recebemos, mesmo antes de o pedir, é a ti que sempre o devemos. E o ato mesmo de reconhecermos que esses dons são teus, é ainda graça tua. Nunca estive embriagado, mas conheci muitos, dados a esse vicio, que se tornaram sóbrios por tua graça. Assim, é graças a ti que alguns não são o que nunca foram; e também é graças a ti que outros não são mais o que foram; e é graças a ti, enfim, que estes e aqueles sabem a quem devem essa graça. 
        Ouvi ainda de ti outra palavra: “Não corras atrás de tuas concupiscências, e reprime teus apetites” – Tua graça ainda me fez ouvir outra palavra, de que tanto gostei: “Se comemos, não teremos abundância; e se não comemos, não sofreremos privação”. – Ou seja: nem isto me fará rico, nem aquilo pobre. – E ouvi ainda esta outra: “Aprendi a me contentar com o que tenho: sei viver na abundância e suportar a penúria. Tudo posso naquele que me fortalece”. – Eis como fala o bom soldado da milícia celeste: nada parecido ao pó que somos. Mas, Senhor, lembra-se que somos pó, e que de pó fizeste o homem; que este havia se perdido, e que foi reencontrado.
       Por si mesmo, formado do mesmo pó que nós, nada podia aquele cujas palavras inspiradas tanto amei: “Tudo posso naquele que me fortalece” – Concede-me forças, para que eu possa. Dá-me o que mandas, e manda o que quiseres. Paulo confessa que tudo recebeu de ti, e, quando se gloria, é no Senhor que ele se gloria. 
       Ouvi também outro que te pedia esta graça: “Afasta de mim a intemperança”. – De onde se conclui claramente, ó Deus santo, que dás a força de cumprir o que mandas. 
  “Tu me ensinaste, Pai bondoso, que tudo é puro para os puros, mas que é mau para o homem comer com escândalo, que tudo o que fizeste é bom, e que nada deve ser rejeitado do que se recebe com ação de graças; que os alimentos não nos recomendam a Deus, que ninguém nos deve julgar pela comida ou pela bebida; que o que come não deve julgar o que não come”. – Por essas lições, graças e louvores te dou, meu Deus, meu Mestre, que bateste à porta de meus ouvidos e iluminaste meu coração. Livra-me de toda tentação. Não receio a impureza dos alimentos, mas a impureza do prazer.   Sei que Noé teve permissão de comer toda espécie de carne que pudesse servir de alimento, e que Elias comeu carne para reparar as forças; sei que João Batista, asceta admirável, não se manchou com os animais – os gafanhotos – de que se alimentava. Todavia eu sei que Esaú deixou-se enganar pelo desejo de um prato de lentilhas; que Davi se repreendeu a si mesmo por ter desejado água; que nosso Rei foi submetido à tentação, não de carne, mas de pão. Por isso o povo foi justamente repreendido no deserto, não por ter desejado comer carne, mas porque o desejo o fez murmurar contra o Senhor. 
         Exposto a estas limitações, luto diuturnamente contra a concupiscência do comer e do beber, pois não é coisa que possa cortar de uma vez por todas, apenas com o propósito de nunca mais recair, como fiz com a luxúria. É uma rédea imposta a meu paladar, ora para afrouxá-la, ora para retesá-la. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de fato grande, e deve engrandecer teu nome. eu porém não sou desse número, porque sou pecador. Contudo, também, eu engrandeço teu nome, e Aquele que venceu o mundo intercede junto a ti por meus pecados. Conta-me entre os membros enfermos de seu corpo, porque teus olhos viram minhas imperfeições e porque todos serão inscritos em teu livro. 

Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja


Aurélio Agostinho nasceu, no dia 13 de novembro de 354, na cidade de Tagaste, hoje região da Argélia, na África. Era o primogênito de Patrício, um pequeno proprietário de terras, pagão. Sua mãe, ao contrário, era uma devota cristã, que agora celebramos, como santa Mônica, no dia 27 de agosto. Mônica procurou criar o filho no seguimento de Cristo. Não foi uma tarefa fácil. Aliás, ela até adiou o seu batismo, receando que ele o profanasse. Mas a exemplo do provérbio que diz que "a luz não pode ficar oculta", ela entendeu que Agostinho era essa luz. 
Aos dezesseis anos de idade, na exuberância da adolescência, foi estudar fora de casa. Na oportunidade, envolveu-se com a heresia maniqueísta e também passou a conviver com uma moça cartaginense, que lhe deu, em 372, um filho, Adeodato. Assim era Agostinho, um rapaz inquieto, sempre envolvido em paixões e atitudes contrárias aos ensinamentos da mãe e dos cristãos. Possuidor de uma inteligência rara, depois da fase de desmandos da juventude centrou-se nos estudos e formou-se, brilhantemente, em retórica. Excelente escritor, dedicava-se à poesia e à filosofia.
Procurando maior sucesso, Agostinho foi para Roma, onde abriu uma escola de retórica. Foi convidado para ser professor dessa matéria e de gramática em Milão. O motivo que o levou a aceitar o trabalho em Milão era poder estar perto do agora santo bispo Ambrósio, poeta e orador, por quem Agostinho tinha enorme admiração. Assim, passou a assistir aos seus sermões. Primeiro, seu interesse era só pelo conteúdo literário da pregação; depois, pelo conteúdo filosófico e doutrinário. Aos poucos, a pregação de Ambrósio tocou seu coração e ele se converteu, passando a combater a heresia maniqueísta e outras que surgiram. Foi batizado, junto com o filho Adeodato, pelo próprio bispo Ambrósio, na Páscoa do ano de 387. Portanto, com trinta e três e quinze anos de idade, respectivamente.
Nessa época, Agostinho passou por uma grande provação: seu filho morreu. Era um menino muito inteligente, a quem dedicava muita atenção e afeto. Decidiu, pois, voltar com a mãe para sua terra natal, a África, mas Mônica também veio a falecer, no porto de Óstia, não muito distante de Roma. Depois do sepultamento da mãe, Agostinho prosseguiu a viagem, chegando a Tagaste em 388.
Lá, decidiu-se pela vida religiosa e, ao lado de alguns amigos, fundou uma comunidade monástica, cujas Regras escritas por ele deram, depois, origem a várias Ordens, femininas e masculinas. Porém o então bispo de Hipona decidiu que "a luz não devia ficar oculta" e convidou Agostinho para acompanhá-lo em suas pregações, pois já estava velho e doente. Para tanto ele consagrou Agostinho sacerdote e, logo após a sua morte, em 397, Agostinho foi aclamado pelo povo como novo bispo de Hipona.
Por trinta e quatro anos Agostinho foi bispo daquela diocese, considerado o pai dos pobres, um homem de alta espiritualidade e um grande defensor da doutrina de Cristo. Na verdade, foi definido como o mais profundo e importante filósofo e teólogo do seu tempo. Sua obra iluminou quase todos os pensadores dos séculos seguintes. Escreveu livros importantíssimos, entre eles sua autobiografia, "Confissões", e "Cidade de Deus".
Depois de uma grave enfermidade, morreu amargurado, aos setenta e seis anos de idade, em 28 de agosto de 430, pois os bárbaros haviam invadido sua cidade episcopal.
Em 725, o seu corpo foi transladado para Pavia, Itália, sendo guardado na igreja São Pedro do Céu de Ouro, próximo do local de sua conversão.  
Santo Agostinho recebeu o honroso título de doutor da Igreja e é celebrado no dia de sua morte.

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Santo Agostinho recebe o batismo de Santo Ambrósio em Milão

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Tumba de Santo Agostinho na Basílica de São Pedro em Pavia, Itália



