sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sagrada Família de Nazaré

            

             No domingo dentro da Oitava do Natal ou, se não houver, no dia 30 de dezembro, é celebrada a Festa de Jesus, Maria e José – a Sagrada Família. Trata-se de celebração muito oportuna, especialmente nos tempos atuais, em que a instituição tradicional da família – entendida cristãmente, ou seja, estruturada em torno do casamento monogâmico e indissolúvel – padece de grave crise.
Com efeito, o divórcio, o aborto e mais recentemente o chamado “casamento homossexual”, vêm entrando livre e impunemente nas legislações de todo o mundo. E há legislações que não somente permitem tais aberrações mais, indo ainda mais longe, prevêem punições para quem, em nome da Lei de Deus, se opuser a elas!  
Com isso se inverte a ordem natural das coisas e se viola gravemente a justiça. Deus, como Criador, tem o direito de ser obedecido pelos indivíduos, pelas sociedades, pelas nações. Numa época em que tanto se fala, o mais das vezes abusivamente, de direitos humanos, por que ninguém, ou quase ninguém, se lembra dos direitos de Deus? 
O projeto de Deus para a redenção de toda a humanidade tem como centro a encarnação do seu Filho como homem vivendo entre nós. Quis que seu amado Filho fosse o exemplo de tudo. Por isso ele foi acolhido no seio de uma verdadeira família. Uma humilde e honrada família, ligada pela fé e os bons costumes. Ele escolheu, seus anjos agiram e a Sagrada Família foi constituída.
 Deus Pai enviou Jesus com a natureza divina e a natureza humana: o Verbo encarnado, trazendo a sua redenção para todos os seres humanos. Ou seja: a salvação do ser humano somente se dá através de Jesus, quem crer e seguir terá a vida eterna no Reino de Deus.
Assim, Jesus nasceu numa verdadeira família para receber tudo o que necessitava para crescer e viver, mesmo sendo muito pobre. Maria, José e Jesus são o símbolo da verdadeira família idealizada pelo Criador.  
A única diferença, que a tornou a "Sagrada Família", foi a sua abnegação, a aceitação e a adesão ao projeto de Deus, com a entrega plena às suas disposições. Mesmo assim, não perderam sua condição humana, imprescindível para que todas as profecias se cumprissem. A família residiu em Nazaré até que Jesus estivesse pronto para desempenhar sua missão.
Lá, Jesus aprendeu a andar, correr, brincar, comer, rezar, cresceu, estudou, foi aprendiz e auxiliar de seu pai adotivo, José, a quem amava muito e que por ele era muito amado também. Foi um filho obediente à mãe, Maria, e demonstrou isso já bem adulto, e na presença dos apóstolos, nas bodas de Caná, quando, a pedido de Maria, operou o milagre do vinho.  
Quando o Messias começou a trilhar os caminhos, aldeias e cidades, pregando o Evangelho, era reconhecido como o filho de José, o carpinteiro da Galiléia. Até ser identificado como o Filho de Deus aguardado pelo povo eleito, Jesus trabalhou como todas as pessoas fazem. Conheceu as agruras dos operários, suas dificuldades e o suor necessário para ganhar o pão de cada dia.
Essa família é o modelo de todos os tempos. A família deve ser criada no amor, na compreensão, no diálogo, com consciência de que haverá momentos difíceis e crises formais. Só a certeza e a firmeza nos propósitos da união e a fé na bênção de Deus recebida no casamento fará tudo ser superado. Pedir esse sacramento à Igreja é uma decisão de grande responsabilidade, ainda maior nos novos tempos, onde tudo é passageiro, fútil e superficial.  
Esta celebração serve para que todas as famílias se lembrem da humilde Sagrada Família, que mudou o rumo da humanidade. Ela representa o gesto transcendente de Deus, que se acolheu numa família humana para ensinar o modo de ser feliz: amar o próximo como a nós mesmos.
A Igreja comemora a festa da Sagrada Família em data móvel, no domingo após o Natal, ou, alternativamente, no dia 30 de dezembro.


Belíssima igreja da Sagrada Família em Barcelona na Espanha



quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

São Tomás Becket, bispo e mártir

 
          
Tomás Becket nasceu no dia 21 de dezembro de 1118, em Londres. Era filho de pai normando e cresceu na Corte ao lado do herdeiro do trono, Henrique. Era um dos jovens cortesãos da comitiva do futuro rei da Inglaterra, um dos amigos íntimos com que Henrique mais tinha afinidade. Era ambicioso, audacioso, gostava das diversões, das caçadas e das disputas perigosas. Compartilharam os belos anos da adolescência e da juventude antes que as responsabilidades da Coroa o afastasse.
Quando foi corado Henrique III, a amizade teve uma certa continuidade, porque o rei nomeou Tomás seu chanceler. Mas num dado momento Tomás voltou seus interesses para a vida religiosa. Passou a dedicar-se ao estudo da doutrina cristã e acabou se tornando amigo do arcebispo Teobaldo de Canterbury. Tomás, pela orientação do arcebispo, foi se entregando à fé de tal modo que deixou de ser o chanceler do rei para ser nomeado arcediácono do religioso.  
Quando Teobaldo morreu e o papa concedeu o privilégio ao rei de escolher e nomear o sucessor, Henrique III hesitou em nomear no cargo o amigo.
Mas o rei não sabia que o antigo amigo se tornara, de fato, um fervoroso pastor de almas para o Senhor e ferrenho defensor dos direitos da Igreja de Roma. Tomás foi ordenado sacerdote em 1162 e, no dia seguinte, sagrado bispo de Canterbury.
Não demorou muito para indispor-se, imediatamente, com o rei. Negou-se a reconhecer as novas leis das "constituições de Clarendon", que permitiam direitos abusivos ao soberano, e queria reduzir a Igreja a mero departamento do Estado inglês. O prelado, zeloso dos direitos de Deus e das prerrogativas de sua Igreja, teve de fugir para a França, para escapar de sua perseguição.
Permaneceu exilado por seis anos, até que o papa Alexandre III conseguiu uma paz formal. Assim, Tomás pôde voltar para a diocese de Canterbury a fim de reassumir seu cargo. Foi aclamado pelos fiéis, que o respeitavam e amavam sua integridade de homem e pastor do Senhor. Mas ele sabia o que o esperava e disse a todos: "Voltei para morrer no meio de vós".
A sua primeira atitude foi logo destituir os bispos que haviam compactuado com o rei, isto é, aceitado as leis por ele repudiadas. Naquele momento, também a paz conseguida com tanta dificuldade desaparecia.  
O rei sabendo de suas atitudes e imediatamente pediu que alguém tirasse Tomás do seu caminho. O arcebispo foi até avisado de que o rei mandaria matá-lo, mas não quis fugir novamente. Apenas respondeu com a frase que ficou registrada na história: "O medo da morte não deve fazer-nos perder de vista a justiça".
Encheu-se da força do alto e, vestido com os paramentos sagrados, recebeu os quatro cavaleiros que foram assassiná-lo dentro de sua própria catedral. Deixou-se apunhalar sem opor resistência no dia 29 de dezembro de 1170.
O próprio papa Alexandre III canonizou Tomás Becket três anos depois do seu testemunho de fé em Cristo.
A sua memória é homenageada com festa litúrgica no dia de sua morte.


martírio de São Tomás Becket



Santuário de São Tomás Becket em Cantuária, Inglaterra

File:ThomasBecketcandle.JPG

Uma vela queima onde o santuário de São Tomás Becket esteve de 1220 a 1538 quando foi destruído por ordem do rei Henrique VIII

 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Beata Mattia Nazarei

      