domingo, 28 de agosto de 2011

São Cesário de Arles, bispo, Sermão 13

I

         Eu vos rogo, irmãos caríssimos, que reflitamos sobre o significado de sermos cristãos e sobre o sinal da cruz de Cristo que trazemos na fronte. Não nos basta - bem devemos saber - termos recebido o nome de cristãos se não agimos como cristãos, conforme disse o próprio Senhor no Evangelho: "De que adianta dizer: <<Senhor, Senhor>>, se não fazeis o que eu digo?" (Lc 6,46). Se mil vezes te proclamas cristão e fazes o sinal da cruz, mas não dás esmola de acordo com tuas possibilidades e não queres ter amor, justiça e pureza, de nada te aproveitará o nome "cristão".
        Sim, é uma grande coisa o sinal de Cristo e a cruz de Cristo, mas, precisamente por isso, grande e preciosa deve ser também a realidade assinalada por tão precioso sinal. De que adianta fazer um selo de ouro, se o que está por dentro é palha podre? De que adianta andar com o sinal de Cristo na fronte e na boca se o que ele encerra são nossos pecados e delitos? Pois, quem pensa mal, fala mal e age mal e, se não quiser corrigir-se, a cada sinal da cruz seu pecado não só não diminuirá como aumentará.
         É o caso de muitos que, ao furtar, adulterar ou agredir a pontapés, fazem o sinal da cruz e nem por isso deixam de fazer o mal. Ignoram esses infelizes que, com isso, atraem mais demônios para dentro de si em vez de expulsá-los.
        Já quem, com a ajuda de Deus, afasta de si os vícios e os pecados, lutando por pensar o bem e realizar o bem, este imprime de verdade o sinal da cruz sobre seus lábios: pois esse agir, sim, é digno de receber o sinal de Cristo. E já que está escrito: "O reino de Deus não consiste em palavras mas em virtudes" (ICor. 4,20) e também: "A fé sem obras é morta" (Tg 2,26), não usemos, pois, o nome de cristãos para nossa condenação, mas para nossa cura e dediquemo-nos às boas obras enquanto ainda podemos lançar mão dos remédios.

II

         E para que, com o auxílio de Deus, possais seguir esse caminho, convivei em paz e chamai à concórdia os que estão em discórdia. Fugi da mentira e temei o perjúrio como a morte perpétua. Não digais falso testemunho e não furteis. E, sobretudo, como já dissemos, dai esmolas aos pobres de acordo com vossas possibilidades. Apresentai vossas oferendas ao altar: um homem abastado deveria ter vergonha de agregar-se à oferenda do outro, dispensando-se de sua própria oferenda. Os que podem ofereçam círios ou óleo para as lâmpadas. Memorizai o Símbolo e o Pai-Nosso, e ensinai-os a vossos filhos, pois não sei como pode alguém dizer-se cristão e não se empenhar sequer em saber os poucos artigos do Símbolo e o Pai-Nosso.
         Sabei que sois responsáveis diante de Deus pelos filhos, que trouxestes ao Batismo: deveis ensinar e corrigir tanto os vossos próprios filhos como os afilhados para que vivam uma vida pura, justa e sóbria. E vós mesmos agi de tal maneira que, querendo vossos filhos imitar-vos, não acabem ardendo convosco no fogo eterno mas, a vosso lado, atinjam o prêmio da vida eterna.
        Que os juízes julguem justamente e não aceitem presentes para decidir contra os inocentes, "pois os presentes cegam os corações dos sábios e corrompem as palavras dos justos" (Dt 16,19), e temam ganhar dinheiro à custa de perder a alma. Ninguém obtém um lucro injusto sem a justa perda: onde o lucro, aí a perda - lucro para os cofres, perda para a consciência...
       Que ninguém se embebede ou induza outros, num repasto, a beber mais do que convém: não venha a perder sua alma pela bebedeira própria ou alheia.