       Mattia, nascida no ano de 1235 em Matelica,  nas Marcas - Itália, pertencia à família nobre De Nazarei.  Cresceu rodeada dos amorosos cuidados familiares, que fizeram tudo para prepará-la para um brilhante porvir.  Seu pai, sonhava para ela um matrimônio digno de sua categoria. 
        Porém,  um fato inesperado transtornou todos os seus planos. O exemplo das  duas santas irmãs Clara e Inês de Assis também se repetiu em Matelica. Um dia Mattia sem avisar a ninguém, fugiu de casa e foi bater às portas do mosteiro de Santa Maria Madalena das  Irmãs Clarissas, pedindo à abadessa que a recebesse entre suas co-irmãs.  Esta a  fez notar que isto era impossível sem o consentimento de seus pais.
        Pouco depois o pai e alguns parentes irritadíssimos irromperam no mosteiro decididos a levá-la de novo para casa à força. Porém,  tudo foi inútil. O pai foi vencido pela insistência da sua filha, que assim pôde realizar seu sonho de  seguir a Cristo pelo caminho da perfeição. Tinha dezoito anos quando começou o noviciado e  antes da profissão, distribuiu parte de seus bens aos pobres e  parte reservou para urgentes trabalhos de restauração do mosteiro. 
         Atrás de seu exemplo, outras moças a  seguiram pelo caminho da vida evangélica que haviam traçado São Francisco e Santa Clara. Depois de oito anos de  vida religiosa foi eleita abadessa unanimemente.  Durante quarenta anos Mattia foi a zelosa superiora das Clarissas,  iluminada guia espiritual e  ao mesmo tempo sagaz administradora. Possuía as qualidades aparentemente contraditórias de  uma grande mística e de uma sábia organizadora.  Confiando na divina Providência, com ofertas da população e de sua família, reconstruiu desde os fundamentos da igreja até o mosteiro.
         A vida interior da Beata Mattia se modelou sobre a Paixão do Senhor. Por muitos anos todas as  sextas-feiras sofreu dores e  numerosos arroubamentos. Foi uma mulher de governo que as virtudes contemplativas unia às virtudes práticas.  Se manteve também em contato com o mundo, sabendo dizer uma palavra de consolo, ajuda e exortação aos muitos que ajudava na medida das possibilidades e ainda a indigentes e pobres.  Um menino estava a  ponto de morrer como conseqüência de uma queda. A mãe, desesperada, o levou à Beata Mattia que, depois de rezar o tocou com a mão e o restituiu são e salvo à sua mãe. E se contam dela muitos outros prodígios.         Em 28 de dezembro de 1320, depois de ter exortado e abençoado pela última vez a suas queridas co-irmãs, morreu serenamente aos 85 anos, deixando atrás de si uma doce recordação, que logo se transformaria em culto, o qual confirmaria Clemente XIII,  ao beatificá-la em 27 de julho de 1765.

Corpo incorrupto e os traslados 
         
         Quando Mattia morreu, um amplo raio de luz envolveu seu corpo, iluminando todo o convento. Ela desprendia um perfume de  incrível doçura, que enchia o ar ao seu redor.  Isso correu entre o povo e seus compatriotas foram contemplá-la mais uma vez para cortar pedaços do tecido de sua túnica.  Ocorreram muitos milagres e  muitos enfermos se curaram.  Ainda que a opinião  fosse contrária, as irmãs acharam mais prudente enterrá-la num local distanciado, mas o povo protestou e pediram que a colocassem num lugar mais acessível, onde todos pudessem expressar sua devoção.  
 
Primeiro translado
 
         As  irmãs, então,   pediram às autoridades religiosas permissão para exumá-la, sob a direção de um médico de Camerino,  o Dr. Bartolo.  Dezoito dias depois da  sua morte, o corpo de Mattia estava incorrupto e exalava suave perfume. Dr. Bartolo, segundo o costume da  época, quis embalsamá-la, mas ao ver que, ao primeiro corte, saía sangue líquido em abundância, se deteve e exclamou: "Que milagre é este! Creio que nunca se viu a um corpo morto sangrar tão abundantemente como se estivesse vivo, depois de ter sido enterrado tantos dias.  A esta podemos chamar realmente santa, pelos milagres que fez em vida e, Deus o queira, fará depois de morta".  
         Dali o corpo de Mattia foi colocado em uma elegante urna, ao lado da epístola do altar maior,  um pouco elevada do solo,  com uma grade frontal.  
 
Segundo translado
         
         Ao longo de dois séculos, sua fama estendeu-se além dos limites da sua cidade e  um número cada vez maior de peregrinos vinham de todas as partes para render homenagens. Em 1536,  com o fim de dar-lhe um lugar de maior privilégio em sua igreja, se trasladou a urna de Mattia de sua posição original.
 
Terceiro translado
 
         Em 22 de dezembro de 1758 a  colocaram sob o altar de Santa Cecília, que é o atual altar lateral direito da Igreja.  Seu corpo incorrupto permaneceu sempre em sua igreja, desde 15 de janeiro de 1320, com exceção de poucos dias, de 6 de outubro a 31de dezembro de 1811, quando a soldadesca napoleônica o sacou sacrilegamente de  seu altar e o levou  a Macerata.  Naquela ocasião esteve exposto à intempérie, pelo que a umidade e outros elementos nocivos puseram em marcha um processo de deteriorização.  Em 1973, o Pe.  Antônio Ricciardi, OFMConv., ocupou-se do delicado trabalho de desinfecção e conservação do corpo da Beata, pondo fim ao processo destrutivo e evitando danos posteriores a  sua carne e a seus ossos.  Por último, a Beata Mattia foi colocada em uma urna nova e mais bonita.  
 
O humor sanguíneo - pesquisas
 
        Em 1536, durante o segundo traslado, começou a brotar do corpo de Mattia um suor avermelhado, que as clarissas trataram de secar em vão com panos de linho. Seu corpo e suas relíquias ainda emitem dito líquido. 
        Em 1756, 437 anos depois de sua morte, se abriu a causa para um reconhecimento legal, e um suave perfume se desprendeu de seu corpo ainda incorrupto. Em 1758, durante o terceiro traslado, a Beata Mattia suou de novo sangue, empapando muitas toalhas. Seu corpo foi examinado mais de uma vez nos anos seguintes, porém, sempre na presença de autoridades eclesiásticas e médicos forenses. Em cada ocasião o fluido  sangüíneo impregnou toalhas, trapos e inclusive a touca de Mattia e seu hábito.  Estes preciosos panos, empapados de seu humor sanguíneo e cortadas em pedaços minúsculos, ainda se distribuem como relíquias. E de suas manchas já secas,   algumas vezes brotou o líquido avermelhado.   
        O Instituto de Medicina Legal da Universidade de Camerino atestou em 1972 que "as manchas presentes nos restos, com toda certeza, são de sangue,  um pouco envelhecida". 
 
Milagre recente - cura de câncer
 
       Em 1987 constatou-se a cura milagrosa de um farmacêutico e doutor napolitano, Alfonso de D'Anna. O diagnóstico do Instituto Pascal de Nápoles, confirmado pelo Instituto Nacional de Tumores de Milão, era carcinoma, um tumor maligno.  Em 6 de março de 1987 tinha que iniciar o tratamento de quimioterapia, porém a Beata Mattia apareceu em sonhos à senhora Rita Santoro, da ordem Franciscana Secular e Ministra da Fraternidade de Santa Maria Francisca de Nápoles. A senhora Rita então não conhecia o Dr. D'Anna, porém, a Beata Mattia lhe proporcionou informações detalhadas, para que pudesse identificá-lo. A senhora Rita tinha que dar-lhe uma de suas relíquias e o azeite bento de sua lâmpada, que arde sempre em seu convento, e que as clarissas oferecem aos fiéis em pequenos frascos.
        Em 7 de março de 1987, o Dr. Alfonso D'Anna dirigiu-se à sua farmácia, para retomar o trabalho. As revisões periódicas estiveram precedidas, muitas vezes, por um forte odor de jasmim, como havia predito o sonho, e confirmaram a incrível e completa cura do Dr. D'Anna. 
        A última revisão, um TAC realizado no hospital Cardarelli de Nápoles, confirmou a perfeita ventilação de seus pulmões e a ausência de lesões tumorais. 
        Toda a documentação foi posta à disposição das autoridades eclesiásticas, a fim de proceder a canonização da Beata Mattia. 


São Gaspar de Bufalo,sacerdote e fundador

       