III

        Aos domingos, reuni-vos na igreja. Se os infelizes judeus celebram o sábado com tamanha devoção que nesse dia não realizam nenhum trabalho, quanto mais não deve o cristão dedicar o domingo somente a Deus e vir à igreja em benefício de sua alma? Quando vierdes às reuniões da igreja, orai por vossos pecados e não entreis em discussões nem provoqueis discórdias ou escândalos. Quem vem à igreja para tais coisas agrava a ferida de sua alma, precisamente onde, pela oração, poderia curá-la.
       Na igreja, não fiqueis tagarelando, mas ouvi pacientemente as leituras da palavra de Deus. Quem fica conversando na igreja deverá prestar contas, não só do mal que causa a si mesmo, mas também do que causa aos outros: pois nem ele ouve a palavra de Deus nem deixa que os outros a ouçam.
       Dai o dízimo de vossos proventos à Igreja. Aquele que foi soberbo seja humilde; o que era adúltero seja casto; o que costumava furtar ou apropriar-se das coisas alheias que comece a dar de seu próprio patrimônio aos pobres. Quem foi invejoso seja benevolente; seja paciente o iracundo, quem ofendeu apresse-se a pedir perdão e o ofendido apresse-se em ser misericordioso.
       Toda vez que sobrevier uma doença, o que a sofre receba o corpo e o sangue de Cristo; peça humildemente e com fé ao sacerdote a unção com o óleo bento a fim de que se cumpra nele o que está escrito: "Algum de vós está doente? Chame os presbíteros para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo, e a oração da fé salvará o enfermo, elevando-o ao Senhor. Se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão remitidos" (Tg 5,14-15).
        Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível, pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?

IV

        Como disse há pouco, exortai vossos filhos e parentes a viver uma vida pura, justa e sóbria. Não só com palavras mas também com a força do bom exemplo.
        Antes de mais nada, onde quer que estejais, em casa, em viagem, comendo ou em reuniões, não profira vossa boca palavras torpes e obscenas, e exortai os vizinhos e vossos próximos a que falem sempre o que é bom e belo, e não palavras más ou maledicência. Evitai as danças organizadas nas festas religiosas, com suas canções torpes e obscenas: a língua, com a qual o homem deveria louvar a Deus, é então usada para ferir a si mesmo.
         Esses infelizes e miseráveis que, sem vergonha e sem temor, promovem seus bailes e danças bem diante das próprias basílicas dos santos, tendo vindo à igreja como cristãos, dela saem como pagãos: pois tais bailes são restos de paganismo. E dizei-me que tipo de cristão é esse que veio à igreja para orar, mas se esquece da oração e não se envergonha de entoar cânticos sacrílegos pagãos. Considerai ainda, irmãos, se é justo que a boca cristã, que recebe o próprio corpo de Cristo, entoe cânticos obscenos, um veneno do diabo.
         E, principalmente, fazei aos outros tudo o que quiserdes que os outros vos façam, e não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam. Se cumprirdes isto, podereis preservar vossas almas de todo o pecado. E todos, mesmo aqueles que são analfabetos, devem guardar estas duas sentenças na memória e, com a ajuda de Deus, podem e devem pô-las em prática.

V

        E ainda que eu creia que, com a ajuda de Deus e graças a vossos esforços, erradicados estão daqui aqueles desgraçados costumes herdados do paganismo, no entanto, se ainda souberdes de alguém que pratique a torpeza sordidíssima das annicula ou do cervulus, repreendei-o severamente para que se arrependa de ter cometido sacrilégio. E, se conhecerdes quem ainda lança clamores à lua nova, exortai-o e mostrai-lhe quão grande é este pecado de ousar confiar-se à proteção da lua - que, simplesmente, por ordem de Deus, esconde-se de tempos em tempos - por meio de seus gritos e imprecações sacrílegas.
        E se virdes alguém dirigir votos junto a fontes ou a árvores e ir procurar, como já dissemos, charlatães, videntes e adivinhos, pendurar no próprio pescoço - ou no de outros - amuletos diabólicos, talismãs, ervas ou âmbar, repreendei-o duramente, dizendo que quem cometer estes males perderá a consagração do Batismo.
       Ouvi dizer que ainda há certos homens e mulheres tão assolados pelo diabo que, às quintas-feiras, não fazem eles seus trabalhos nem elas fiam. Diante de Deus e de seus anjos, nós os admoestamos: todo aquele que persistir nessas observâncias, e não expiar por dura e longa penitência esse grave sacrilégio, será condenado ao fogo em que arde o demônio. Esses infelizes e miseráveis que não trabalham às quintas-feiras, em honra de Júpiter, são os mesmos, não duvido, que não temem nem se envergonham de trabalhar aos domingos. Se conhecerdes algum desses tais, repreendei-o duramente e, se ele não quiser se emendar, não o admitais em vossa mesa nem em vosso trato. Se são vossos escravos, castigai-os com o açoite: que temam a chaga do corpo, já que não se preocupam com a salvação de sua alma.
         Nós, caríssimos irmãos, conscientes de nossa responsabilidade, advertimo-vos com solicitude paterna: se de bom grado nos ouvirdes, dar-nos-eis uma grande alegria e chegareis felizmente ao reino de Cristo. Que Ele se digne vo-lo conceder, Ele que, com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.