         Nasceu em Roma aos 06 de Janeiro de 1786. Na sua alocução por ocasião da Canonização deste santo,  Pio XII declarou:  “Na gloriosa falange dos Santos, que a terra romana deu à Igreja, Gaspar Del Bufalo  resplandeceu  com especial fulgor.  Desde seus mais tenros anos, a proteção de São Francisco Xavier para ter obtido para ele, da Parte de Deus, uma extraordinária profusão de dons sobrenaturais. 
           Ainda estudante, entregava-se com assiduidade às obras de caridade e assistência, especialmente ao ensino da doutrina cristã, às crianças e aos pobres.  Seguindo os passos de São João Batista de Rossi, fez voltar ao seu vigor primitivo a  piedosa obra de São Galla e fundou, pouco depois, o Oratório de Santa Maria in Vincis.   Mas seu apostolado em Roma   foi interrompido  pela invasão das tropas napoleônicas: tendo recusado  prestar juramento de  fidelidade a  um poder hostil aos direitos da igreja, sofreu o exílio e  a prisão.
           Finalmente posto em liberdade, e para maior alegria de quantos o  conheciam e o veneravam ainda mais, à sua  volta para a sua querida Roma, recebeu do Soberano Pontífice Pio VII o encargo de  se consagrar às santas missões, destinadas a renovar o fervor dos fiéis em seus Estados,  depois de tantas desordens e destruições  causadas pelas  perturbações públicas.  Retomou então a idéia da instituição de  uma  congregação de  missionários, sob o título de  Preciosíssimo Sangue de  Jesus,  de quem era fidelíssimo propagador e devoto.
          Apesar de  toda a espécie de oposições e  obstáculos, inaugurou em 15 de  agosto de  1815, a primeira casa da obra, que ele  mesmo confiou, com fervor, à proteção da Santíssima Virgem.  Assim começou para ele  uma vida de incessantes  trabalhos;  percorreu quase todas as regiões da Itália central, levando por toda a parte, com o exemplo de sua piedade, de sua humildade e de  sua caridade, a reconciliação e a paz, o alívio das misérias  corporais e sobretudo  espirituais. 
          Ditou sábias  regras  ao Instituto.  Com a habitual exclamação:  “Ó Paraíso, ó Paraíso!” , subtraía-lhe a  toda oferta de dignidades   eclesiásticas, desejando permanecer até a morte naquela sua “tribuna”, isto é, no domínio das pregações sagradas, certo como estava de receber assim mais facilmente, e sem atraso, a recompensa  eterna.   “Martelo dos Sectários”, assim  foi chamado, porque combateu com a palavra falada e escrita os inimigos da Igreja,  obtendo muitas conversões dos afiliados da sociedade  secreta, a maçonaria.   Além disso, foi escolhido pelo Papa para fazer desaparecer o banditismo no Lácio.
          A sua corajosa atividade  pelo saneamento moral e religioso, teve inesperados resultados.  Deus  se dignou de selar o múltiplo apostolado do seu servo, com sinais extraordinários, de caráter sobrenatural, se bem que lhe reservou uma morte  em  meio de fadigas e sofrimentos.  Foi assim  que  deixou para  seus filhos, um modelo admirável de  zelo heróico, imolando-se  generosamente para o maior bem das almas.
          Faleceu em Roma, em  28 de dezembro de  1837.  Foi beatificado pelo Papa Pio X em 8 de  dezembro de 1904 e,  canonizado por Pio XII em 12 de junho de  1954. 



Altar e relicário de São Gaspar de Bufalo na Casa Geral da Cobgregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue de Jesus


Das alocuções do papa Paulo VI (alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964).

As lições de Nazaré


Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.
Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.
Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo.
Aqui tudo fala, tudo tem um sentido. Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo.
Óh! Como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas.
Mas estamos apenas de passagem. Temos de abandonar este desejo de continuar aqui o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. Não partiremos, porém, antes de colher às pressas e quase furtivamente algumas breves lições de Nazaré.
Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada.
O silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social.
Uma lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do "filho do carpinteiro"! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano, aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim.
Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores, do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Sermo 1 in Nativitate Domini, 1-3: PL 54, 190-193)

Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade

         Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasceu a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade.
          Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. A causa da alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória ; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida.
          Quando chegou a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com o seu Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes vencera.
         Eis por que, no nascimento do Senhor, os anjos cantam jubilosos: Glória a Deus nas alturas; e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14). Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo. Diante dessa obra inexprimível do amor divino, como não devem alegrar-se os homens, em sua pequenez, quando os anjos, em sua grandeza, assim se rejubilam?
         Amados filhos, demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós. E quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo (Ef 2,5) para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos.
         Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.
        Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que a cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te que fostes arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus.
        Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo.