Santa Mônica


Mônica nasceu em Tagaste, atual Argélia, na África, no ano 331, no seio de uma família cristã. Desde muito cedo dedicou sua vida a ajudar os pobres, que visitava com freqüência, levando o conforto por meio da Palavra de Deus. Teve uma vida muito difícil. O marido era um jovem pagão muito rude, de nome Patrício, que a maltratava. Mônica suportou tudo em silêncio e mansidão. Encontrava o consolo nas orações que elevava a Cristo e à Virgem Maria pela conversão do esposo. E Deus recompensou sua dedicação, pois ela pôde assistir ao batismo do marido, que se converteu sinceramente um ano antes de morrer.
Tiveram dois filhos, Agostinho e Navígio, e uma filha, Perpétua, que se tornou religiosa. Porém Agostinho foi sua grande preocupação, motivo de amarguras e muitas lágrimas. Mesmo dando bons conselhos e educando o filho nos princípios da religião cristã, a vivacidade, inconstância e o espírito de insubordinação de Agostinho fizeram que a sábia mãe adiasse o seu batismo, com receio que ele profanasse o sacramento.
E teria acontecido, porque Agostinho, aos dezesseis anos, saindo de casa para continuar os estudos, tomou o caminho dos vícios. O coração de Mônica sofria muito com as notícias dos desmandos do filho e por isso redobrava as orações e penitências. Certa vez, ela foi pedir os conselhos do bispo, que a consolou dizendo: "Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas".
Agostinho tornou-se um brilhante professor de retórica em Cartago. Mas, procurando fugir da vigilância da mãe aflita, às escondidas embarcou em um navio para Roma, e depois para Milão, onde conseguiu o cargo de professor oficial de retórica.
Mônica, desejando a todo custo ver a recuperação do filho, viajou também para Milão, onde, aos poucos, terminou seu sofrimento. Isso porque Agostinho, no início por curiosidade e retórica, depois por interesse espiritual, tinha se tornado freqüentador dos envolventes sermões de santo Ambrósio. Foi assim que Agostinho se converteu e recebeu o batismo, junto com seu filho Adeodato. Assim, Mônica colhia os frutos de suas orações e de suas lágrimas.
Mãe e filho decidiram voltar para a terra natal, mas, chegando ao porto de Óstia, perto de Roma, Mônica adoeceu e logo depois faleceu. Era 27 de agosto de 387 e ela tinha cinqüenta e seis anos.
O papa Alexandre III confirmou o tradicional culto a santa Mônica, em 1153, quando a proclamou Padroeira das Mães Cristãs. A sua festa deve ser celebrada no mesmo dia em que morreu.
O seu corpo, venerado durante séculos na igreja de Santa Áurea, em Óstia, em 1430 foi trasladado para Roma e depositado na igreja de Santo Agostinho.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Beata Maria de Jesus Crucificado, carmelita

        
         Nasceu em 5 de janeiro de 1846 em Abellin, Galiléia, Palestina como Maria Baouardy
Filha de Giries Baouardy e Mariam Shahine, uma família católica grega  pobre. Doze dos seus treze irmãos morreram na infância e o nascimento de Maria teria sido uma graças às preces a Nossa Senhora. Seus pais morreram quando Maria tinha dois anos e ela foi criada por um tio paterno que mudou para Alexandria, Egito quando ela tinha oito anos.
        Muito comum na época, ela foi prometida em casamento com 13 anos, mas ela recusou e manifestou desejo de seguir a vida religiosa.Como punição pela sua desobediência seu tio passou a trata-la como servente domestica, fazendo o possível para mostrar que ela teria o pior e menor trabalho.Um servente  muçulmano que trabalhava com ela começou a trata-la como amigo, mas tentando convence-la a deixar o cristianismo.
        No dia 8 de setembro de 1858, convencido que ela não abandonaria a sua fé, ele cortou a sua garganta e  jogou o corpo em um beco.
        Milagrosamente Maria não morreu e uma aparição da Virgem Maria tratou de seus ferimentos e ela deixou a casa de seu tio para sempre.         
        Ela viveu como doméstica trabalhando para uma família cristã.
        Em 1860 ela entrou para o Convento das Irmãs de São José.

        Vários eventos supernaturais ocorreram com ela e a Irmãs não deixavam ela entrar para o Convento.Ela foi levada para o Convento Carmelita em Paul por uma irmã em 1867 e começou como simples noviça. Mais tarde ela entrou para a irmandade tomando o nome de Maria de Jesus Crucificado, e recebeu seu voto final em 21 de novembro de 1871.    
        Ela continuou a experimentar eventos supernaturais.Ela lutou durante 40 dias contra a possessão do demônio, recebeu os estigmas de Cristo (stigmata), foi vista várias vezes levitando e tinha ainda o dom da profecia e conhecimento das consciências  (o que permitia a ela dar o exato Conselho Espiritual à aqueles que a consultavam), e ela ainda permitia que o seu anjo da guarda falasse através dela.
        Ela ajudou a fundar o Mosteiro carmelita em Mangalore, India. Retornou a França em 1872 e construiu um Mosteiro Carmelita em Belém em 1875.
        Deixando de lado os dons supernaturais, ela era conhecida pela sua notável devoção ao Espírito Santo e certa vez enviou algumas palavras ao Papa Pio IX na quais diz que o Espírito Santo não estava sendo devidamente enfatizado nos Seminários.
       Faleceu em 26 de agosto de 1878 em Belém, de gangrena provocada por um ferimento ao ajudar na construção do monastério.
 Beatificada em 13 de novembro de 1983 pelo Papa João Paulo II.

Santa Teresa de Jesus Ibars, fundadora


           Viveu de 1843 a 1897. Ela fundou a Pequenas Irmãs dos Pobres. Nasceu na Catalunha, Espanha e conseguiu sobrepujar grandes dificuldades da sua juventude e finalmente torno-se uma professora em Lerida.
           Desejosa de entrar para a vida religiosa ela falhou em entrar para o convento das Clarissas Pobres devido a sua frágil saúde e seguindo o conselho do seu diretor espiritual, Padre Saturnino Lopes Novoa, ela decidiu lançar a sua própria congregação.
          Em 27 de janeiro de 1872 em Barbastro, Espanha ela começou a Congregação das Pequenas Irmãs Pobres, mais tarde chamadas de Pequenas Irmãs da Abandonada Idade. Com considerável zelo ela fundou até a época de sua morte, 58 casas para a sua congregação.
         Sua congregação recebeu a aprovação papal em 1887 e se espalhou por vários países. Foi beatificada em 1958 e canonizada em 1974 pelo Papa Paulo VI (1963-1978).
         É considerada a padroeira dos anciãos e dos pensionistas velhos.

Santo Alexandre de Bérgamo, centurião da legião tebana

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         Não se sabe muito sobre o nascimento e a juventude de Alexandre. Pode ter nascido em Roma no século III e foi certamente centurião do Exército, da Legião comandada por São Maurício. Em 286, a Legião foi removida do Egito para a Europa. O imperador Maximiano Hercúleo deu ordem para matar todos os soldados que, na volta, se convertessem ao cristianismo, ou aqueles que diziam não à ordem de matá-los.
       Muitos soldados foram martirizados em Agaunum (São Mauricio em Valais), na Suíça. Alexandre conseguiu fugir, mas foi capturado em Milão, e confirma sua vontade de não deixar a fé cristã. A tradição diz que, na primeira sentença, o carrasco assustou-se com tamanho de Alexandre, até que os braços dele não conseguiram executar a sentença.
      Alexandre fugiu novamente, ajudado por São Fidélio de Como, mas foi preso defintivamente e  degolado em Bérgamo em 26 de agosto de 303.
      No lugar onde foi martirizado, foi colocada uma coluna e a igreja perto, desde o momento do martírio, passou a ser dedicada a Alexandre.