 

Santa Catarina Volpicelli


         Caterina Volpicelli, para nós Catarina, nasceu em Nápoles no dia 21 de janeiro de 1839, no seio de uma família da alta burguesia, da qual recebeu sólida formação humana e religiosa. Estudou letras, línguas e música, coisa não freqüente para as mulheres do seu tempo. Guiada pelo Espírito Santo e através dos diretores espirituais, Catarina renunciou à vida social que apreciava para atender uma voz interior, o chamado de Deus à vida religiosa.
        Foi em 1854 que ocorreu o seu encontro casual com o futuro bem-aventurado Ludovico da Casoria na sua cidade. Encontro depois considerado por ela uma graça providencial de Deus, porque por suas mãos se associou à Ordem Franciscana Secular. Padre Ludovico foi enfático quando lhe indicou como único objetivo de sua vida o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Apesar disso, cinco anos depois, orientada por seu confessor, ingressou em uma Congregação religiosa, saindo, logo em seguida, por graves motivos de saúde.
         O plano de Deus sobre Catarina era outro, havia bem entendido o padre Ludovico, que muitas vezes dizia: "O Coração de Jesus é a tua obra, Catarina!" Novamente, com a indicação do seu confessor, tornou-se a primeira a receber, na Itália, o diploma de zeladora da Associação do Apostolado da Oração da França. Em 1867, estabeleceu a sua Sede em Nápoles mesmo, onde se dedicou às atividades apostólicas.
         O apostolado da oração passou a ser o ponto central da espiritualidade de Catarina. Na sua vida, totalmente consagrada ao Coração de Jesus, distinguem-se três aspectos: a profunda espiritualidade eucarística, a integral fidelidade à Igreja e a imensa generosidade apostólica.
         Com as suas primeiras zeladoras, em 1874 Catarina fundou o novo Instituto das Servas do Sagrado Coração de Jesus, aprovado, antes, pelo seu arcebispo, e depois, em 1890, pelo Vaticano. Preocupada com o futuro da juventude, abriu o orfanato, fundou uma biblioteca circulante e instituiu a Associação da Filhas de Maria. Em pouco tempo, abriu outras Casas na Itália. E as servas muito se distinguiram na assistência às vítimas da cólera em 1884, em várias localidades italianas.
        A participação de Catarina no primeiro Congresso Eucarístico Nacional, celebrado em Nápoles em 1891, foi um ato culminante do apostolado da fundadora e das Servas do Sagrado Coração de Jesus. Catarina morreu no dia 28 de dezembro de 1894, em Nápoles.
        O papa João Paulo II beatificou-a em 1999. A data de sua festa ocorre no dia de sua morte, mas o culto já era freqüente na comunidade cristã onde as servas atuam mantendo o carisma da bem-aventurada Catarina Volpicelli. Foi canonizada em 26 de abril de 2009 por sua santidade o Papa Bento XVI.

Santos Inocentes, mártires

 

           Neste dia a Igreja recorda os meninos inocentes de Belém e arreadores, de idade inferior a dois anos, os quais, conforme o relato do Evangelho, foram arrancados de suas mães e assassinados cruelmente, por ordem de Herodes para evitar que vivesse o Rei dos Judeus, também com medo de perder o poder terreno.
Quem narrou para a história foi o apóstolo Mateus, em seu Evangelho. Os reis magos procuraram Herodes, perguntando onde poderiam encontrar o recém-nascido rei dos judeus para saudá-lo. O rei consultou, então, os sacerdotes e sábios do reino, obtendo a resposta de que ele teria nascido em Belém de Judá, Palestina.
Herodes, fingindo apoiar os magos em sua missão, pediu-lhes que, depois de encontrarem o "tal rei dos judeus", voltassem e lhe dessem notícias confirmando o fato e o local onde poderia ser encontrado, pois "também queria adorá-lo".
 Claro que os reis do Oriente não traíram Jesus. Depois de visitá-lo na manjedoura, um anjo os visitou em sonho avisando que o Menino-Deus corria perigo de vida e que deveriam voltar para suas terras por outro caminho. O encontro com o rei Herodes devia ser evitado.
Eles ouviram e obedeceram. Mas o tirano, ao perceber que havia sido enganado, decretou a morte de todos os meninos com menos de dois anos de idade nascidos na região. O decreto foi executado à risca pelos soldados do seu exército.
 A festa aos Santos Inocentes acontece desde o século IV. O culto foi confirmado pelo papa Pio V, agora santo, para marcar o cumprimento de uma das mais antigas profecias, revelada pelo profeta Jeremias: a de que "Raquel choraria a morte de seus filhos" quando o Messias chegasse.
Embora não tivessem uso da razão, morreram por Cristo Jesus, e por isso a Igreja os honra com o título de mártires.  
Em nossos dias, cometemos um dos maiores pecados da humanidade: O aborto, e assistimos a uma nova matança dos inocentes, tantas e tantas vezes perpetrada pelas próprias mães desnaturadas!
De fato, em que consiste o aborto voluntariamente provocado?
Consiste, pura e simplesmente, no assassinato do filho pela própria mãe. O feto, ou seja, o ser humano desde o momento da concepção até o do nascimento, é um ser distinto de sua mãe. Eliminar o embrião, seja em que fase for de seu desenvolvimento, é um assassinato que viola o dom da vida.
Ora, com toda a naturalidade se vai disseminando a prática pecaminosa do aborto, consagrada e protegida pelas legislações! E em alguns casos são legalmente punidos médicos ou enfermeiras católicos que em consciência se recusam a participar desses crimes! 
Esses pequeninos inocentes da época de Jesus de tenra idade, de alma pura, escreveram a primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e mereceram a glória eterna, segundo a promessa de Jesus.
A Igreja preferiu indicar a festa dos Santos Inocentes para o dia 28 de dezembro por ser uma data próxima à Natividade de Jesus, uma vez que tudo aconteceu após a visita dos reis magos.