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Coluna onde Santo Alexandre foi morto em Bérgamo.



Catedral de Santo Alexandre em Bérgamo


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Santa Hebe de Coldingham, fundadora e abadessa


Ruínas do Mosteiro de Coldingham, Escócia




Santa Hebe, rogai por nós


          Santa Hebe, conhecida como "a Maior", foi abadessa do Mosteiro de Coldingham e foi assassinada pelos dinamarqueses em 683. Era a irmã do rei Oswaldo de Northumbria. Fugiu para a Escócia para não contrair um matrimônio que era indesejado por sua parte e fundou alí um mosteiro duplo baseado no mosteiro de Santa Hilda em Whitby, na Inglaterra.
         No seu mosteiro ela ganhou fama de uma mulher forte e inteligente, que com muita coragem enfrentou muitos ladrões que assaltavam sua comunidade e era correta em suas ações, muito eficiente e de muita oração.
          Seu mosteiro foi destruído por um grande incêndio. Suas relíquias foram levadas para Durham e sua fama espalhou-se também na Inglaterra. Em Oxford há uma importante igreja que leva o seu nome.

Santa Patrícia, virgem




Patrícia era descendente do imperador Constantino, o Grande. Nasceu no início do século VII, em Constantinopla, e foi educada para a Corte pela sua dama Aglaia, uma cristã muito devota. A pequena cresceu piedosa e, apesar da pouca idade, emitiu voto de virgindade a Cristo. Mas para manter-se fiel teve de fugir da cidade, porque seu pai, Constante II, então imperador, insistia em impor-lhe um matrimônio.  
Patrícia, ajudada por e em companhia de Aglaia, com algumas seguidoras, escondeu-se por algum tempo. Depois, embarcaram para as ilhas gregas, com destino à Itália, onde desembarcaram em Nápoles. Patrícia ficou encantada com o local e indicou o lugar onde gostaria de ser sepultada. Em seguida, patrocinou a cidade ajudando a ornamentar muitas das novas igrejas, que eram desprovidas dos objetos litúrgicos essenciais, e auxiliou financeiramente os conventos que atendiam os pobres e doentes.
Só então viajou para Roma com Aglaia e as fiéis discípulas, onde procurou proteção junto ao papa Libério. Foi quando soube que seu pai já se havia resignado à sua vontade. Recebeu, então, o véu, símbolo de sua consagração a Deus, das próprias mãos do sumo pontífice. Assim, elas retornaram a Constantinopla para Patrícia renunciar ao direito à coroa e distribuir seus bens aos pobres, antes de seguirem, em peregrinação, para a Terra Santa.
Porém outros incidentes ocorreram. A embarcação distanciou-se dos vários perigos e desgovernou-se até espatifar-se nos rochedos da costa marítima de Nápoles. Precisamente na pequena ilha de Megaride, também conhecida como Castel dell'Ovo, onde havia um pequeno convento, no qual Patrícia morreu depois de algum tempo.
Os funerais de Patrícia, segundo os registros, foram organizados pela fiel Aglaia e transcorreram de modo solene, com a participação do bispo, do duque da cidade e de imensa multidão. O carro, puxado por dois touros sem nenhum guia, parou diante do mosteiro das irmãs basilianas, dedicado aos santos Nicandro e Marciano, que Patrícia indicara para ser sepultada. Lá as relíquias permaneceram guardadas pelas irmãs que passaram a ser chamadas de "patricianas", ou Irmãs de Santa Patrícia. Mais tarde, os basilianos transferiram as Regras para as dos beneditinos e essas irmãs também acompanharam a renovação.
Para retribuir o carinho da santa que retornou a Nápoles só para ser sepultada, a população difundia sempre mais seu culto, tornando-o forte e vigoroso. Em 1625, santa Patrícia foi proclamada co-Padroeira de Nápoles, sendo tão comemorada quanto o outro padroeiro, são Genaro, o célebre mártir.
Por motivos históricos, em 1864 suas relíquias foram transferidas para a capela lateral da esplêndida igreja do Mosteiro de São Gregório Armênio. A Igreja confirmou o culto santa Patrícia no dia 25 de agosto.


Os restos mortais de Santa Patrícia