São João, Apóstolo e Evangelista

        


         Filho de Zebedeu e irmão de São Tiago o Maior, foi discípulo de São João Batista antes de ser o Discípulo amado de Nosso Senhor. No alto do Calvário, representou a Humildade quando recebeu como Mãe a Maria Santíssima, e foi Ela entregue como filho. É autor do quarto Evangelho e de três epístolas canônicas. Viveu, segundo a tradição, na ilha de Patmos, onde lhe foi revelado o Apocalipse, e morreu quase centenário em Éfeso.
O sinédrio classificou João, o apóstolo e evangelista, conhecido como "o discípulo que Jesus amava". Ele foi o único apóstolo que esteve com Jesus até a sua morte na cruz.  
João era um dos mais jovens apóstolos de Cristo, irmão do discípulo Tiago Maior, ambos filhos de Zebedeu, rico pescador da Betsaida, e de Salomé, uma das mulheres que colaboravam com os discípulos de Jesus. Assim como seu pai, João era pescador, e teve como mestre João Batista, aquele que pregava no deserto, o qual, depois, o enviou a Jesus. João, Tiago Maior, Pedro e André foram os quatro discípulos que mais participaram do convívio diário de Jesus.
Costuma ser definido, entre os apóstolos, como homem de elevação espiritual, mais propenso à contemplação do que à ação. Apesar desse temperamento, foi incumbido por Jesus com o maior número de encargos, estando presente em quase todos os momentos e eventos narrados na Bíblia.
Estava presente, por exemplo, quando ressuscitou a filha de Jairo, na Transfiguração de Jesus e na sua agonia no Getsêmani. Também na última ceia, durante o processo e, como vimos, foi o único na hora final. Na cruz, Jesus, vendo-o ao lado da Virgem, lhe confiou a tarefa de cuidar da Mãe, Maria.  
Os detalhes que se conhece revelam que, após o Pentecostes, a vinda do divino Espírito Santo, João ficou pregando em Jerusalém. Participou do Concílio de Jerusalém, depois, com Pedro, se transferiu para a Samaria. Mas logo foi viver em Éfeso, na companhia da Mãe de Deus. Dessa cidade, organizou e orientou muitas igrejas da Ásia. Durante o governo do imperador Domiciano, foi preso e exilado na ilha de Patmos, na Grécia, onde escreveu o quarto evangelho, o Apocalipse e as epístolas aos cristãos.
Conta a tradição que, antes de o imperador Domiciano exilar João, ele teria sido jogado dentro de um caldeirão de óleo fervente. Mas saiu ileso, vivo, sem nenhuma queimadura. João morreu, após muito sofrimento por todas as perseguições que sofreu durante sua vida, por pregar a Palavra de Deus.
Após sua morte foi sepultado em Éfeso. Tinha noventa anos de idade.  
O evangelho de João fala dos mistérios de Jesus, mostrando os discursos do Mestre com uma visão mais aguçada, mais profunda. Enquanto os outros três descrevem Jesus em ação. João nos revela Jesus em comunhão e meditação, ou seja, em toda a sua espiritualidade.
Os primeiros escritos de João foram encontrados em fragmentos de papiros no Egito, devido a isso alguns estudiosos acreditam que ele tenha visitado essas regiões.